Mitos e travessias
Carmen Cisneros
Diz o Flor de Obsessão que "um bom romance" se reconhece logo "na primeira frase", enquanto, no caso do cinema, tudo dependeria da "última cena". Nesta afirmação (já a ouvi várias vezes), o entendimento escatológico cinematográfico equivaleria ao cosmogónico romanesco. Trata-se de uma crença na origem única e, por outro lado, no significado último e derradeiro. Trata-se de uma questão de segurança e também de algum receio face ao lado caótico que enquadra e ocupa grande parte do processo criativo, seja no construir romanesco (onde a intriga é uma parte, às vezes uma ínfima parte), seja na complexidade do processo cinematográfico. Não acredito na religiosiodade das origens únicas e dos significados últimos; creio antes no desenhar plural de possibilidades e no curso das coisas, na media res. É por isso que experimento um romance sempre a meio, antes de o iniciar (faço o mesmo até com ensaios, menos com o cinema por razões sobretudo logísticas). Muitas vezes, talvez a maior parte das vezes, aquilo que é o início de um romance resume-se a um acaso forjado, a uma fachada simulada, ou a um ajardinado convidativo. Muitas vezes, as primeiras palavras de um romance obedecem a um jogo, ou a uma ratoeira bem sinalizada e são amiúde inscritas no momento final de toda a escrita (é normal, é habitual tal acontecer). Já nem falo da montagem cinematográfica e desse fantasma que é o fim (a "última cena"/a última ceia?). Pela experiência que tenho, trata-se de algo que tem atrás de si uma predeterminação tal que pode tornar-se num momento vivo e memorial, é certo, mas jamais num garante (religioso) do significado (enquanto instância última, ou selo derradeiro - na moda corânica). Acredito mais nas travessias do que nos mitos. No fundo, é a diferença entre quem acredita que tudo fica irremediavelmente dito (no princípio ou no fim) e quem acredita que o dito não é o mesmo que o definitivamente revelado, mas tão-só uma modesta parte do não-dito.
domingo, 30 de novembro de 2003
Adeus Novembro
Chove. Vejo ao longe, no circuito de manutenção, alguns atletas com fato de treino e espesso guarda-chuva. Correm desenfreados. Deve ser assim o bronze de Novembro. A voragem do corpo.
No último sonho da noite, lembro-me que havia um enorme gafanhoto encostado ao tinteiro e sempre, sempre a olhar para mim. A luz era branda, suave, a desenhar nas paredes do escritório uma mancha abaulada, informe, espécie de embarcação silenciosa e sem rumo.
Chove. Subitamente, chove mesmo muito. Lá ao longe, o circuito de manutenção esvaziou.
Abro o rádio e surge o Chico Buarque a cantar a Banda (lembro um Setembro qualquer passado em Elvas. Gárgulas, bicicletas, calor, a vista ilimitada).
Chove. Vejo ao longe, no circuito de manutenção, alguns atletas com fato de treino e espesso guarda-chuva. Correm desenfreados. Deve ser assim o bronze de Novembro. A voragem do corpo.
No último sonho da noite, lembro-me que havia um enorme gafanhoto encostado ao tinteiro e sempre, sempre a olhar para mim. A luz era branda, suave, a desenhar nas paredes do escritório uma mancha abaulada, informe, espécie de embarcação silenciosa e sem rumo.
Chove. Subitamente, chove mesmo muito. Lá ao longe, o circuito de manutenção esvaziou.
Abro o rádio e surge o Chico Buarque a cantar a Banda (lembro um Setembro qualquer passado em Elvas. Gárgulas, bicicletas, calor, a vista ilimitada).
Monteverdi nocturno
Calenco
Fez-se silêncio em casa. O sono mergulhou profundamente nos objectos, no côncavo recuado das janelas, no hiato desconhecido que acompanha as cortinas e na própria sombra que se projecta sobre os muros do quintal. Ouço Monteverdi e sei neste momento que um cometa pode passar, a qualquer momento, do outro lado da janela. Mesmo em frente dos meus olhos.
Calenco
Fez-se silêncio em casa. O sono mergulhou profundamente nos objectos, no côncavo recuado das janelas, no hiato desconhecido que acompanha as cortinas e na própria sombra que se projecta sobre os muros do quintal. Ouço Monteverdi e sei neste momento que um cometa pode passar, a qualquer momento, do outro lado da janela. Mesmo em frente dos meus olhos.
sábado, 29 de novembro de 2003
Bloguelogia
Diz o Dicionário do Diabo que estamos "num momento de viragem da blogosfera, cada vez mais apostada - como se diz agora - nos «conteúdos». Pela minha parte, saúdo a seriedade intelectual de todos estes blogs novos e antigos. Havemos todos de trocar umas ideias sobre vários assuntos". Pois é, pelo meu lado prefiro uma blogosfera que reflicta a abertura ilimitada. A discorrer, a misturar, a não saciar ninguém. Nada tenho contra os conteúdos, mas a verdade é que, se a blogosfera, na sua dominante, evoluísse para um amplexo de segmentos mais ou menos estanques, ou para um self-service variamente centrado, então passaria a ser de facto um mero e clean expositor de conteúdos. Por mim, prefiro o acentramento, as assimetrias, a agenda não importada, a delonga não obrigatória, o fluxo das mil lógicas (do lixo à excelência), o suspenso, o debate sem rumo, a crítica aérea e terrena, o encontro mágico, a paródia, o humor e o resto. De acordo: havemos de trocar umas dicas sobre o assunto. É a bloguelogia.
Diz o Dicionário do Diabo que estamos "num momento de viragem da blogosfera, cada vez mais apostada - como se diz agora - nos «conteúdos». Pela minha parte, saúdo a seriedade intelectual de todos estes blogs novos e antigos. Havemos todos de trocar umas ideias sobre vários assuntos". Pois é, pelo meu lado prefiro uma blogosfera que reflicta a abertura ilimitada. A discorrer, a misturar, a não saciar ninguém. Nada tenho contra os conteúdos, mas a verdade é que, se a blogosfera, na sua dominante, evoluísse para um amplexo de segmentos mais ou menos estanques, ou para um self-service variamente centrado, então passaria a ser de facto um mero e clean expositor de conteúdos. Por mim, prefiro o acentramento, as assimetrias, a agenda não importada, a delonga não obrigatória, o fluxo das mil lógicas (do lixo à excelência), o suspenso, o debate sem rumo, a crítica aérea e terrena, o encontro mágico, a paródia, o humor e o resto. De acordo: havemos de trocar umas dicas sobre o assunto. É a bloguelogia.
Intelectuais - 2
Diz o perspicaz Avatares de um Desejo que "mostrar um certo distanciamento em relação às tecnologias emergentes é uma daquelas marcas de água dos intelectuais". E tem toda a razão. A esses vestígios de fumo açucarado que ainda têm a sofredora marca sartreana, os tais a que EPC outro dia chamou incontinentes (ou tradutores) dos "códigos culturais", fica sempre bem dizerem que não entendem nada de blogues, nem de internet, nem dessas coisas que eles inventam. Geralmente chamam a isso tudo coisas estranhas, americanices do Bill Gates, bruxedos globais e meio capitalistas; enfim, para eles, belos nostálgicos sem terreiro onde berrar, nada melhor do que os tempos em que havia tertúlias fechadinhas e a malta falava cara a cara, mesa a mesa, cinzeiro a cinzeiro, e ainda havia vanguardas e tudo (pois fazia então sentido prenunciar futuros de ouro). Agora a rede, o anonimato dos circuitos abertos, as Margaridas digitais, os cyborgs e os chips e todas essas coisas omnipolitanas e a caminhar para um vago being-in-common onde já nem vai havendo cultura territorial e assistência e auditórios clássicos, ai, ai que horror!
A caravana há-de passar e os intelectuais ficarão a fazer companhia às aventuras do bom Tim-Tim (ler mais abaixo o post "intelectuais").
Diz o perspicaz Avatares de um Desejo que "mostrar um certo distanciamento em relação às tecnologias emergentes é uma daquelas marcas de água dos intelectuais". E tem toda a razão. A esses vestígios de fumo açucarado que ainda têm a sofredora marca sartreana, os tais a que EPC outro dia chamou incontinentes (ou tradutores) dos "códigos culturais", fica sempre bem dizerem que não entendem nada de blogues, nem de internet, nem dessas coisas que eles inventam. Geralmente chamam a isso tudo coisas estranhas, americanices do Bill Gates, bruxedos globais e meio capitalistas; enfim, para eles, belos nostálgicos sem terreiro onde berrar, nada melhor do que os tempos em que havia tertúlias fechadinhas e a malta falava cara a cara, mesa a mesa, cinzeiro a cinzeiro, e ainda havia vanguardas e tudo (pois fazia então sentido prenunciar futuros de ouro). Agora a rede, o anonimato dos circuitos abertos, as Margaridas digitais, os cyborgs e os chips e todas essas coisas omnipolitanas e a caminhar para um vago being-in-common onde já nem vai havendo cultura territorial e assistência e auditórios clássicos, ai, ai que horror!
A caravana há-de passar e os intelectuais ficarão a fazer companhia às aventuras do bom Tim-Tim (ler mais abaixo o post "intelectuais").
sexta-feira, 28 de novembro de 2003
Agora mesmo
A penumbra que se adensa à volta do tronco do limoeiro e na folhagem da mais solitária das nespereiras. Por cima, um rio de estrelas a errar entre nuvens paradas e cheias de um pasmo sem limites. O antigo tanque de lavar a roupa e o fio coado de luz muito branca a deixar rasto e brilho no nicho do muro onde dormem alguns pombos. A brisa em torno de nada. O círculo. A noite a inverter a sua própria respiração. Uma sombra a falar acerca da ciência do quintal. Sem o saber.
A penumbra que se adensa à volta do tronco do limoeiro e na folhagem da mais solitária das nespereiras. Por cima, um rio de estrelas a errar entre nuvens paradas e cheias de um pasmo sem limites. O antigo tanque de lavar a roupa e o fio coado de luz muito branca a deixar rasto e brilho no nicho do muro onde dormem alguns pombos. A brisa em torno de nada. O círculo. A noite a inverter a sua própria respiração. Uma sombra a falar acerca da ciência do quintal. Sem o saber.
Subsídios
Open Democracy
No Público de ontem, na secção de cultura, vinha o anúncio mais desejado por alguns: "Bolsas para Escritores Avançam, mas Sem Estreantes". Por mim, estreantes ou não, sou contra as bolsas destinadas a escritores tendo como objectivo a escrita de um livro. Já tenho mais de vinte livros publicados e em nenhum houve um subsídio estatal que me fosse pessoalmente destinado tendo em vista o acto criativo. Ter-me-ia sentido constrangido, pressionado, forçado, cerceado. No mínimo. Decerto que existem outras possibilidades de apoio a escritores já com algumas provas dadas, mas agora tornar o escritor num agricultor de girassóis ou num escrivão da nossa administração pública, isso nunca. Também eu gostava de viver só da escrita. Para dizer a verdade, já estive mais longe disso, embora saiba perfeitamente que continuo ainda a léguas e léguas de o conseguir. Mas persistirei. Terei que continuar a leccionar ao mesmo tempo. Terei de trabalhar em várias frentes. O que não posso é impor à comunidade onde vivo que me pague para eu fazer apenas o que desejo. Há que lutar pelas coisas. Há que saber merecer as coisas. Razão tinha o Gerrit Komrij quando disse, um dia, em plena Holanda das mil subvenções, que (foram mais ou menos estas as palavras) - "uma sociedade que paga para que se escreva ou para que se leia um livro é uma sociedade quase moribunda".
Open Democracy
No Público de ontem, na secção de cultura, vinha o anúncio mais desejado por alguns: "Bolsas para Escritores Avançam, mas Sem Estreantes". Por mim, estreantes ou não, sou contra as bolsas destinadas a escritores tendo como objectivo a escrita de um livro. Já tenho mais de vinte livros publicados e em nenhum houve um subsídio estatal que me fosse pessoalmente destinado tendo em vista o acto criativo. Ter-me-ia sentido constrangido, pressionado, forçado, cerceado. No mínimo. Decerto que existem outras possibilidades de apoio a escritores já com algumas provas dadas, mas agora tornar o escritor num agricultor de girassóis ou num escrivão da nossa administração pública, isso nunca. Também eu gostava de viver só da escrita. Para dizer a verdade, já estive mais longe disso, embora saiba perfeitamente que continuo ainda a léguas e léguas de o conseguir. Mas persistirei. Terei que continuar a leccionar ao mesmo tempo. Terei de trabalhar em várias frentes. O que não posso é impor à comunidade onde vivo que me pague para eu fazer apenas o que desejo. Há que lutar pelas coisas. Há que saber merecer as coisas. Razão tinha o Gerrit Komrij quando disse, um dia, em plena Holanda das mil subvenções, que (foram mais ou menos estas as palavras) - "uma sociedade que paga para que se escreva ou para que se leia um livro é uma sociedade quase moribunda".
Gris
I.C.
"Gris, gris, l´amour est gris". Parece que foi hoje. A inocência da voz ainda a percorrer o que resta do outono. Os arbustos ao fundo no limiar da saudade. De que me lembro afinal, ao olhar para o céu carregado e cinzento?
Um mundo de musgos, o silêncio do fogo, o gesto sem norte, a fonte no meio da praça deserta.
I.C.
"Gris, gris, l´amour est gris". Parece que foi hoje. A inocência da voz ainda a percorrer o que resta do outono. Os arbustos ao fundo no limiar da saudade. De que me lembro afinal, ao olhar para o céu carregado e cinzento?
Um mundo de musgos, o silêncio do fogo, o gesto sem norte, a fonte no meio da praça deserta.
Educação
Às vezes, a escala pode mesmo fazer a diferença. A experiência vem de Nova Iorque. Não é nada do outro mundo, mas funciona e bem. Leia a história que vem hoje publicada no Washington Post.
Às vezes, a escala pode mesmo fazer a diferença. A experiência vem de Nova Iorque. Não é nada do outro mundo, mas funciona e bem. Leia a história que vem hoje publicada no Washington Post.
Intelectuais
Tradutores de "códigos culturais"?
Mas não está o mundo, todo ele, a esteticizar-se?
Não se encontrarão hoje esses "tradutores", ao mesmo tempo, fora e dentro do que se acha ser o mundo da cultura?
Para quê fazer dos "intelectuais" uma horda fechada, ou uma espécie de autismo exilado no velhinho fumo de tabaco sartreano?
Gen çler bir li gi
Tradução: Rebuçados baratos agora em saldo. Tome três de uma vez. E piu e piu.
Tradutores de "códigos culturais"?
Mas não está o mundo, todo ele, a esteticizar-se?
Não se encontrarão hoje esses "tradutores", ao mesmo tempo, fora e dentro do que se acha ser o mundo da cultura?
Para quê fazer dos "intelectuais" uma horda fechada, ou uma espécie de autismo exilado no velhinho fumo de tabaco sartreano?
Gen çler bir li gi
Tradução: Rebuçados baratos agora em saldo. Tome três de uma vez. E piu e piu.
Quem havia de dizer?
Mas é verdade. Acabou de entrar em cena um novo blogue com um nome no mínimo pouco previsível: Causa Nossa. E não é que, nesse sentimento de causa tão partilhada, o dito blogue consegue unir nomes tais como Ana Gomes, Eduardo Prado Coelho, Jorge Wemans, Luis Nazaré, Luis Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira! E ainda havia vozes que diziam, há pouco tempo, que isto da blogosfera era uma moda efémera!
O que vale é que a blogosfera é sempre uma boa e generosa anfitriã.
Mas é verdade. Acabou de entrar em cena um novo blogue com um nome no mínimo pouco previsível: Causa Nossa. E não é que, nesse sentimento de causa tão partilhada, o dito blogue consegue unir nomes tais como Ana Gomes, Eduardo Prado Coelho, Jorge Wemans, Luis Nazaré, Luis Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira! E ainda havia vozes que diziam, há pouco tempo, que isto da blogosfera era uma moda efémera!
O que vale é que a blogosfera é sempre uma boa e generosa anfitriã.
Rua da Judiaria
Aí está mais um blogue que passarei a visitar regularmente, não apenas porque nasci numa Judiaria, não apenas pelas memórias dos cheiros e das cores das ruas de Jerusalém, não apenas pela matéria romanesca que me persegue há anos, não apenas pela necessidade de denunciar o anti-semitismo que impunemente e sob várias formas atravessa a Europa, mas também porque é um blogue afirmativo, tolerante e bem escrito.
Aí está mais um blogue que passarei a visitar regularmente, não apenas porque nasci numa Judiaria, não apenas pelas memórias dos cheiros e das cores das ruas de Jerusalém, não apenas pela matéria romanesca que me persegue há anos, não apenas pela necessidade de denunciar o anti-semitismo que impunemente e sob várias formas atravessa a Europa, mas também porque é um blogue afirmativo, tolerante e bem escrito.
Alcochetes
Durante o Crossfire (Sic Notícias) de hoje foi retomada uma intervenção do Dr. Jorge Sampaio que já me tinha deixado intrigado e em alerta, sobretudo porque atravesso a ponte Vasco da Gama umas quatro vezes por semana. Disse o Presidente da República (creio que na Terça-feira passada), referindo-se ao corpo da GNR estacionado no Iraque, que se trata de uma missão de alto risco e que, por isso mesmo, não é assim uma coisa tão simples "como ir ali a Alcochete". Apenas hoje, depois de ver o Sporting perder com os Turcos, é que finalmente percebi a subtileza e a profundidade que Sampaio terá querido transmitir aos portugueses.
Durante o Crossfire (Sic Notícias) de hoje foi retomada uma intervenção do Dr. Jorge Sampaio que já me tinha deixado intrigado e em alerta, sobretudo porque atravesso a ponte Vasco da Gama umas quatro vezes por semana. Disse o Presidente da República (creio que na Terça-feira passada), referindo-se ao corpo da GNR estacionado no Iraque, que se trata de uma missão de alto risco e que, por isso mesmo, não é assim uma coisa tão simples "como ir ali a Alcochete". Apenas hoje, depois de ver o Sporting perder com os Turcos, é que finalmente percebi a subtileza e a profundidade que Sampaio terá querido transmitir aos portugueses.
quinta-feira, 27 de novembro de 2003
Coragem!
As sondagens levadas a cabo pelo Economist são francamente optimistas. Nelas, o ano de 2004 parece reconfortar as piores expectativas:
Se é verdade que o pós-09/11 se tem traduzido por um caudal de cepticismo, diga-se que estes prognósticos parecem agora no mínimo inesperados. Para conhecer melhor a sondagem clique aqui.
As sondagens levadas a cabo pelo Economist são francamente optimistas. Nelas, o ano de 2004 parece reconfortar as piores expectativas:
Se é verdade que o pós-09/11 se tem traduzido por um caudal de cepticismo, diga-se que estes prognósticos parecem agora no mínimo inesperados. Para conhecer melhor a sondagem clique aqui.
Israel vs Palestina
No New York Review of Books pode ler-se uma polémica interessante sobre o ancestral conflito do Médio Oriente. Textos de Abraham H. Foxman, Amos Elon, Michael Walzer, Omer Bartov e Tony Judt.
No New York Review of Books pode ler-se uma polémica interessante sobre o ancestral conflito do Médio Oriente. Textos de Abraham H. Foxman, Amos Elon, Michael Walzer, Omer Bartov e Tony Judt.
Intertexto
Eis como existe também um bloco central na União Europeia. As propostas de alteração à futura constituição europeia têm a tendência para deixar "quase intacto" o texto original com que se defrontam. Aconteceu agora também com a proposta da presidência italiana da UE. O mecanismo é interessante: um texto já devidamente fixado vai-se repetindo, embora com pequenas oscilações, no que seria uma espécie de micro sismo que ninguém sente. O objectivo é o acto "consensual". Ou seja, a tal melopeia de um bloco central. Eu creio que o "bom senso" não se deve confundir com este tipo de atitude intertextual.
Eis como existe também um bloco central na União Europeia. As propostas de alteração à futura constituição europeia têm a tendência para deixar "quase intacto" o texto original com que se defrontam. Aconteceu agora também com a proposta da presidência italiana da UE. O mecanismo é interessante: um texto já devidamente fixado vai-se repetindo, embora com pequenas oscilações, no que seria uma espécie de micro sismo que ninguém sente. O objectivo é o acto "consensual". Ou seja, a tal melopeia de um bloco central. Eu creio que o "bom senso" não se deve confundir com este tipo de atitude intertextual.
Como é possível?
Mas foi. Um relatório do Observatório da União Europeia para os Fenómenos Racistas e Anti-semitas (EUMC) foi metido na gaveta. O que se passa afinal neste nosso continente tão manifestatariamente correcto?
Leia aqui a ponta do iceberg deste verdadeiro escândalo.
Mas foi. Um relatório do Observatório da União Europeia para os Fenómenos Racistas e Anti-semitas (EUMC) foi metido na gaveta. O que se passa afinal neste nosso continente tão manifestatariamente correcto?
Leia aqui a ponta do iceberg deste verdadeiro escândalo.
quarta-feira, 26 de novembro de 2003
Ulisses
Finalmente o coração da noite. Cortinas levantadas, vozes a cruzarem a respiração dos arbustos. As sebes e, mais ao longe, as nuvens densíssimas a procriarem o verbo e tanta ausência de lua.
Entretanto, o cão Ulisses já está deitado na carpete, mas de olho bem aberto: que questionará aquele olhar tão sagaz, tão distante e tão próximo?
Finalmente o coração da noite. Cortinas levantadas, vozes a cruzarem a respiração dos arbustos. As sebes e, mais ao longe, as nuvens densíssimas a procriarem o verbo e tanta ausência de lua.
Entretanto, o cão Ulisses já está deitado na carpete, mas de olho bem aberto: que questionará aquele olhar tão sagaz, tão distante e tão próximo?
Portugal: inércias e reacções e brilhos
Depois do último post, houve já quem me contactasse para protestar. Pena é que não desse a face para uma discussão aberta sobre o tema. Quando falo de "inércia" como sendo o referente essencial das esquerdas não é meu objectivo "atacar" seja quem for. Podia ir mais longe e afirmar que esse facto é apenas o contraponto ou o correlato de um desajuste mais geral, no seio do qual a nossa direita é sempre o outro lado da moeda. Clarifiquemos:
Portugal tem uma esquerda defensiva que sabe, a nível profundo, que as suas causas e genealogias oitocentistas andam há algum tempo à deriva no meio da rede omnipolitana do mundo contemporâneo onde as referências pesadas de outrora deixaram de mobilizar as "massas". A vocação das esquerdas, mesmo das que tentam situar-se na actualidade, é sempre tendencialmente contra-cultural e filha de fantasmas anti-qualquer coisa (capitalismo, americanismo, globalização). Esse binarismo arrasta-a, às vezes, de modo subliminar e porventura involuntário, até aos limiares de algum anti-semitismo, quando não a conduz a confundir mesmo a defesa necessária das práticas democráticas com quixotismos fantasmáticos de alegado cariz anti-imperial. A reformatação da tradição iluminista das esquerdas está quase toda por fazer-se. É a minha opinião.
Por outro lado, a nossa direita é quase inexistente enquanto tal. O regime anterior não deixou semente e continuidade, como aconteceu em Espanha (e ainda bem), e, por outro lado, uma certa inteligência de direita (jovem e algo ecléctica, aliás com alguma presença na blogosfera) é sobretudo reactiva. Reage à dimensão institucional que se estatuiu nos últimos trinta anos no nosso país. Querendo ser direita, diz-se no entanto liberal; tentando ser mais papista do que o papa e fazendo da sua elegia retórica pura, não consegue dispor de um poder de afirmação que, por exemplo, já se reconheceu entre nós, com marca genuína e a título de excepção, num Sá Carneiro.
O que domina o nosso país, hoje em dia, é sobretudo um acacianismo entre o pacóvio e o fugazmente correcto, mais localista do que cosmopolita. Quando o nosso poder acena à esquerda, tem sempre o peso maior colocado ao centro; e quando acena à direita, continua a ter o peso mais pesado sempre colocado ao centro. Esta centripticidade morna e pouco criativa está longe da inércia das esquerdas e da simulação retórica das novas direitas. É sobretudo um centro que se reflecte a si próprio e que bloqueia e resiste à capacidade mais radical de inovar (veja-se a tragédia da nossa administração pública!).
A virtude de Portugal está nas linhas de fuga virtuosistas que iluminam o nosso espectro social por vezes de modo surpreendente. No meio da penumbra do amplo centro, de facto, às vezes, há momentos de brilho verdadeiramente inexplicáveis (que não se prevêem e que não têm continuidade). Esta mais-valia lusa não tem dedo de direita, nem de esquerda. É o vislumbre profundo, expontâneo e subitamente genial que, de quando em quando, de modo pontual, se afasta radicalmente do edifício de todos nós em direcção a outra galáxia. Nesta medida, Portugal é o país mais corrosivamente deleuzeano que conheço.
Depois do último post, houve já quem me contactasse para protestar. Pena é que não desse a face para uma discussão aberta sobre o tema. Quando falo de "inércia" como sendo o referente essencial das esquerdas não é meu objectivo "atacar" seja quem for. Podia ir mais longe e afirmar que esse facto é apenas o contraponto ou o correlato de um desajuste mais geral, no seio do qual a nossa direita é sempre o outro lado da moeda. Clarifiquemos:
Portugal tem uma esquerda defensiva que sabe, a nível profundo, que as suas causas e genealogias oitocentistas andam há algum tempo à deriva no meio da rede omnipolitana do mundo contemporâneo onde as referências pesadas de outrora deixaram de mobilizar as "massas". A vocação das esquerdas, mesmo das que tentam situar-se na actualidade, é sempre tendencialmente contra-cultural e filha de fantasmas anti-qualquer coisa (capitalismo, americanismo, globalização). Esse binarismo arrasta-a, às vezes, de modo subliminar e porventura involuntário, até aos limiares de algum anti-semitismo, quando não a conduz a confundir mesmo a defesa necessária das práticas democráticas com quixotismos fantasmáticos de alegado cariz anti-imperial. A reformatação da tradição iluminista das esquerdas está quase toda por fazer-se. É a minha opinião.
Por outro lado, a nossa direita é quase inexistente enquanto tal. O regime anterior não deixou semente e continuidade, como aconteceu em Espanha (e ainda bem), e, por outro lado, uma certa inteligência de direita (jovem e algo ecléctica, aliás com alguma presença na blogosfera) é sobretudo reactiva. Reage à dimensão institucional que se estatuiu nos últimos trinta anos no nosso país. Querendo ser direita, diz-se no entanto liberal; tentando ser mais papista do que o papa e fazendo da sua elegia retórica pura, não consegue dispor de um poder de afirmação que, por exemplo, já se reconheceu entre nós, com marca genuína e a título de excepção, num Sá Carneiro.
O que domina o nosso país, hoje em dia, é sobretudo um acacianismo entre o pacóvio e o fugazmente correcto, mais localista do que cosmopolita. Quando o nosso poder acena à esquerda, tem sempre o peso maior colocado ao centro; e quando acena à direita, continua a ter o peso mais pesado sempre colocado ao centro. Esta centripticidade morna e pouco criativa está longe da inércia das esquerdas e da simulação retórica das novas direitas. É sobretudo um centro que se reflecte a si próprio e que bloqueia e resiste à capacidade mais radical de inovar (veja-se a tragédia da nossa administração pública!).
A virtude de Portugal está nas linhas de fuga virtuosistas que iluminam o nosso espectro social por vezes de modo surpreendente. No meio da penumbra do amplo centro, de facto, às vezes, há momentos de brilho verdadeiramente inexplicáveis (que não se prevêem e que não têm continuidade). Esta mais-valia lusa não tem dedo de direita, nem de esquerda. É o vislumbre profundo, expontâneo e subitamente genial que, de quando em quando, de modo pontual, se afasta radicalmente do edifício de todos nós em direcção a outra galáxia. Nesta medida, Portugal é o país mais corrosivamente deleuzeano que conheço.
Hipers
O Miniscente é caracterizado pelo Blog de Esquerda como "Hiper-activo blogue do escritor Luís Carmelo". É a curiosa perspectiva da esquerda (de quase toda) que insiste muitas vezes em tomar como referencial aquilo que se avizinha da inércia. Agradecemos o elogio.
O Miniscente é caracterizado pelo Blog de Esquerda como "Hiper-activo blogue do escritor Luís Carmelo". É a curiosa perspectiva da esquerda (de quase toda) que insiste muitas vezes em tomar como referencial aquilo que se avizinha da inércia. Agradecemos o elogio.
Sussurro
Chove. As ruas a deslizar em água. Esboços de personagens a enformarem, a ganharem corpo. Espécie de superfície branca sob o amplificador: as figuras submergem e movem-se em câmara lenta, disforme, embalada. Há já alguns dias que persigo meia dúzia de personagens. São dois triângulos (não amorosos), seis movimentos que irradiam e criam destinos diversos. A teia ainda é frágil, é certo, mas prenuncia já mundos interessantes. Falta agora a escrita como argamassa para que esta rede filigrânica venha ao ser. Talvez tenha tempo lá para Fevereiro do próximo ano. Por agora é seguir a chuva, a moleza desordenada do tempo, as sombras esguias dos personagens e o quase imperceptível sussurro da imaginação.
Chove. As ruas a deslizar em água. Esboços de personagens a enformarem, a ganharem corpo. Espécie de superfície branca sob o amplificador: as figuras submergem e movem-se em câmara lenta, disforme, embalada. Há já alguns dias que persigo meia dúzia de personagens. São dois triângulos (não amorosos), seis movimentos que irradiam e criam destinos diversos. A teia ainda é frágil, é certo, mas prenuncia já mundos interessantes. Falta agora a escrita como argamassa para que esta rede filigrânica venha ao ser. Talvez tenha tempo lá para Fevereiro do próximo ano. Por agora é seguir a chuva, a moleza desordenada do tempo, as sombras esguias dos personagens e o quase imperceptível sussurro da imaginação.
Névoa
Acordo entre as névoas. Em frente, os velhos vizinhos: um limoeiro tímido, a nespereira que se fecha em segredos longínquos e, ao lado, as tangerinas que parecem querer escalar pela invisibilidade do céu. Há paraísos que nos escapam, que se removem na voracidade do quotidiano, que se diluem no imenso ruído do pasmo e do pranto diários. Mas, por um escasso segundo, há que saber detectá-los. Percebê-los. Marcas de uma névoa ainda densa.
Acordo entre as névoas. Em frente, os velhos vizinhos: um limoeiro tímido, a nespereira que se fecha em segredos longínquos e, ao lado, as tangerinas que parecem querer escalar pela invisibilidade do céu. Há paraísos que nos escapam, que se removem na voracidade do quotidiano, que se diluem no imenso ruído do pasmo e do pranto diários. Mas, por um escasso segundo, há que saber detectá-los. Percebê-los. Marcas de uma névoa ainda densa.
terça-feira, 25 de novembro de 2003
Brevidades
Hoje estive a falar na aula acerca das secretas e talvez mesmo insuspeitas continuidades que se verificam entre o luso-borgonhês João de S. Tomás e John Locke. A teoria é do americano John Deely e revê na divisão dos conhecimentos de Locke (especulativo, prático e semiótico) uma mãozinha do nosso (até há pouco abandonado) João. Lendo alto os textos, criando diagramas no quadro e estimulando a participação com exemplos simples tudo se torna funcional e mesmo estimulante. Mais uma vez correu bem. Gosto do grupo.
Lá fora o sol veio para nos sorrir. Aceitemos o sorriso. Vou agora subir ao Chiado. É das breves viagens que mais gosto.
Hoje estive a falar na aula acerca das secretas e talvez mesmo insuspeitas continuidades que se verificam entre o luso-borgonhês João de S. Tomás e John Locke. A teoria é do americano John Deely e revê na divisão dos conhecimentos de Locke (especulativo, prático e semiótico) uma mãozinha do nosso (até há pouco abandonado) João. Lendo alto os textos, criando diagramas no quadro e estimulando a participação com exemplos simples tudo se torna funcional e mesmo estimulante. Mais uma vez correu bem. Gosto do grupo.
Lá fora o sol veio para nos sorrir. Aceitemos o sorriso. Vou agora subir ao Chiado. É das breves viagens que mais gosto.
Marcas do vento
De novo a surpresa de um dia azul e ameno a prometer um caminho sereno em direcção ao solstício. Passei ontem o serão a escrevinhar em torno dessa abstracção chamada personagens em construção. Uma rima profunda, mas ainda sem aquela face clara que permite agir. Há um momento na escrita em que o presságio é a única pena que se agita e inscreve no horizonte. Entenda-se presságio como um oceano de prenúncios que escreve lendas e marca pontos em todos os lugares possíveis de um mundo que ainda não se sabe como esfera. As marcas do vento.
De novo a surpresa de um dia azul e ameno a prometer um caminho sereno em direcção ao solstício. Passei ontem o serão a escrevinhar em torno dessa abstracção chamada personagens em construção. Uma rima profunda, mas ainda sem aquela face clara que permite agir. Há um momento na escrita em que o presságio é a única pena que se agita e inscreve no horizonte. Entenda-se presságio como um oceano de prenúncios que escreve lendas e marca pontos em todos os lugares possíveis de um mundo que ainda não se sabe como esfera. As marcas do vento.
By By Pacto
Hoje é o dia em que as regras que pressupõem o pacto de estabilidade perderam a seriedade. Por outras palavras, o pacto de estabilidade perdeu o sentido, a razão de ser e todo o tipo de fidelidade partilhada em que se baseava. Não se entende o voto de Portugal (um verdadeiro laissez faire, laissez passer táctico à Alemanha e à França), quando a política seguida por Durão Barroso, desde as últimas eleições, encontrava justamente no cumprimento do pacto a sua legitimidade. A partir de agora, a diminuição do peso do estado terá que passar a ser feita, não de acordo com um pretexto, mas sim tendo em conta uma doutrina bem explícita e a respectiva pedagogia junto à opinião pública. O rei ia nu, mas agora terá que se vestir com roupas que não enganem ninguém.
Hoje é o dia em que as regras que pressupõem o pacto de estabilidade perderam a seriedade. Por outras palavras, o pacto de estabilidade perdeu o sentido, a razão de ser e todo o tipo de fidelidade partilhada em que se baseava. Não se entende o voto de Portugal (um verdadeiro laissez faire, laissez passer táctico à Alemanha e à França), quando a política seguida por Durão Barroso, desde as últimas eleições, encontrava justamente no cumprimento do pacto a sua legitimidade. A partir de agora, a diminuição do peso do estado terá que passar a ser feita, não de acordo com um pretexto, mas sim tendo em conta uma doutrina bem explícita e a respectiva pedagogia junto à opinião pública. O rei ia nu, mas agora terá que se vestir com roupas que não enganem ninguém.
segunda-feira, 24 de novembro de 2003
Suspiros por Cartier-Bresson
Derrière la Gare de Saint Lazare, Paris, 1932
Na sequência da publicação de uma fotografia de Cartier-Bresson (ver post "Proximidades"), a Alexandra do Torneiras de Freud falou em suspiro. E eu respondi que um suspiro é sempre "uma melopeia da alma, um augúrio sem destino e um aceno sem voz."
A nossa comblogueadora gostou e acrescentou em post scriptum: "entre tantas outras imagens...lembrei-me de the house of mirth... a primeira cena... o vulto da mulher vestida de negro aparecida entre o vapor do comboio... muito bonito... e continuo na divagação... lembro -me de comboios agora... tess, polanskii. a mulher de vermelho, veludo vermelho correndo atrás do comboio..."
o suspirante cinema da blogosfera.
Derrière la Gare de Saint Lazare, Paris, 1932
Na sequência da publicação de uma fotografia de Cartier-Bresson (ver post "Proximidades"), a Alexandra do Torneiras de Freud falou em suspiro. E eu respondi que um suspiro é sempre "uma melopeia da alma, um augúrio sem destino e um aceno sem voz."
A nossa comblogueadora gostou e acrescentou em post scriptum: "entre tantas outras imagens...lembrei-me de the house of mirth... a primeira cena... o vulto da mulher vestida de negro aparecida entre o vapor do comboio... muito bonito... e continuo na divagação... lembro -me de comboios agora... tess, polanskii. a mulher de vermelho, veludo vermelho correndo atrás do comboio..."
o suspirante cinema da blogosfera.
Fecundação
Nos últimos dias, tenho estado a confrontar-me com uma série de personagens que, passo a passo, me têm vindo a aparecer no papel. Mas são personagens ainda fora de qualquer acção. Vivem sem espaço ficcional próprio e apenas se resumem a alguma mobilidade interior e exterior, a um ou outro aceno do que virá a ser o seu caminho e a meros estigmas e tendências do que poderá vir a ser a sua linguagem. A sua voz. Olho para elas e fico à espera de vozes que se manifestem. No fundo, é como se eu lhes dissesse em surdina - talk to me, talk to me!
Vejo-as a delinearem figuras, mas sei que não passam ainda de modelos ou escorços muito abstractos, sem aquela vida própria que, um dia mais tarde, poderá vir a receber todo o fulgor de um destino autonomamente talhado. Por ora, contemplo e limito-me a sentir uma espécie de receio, de compaixão sem corpo, de angústia sem dor.
É como se a montanha se erguesse, sem que eu pudesse sequer ver-lhe os contornos e os picos reflectidos num céu ainda por desenhar. Uma montanha cénica e projectada nas sombras informes de que afinal é feita a sua rocha. Informe, mas fértil.
Nos últimos dias, tenho estado a confrontar-me com uma série de personagens que, passo a passo, me têm vindo a aparecer no papel. Mas são personagens ainda fora de qualquer acção. Vivem sem espaço ficcional próprio e apenas se resumem a alguma mobilidade interior e exterior, a um ou outro aceno do que virá a ser o seu caminho e a meros estigmas e tendências do que poderá vir a ser a sua linguagem. A sua voz. Olho para elas e fico à espera de vozes que se manifestem. No fundo, é como se eu lhes dissesse em surdina - talk to me, talk to me!
Vejo-as a delinearem figuras, mas sei que não passam ainda de modelos ou escorços muito abstractos, sem aquela vida própria que, um dia mais tarde, poderá vir a receber todo o fulgor de um destino autonomamente talhado. Por ora, contemplo e limito-me a sentir uma espécie de receio, de compaixão sem corpo, de angústia sem dor.
É como se a montanha se erguesse, sem que eu pudesse sequer ver-lhe os contornos e os picos reflectidos num céu ainda por desenhar. Uma montanha cénica e projectada nas sombras informes de que afinal é feita a sua rocha. Informe, mas fértil.
Frases Felizes - 29
Open Democracy
"Na minha vida tenho uma máxima que é esta: value for money. E não sou escritora. A maioria dos escritores não percebe o mercado (como percebem, por exemplo, a Margarida Rebelo Pinto ou a J. K. Rowling) e assim nunca ganha o correspondente ao trabalho que teve e à felicidade que deu aos seus leitores." (Bomba Inteligente)
Open Democracy
"Na minha vida tenho uma máxima que é esta: value for money. E não sou escritora. A maioria dos escritores não percebe o mercado (como percebem, por exemplo, a Margarida Rebelo Pinto ou a J. K. Rowling) e assim nunca ganha o correspondente ao trabalho que teve e à felicidade que deu aos seus leitores." (Bomba Inteligente)
Trompe-l´oeil
Nadjia
Escreve o Dicionário do Diabo: "É verdade que, na blogosfera, há duas ou três pessoas incapazes, por feitio, de arrogância: estou a pensar no Francisco José Viegas, no José Mário Silva e sobretudo no Luís Carmelo. Mas isso tem mais a ver com uma personalidade pacífica do que com o conteúdo daquilo que escrevem."
Obrigado Pedro, fico contente com esse teste vivo e perspicaz sobre a minha personalidade.
No entanto, sabe-se que personalidades e identidades são coisas mais errantes, caóticas e inexplicáveis do que se possa pensar. Espero, por isso mesmo, que o "sobretudo" não conduza a um sobreaquecimento da análise. É com esses argumentos - dir-se-ia simpáticos - que muitos analistas diagnosticam uma iminência da retoma. E enganam-se.
Nadjia
Escreve o Dicionário do Diabo: "É verdade que, na blogosfera, há duas ou três pessoas incapazes, por feitio, de arrogância: estou a pensar no Francisco José Viegas, no José Mário Silva e sobretudo no Luís Carmelo. Mas isso tem mais a ver com uma personalidade pacífica do que com o conteúdo daquilo que escrevem."
Obrigado Pedro, fico contente com esse teste vivo e perspicaz sobre a minha personalidade.
No entanto, sabe-se que personalidades e identidades são coisas mais errantes, caóticas e inexplicáveis do que se possa pensar. Espero, por isso mesmo, que o "sobretudo" não conduza a um sobreaquecimento da análise. É com esses argumentos - dir-se-ia simpáticos - que muitos analistas diagnosticam uma iminência da retoma. E enganam-se.
Comparações e perigos
Há hoje um texto no blogue InstadPundit em que as analogias históricas (um pouco à moda medieval de Joaquim de Flora) acabam por ser interessantes:
Well, it's really 2003. Militarily, this war isn't much like World War Two, and historical analogies can only take us so far in general. But we can learn some things from historical analogies. The 1946 stories tell us that journalistic complaint is nothing new, and that occupation and reconstruction is an inherently messy business. (And that pre-war and wartime intelligence is, too.) The 1938 stories tell us that antisemitism is an old thing in Europe, and give us some idea of what it looks like, and how far "antiwar" intellectuals will go to avoid noticing it.
Já agora, creio que a questão do anti-semitismo é demasiado importante para a silenciarmos. Será que se está mesmo a passar na Europa aquilo que é referido neste conhecido blogue norte-americano?
A questão fica em aberto.
Há hoje um texto no blogue InstadPundit em que as analogias históricas (um pouco à moda medieval de Joaquim de Flora) acabam por ser interessantes:
Well, it's really 2003. Militarily, this war isn't much like World War Two, and historical analogies can only take us so far in general. But we can learn some things from historical analogies. The 1946 stories tell us that journalistic complaint is nothing new, and that occupation and reconstruction is an inherently messy business. (And that pre-war and wartime intelligence is, too.) The 1938 stories tell us that antisemitism is an old thing in Europe, and give us some idea of what it looks like, and how far "antiwar" intellectuals will go to avoid noticing it.
Já agora, creio que a questão do anti-semitismo é demasiado importante para a silenciarmos. Será que se está mesmo a passar na Europa aquilo que é referido neste conhecido blogue norte-americano?
A questão fica em aberto.
Ecotaxa
A ideia de lançar novos impostos em Portugal é vista no Fórum TSF, e com alguma razão, como uma "vergonha", ou até como uma "tragédia". É o que acontece quando não se explica à opinião pública seja o que for. Se algum dia o referendo europeu viesse a ter lugar (desconfio que a inércia PSD/PS quanto às datas possíveis é um meio eficaz para o impedir), imagino já a teia mundana e delirante da discussão, tendo em conta o estado de quase total ignorância e desconhecimento que se vivem hoje em Portugal sobre o assunto.
A distância entre os que decidem e o mundo das coisas palpáveis e risíveis pode, a prazo, tornar-se fatal.
A ideia de lançar novos impostos em Portugal é vista no Fórum TSF, e com alguma razão, como uma "vergonha", ou até como uma "tragédia". É o que acontece quando não se explica à opinião pública seja o que for. Se algum dia o referendo europeu viesse a ter lugar (desconfio que a inércia PSD/PS quanto às datas possíveis é um meio eficaz para o impedir), imagino já a teia mundana e delirante da discussão, tendo em conta o estado de quase total ignorância e desconhecimento que se vivem hoje em Portugal sobre o assunto.
A distância entre os que decidem e o mundo das coisas palpáveis e risíveis pode, a prazo, tornar-se fatal.
Soldadinhos de chumbo
O colunista Alcino Leite Neto escreve hoje no Folha de São Paulo:
A ampliação da capacidade militar da América do Sul e a formação pelos países deste continente de Forças Armadas comuns foi sugerida há poucos dias pelo ministro José Dirceu em palestra a empresários brasileiros e latino-americanos. Ele pensava sobretudo na utilidade dessas forças para proteção da área amazônica, que na sua opinião tem chances de ser ocupada militarmente pelos Estados Unidos. A previsão parece remeter a filmes de ficção científica, mas partiu de um homem de Estado que não costuma gastar à tôa as suas palavras.
A única novidade do raciocínio de Dirceu é pensar a proteção da região amazônica como uma cooperação entre países latino-americanos contra o grande irmão maldoso do Norte. Outrora, nos tempos militares, vigoravam princípios menos cooperativos com os vizinhos (exceto, claro, no combate à subversão), e os EUA eram um aliado respeitoso diante da praga comunista propagada pela URSS.A pesar de ter afirmado que a idéia de uma nova era de investimentos militares na América Latina era unicamente sua, e não do governo, é muito difícil crer que Dirceu não tenha soprado a sugestão nos salões privados do Planalto. E é provável que ela seja compartilhada pela cúpula do poder petista, com seu bolivarismo recalcado.
A citação é grande, mas é de leitura útil. Sobretudo porque dá a entender o que é o delírio geo-estratégico e o alheamento radical face a um mundo que está a ser dominado por uma globalização anti-democrática e de tendência hiperterrorista. Apesar dos erros do Ocidente e dos EUA na crise iraquiana, é de facto preciso delirar para trocar completamente os alvos como se a realidade fosse feita de soldadinhos de chumbo a lutarem no sótão de um qualquer ministério.
O colunista Alcino Leite Neto escreve hoje no Folha de São Paulo:
A ampliação da capacidade militar da América do Sul e a formação pelos países deste continente de Forças Armadas comuns foi sugerida há poucos dias pelo ministro José Dirceu em palestra a empresários brasileiros e latino-americanos. Ele pensava sobretudo na utilidade dessas forças para proteção da área amazônica, que na sua opinião tem chances de ser ocupada militarmente pelos Estados Unidos. A previsão parece remeter a filmes de ficção científica, mas partiu de um homem de Estado que não costuma gastar à tôa as suas palavras.
A única novidade do raciocínio de Dirceu é pensar a proteção da região amazônica como uma cooperação entre países latino-americanos contra o grande irmão maldoso do Norte. Outrora, nos tempos militares, vigoravam princípios menos cooperativos com os vizinhos (exceto, claro, no combate à subversão), e os EUA eram um aliado respeitoso diante da praga comunista propagada pela URSS.A pesar de ter afirmado que a idéia de uma nova era de investimentos militares na América Latina era unicamente sua, e não do governo, é muito difícil crer que Dirceu não tenha soprado a sugestão nos salões privados do Planalto. E é provável que ela seja compartilhada pela cúpula do poder petista, com seu bolivarismo recalcado.
A citação é grande, mas é de leitura útil. Sobretudo porque dá a entender o que é o delírio geo-estratégico e o alheamento radical face a um mundo que está a ser dominado por uma globalização anti-democrática e de tendência hiperterrorista. Apesar dos erros do Ocidente e dos EUA na crise iraquiana, é de facto preciso delirar para trocar completamente os alvos como se a realidade fosse feita de soldadinhos de chumbo a lutarem no sótão de um qualquer ministério.
domingo, 23 de novembro de 2003
Proximidades
Cartier-Bresson: Couple dans le Quais, Paris, 1958
Queria agradecer a gentileza de Wayne Hurlbert (Blog Business World) e do Letteri Café. Obrigado a ambos pelas novas ligações atlânticas. Por cima, uma imagem emblemática (publicada no último dos dois blogues) como prova da nova ciberamizade.
Cartier-Bresson: Couple dans le Quais, Paris, 1958
Queria agradecer a gentileza de Wayne Hurlbert (Blog Business World) e do Letteri Café. Obrigado a ambos pelas novas ligações atlânticas. Por cima, uma imagem emblemática (publicada no último dos dois blogues) como prova da nova ciberamizade.
Fenice e Las Vegas
Acabo de ler um óptimo artigo do escritor italiano Alessandro Barrico sobre a reconstrução de uma das óperas mais emblemáticas do mundo: a de Veneza. O artigo está republicado no Courrier International e remete para um original não datado do La Repubblica (não posso, pois, fazer o linque).
Nele se dá conta da história recente da Fenice de Veneza, depois do seu incêndio de 1996, e também da opinião unânime e previsível das elites locais: reconstruir tudo igual ao que existia antes, repor o original, ou, por outras palavras ainda, manter tudo como se nada se tivesse passado. Convém acrescentar que toda esta obsessão pelo idêntico ganha contornos algo bizarros na medida em que, após o incêndio 1854, os venezianos de então se haviam decidido por uma fidedignidade ainda mais radical: a construção de um teatro do século XVIII (imitação forjada, claro está).
Conclusão: toda a profusa decoração que é agora a obra devotada dos artesãos do início do século XXI (passarinhos, motivos vegetais, formas decorativas dos candeeiros, espelhos, pinturas filigrânicas, mobiliário, etc.) tem cegamente obedecido a uma espécie de culto do original do original, através da pesquisa milimétrica a simuladas imaginações hoje sem sentido. Toda esta tarefa “louca” apenas parece ter um único objectivo, ou seja, dizer a quem olhe de frente para a Fenice que ali nada se passou, que ali nunca nada mesmo se passou.
Depois de ler o longo artigo de Barrico veio-me à cabeça um rol de coisas sobre as quais já escrevi, nomeadamente a crença (setecentista e oitocentista) na história e a obsessão pela preservação (e pelo controlo do passado, mas também do futuro). Não é novidade afirmar-se que a Europa pós-iluminista inventou o passado, já que o transformou em ciência e em arquivo racional. O pobre do Da Vinci não sabia que era renascentista, o letrado de Aquino não sabia que era medieval e o confessional do Agostinho não sabia que era antigo. Invenções.
Umbilicalmente ligada a um culto ordenado e sobretudo sacralizado do passado (o novo deus é bifronte e tem os nomes de “comemoração” e de “património”), a inteligência enfatuada da actual Europa parece insistir em ter de si uma ideia singular e, por isso mesmo, crê que a reconstrução fiel do que já não existe deve revestir-se de sublimada letra de lei. Daí também a constituição europeia. Daí a ópera veneziana, daí a liturgia catalã do Liceo de há quase uma década. Daí, também, o arrojo reconstrutor do Chiado lisboeta.
Vivemos num mundo de cenários onde as máscaras deslizam sobre máscaras para disfarçar, quem sabe, a magia do poder que se foi apartando da Europa. Pelo menos em Las Vegas as cópias não são menos fidedignas, mas a paródia faz delas o que elas realmente são: uma perversa loucura borgeana. Exposta diante das mil luzes que a Europa foi deixando à deriva atrás do seu próprio rasto.
Acabo de ler um óptimo artigo do escritor italiano Alessandro Barrico sobre a reconstrução de uma das óperas mais emblemáticas do mundo: a de Veneza. O artigo está republicado no Courrier International e remete para um original não datado do La Repubblica (não posso, pois, fazer o linque).
Nele se dá conta da história recente da Fenice de Veneza, depois do seu incêndio de 1996, e também da opinião unânime e previsível das elites locais: reconstruir tudo igual ao que existia antes, repor o original, ou, por outras palavras ainda, manter tudo como se nada se tivesse passado. Convém acrescentar que toda esta obsessão pelo idêntico ganha contornos algo bizarros na medida em que, após o incêndio 1854, os venezianos de então se haviam decidido por uma fidedignidade ainda mais radical: a construção de um teatro do século XVIII (imitação forjada, claro está).
Conclusão: toda a profusa decoração que é agora a obra devotada dos artesãos do início do século XXI (passarinhos, motivos vegetais, formas decorativas dos candeeiros, espelhos, pinturas filigrânicas, mobiliário, etc.) tem cegamente obedecido a uma espécie de culto do original do original, através da pesquisa milimétrica a simuladas imaginações hoje sem sentido. Toda esta tarefa “louca” apenas parece ter um único objectivo, ou seja, dizer a quem olhe de frente para a Fenice que ali nada se passou, que ali nunca nada mesmo se passou.
Depois de ler o longo artigo de Barrico veio-me à cabeça um rol de coisas sobre as quais já escrevi, nomeadamente a crença (setecentista e oitocentista) na história e a obsessão pela preservação (e pelo controlo do passado, mas também do futuro). Não é novidade afirmar-se que a Europa pós-iluminista inventou o passado, já que o transformou em ciência e em arquivo racional. O pobre do Da Vinci não sabia que era renascentista, o letrado de Aquino não sabia que era medieval e o confessional do Agostinho não sabia que era antigo. Invenções.
Umbilicalmente ligada a um culto ordenado e sobretudo sacralizado do passado (o novo deus é bifronte e tem os nomes de “comemoração” e de “património”), a inteligência enfatuada da actual Europa parece insistir em ter de si uma ideia singular e, por isso mesmo, crê que a reconstrução fiel do que já não existe deve revestir-se de sublimada letra de lei. Daí também a constituição europeia. Daí a ópera veneziana, daí a liturgia catalã do Liceo de há quase uma década. Daí, também, o arrojo reconstrutor do Chiado lisboeta.
Vivemos num mundo de cenários onde as máscaras deslizam sobre máscaras para disfarçar, quem sabe, a magia do poder que se foi apartando da Europa. Pelo menos em Las Vegas as cópias não são menos fidedignas, mas a paródia faz delas o que elas realmente são: uma perversa loucura borgeana. Exposta diante das mil luzes que a Europa foi deixando à deriva atrás do seu próprio rasto.
sábado, 22 de novembro de 2003
Rias & Cariocas
O nome é Desde o Sovaco de Cristo e reporta-se ao Cristo carioca que domina todo o Rio de Janeiro. Mas imagine-se que o blogue em causa se assume sobretudo como um "caderno galego-brasileiro", ou seja, como uma espécie de transa atlântica que põe em contacto o noroeste ibérico das grandes rias com as terras do bom trópico. A blogosfera está assim aberta a todo o tipo de transas.
Pela nossa parte, obrigado pelo linque.
O nome é Desde o Sovaco de Cristo e reporta-se ao Cristo carioca que domina todo o Rio de Janeiro. Mas imagine-se que o blogue em causa se assume sobretudo como um "caderno galego-brasileiro", ou seja, como uma espécie de transa atlântica que põe em contacto o noroeste ibérico das grandes rias com as terras do bom trópico. A blogosfera está assim aberta a todo o tipo de transas.
Pela nossa parte, obrigado pelo linque.
Vertigens
Se alguém lhe tivesse sorrido nos olhos, cara a cara, ela não se teria atirado da Golden Gate. Era o quando bastava. Mas tal não aconteceu. Há histórias que dão a volta a qualquer propósito ficcional. Mas esta é apenas uma das muitíssimas histórias factuais que Tad Friend descreve no seu artigo Jumpers - The fatal grandeur of the Golden Gate Bridge. A ler.
Se alguém lhe tivesse sorrido nos olhos, cara a cara, ela não se teria atirado da Golden Gate. Era o quando bastava. Mas tal não aconteceu. Há histórias que dão a volta a qualquer propósito ficcional. Mas esta é apenas uma das muitíssimas histórias factuais que Tad Friend descreve no seu artigo Jumpers - The fatal grandeur of the Golden Gate Bridge. A ler.
Lynch a um segundo
David Lynch decidiu lançar mãos à obra e dar corpo a uns interessantes episódios de animação de nome Dumbland. Podem ser vistos aqui (com a última versão do Flash). O meu obrigado ao Tiago Valente!
David Lynch decidiu lançar mãos à obra e dar corpo a uns interessantes episódios de animação de nome Dumbland. Podem ser vistos aqui (com a última versão do Flash). O meu obrigado ao Tiago Valente!
Lucidez contra o hiperterrorismo
O novo terrorismo tem características muito claras: processa-se em rede, ou seja, não é comandado por uma central única e centralizada (trata-se de um polvo com várias extensões e qualidades); tem como alvo o ocidente como uma excrescência da humanidade; defende princípios religiosos ligados à revelação do livro e associados a uma moralidade pré-moderna; não olha a meios para atingir fins (recorre ao suicídio de forma já banalizada e projecta-se em possíveis e ainda inimagináveis plataformas hiperterroristas) e, por fim, procura pretextos políticos para legitimar a sua acção ignóbil (nomeadamente ancorando o seu discurso no epicentro israelo-palestiniano e, mais recentemente, visando a questão iraquiana - casos recentes de Istambul).
Já lá vai o tempo em que o terrorismo era um agir baseado em atentados, assassínios ostensivos (JFK morreu faz hoje quarenta anos) ou em explosões mais ou menos cirúrgicas. O diagnóstico do terrorismo assente numa perspectiva territorial ou até nacional, filtrado por causas visíveis (i.e., plausíveis, compreensíveis) e delimitadas, é algo do passado. Hoje em dia, a globalização terrorista anti-democrática vai muito para além das reivindicações de mudança e exige basicamente o aniquilamento de uma invenção que é, ela mesma, o próprio modus vivendi a que o ocidente acedeu do século XVIII para cá. A liberdade, a justiça baseada em pressupostos humanos, a legitimidade democrática, o mercado e um espaço público não submetido a uma interpretação teológica são as traves mestras desse modo de estar no mundo.
Ao contrário de certa esquerda hilariante (BE e certas franjas mesmo do PS - já nem incluo no painel o PCP), penso que o ocidente se deve preparar para uma defesa sem tréguas. A liberdade não tem preço. E a democracia também não.
Culpabilizar sistematicamente o ocidente de tudo é contribuir para a sua inoperância e inércia na nova guerra mundial em que estamos já a viver (e que muitos preferem comodamente não entender como tal).
O novo terrorismo tem características muito claras: processa-se em rede, ou seja, não é comandado por uma central única e centralizada (trata-se de um polvo com várias extensões e qualidades); tem como alvo o ocidente como uma excrescência da humanidade; defende princípios religiosos ligados à revelação do livro e associados a uma moralidade pré-moderna; não olha a meios para atingir fins (recorre ao suicídio de forma já banalizada e projecta-se em possíveis e ainda inimagináveis plataformas hiperterroristas) e, por fim, procura pretextos políticos para legitimar a sua acção ignóbil (nomeadamente ancorando o seu discurso no epicentro israelo-palestiniano e, mais recentemente, visando a questão iraquiana - casos recentes de Istambul).
Já lá vai o tempo em que o terrorismo era um agir baseado em atentados, assassínios ostensivos (JFK morreu faz hoje quarenta anos) ou em explosões mais ou menos cirúrgicas. O diagnóstico do terrorismo assente numa perspectiva territorial ou até nacional, filtrado por causas visíveis (i.e., plausíveis, compreensíveis) e delimitadas, é algo do passado. Hoje em dia, a globalização terrorista anti-democrática vai muito para além das reivindicações de mudança e exige basicamente o aniquilamento de uma invenção que é, ela mesma, o próprio modus vivendi a que o ocidente acedeu do século XVIII para cá. A liberdade, a justiça baseada em pressupostos humanos, a legitimidade democrática, o mercado e um espaço público não submetido a uma interpretação teológica são as traves mestras desse modo de estar no mundo.
Ao contrário de certa esquerda hilariante (BE e certas franjas mesmo do PS - já nem incluo no painel o PCP), penso que o ocidente se deve preparar para uma defesa sem tréguas. A liberdade não tem preço. E a democracia também não.
Culpabilizar sistematicamente o ocidente de tudo é contribuir para a sua inoperância e inércia na nova guerra mundial em que estamos já a viver (e que muitos preferem comodamente não entender como tal).
A condição de A Falha
Ontem fui a Vila Viçosa e compareci no renovado cineteatro para participar no primeiro debate público sobre a relação filme-literatura no caso de A Falha. Eu comecei por dizer que o objecto imaginário que atravessa o romance e que se projecta (autrement) no filme não visa nenhum mundo ou nenhum universo específico, mas visa, isso sim, a passagem ou a travessia entre mundos ou universos. Por sua vez, o João Mário Grilo disse, já depois do visionamento, que o facto de o ímpeto trágico que domina o filme não se repercutir no final sobre as personagens (estas falam do passado como se nada se tivesse passado) se justifica essencialmente por ser muito ténue a ligação que se pressupõe entre o "nada que se passa" e o "tudo que se passa". E deu o exemplo do dia em que nasce um filho: nesse dia, existe a predicação ou quase a promessa que consiste em enunciar que aquele terá sido o dia mais feliz de uma vida, mas, depois, com o tempo, sabe-se que assim não é. E é um saber que nunca se confessa, que nunca se diz. Por outras palavras, jamais se agarra ou encorpa aquilo que é o maior ou o pior, i.e., o extraordinário. O fluir do tempo, a travessia inelutável entre as coisas e a errância dos blocos de que imaginamos serem constituídas as identidades acabam por ser os campos mais férteis para a Falha. Ao fim e ao cabo, A Falha é o secreto instrumento que atravessa e dá corpo a esse fio que liga, de modo quase invisível, a ilusão e a desilusão. A Falha persistirá assim para além das coisas e, no romance (no filme, também, claro!), ela acaba por aparecer como metáfora geológica, memorial, ontológica, mas sobretudo como reposição de um depois (no romance de redenção, no filme com halo trágico) em que o quotidiano volta sempre a ser risível e prisioneiro de um vislumbramento dominado pelo spleen.
Ontem fui a Vila Viçosa e compareci no renovado cineteatro para participar no primeiro debate público sobre a relação filme-literatura no caso de A Falha. Eu comecei por dizer que o objecto imaginário que atravessa o romance e que se projecta (autrement) no filme não visa nenhum mundo ou nenhum universo específico, mas visa, isso sim, a passagem ou a travessia entre mundos ou universos. Por sua vez, o João Mário Grilo disse, já depois do visionamento, que o facto de o ímpeto trágico que domina o filme não se repercutir no final sobre as personagens (estas falam do passado como se nada se tivesse passado) se justifica essencialmente por ser muito ténue a ligação que se pressupõe entre o "nada que se passa" e o "tudo que se passa". E deu o exemplo do dia em que nasce um filho: nesse dia, existe a predicação ou quase a promessa que consiste em enunciar que aquele terá sido o dia mais feliz de uma vida, mas, depois, com o tempo, sabe-se que assim não é. E é um saber que nunca se confessa, que nunca se diz. Por outras palavras, jamais se agarra ou encorpa aquilo que é o maior ou o pior, i.e., o extraordinário. O fluir do tempo, a travessia inelutável entre as coisas e a errância dos blocos de que imaginamos serem constituídas as identidades acabam por ser os campos mais férteis para a Falha. Ao fim e ao cabo, A Falha é o secreto instrumento que atravessa e dá corpo a esse fio que liga, de modo quase invisível, a ilusão e a desilusão. A Falha persistirá assim para além das coisas e, no romance (no filme, também, claro!), ela acaba por aparecer como metáfora geológica, memorial, ontológica, mas sobretudo como reposição de um depois (no romance de redenção, no filme com halo trágico) em que o quotidiano volta sempre a ser risível e prisioneiro de um vislumbramento dominado pelo spleen.
sexta-feira, 21 de novembro de 2003
Intracomunidades
Desde hoje que o Miniscente passou a fazer a ponte entre a comunidade blogosférica e algumas comunidades offline. No seguimento de uma sugestão que me foi feita, alguns jornais irão semanalmente publicar um misto de posts, ou, por outras palavras, uma espécie de crónica que terá o nome do blogue e o subtítulo "fragmentos de escrita por L.C.". Já entraram no barco o Diário Regional de Viseu, o Diário do Sul (de Évora) e estão próximos de dar continuidade à ideia os semanários Templário (Tomar), Linhas de Elvas e Diário do Alentejo (Beja), para além do Diário dos Açores de Ponta Delgada (no fundo, jornais onde colaboro ou já colaborei com mais ou menos regularidade). Vamos agora ver se a escrita online não acaba por chocar com as expectativas e com a previsibilidade mais fechada e orgânica da escrita offline. Um bom teste, portanto.
Desde hoje que o Miniscente passou a fazer a ponte entre a comunidade blogosférica e algumas comunidades offline. No seguimento de uma sugestão que me foi feita, alguns jornais irão semanalmente publicar um misto de posts, ou, por outras palavras, uma espécie de crónica que terá o nome do blogue e o subtítulo "fragmentos de escrita por L.C.". Já entraram no barco o Diário Regional de Viseu, o Diário do Sul (de Évora) e estão próximos de dar continuidade à ideia os semanários Templário (Tomar), Linhas de Elvas e Diário do Alentejo (Beja), para além do Diário dos Açores de Ponta Delgada (no fundo, jornais onde colaboro ou já colaborei com mais ou menos regularidade). Vamos agora ver se a escrita online não acaba por chocar com as expectativas e com a previsibilidade mais fechada e orgânica da escrita offline. Um bom teste, portanto.
Campanha alegre
Nos últimos dias, a minha caixa de correio electrónico tem-se vindo a encher com publicidade ao Viagra. Dizem os criativos - "Be Spontaneous Again!" - como se a malta já lá tivesse alguma vez comprado a mercadoria!
Prefiro os testemunhas de Jeová. Sempre os mando subir as escadas para lavarem a loiça.
Nos últimos dias, a minha caixa de correio electrónico tem-se vindo a encher com publicidade ao Viagra. Dizem os criativos - "Be Spontaneous Again!" - como se a malta já lá tivesse alguma vez comprado a mercadoria!
Prefiro os testemunhas de Jeová. Sempre os mando subir as escadas para lavarem a loiça.
quinta-feira, 20 de novembro de 2003
Aura
O blogue de Steven Johnson (Stevenberlinjohnson.com) fez um ano de vida há poucos dias. Para além de brindar com a blogosfera (parabéns, pela nossa parte!), deixou-nos este naco de reflexão:
I suspect the most rewarding part of all of this will arrive ten or twenty years from now, reading through the archives in chronological order, making all the long-forgotten connections ("That's right -- we were just moving into the Brooklyn house when I came up with the idea for that book," etc.) Writing books and articles gives you a nice snapshot of where your head was at on the scale of months or years, but the blog gives you the week by week (and sometimes day by day) account: all the little trails you followed and then abandoned, or the half-formed ideas that lay fallow for a season before blossoming into something useful. You get a record not of your final, polished thoughts, but rather your hunches and dead-ends.
Para além da retrospectividade pressentida, essa espécie de profecia invertida que parte do futuro em direcção às cinzas do presente, o mais interessante neste texto é o impacto que é atribuído às ideias fugazes e em construção, ao quotidiano em curso e sempre meio desvivido, ao fragmento imperfeito e encapelado que nos delimita o ser no dia a dia. Esse ser que é o ser dos blogues vive na razão inversa das mil correcções e depurações que são próprias da cultura do livro. Na escala do imediato fica apenas por dizer o corpo que a linguagem jamais repõe (excepção feita à mumificação egípcia). O que se diz na escala do imediato é afinal uma luz muita viva que já chegou, mas que ainda não chegou a ser. Um corpo apenas feito de aura.
O blogue de Steven Johnson (Stevenberlinjohnson.com) fez um ano de vida há poucos dias. Para além de brindar com a blogosfera (parabéns, pela nossa parte!), deixou-nos este naco de reflexão:
I suspect the most rewarding part of all of this will arrive ten or twenty years from now, reading through the archives in chronological order, making all the long-forgotten connections ("That's right -- we were just moving into the Brooklyn house when I came up with the idea for that book," etc.) Writing books and articles gives you a nice snapshot of where your head was at on the scale of months or years, but the blog gives you the week by week (and sometimes day by day) account: all the little trails you followed and then abandoned, or the half-formed ideas that lay fallow for a season before blossoming into something useful. You get a record not of your final, polished thoughts, but rather your hunches and dead-ends.
Para além da retrospectividade pressentida, essa espécie de profecia invertida que parte do futuro em direcção às cinzas do presente, o mais interessante neste texto é o impacto que é atribuído às ideias fugazes e em construção, ao quotidiano em curso e sempre meio desvivido, ao fragmento imperfeito e encapelado que nos delimita o ser no dia a dia. Esse ser que é o ser dos blogues vive na razão inversa das mil correcções e depurações que são próprias da cultura do livro. Na escala do imediato fica apenas por dizer o corpo que a linguagem jamais repõe (excepção feita à mumificação egípcia). O que se diz na escala do imediato é afinal uma luz muita viva que já chegou, mas que ainda não chegou a ser. Um corpo apenas feito de aura.
Resposta certa
Pergunta ao ciberauditório o Flor de Obsessão: "uma pessoa vai para sociologia porque é de esquerda ou fica de esquerda depois de ir para sociologia?" A resposta é uma pescadinha de rabo na boca, muito queimadinha do óleo já velhote em que padeceu na fritura, pousada num papelão gatafunhado e desbaratado com velhas histórias que não lembram ao menino Jesus, mas que brilham ainda ao olhar meio apocalíptico do salvador da malta pan-luliana, de seu nome São Boaventura.
E São Barnabé a dar-lhe com o desemprego!
Já agora, ciberamigo Lomba: um blogue tão estimulante, tão luso e obsessivo e sem... linques!
Essa preguiça!
Pergunta ao ciberauditório o Flor de Obsessão: "uma pessoa vai para sociologia porque é de esquerda ou fica de esquerda depois de ir para sociologia?" A resposta é uma pescadinha de rabo na boca, muito queimadinha do óleo já velhote em que padeceu na fritura, pousada num papelão gatafunhado e desbaratado com velhas histórias que não lembram ao menino Jesus, mas que brilham ainda ao olhar meio apocalíptico do salvador da malta pan-luliana, de seu nome São Boaventura.
E São Barnabé a dar-lhe com o desemprego!
Já agora, ciberamigo Lomba: um blogue tão estimulante, tão luso e obsessivo e sem... linques!
Essa preguiça!
Casa Pia global
A Casa Pia global está em marcha, já se vê. Depois de outras prisões preventivas, agora é o previsível vaivém de Michael Jackson.
A Casa Pia global está em marcha, já se vê. Depois de outras prisões preventivas, agora é o previsível vaivém de Michael Jackson.
Corrente
Diz Pedro Mexia que prefere "sempre um texto bem escrito do qual discorde a um texto mal escrito com o qual concorde". De facto, um texto pouco conta. Está lá para povoar o encontro que ele próprio suscita, para desvendar quem o possa transformar num salto em direcção a qualquer coisa, está lá para designar a sua própria efabulação e alimentar a combustão de uma partilha. O que se diz um texto? O que se subsume ao não-dito. Um fiozinho débil a recortar as (tais) ilimitadas "condições de impossibilidade" tão vizinhas afinal do mar redutor dos possíveis. Um filósofo diz o que podemos conhecer. Um semiótico diz o que eventualmente interpretamos. Um antropólogo diz a invenção circunstancial do homem na modernidade. Um gramático diz regras através dos quais seríamos falados por meio de textos. Um pescador diz a ubiquidade do mar. Um poeta diz porventura o indizível e os seus lapsos. Um camionista diz os olhos do caminho. Uma estrela diz um nada parecido, mas sem faróis de nevoeiro e sem áreas de serviço. Um escritor, finalmente, diz o tempo e a voz de uma comunidade. Lobo Antunes é dos poucos que o faz entre nós.
Estou de acordo com Mexia, mas vou ainda mais longe. A concórdia e a discórdia pressupõem-se mutuamente no texto da vida, desenleiam a abertura de itinerários e de olhares, rasgam vias e mais e mais vias que acabam por silenciá-las. A turbulenta morfologia da concórdia e da discórdia (dois "celibatos" permanentemente traídos) é a do silêncio do efémero. Quem se lembra hoje da querela dos antigos vs modernos ou da querela medieval dos universais? Lemos os textos de Ockham e de Francis Bacon, por exemplo, com cerca de trezentos anos pelo meio, e percebemos ou fruímos a elasticidade e a decerto a fidelidade dos textos, mas silenciamos e removemos completamente os "conteúdos" em causa. A sua efemer-idade. Dar corpo a esse silêncio é estudar, i.e., é já descortinar um discurso possível que emane do texto. Mas não é percorrer o que o texto diz. O texto nada diz nada.
O texto apenas diz a corrente com que navega.
Diz Pedro Mexia que prefere "sempre um texto bem escrito do qual discorde a um texto mal escrito com o qual concorde". De facto, um texto pouco conta. Está lá para povoar o encontro que ele próprio suscita, para desvendar quem o possa transformar num salto em direcção a qualquer coisa, está lá para designar a sua própria efabulação e alimentar a combustão de uma partilha. O que se diz um texto? O que se subsume ao não-dito. Um fiozinho débil a recortar as (tais) ilimitadas "condições de impossibilidade" tão vizinhas afinal do mar redutor dos possíveis. Um filósofo diz o que podemos conhecer. Um semiótico diz o que eventualmente interpretamos. Um antropólogo diz a invenção circunstancial do homem na modernidade. Um gramático diz regras através dos quais seríamos falados por meio de textos. Um pescador diz a ubiquidade do mar. Um poeta diz porventura o indizível e os seus lapsos. Um camionista diz os olhos do caminho. Uma estrela diz um nada parecido, mas sem faróis de nevoeiro e sem áreas de serviço. Um escritor, finalmente, diz o tempo e a voz de uma comunidade. Lobo Antunes é dos poucos que o faz entre nós.
Estou de acordo com Mexia, mas vou ainda mais longe. A concórdia e a discórdia pressupõem-se mutuamente no texto da vida, desenleiam a abertura de itinerários e de olhares, rasgam vias e mais e mais vias que acabam por silenciá-las. A turbulenta morfologia da concórdia e da discórdia (dois "celibatos" permanentemente traídos) é a do silêncio do efémero. Quem se lembra hoje da querela dos antigos vs modernos ou da querela medieval dos universais? Lemos os textos de Ockham e de Francis Bacon, por exemplo, com cerca de trezentos anos pelo meio, e percebemos ou fruímos a elasticidade e a decerto a fidelidade dos textos, mas silenciamos e removemos completamente os "conteúdos" em causa. A sua efemer-idade. Dar corpo a esse silêncio é estudar, i.e., é já descortinar um discurso possível que emane do texto. Mas não é percorrer o que o texto diz. O texto nada diz nada.
O texto apenas diz a corrente com que navega.
Bois
Nuno Ribeiro
Atenção à VIDEOLISBOA na Galeria Zé dos Bois. É de 20 a 30 de Novembro. O programa está aqui.
Nuno Ribeiro
Atenção à VIDEOLISBOA na Galeria Zé dos Bois. É de 20 a 30 de Novembro. O programa está aqui.
quarta-feira, 19 de novembro de 2003
Keep it!
O que o Easterblogg nos diz é coisa conhecida entre nós. Um imenso pacote legislativo, ou seja, obra absoluta e rotundamente retórica, cujo fim é perpetuar afinal o que já existe. É mal que se espalha por muito lado como se vê:
NOTHING IN THE TANK: Could 1,700 pages of legislation change nothing? Yes, if it's the energy bill. The markup language, finalized on Saturday by Republican leadership for presentation to Democrats on a take-it-or-leave-it basis, will "begin the restructuring of energy in this country," according to Representative Billy Tauzin of Louisiana, one of the negotiators. Actually the bill will keep the American energy economy exactly as it currently is. Keeping everything exactly as it currently is--plus tax breaks--seems to have been the goal, and makes the energy bill a record-setter for congressional shortsightedness.
Respiremos fundo. Nem tudo vai mal no Reino da Dinamarca (passe o facto de os dados relativos ao terceiro trimestre deste ano não serem de grande alento. Mas isso já é outra história)
O que o Easterblogg nos diz é coisa conhecida entre nós. Um imenso pacote legislativo, ou seja, obra absoluta e rotundamente retórica, cujo fim é perpetuar afinal o que já existe. É mal que se espalha por muito lado como se vê:
NOTHING IN THE TANK: Could 1,700 pages of legislation change nothing? Yes, if it's the energy bill. The markup language, finalized on Saturday by Republican leadership for presentation to Democrats on a take-it-or-leave-it basis, will "begin the restructuring of energy in this country," according to Representative Billy Tauzin of Louisiana, one of the negotiators. Actually the bill will keep the American energy economy exactly as it currently is. Keeping everything exactly as it currently is--plus tax breaks--seems to have been the goal, and makes the energy bill a record-setter for congressional shortsightedness.
Respiremos fundo. Nem tudo vai mal no Reino da Dinamarca (passe o facto de os dados relativos ao terceiro trimestre deste ano não serem de grande alento. Mas isso já é outra história)
Tácticas de flâneur - 2
Já em Lisboa. Após um longo passeio pelo Campo Grande, tive uma ideia. Não aquela ideia sagaz e genial, mas uma ideia. Uma imagem peregrina e ainda informe. Mas uma ideia, de qualquer modo. Revi um personagem obsessivo, escravo da tenacidade dos loucos, amigo de imagens fortes e silenciosamente comprometido com taras e desvarios que sé ele conhecerá na sua solidão irredutível e intransmissível. Imagino-o gordo, esbarrigado, com muita tosse, vermelho nas maçãs do rosto, voz fina, patilhas compridas, testa lisa, lábios grossos e sempre a fazer barulho quando mastiga uma omolete de queijo a transbordar de gordura. Estão a ver? Que fazer com ele? Eu já sei, mas não vou agora revelar. A blogosfera anda demasiado permeável ao terrorismo (nem vou - agora e aqui - exemplificar ou explicar porquê).
Um dia muito azul, Lisboa exuberante e os pássaros já a recolherem às árvores do Conde Barão. Passo, ausculto, olho e volto a entrar no Museu das Comunicações. Escrevo de rajada, entro e já saio. A vida é este deslize, este planar de flâneur, esta voragem a vogar numa voz, este ritmo orgânico e aberto a tender para o azul do céu e parta a cristalina aura que persegue a terra. Que é a nossa.
Já em Lisboa. Após um longo passeio pelo Campo Grande, tive uma ideia. Não aquela ideia sagaz e genial, mas uma ideia. Uma imagem peregrina e ainda informe. Mas uma ideia, de qualquer modo. Revi um personagem obsessivo, escravo da tenacidade dos loucos, amigo de imagens fortes e silenciosamente comprometido com taras e desvarios que sé ele conhecerá na sua solidão irredutível e intransmissível. Imagino-o gordo, esbarrigado, com muita tosse, vermelho nas maçãs do rosto, voz fina, patilhas compridas, testa lisa, lábios grossos e sempre a fazer barulho quando mastiga uma omolete de queijo a transbordar de gordura. Estão a ver? Que fazer com ele? Eu já sei, mas não vou agora revelar. A blogosfera anda demasiado permeável ao terrorismo (nem vou - agora e aqui - exemplificar ou explicar porquê).
Um dia muito azul, Lisboa exuberante e os pássaros já a recolherem às árvores do Conde Barão. Passo, ausculto, olho e volto a entrar no Museu das Comunicações. Escrevo de rajada, entro e já saio. A vida é este deslize, este planar de flâneur, esta voragem a vogar numa voz, este ritmo orgânico e aberto a tender para o azul do céu e parta a cristalina aura que persegue a terra. Que é a nossa.
Tácticas de flâneur
Open Democracy
De novo um dia tremendamente azul. O fluir da luminosidade. Um instante a roçar o desejo que logo se subsume ao istmo fugaz da partida. Vou de novo entrar no carro. Sigo para o IADE. Desta vez, vou falar de Walter Benjamin. Almoçarei tarde. Depois, enfim, há que saber percorrer o itinerário dos possíveis. O espaldar dos reencontros. É verdadade: recebi ontem o convite para participar num livro de contos fantásticos. Com mais oito escritores. Não esmiuçarei agora grandes detalhes, até porque não sei se vou participar com uma coisa já feita (tenho várias adequadas), ou se me ponho a ruminar uma nova. Talvez o flâneur que logo à tarde se irá perder em Lisboa, entre aulas, acabe por sentir algum repente inesperado e sábio. Quem sabe!
Open Democracy
De novo um dia tremendamente azul. O fluir da luminosidade. Um instante a roçar o desejo que logo se subsume ao istmo fugaz da partida. Vou de novo entrar no carro. Sigo para o IADE. Desta vez, vou falar de Walter Benjamin. Almoçarei tarde. Depois, enfim, há que saber percorrer o itinerário dos possíveis. O espaldar dos reencontros. É verdadade: recebi ontem o convite para participar num livro de contos fantásticos. Com mais oito escritores. Não esmiuçarei agora grandes detalhes, até porque não sei se vou participar com uma coisa já feita (tenho várias adequadas), ou se me ponho a ruminar uma nova. Talvez o flâneur que logo à tarde se irá perder em Lisboa, entre aulas, acabe por sentir algum repente inesperado e sábio. Quem sabe!
terça-feira, 18 de novembro de 2003
Tarde a discorrer
Dia de Outono muito azul. A vaguear por Lisboa. Anónimo e a fervilhar na imaginação. Acabei de dar uma aula sobre a querela dos universais (Anselmo de Cantuária vs. Guilherme de Ockham), mas acabei por falar de direita/esquerda e de global/local para explicar os universais versus nominalistas. Correu bem.
Dia de Outono muito azul. A vaguear por Lisboa. Anónimo e a fervilhar na imaginação. Acabei de dar uma aula sobre a querela dos universais (Anselmo de Cantuária vs. Guilherme de Ockham), mas acabei por falar de direita/esquerda e de global/local para explicar os universais versus nominalistas. Correu bem.
Ox: a paixão lusófona
David Adesnik, o criador e protagonista do conhecido Oxblog (Harvard, Cambridge, MA), escreveu-nos uma mensagem dando-nos conta do seu contentamento por se ver subitamente integrado na "blogosfera lusófona" (via Miniscente):
That's fantastic! Thank you so much! I always wished
I could speak Portuguese, but never got past Spanish.
I spent three months in Buenos Aires but never made it
to Brazil. But now that I've entered the lusophone
blogosphere, everything is all right.
Ainda a malta fala de auto-confiança, do pesadelo Casa Pia, da selecção assobiada, da quase tragédia dos jornalistas portugueses, dos assassinatos de Rio de Mouro, do atraso histórico no TGV, da GNR iraquiana, do queijo Limiano e das ETARs por construir! Valha-nos Deus.
David Adesnik, o criador e protagonista do conhecido Oxblog (Harvard, Cambridge, MA), escreveu-nos uma mensagem dando-nos conta do seu contentamento por se ver subitamente integrado na "blogosfera lusófona" (via Miniscente):
That's fantastic! Thank you so much! I always wished
I could speak Portuguese, but never got past Spanish.
I spent three months in Buenos Aires but never made it
to Brazil. But now that I've entered the lusophone
blogosphere, everything is all right.
Ainda a malta fala de auto-confiança, do pesadelo Casa Pia, da selecção assobiada, da quase tragédia dos jornalistas portugueses, dos assassinatos de Rio de Mouro, do atraso histórico no TGV, da GNR iraquiana, do queijo Limiano e das ETARs por construir! Valha-nos Deus.
segunda-feira, 17 de novembro de 2003
Ainda A Falha
Diz-se no A Montanha Mágica:
Ainda a respeito de literatura e cinema, podíamos na altura ter dado o exemplo da obra A Falha de Luís Carmelo , “adaptada” ao cinema por João Mário Grilo e pedir ao autor uma opinião sobre o filme. Estámos cientes que pode não o querer fazer, mas se não houver motivos, era muito bem vinda. Obrigado e perdoe-nos a falha. Desde já aproveitámos para dizer que, apenas vimos o filme ainda não lemos a obra.
De resto, toda aquela pedreira de mármore, no concelho de Vila Viçosa, é uma obra de arte da natureza explorada pelo Homem. Quem por lá passear, pode sempre meter ao bolso, como recordação, umas pedrinhas de mármore, dádiva da criação.
Deixo para já aqui um texto que escrevi ainda antes de haver filme acerca do romance. Quando o escrevi, o que me perseguia era a interrupção daquela moldura com que olhamos geralmente um edifício estável e presumivelmente assente num corpo de regras fixas.
Subitamente, escapando-se ao quotidiano, um conjunto de personagens hipotecava assim a sua vida perfeitamente normal e resgatava para si o território da tremenda falha onde tudo passava a ser, de um momento para o outro, possível. Este desafio, este despique entre deuses sem rosto, ou entre dádivas não apolíneas da criação ganha depois alento numa narrativa bastante entrecortada e com uma espécie de perverso happy end.
No filme, com um final totalmente diverso, o João viu sobretudo a história de uma geração e eu, ao ter redigido grande parte, senão o sumo, do guião, acabei por ceder um pouco a essa visão. O carácter algo híbrido do filme, ou, se se preferir, a sua demasiada inércia (em certos momentos) pode ter a sua raiz nesse ponto. Seja como for, um livro é um acontecimento e um filme é um outro acontecimento completamente diferente. O único vaso comunicante entre ambos será ou terá sido o ponto de partida imaginário que foi meu. Mas, depois, no filme - aliás, como também no livro - todas as instâncias criativas ganharam autonomia e frutificaram a seu modo.
Uma última nota: sou ainda demasiado cúmplice com a feitura do filme para dele ter uma visão exterior e suficientemente objectiva. Na próxima Sexta-feira, dia 21 de Novembro, no Cineteatro de Vila Viçosa, eu e o realizador vamos debater isto tudo pela primeira vez antes de mais um visionamento do filme. Ficam todos convidados, a começar pela Montanha Mágica.
Diz-se no A Montanha Mágica:
Ainda a respeito de literatura e cinema, podíamos na altura ter dado o exemplo da obra A Falha de Luís Carmelo , “adaptada” ao cinema por João Mário Grilo e pedir ao autor uma opinião sobre o filme. Estámos cientes que pode não o querer fazer, mas se não houver motivos, era muito bem vinda. Obrigado e perdoe-nos a falha. Desde já aproveitámos para dizer que, apenas vimos o filme ainda não lemos a obra.
De resto, toda aquela pedreira de mármore, no concelho de Vila Viçosa, é uma obra de arte da natureza explorada pelo Homem. Quem por lá passear, pode sempre meter ao bolso, como recordação, umas pedrinhas de mármore, dádiva da criação.
Deixo para já aqui um texto que escrevi ainda antes de haver filme acerca do romance. Quando o escrevi, o que me perseguia era a interrupção daquela moldura com que olhamos geralmente um edifício estável e presumivelmente assente num corpo de regras fixas.
Subitamente, escapando-se ao quotidiano, um conjunto de personagens hipotecava assim a sua vida perfeitamente normal e resgatava para si o território da tremenda falha onde tudo passava a ser, de um momento para o outro, possível. Este desafio, este despique entre deuses sem rosto, ou entre dádivas não apolíneas da criação ganha depois alento numa narrativa bastante entrecortada e com uma espécie de perverso happy end.
No filme, com um final totalmente diverso, o João viu sobretudo a história de uma geração e eu, ao ter redigido grande parte, senão o sumo, do guião, acabei por ceder um pouco a essa visão. O carácter algo híbrido do filme, ou, se se preferir, a sua demasiada inércia (em certos momentos) pode ter a sua raiz nesse ponto. Seja como for, um livro é um acontecimento e um filme é um outro acontecimento completamente diferente. O único vaso comunicante entre ambos será ou terá sido o ponto de partida imaginário que foi meu. Mas, depois, no filme - aliás, como também no livro - todas as instâncias criativas ganharam autonomia e frutificaram a seu modo.
Uma última nota: sou ainda demasiado cúmplice com a feitura do filme para dele ter uma visão exterior e suficientemente objectiva. Na próxima Sexta-feira, dia 21 de Novembro, no Cineteatro de Vila Viçosa, eu e o realizador vamos debater isto tudo pela primeira vez antes de mais um visionamento do filme. Ficam todos convidados, a começar pela Montanha Mágica.
Desvendado o cibermistério!
Ele é um dos mais visitados blogues do mundo e chama-se BOINGBOING - A DIRECTORY OF WONDERFUL THINGS (é o número 1 do Top 100 da Blogrolling). Passei por lá agora e fiquei elucidado acerca do mistério Technorati de que tenho vindo a falar. Leiamos:
David Sifry's Technorati service -- a blogmining and analysis system that can tell you the shape and velocity of the blogosphere at any given moment -- has been cranky and creaky for a couple days now. Sifry has posted an update to his blog, with info on how things are going and the difficulty of keeping pace with blogging's amazing growth.
Allow me to give you some growth statistics: One year ago, when I started Technorati on a single server in my basement, we were adding between 2,000-3,000 new weblogs each day, not counting the people who were updating sites we were already tracking. In March of this year, when we switched over to a 5 server cluster, we were keeping up with about 4,000-5,000 new weblogs each day. Right now, we're adding 8,000-9,000 new weblogs every day, not counting the 1.2 Million weblogs we already are tracking. That means that on average, a brand new weblog is created every 11 seconds. We're also seeing about 100,000 weblogs update every day as well, which means that on average, a weblog is updated every 0.86 seconds.
Um blogue criado em cada 0,86 segundos é OBRA!
Ele é um dos mais visitados blogues do mundo e chama-se BOINGBOING - A DIRECTORY OF WONDERFUL THINGS (é o número 1 do Top 100 da Blogrolling). Passei por lá agora e fiquei elucidado acerca do mistério Technorati de que tenho vindo a falar. Leiamos:
David Sifry's Technorati service -- a blogmining and analysis system that can tell you the shape and velocity of the blogosphere at any given moment -- has been cranky and creaky for a couple days now. Sifry has posted an update to his blog, with info on how things are going and the difficulty of keeping pace with blogging's amazing growth.
Allow me to give you some growth statistics: One year ago, when I started Technorati on a single server in my basement, we were adding between 2,000-3,000 new weblogs each day, not counting the people who were updating sites we were already tracking. In March of this year, when we switched over to a 5 server cluster, we were keeping up with about 4,000-5,000 new weblogs each day. Right now, we're adding 8,000-9,000 new weblogs every day, not counting the 1.2 Million weblogs we already are tracking. That means that on average, a brand new weblog is created every 11 seconds. We're also seeing about 100,000 weblogs update every day as well, which means that on average, a weblog is updated every 0.86 seconds.
Um blogue criado em cada 0,86 segundos é OBRA!
Campo Estrela
O meu clube local de sempre, O Lusitano de Évora, já tem um site. Aqui está ele. Parabéns!
O meu clube local de sempre, O Lusitano de Évora, já tem um site. Aqui está ele. Parabéns!
Profecia de guerra
Agradeço a gentileza do Max Sawicky Web Blog e o facto de ir criar um linque para o Miniscente. Retiro do seu blogue o seguinte extracto de texto, relativo à situação no Iraque e à súbita mudança de estratégia dos EUA:
If my proposal sounds edgy and radical, I'd like to point out that it has a lot of similarity to what the Bush Administration appears to be planning to do. In other words, U.S. soldiers will be withdrawn from "nation-building" duty guarding facilities, keeping order, and presenting themselves as targets to hostile forces. A quasi-sovereignty will be transferred to some configuration of Iraqis. U.S. forces will be stationed in heavily-protected enclaves and venture out at will to attack suspected insurgents. Victory will be declared, again, and the stream of progress reports will continue.
How do I know this? Because I have seen the future, and its name is Afghanistan. Victory in Afghanistan is like the outcome of a "capture the flag" game. The winner stands on top of a hill with a flag. The flag is the nominal control of Kabul. The countryside is under the control of totally self-interested opium and other warlords, the resurgent Taliban, or nobody. No money is coming in, and no nation is being built. U.S. forces sally forth periodically to fight bad guys. Typically the operations go well, but there are always more bad guys.
Será que este istmo profético tem alguma razão de ser? É bem possível que sim.
Agradeço a gentileza do Max Sawicky Web Blog e o facto de ir criar um linque para o Miniscente. Retiro do seu blogue o seguinte extracto de texto, relativo à situação no Iraque e à súbita mudança de estratégia dos EUA:
If my proposal sounds edgy and radical, I'd like to point out that it has a lot of similarity to what the Bush Administration appears to be planning to do. In other words, U.S. soldiers will be withdrawn from "nation-building" duty guarding facilities, keeping order, and presenting themselves as targets to hostile forces. A quasi-sovereignty will be transferred to some configuration of Iraqis. U.S. forces will be stationed in heavily-protected enclaves and venture out at will to attack suspected insurgents. Victory will be declared, again, and the stream of progress reports will continue.
How do I know this? Because I have seen the future, and its name is Afghanistan. Victory in Afghanistan is like the outcome of a "capture the flag" game. The winner stands on top of a hill with a flag. The flag is the nominal control of Kabul. The countryside is under the control of totally self-interested opium and other warlords, the resurgent Taliban, or nobody. No money is coming in, and no nation is being built. U.S. forces sally forth periodically to fight bad guys. Typically the operations go well, but there are always more bad guys.
Será que este istmo profético tem alguma razão de ser? É bem possível que sim.
Comments
Acabei de introduzir os "comentários" (da Haloscan). Vamos ver como é que corre a experiência.
Há sempre um problema: a atitude com que se comenta. Nem sempre a rede aberta é sinónimo de uma prática democrática também aberta. Conheço excepções alheias à liberdade e à natureza vária da sua utilização. Seja como for, com humor tudo se resolve. Não é?
Acabei de introduzir os "comentários" (da Haloscan). Vamos ver como é que corre a experiência.
Há sempre um problema: a atitude com que se comenta. Nem sempre a rede aberta é sinónimo de uma prática democrática também aberta. Conheço excepções alheias à liberdade e à natureza vária da sua utilização. Seja como for, com humor tudo se resolve. Não é?
Frases Felizes - 28
Open Democracy
"Bagão Felix, Arlindo Cunha, Francisco Louça, Durão Barroso, Berlusconi, o gajo da UGT, uma gaja da CGTP e Bernardino Soares disseram o que tinham a dizer sem perturbar o jantar a ninguém. Agora o Dr. Miguel Portas não! O Dr. Miguel Portas tinha de se fazer notar! Envergando o seu habitual semblante de ‘D. José Policarpo’ da Esquerda, desdobrou-se, com aquela voz de giz no quadro e aquela pose de professor de instrução primária a fazer-se à mãe do aluno (que as há boas comò’milho), em considerações capazes de parar a digestão a uma piton(isa?)."
(maradona com minúscula em A Causa foi Modificada (mais uma vez))
Open Democracy
"Bagão Felix, Arlindo Cunha, Francisco Louça, Durão Barroso, Berlusconi, o gajo da UGT, uma gaja da CGTP e Bernardino Soares disseram o que tinham a dizer sem perturbar o jantar a ninguém. Agora o Dr. Miguel Portas não! O Dr. Miguel Portas tinha de se fazer notar! Envergando o seu habitual semblante de ‘D. José Policarpo’ da Esquerda, desdobrou-se, com aquela voz de giz no quadro e aquela pose de professor de instrução primária a fazer-se à mãe do aluno (que as há boas comò’milho), em considerações capazes de parar a digestão a uma piton(isa?)."
(maradona com minúscula em A Causa foi Modificada (mais uma vez))
Parabéns João!
O excelente Socio(B)logue 2.0 recomeçou hoje. Muitos parabéns ao João Nogueira (ele que também é, como aqui escrevi na altura, o responsável pelo template actual do Miniscente). Aproveito a ocasião para (lhe) comunicar que acabei de lincar o Metablogue, já que, a prazo, me irei associar a essa área para a escrita de um (desejado) ensaio.
O excelente Socio(B)logue 2.0 recomeçou hoje. Muitos parabéns ao João Nogueira (ele que também é, como aqui escrevi na altura, o responsável pelo template actual do Miniscente). Aproveito a ocasião para (lhe) comunicar que acabei de lincar o Metablogue, já que, a prazo, me irei associar a essa área para a escrita de um (desejado) ensaio.
Viva Santa Cruz!
Continuo a agradecer as generosas referências e também os linques a variados blogues do Brasil. Desta feita, o meu obrigado estende-se ao Alquimiya, ao Kafka em Belo Horizonte, ao Sub Rosa e ao Marketing Hacker.
Continuo a agradecer as generosas referências e também os linques a variados blogues do Brasil. Desta feita, o meu obrigado estende-se ao Alquimiya, ao Kafka em Belo Horizonte, ao Sub Rosa e ao Marketing Hacker.
Diálogo blogosférico
Creio que o Technorati já não está apenas a fazer greve. Deve ter mesmo parado no tempo e no espaço. Nunca fui escravo desse serviço, mas ele era útil para dar atenção aos blogues que nos iam referenciando e comentando. Peço adiantada desculpa pela possível ausência de respostas minhas.
Creio que o Technorati já não está apenas a fazer greve. Deve ter mesmo parado no tempo e no espaço. Nunca fui escravo desse serviço, mas ele era útil para dar atenção aos blogues que nos iam referenciando e comentando. Peço adiantada desculpa pela possível ausência de respostas minhas.
Desilusionismo coimbrão
Caro Avatares de um Desejo: tenho de facto pena de não poder comparecer à chamada de Derrida. Coincide com aulas minhas em Lisboa e é-me impossível mobilizar os alunos até aos perfumes de Santa Clara. Qualquer dia... decido marcar para o coração do Alentejo um convívio de caça para blogueadores. Talvez assim os passe a conhecer olhos nos olhos.
Caro Avatares de um Desejo: tenho de facto pena de não poder comparecer à chamada de Derrida. Coincide com aulas minhas em Lisboa e é-me impossível mobilizar os alunos até aos perfumes de Santa Clara. Qualquer dia... decido marcar para o coração do Alentejo um convívio de caça para blogueadores. Talvez assim os passe a conhecer olhos nos olhos.
Nem tanto ao mar!
O fórum TSF fala de tabaco. Algumas considerações: os fumadores não falam, ou quase não falam e, se falam, exigem do estado medidas (a velha dependência fontista-salazarista-marxista face ao estado). Os não fumadores tendem quase sempre para os limiares da intolerância (ele é fechar fábricas, ele é apelar ao apartheid fumadoramente correcto, ele é denúncia - e nem sempre sem razão - da impositividade dos fumadores).
Eu fui fumador até ao dia 7/3/1997 (há datas que se fixam!), mas depois de ter deixado o vício, tantas vezes o prazer, aprendi a conviver com o fumo do tabaco sem aquele alarde radical que torna os outros e a horda dos ex em papões entrevados. Aprendi sobretudo a compreender que as soluções restritivas, gerais e universais não levam a lado nenhum. O respeito e a liberdade no convívio entre fumadores e não fumadores passa pelo caso a caso, isto é, pelas medidas que cada situação particular (familiar, circunstancial, laboral, etc.) acabar por convocar.
O pior caminho a seguir, quando nos debatemos com uma divisão que não é de base racional, é passar ao campo das regras irreversíveis que esquecem que cada pessoa é um universo sobretudo inexplicável. A discussão aberta é sempre positiva e deverá continuar.
Contudo, fumar faz mal e é mesmo um cancro social, se visto a partir de uma racionalidade muito objectiva. Por outro lado, não nos esqueçamos de que as gorduras, os alimentos geneticamente preparados e, em termos mais gerais, toda a nossa cultura liofilizada acabam por se converter igualmente num cancro social dissimulado em que todos navegamos alegremente. Por isso fica o alerta: nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Haja algum bom senso!
O fórum TSF fala de tabaco. Algumas considerações: os fumadores não falam, ou quase não falam e, se falam, exigem do estado medidas (a velha dependência fontista-salazarista-marxista face ao estado). Os não fumadores tendem quase sempre para os limiares da intolerância (ele é fechar fábricas, ele é apelar ao apartheid fumadoramente correcto, ele é denúncia - e nem sempre sem razão - da impositividade dos fumadores).
Eu fui fumador até ao dia 7/3/1997 (há datas que se fixam!), mas depois de ter deixado o vício, tantas vezes o prazer, aprendi a conviver com o fumo do tabaco sem aquele alarde radical que torna os outros e a horda dos ex em papões entrevados. Aprendi sobretudo a compreender que as soluções restritivas, gerais e universais não levam a lado nenhum. O respeito e a liberdade no convívio entre fumadores e não fumadores passa pelo caso a caso, isto é, pelas medidas que cada situação particular (familiar, circunstancial, laboral, etc.) acabar por convocar.
O pior caminho a seguir, quando nos debatemos com uma divisão que não é de base racional, é passar ao campo das regras irreversíveis que esquecem que cada pessoa é um universo sobretudo inexplicável. A discussão aberta é sempre positiva e deverá continuar.
Contudo, fumar faz mal e é mesmo um cancro social, se visto a partir de uma racionalidade muito objectiva. Por outro lado, não nos esqueçamos de que as gorduras, os alimentos geneticamente preparados e, em termos mais gerais, toda a nossa cultura liofilizada acabam por se converter igualmente num cancro social dissimulado em que todos navegamos alegremente. Por isso fica o alerta: nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Haja algum bom senso!
domingo, 16 de novembro de 2003
Buraco negro
Estará o nosso destino ligado definitivamente ao campo gravital de um buraco negro que fosse capaz de se aproximar do nosso sistema solar e, de modo súbito e invisível, nos acabasse por aspirar?
Este é que é o enigma do grande tornado. E nós aqui a falarmos do Iraque, de arquitectura, de diplomas, do dragãozito, de excessos e até de ínfimas odisseias!
Estará o nosso destino ligado definitivamente ao campo gravital de um buraco negro que fosse capaz de se aproximar do nosso sistema solar e, de modo súbito e invisível, nos acabasse por aspirar?
Este é que é o enigma do grande tornado. E nós aqui a falarmos do Iraque, de arquitectura, de diplomas, do dragãozito, de excessos e até de ínfimas odisseias!
Fé nos deuses
Acabo de receber uma mensagem devidamente assinada na minha caixa de correio electrónico onde se diz:
"Move ahead in your career today! Bachelors, Masters and PhD's available in your field! No examinations! No classes! No textbooks! Call to register and receive your qualifications within days! 24 hours a day 7 days a week!"
É só aviar!
Acabo de receber uma mensagem devidamente assinada na minha caixa de correio electrónico onde se diz:
"Move ahead in your career today! Bachelors, Masters and PhD's available in your field! No examinations! No classes! No textbooks! Call to register and receive your qualifications within days! 24 hours a day 7 days a week!"
É só aviar!
A nova Freedom Tower
Os arquitectos Norman Foster, Jean Nouvel, Fumihiko Maki, David Childs, Owings & Merrill, Santiago Calatrava e Daniel Libeskind estão na linha de partida para a edificação do espaço onde há três anos ainda se viam as Torres Gémeas. Para saber mais sobre o processo, basta clicar aqui.
Os arquitectos Norman Foster, Jean Nouvel, Fumihiko Maki, David Childs, Owings & Merrill, Santiago Calatrava e Daniel Libeskind estão na linha de partida para a edificação do espaço onde há três anos ainda se viam as Torres Gémeas. Para saber mais sobre o processo, basta clicar aqui.
Misreading?
Thomas Powers escreveu há poucos dias um artigo que foi publicado no New York Review of Books (The Vanishing Case for War). A certa altura, o autor confessa:
"The invasion and conquest of Iraq by the United States last spring was the result of what is probably the least ambiguous case of the misreading of secret intelligence information in American history".
Seja como for, há que tornar o caos que se vive no terreno em qualquer coisa respirável. Acreditemos, pois, com todo o natural cepticismo, que o voto ainda possa vir a ser uma distante utopia.
Thomas Powers escreveu há poucos dias um artigo que foi publicado no New York Review of Books (The Vanishing Case for War). A certa altura, o autor confessa:
"The invasion and conquest of Iraq by the United States last spring was the result of what is probably the least ambiguous case of the misreading of secret intelligence information in American history".
Seja como for, há que tornar o caos que se vive no terreno em qualquer coisa respirável. Acreditemos, pois, com todo o natural cepticismo, que o voto ainda possa vir a ser uma distante utopia.
Publi Cidade
Diz-se hoje na Folha de S. Paulo que
"a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), acumulou R$ 131,6 milhões de gastos com publicidade nos seus dois anos e dez meses de mandato. Esse valor indica que a petista já ultrapassou os R$ 123,8 milhões de Celso Pitta (prefeito de 1997 a 2000) e pode se aproximar muito de Paulo Maluf (1993-1996), que gastou R$ 171,2 milhões com propaganda."
Ainda se fala de Santana Lopes!
A coisa está na moda, excepto, para o bem ou para o mal, na cidade onde vivo.
Diz-se hoje na Folha de S. Paulo que
"a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), acumulou R$ 131,6 milhões de gastos com publicidade nos seus dois anos e dez meses de mandato. Esse valor indica que a petista já ultrapassou os R$ 123,8 milhões de Celso Pitta (prefeito de 1997 a 2000) e pode se aproximar muito de Paulo Maluf (1993-1996), que gastou R$ 171,2 milhões com propaganda."
Ainda se fala de Santana Lopes!
A coisa está na moda, excepto, para o bem ou para o mal, na cidade onde vivo.
Ínfimas odisseias
Leio no blogue da Charlotte que há gato persa na coisa. Vê-se pelo tipo de miado mais distendido e lânguido. Cá por casa, o Ulisses - é um cão estilo serra mas sem pelo - saiu a noite toda movido pelo cio (más leituras, já se vê) e ei-lo agora ali deitado e sem paciência sequer para entender o universo.
Domingo, dia de deuses ainda à procura de verbo.
Já agora, feito o teste do dia, eis que o resultado indica que eu sou como o deus Morfeu, um dos filhos de Hipno. Nada mau, pois trata-se de um deus alado e viajado que toca em todos os mortais com uma papoila para os adormecer.
Leio no blogue da Charlotte que há gato persa na coisa. Vê-se pelo tipo de miado mais distendido e lânguido. Cá por casa, o Ulisses - é um cão estilo serra mas sem pelo - saiu a noite toda movido pelo cio (más leituras, já se vê) e ei-lo agora ali deitado e sem paciência sequer para entender o universo.
Domingo, dia de deuses ainda à procura de verbo.
Já agora, feito o teste do dia, eis que o resultado indica que eu sou como o deus Morfeu, um dos filhos de Hipno. Nada mau, pois trata-se de um deus alado e viajado que toca em todos os mortais com uma papoila para os adormecer.
Dragãozito
http://mingus.cjb.net
Abro um Dicionário de Símbolos (J.Chevalier e A.Gheerbrant), fechado há anos num armário que raramente abro, e leio: "O dragão aparece-nos sobretudo como um guardião severo ou como um símbolo do mal e das tendências demoníacas". O texto expande-se, depois, por páginas e mais páginas.
Pergunto eu, já agora: não é hoje desterrada a lápide de um novo estádio com esse nome?
http://mingus.cjb.net
Abro um Dicionário de Símbolos (J.Chevalier e A.Gheerbrant), fechado há anos num armário que raramente abro, e leio: "O dragão aparece-nos sobretudo como um guardião severo ou como um símbolo do mal e das tendências demoníacas". O texto expande-se, depois, por páginas e mais páginas.
Pergunto eu, já agora: não é hoje desterrada a lápide de um novo estádio com esse nome?
Excesso
Abrem telejornais e as notícias da rádio, enchem destaques de jornais e títulos online. Não se fala de outra coisa, isto é, dos jornalistas portugueses. Não haja dúvida: não existe outro facto que possa ocorrer no mundo. Seja no Iraque, na Somália, na Geórgia, no Sudão, na Bolívia, seja em que continente for. Muito gostam os jornalistas de se constituir como notícia. Adulação narcísica e deformação óptica que quem pratica (porventura) não vê.
É essa, afinal, a invisibilidade das corporações.
O que não implica, com toda a sinceridade, que eu não sinta solidariedade para com a jornalista Ruela e para com todos os outros que andam meio perdidos entre as chefias inglesas e o amadorismo luso e desenrasca.
Abrem telejornais e as notícias da rádio, enchem destaques de jornais e títulos online. Não se fala de outra coisa, isto é, dos jornalistas portugueses. Não haja dúvida: não existe outro facto que possa ocorrer no mundo. Seja no Iraque, na Somália, na Geórgia, no Sudão, na Bolívia, seja em que continente for. Muito gostam os jornalistas de se constituir como notícia. Adulação narcísica e deformação óptica que quem pratica (porventura) não vê.
É essa, afinal, a invisibilidade das corporações.
O que não implica, com toda a sinceridade, que eu não sinta solidariedade para com a jornalista Ruela e para com todos os outros que andam meio perdidos entre as chefias inglesas e o amadorismo luso e desenrasca.
sábado, 15 de novembro de 2003
Solidariedades
A barbárie volta a atacar em Istambul. Sempre que os judeus são atacados, a voz dominantemente correcta que irradia dos pulmões mediáticos lá se silencia a pouco e pouco. Fica apenas o relato dos factos. A rala secura das imagens. A ausência da voragem de abaixo-assinados.
Silêncio ou lume brando a escrever por linhas tortas um dos lados de história nenhuma.
A barbárie volta a atacar em Istambul. Sempre que os judeus são atacados, a voz dominantemente correcta que irradia dos pulmões mediáticos lá se silencia a pouco e pouco. Fica apenas o relato dos factos. A rala secura das imagens. A ausência da voragem de abaixo-assinados.
Silêncio ou lume brando a escrever por linhas tortas um dos lados de história nenhuma.
Pequeno Alerta
Verifiquei agora que há um inexistente blogue com o nome Miniscente com o qual vários blogues da nossa terra até já estabeleceram linques. O engano tem a seguinte origem: em vez de lincarem para a URL real do único Miniscente que existe e que é http://luiscarmelo.blogspot.com,, há amigos blogueadores que escrevem "miniscente" antes de blogspot.com. Fica o aviso e também a desculpa por eventuais ausências de respostas que se tenham sentido da minha parte.
Verifiquei agora que há um inexistente blogue com o nome Miniscente com o qual vários blogues da nossa terra até já estabeleceram linques. O engano tem a seguinte origem: em vez de lincarem para a URL real do único Miniscente que existe e que é http://luiscarmelo.blogspot.com,, há amigos blogueadores que escrevem "miniscente" antes de blogspot.com. Fica o aviso e também a desculpa por eventuais ausências de respostas que se tenham sentido da minha parte.
Cores e Buuum bum bum!
O arco-íris na minha frente, do outro lado da janela, entre nuvens densas, escuríssimas, com aquela forma de arco incompleto a pairar sobre agitadas copas de sobreiros e de algumas tímidas oliveiras. Resiste no meio da cenografia um derradeiro plátano com as folhas a lembrar a cor esvaída do ouro. Começa agora a trovejar com muita força e eu vou mas é fechar o computador. Até logo.
O arco-íris na minha frente, do outro lado da janela, entre nuvens densas, escuríssimas, com aquela forma de arco incompleto a pairar sobre agitadas copas de sobreiros e de algumas tímidas oliveiras. Resiste no meio da cenografia um derradeiro plátano com as folhas a lembrar a cor esvaída do ouro. Começa agora a trovejar com muita força e eu vou mas é fechar o computador. Até logo.
Ilusoriamente potente
E eis que aparece um artigo interessante sobre o declínio da França, a mal amada. Vem no The Observer e vale a pena ler.
E eis que aparece um artigo interessante sobre o declínio da França, a mal amada. Vem no The Observer e vale a pena ler.
Invasão Portuguesa - 2
É este o galo que faz de símbolo ao Portuguese Festival que decorrerá em Londres entre 21 e 30 deste mês. Como expliquei no post de ontem, trata-se de uma organização da Produtora Número e da Publishing Association. Para saber mais sobre a iniciativa clicar aqui (o clique de ontem funcionou mal, ou pelo menos foram esses os ecos que chegaram aos ouvidos sempre atentos do Miniscente).
É este o galo que faz de símbolo ao Portuguese Festival que decorrerá em Londres entre 21 e 30 deste mês. Como expliquei no post de ontem, trata-se de uma organização da Produtora Número e da Publishing Association. Para saber mais sobre a iniciativa clicar aqui (o clique de ontem funcionou mal, ou pelo menos foram esses os ecos que chegaram aos ouvidos sempre atentos do Miniscente).
Coincidências
São apenas coincidências. Mas é curioso como, com poucos dias de diferença, Eduardo Prado Coelho e Noel Malcolm, o primeiro no Mil Folhas do Público, o segundo numa crítica a um livro de Terry Eagleton no Arts Telegraph, se puseram a falar de "Cultural Studies"
Bem sei que falam ambos de um cadaverzinho. Creio que terá sido exactamente por causa disso que a Margarida disse um dia que não havia nunca coincidências.
São apenas coincidências. Mas é curioso como, com poucos dias de diferença, Eduardo Prado Coelho e Noel Malcolm, o primeiro no Mil Folhas do Público, o segundo numa crítica a um livro de Terry Eagleton no Arts Telegraph, se puseram a falar de "Cultural Studies"
Bem sei que falam ambos de um cadaverzinho. Creio que terá sido exactamente por causa disso que a Margarida disse um dia que não havia nunca coincidências.
A angústia do Technorati
O Flor de Obsessão diz esperar "que o Technorati acuse a fartura", ou seja, que testemunhe o modo assíduo com que é citado na blogosfera. Para além da ironia, talvez o diga pelo facto de o Technorati estar a fazer greve nos últimos dias.
O Flor de Obsessão diz esperar "que o Technorati acuse a fartura", ou seja, que testemunhe o modo assíduo com que é citado na blogosfera. Para além da ironia, talvez o diga pelo facto de o Technorati estar a fazer greve nos últimos dias.
Saudade
Diz o blogue (também brasileiro) Literatus, referindo-se à permuta de linques com o Miniscente: "Ver é saudade prévia...plantamos hoje a saudade de amanhã."
Ou, de como a saudade é sempre uma profecia que desvela amanhã o desejo já vivo de hoje.
Diz o blogue (também brasileiro) Literatus, referindo-se à permuta de linques com o Miniscente: "Ver é saudade prévia...plantamos hoje a saudade de amanhã."
Ou, de como a saudade é sempre uma profecia que desvela amanhã o desejo já vivo de hoje.
Viva a Amazónia!
O blogue Palavras Cruzadas - Histórias de uma Índia Ursa Sentada afirma, com simpatia transbordante e equatorial:
O miniscente já tem um lugar especial na floresta amazônica do blog da Ursa Sentada. A índia está muito feliz de poder ter um pedaço de Portugal enfeitando seu cenário virtual.
Obrigado pelo linque e pela referência ainda mais generosa que aparece na Dica da Ursa de ontem.
O blogue Palavras Cruzadas - Histórias de uma Índia Ursa Sentada afirma, com simpatia transbordante e equatorial:
O miniscente já tem um lugar especial na floresta amazônica do blog da Ursa Sentada. A índia está muito feliz de poder ter um pedaço de Portugal enfeitando seu cenário virtual.
Obrigado pelo linque e pela referência ainda mais generosa que aparece na Dica da Ursa de ontem.
sexta-feira, 14 de novembro de 2003
PM
Um blogue chamado Primeiro Ministro interpela o Miniscente no sentido de conhecer a nossa opinião sobre assuntos fulcrais do governo da nação. Respondemos com a devida vénia e pirueta. Só que não conseguimos abrir o simpático blogue. Por mais que se clique é só vazio. Pascal teria razão?
Um blogue chamado Primeiro Ministro interpela o Miniscente no sentido de conhecer a nossa opinião sobre assuntos fulcrais do governo da nação. Respondemos com a devida vénia e pirueta. Só que não conseguimos abrir o simpático blogue. Por mais que se clique é só vazio. Pascal teria razão?
Transa Atlântica
Diz o blogue brasileiro Apenas Bahia, Apenas Fotografia: "Portugal lá bem longe, pertencia ao passado da nossa história e aos dentistas brasileiros que aos turros migraram para lá em busca de oportunidades profissionais. Atualmente, é impressionante o fluxo de "trocas" de mensagens e de Blogs Brasil & Portugal & Brasil".
É por isso que o Miniscente abriu meia centena de linques a terras de Vera Cruz. Obrigado, já agora, aos vários linques que nos fizeram desse lado aí!
Diz o blogue brasileiro Apenas Bahia, Apenas Fotografia: "Portugal lá bem longe, pertencia ao passado da nossa história e aos dentistas brasileiros que aos turros migraram para lá em busca de oportunidades profissionais. Atualmente, é impressionante o fluxo de "trocas" de mensagens e de Blogs Brasil & Portugal & Brasil".
É por isso que o Miniscente abriu meia centena de linques a terras de Vera Cruz. Obrigado, já agora, aos vários linques que nos fizeram desse lado aí!
Mais delírios
E... dizerem que o 9/11 foi uma conspiração do serviços secretos!?
Ora, leiam lá o que conseguiram publicar no Der Spiegel!
Eles andam aí!
E... dizerem que o 9/11 foi uma conspiração do serviços secretos!?
Ora, leiam lá o que conseguiram publicar no Der Spiegel!
Eles andam aí!
Achados
No The Atlantic online diz-se que, sob o altar de S. Pedro, foram descobertos (por investigadores) ossos de borrego, de boi e de porco para além do esqueleto completo de um rato. Na sequência de tais estranhos achados, o autor do artigo, Tom Mueller, questiona: "Was Peter himself ever there?"
Delirante. A ler.
No The Atlantic online diz-se que, sob o altar de S. Pedro, foram descobertos (por investigadores) ossos de borrego, de boi e de porco para além do esqueleto completo de um rato. Na sequência de tais estranhos achados, o autor do artigo, Tom Mueller, questiona: "Was Peter himself ever there?"
Delirante. A ler.
Ainda o Iraque
Segundo o Washington Post, são quatro os factores que estão, neste momento, a determinar uma reorientação da estratégia política e militar dos EUA. São estes factores o crescendo das manifestações opositoras no terreno, a inépcia do chamado Governing Council iraquiano, o prazo de 15 de Dezembro para a concretização de um plano de acção para o Iraque e, por fim, a aproximação das próprias eleições americanas. Vale a pena ler o artigo assinado por Robin Wright e Thomas E. Ricks.
Segundo o Washington Post, são quatro os factores que estão, neste momento, a determinar uma reorientação da estratégia política e militar dos EUA. São estes factores o crescendo das manifestações opositoras no terreno, a inépcia do chamado Governing Council iraquiano, o prazo de 15 de Dezembro para a concretização de um plano de acção para o Iraque e, por fim, a aproximação das próprias eleições americanas. Vale a pena ler o artigo assinado por Robin Wright e Thomas E. Ricks.
Fogo
Nos próximos dias, se calhar semanas ou mais, vamos ter uma sucessão mediática de sismos iraquianos. Para além do que poderá realmente acontecer (Aristóteles foi o fundador da ideia dos futuros actos possíveis), vamos ter um caudal de meta-ocorrências apreciável. A ficcionalidade e a expansão do drama vão passar a estar na ordem do dia a partir da arena real da vida. Arena a ferver, pela certa.
Nos próximos dias, se calhar semanas ou mais, vamos ter uma sucessão mediática de sismos iraquianos. Para além do que poderá realmente acontecer (Aristóteles foi o fundador da ideia dos futuros actos possíveis), vamos ter um caudal de meta-ocorrências apreciável. A ficcionalidade e a expansão do drama vão passar a estar na ordem do dia a partir da arena real da vida. Arena a ferver, pela certa.
Invasão portuguesa
Chamo a atenção para o PORTUGUESE FESTIVAL, organizado pela Produtora Número e ainda pela Publishing Association (Número and Ópio Magazines, Número Festival – Lisbon’s Music, Arts and Multimedia festival e the N_Records music label).
Trata-se de um acontecimento ambicioso que visa criar uma imagem nova da cultura portuguesa contemporânea em áreas como o cinema, a música e as artes multimédias. Por trás disto tudo, diga-se a verdade, está o meu colega e amigo Nuno Figueiredo, Hannibal como eu lhe chamo, cuja humildade ultrapassa em muito a largura do Canal da Mancha. Para quem quiser saber algo mais sobre o evento que entre 21 e 30 de Novembro irá invadir Londres, tal como já aconteceu o ano passado, basta clicar aqui.
Chamo a atenção para o PORTUGUESE FESTIVAL, organizado pela Produtora Número e ainda pela Publishing Association (Número and Ópio Magazines, Número Festival – Lisbon’s Music, Arts and Multimedia festival e the N_Records music label).
Trata-se de um acontecimento ambicioso que visa criar uma imagem nova da cultura portuguesa contemporânea em áreas como o cinema, a música e as artes multimédias. Por trás disto tudo, diga-se a verdade, está o meu colega e amigo Nuno Figueiredo, Hannibal como eu lhe chamo, cuja humildade ultrapassa em muito a largura do Canal da Mancha. Para quem quiser saber algo mais sobre o evento que entre 21 e 30 de Novembro irá invadir Londres, tal como já aconteceu o ano passado, basta clicar aqui.
quinta-feira, 13 de novembro de 2003
Máquina
A manutenção do blogger é um dos temas do dia. Talvez porque a máquina se defina pelo que através dela se diz. E enquanto a máquina se silenciou, toda a ligação entre os actuais deuses e os profetas se refundou. Eis-nos agora a reatar a comunhão blogosférica, depois da consternação e do caos absolutamente branco. Eis como a máquina faz ser o mundo.
A manutenção do blogger é um dos temas do dia. Talvez porque a máquina se defina pelo que através dela se diz. E enquanto a máquina se silenciou, toda a ligação entre os actuais deuses e os profetas se refundou. Eis-nos agora a reatar a comunhão blogosférica, depois da consternação e do caos absolutamente branco. Eis como a máquina faz ser o mundo.
O humor do top ten
Estamos condenados ao compromisso, mesmo quando o recusamos. É uma descoberta extraordinária, que eu próprio tenho oportunidade de atestar com frequência. Com as consequências trágicas que sabemos. Não será esta uma atitude conservadora? Primeiro desconfia-se da mudança. Depois aceita-se a realidade e, sobretudo, nada se faz para a alterar. Peanuts, digo eu. Por isso, das duas uma: ou evitamos ver certas coisas ou vamos revê-las para assegurar que não erramos. Eles lá sabem. Afinal de contas, quem tem fama de comer criancinhas são os comunistas. Os inimputáveis têm esta vantagem: dizem o que querem.
Estamos condenados ao compromisso, mesmo quando o recusamos. É uma descoberta extraordinária, que eu próprio tenho oportunidade de atestar com frequência. Com as consequências trágicas que sabemos. Não será esta uma atitude conservadora? Primeiro desconfia-se da mudança. Depois aceita-se a realidade e, sobretudo, nada se faz para a alterar. Peanuts, digo eu. Por isso, das duas uma: ou evitamos ver certas coisas ou vamos revê-las para assegurar que não erramos. Eles lá sabem. Afinal de contas, quem tem fama de comer criancinhas são os comunistas. Os inimputáveis têm esta vantagem: dizem o que querem.
Pathos de Outono - 8
O dia cinzento e a apelar ao culto dos interiores. A escrita pousada no seu silêncio como os lagartos no cume do Verão. Uma imensa lista de coisas para fazer e a preguiça, essa, realmente monumental. São assim os dias cinzentos em terra onde não há canais, nem telhados inclinados adormecidos em roldanas, nem arenques crus com cebola. Mas há sobreiros em sangue, descarnados e livres, à espera de uma palavra que os faça voar.
O dia cinzento e a apelar ao culto dos interiores. A escrita pousada no seu silêncio como os lagartos no cume do Verão. Uma imensa lista de coisas para fazer e a preguiça, essa, realmente monumental. São assim os dias cinzentos em terra onde não há canais, nem telhados inclinados adormecidos em roldanas, nem arenques crus com cebola. Mas há sobreiros em sangue, descarnados e livres, à espera de uma palavra que os faça voar.
terça-feira, 11 de novembro de 2003
Aninal de estimação
O Homem a Dias fala, e com o habitual dentinho mordaz, na conhecida patologia da "fixação no segundo plano":
É vê-los acotovelarem-se, de telemóvel em punho, na retaguarda do subchefe da GNR sempre que uma inundação ou um desastre rodoviário reclama as equipas da Sic ou da Tvi.
Esta fauna merece solidariedade e compaixão nacional, concluirá o interessante post.
Mas não se dará o caso de Portugal, no seu todo, depois de esgotada a teoria dos ciclos tão cara a essa coisa (a essa bicha da seda) chamada filosofia portuguesa - ele foi impérios, ultramares, revoluções e Europas -, se ter transformado precisamente num desses animais de estimação sempre de telemóvel em punho e aos berros?
As coisas falam por si:
ostentações felinas (leõzinhos à entrada das casas apalaçadas), estádios a dedo (o do Algarve feito para um jogo), cadeados universitários (novo tipo de tese em autocarro), políticos quebra-mesas (na épica voragem dos altos da Castilho a S. Bento), comentadores em cascata (ou o metadiscurso com sabor a procissão enfastiada), advogados irados (em estado de prolongada castração preventiva), telenovelas mil (triângulos amorosos ao sabor da dívida fiscal), dourados panteões (levantando o telemóvel no ar sobre a sombra de Harry Potter), culturas emplastradas (entre a senhora das tempestades e o senhor dos anéis), etc., etc.
E eu já nem queria falar do caso mais ou menos viral de Manuel Monteiro.
O Homem a Dias fala, e com o habitual dentinho mordaz, na conhecida patologia da "fixação no segundo plano":
É vê-los acotovelarem-se, de telemóvel em punho, na retaguarda do subchefe da GNR sempre que uma inundação ou um desastre rodoviário reclama as equipas da Sic ou da Tvi.
Esta fauna merece solidariedade e compaixão nacional, concluirá o interessante post.
Mas não se dará o caso de Portugal, no seu todo, depois de esgotada a teoria dos ciclos tão cara a essa coisa (a essa bicha da seda) chamada filosofia portuguesa - ele foi impérios, ultramares, revoluções e Europas -, se ter transformado precisamente num desses animais de estimação sempre de telemóvel em punho e aos berros?
As coisas falam por si:
ostentações felinas (leõzinhos à entrada das casas apalaçadas), estádios a dedo (o do Algarve feito para um jogo), cadeados universitários (novo tipo de tese em autocarro), políticos quebra-mesas (na épica voragem dos altos da Castilho a S. Bento), comentadores em cascata (ou o metadiscurso com sabor a procissão enfastiada), advogados irados (em estado de prolongada castração preventiva), telenovelas mil (triângulos amorosos ao sabor da dívida fiscal), dourados panteões (levantando o telemóvel no ar sobre a sombra de Harry Potter), culturas emplastradas (entre a senhora das tempestades e o senhor dos anéis), etc., etc.
E eu já nem queria falar do caso mais ou menos viral de Manuel Monteiro.
Lis Boa
De novo na bela Corvilândia. E é vê-la, Lisboa, coada por uma luz doce, sem destino nem nome, e, ao fundo, o murmúrio a preceder as varandas, as nuvens quase paradas, os eléctricos a auscultarem a beleza que há no tédio do mundo e ainda, aqui e ali, nas margens que são dadas ao rio, é ver as cores esquecidas ou diluídas dos seus contornos, de tão vagos e imprecisos tal como são os sinais que lhes concedem o fado. Sobrará apenas a volatilidade de uma linha muito breve, um ínfimo traço a percorrer a memória e o momento que nela se esvai, um cheiro singular a maresia, ócio de embarcação, sussurro de cais. Uma linha com a respiração de uma flor. Uma linha sem destino. Uma palavra desalinhada e apenas em linha com este sigilo que é Lisboa.
De novo na bela Corvilândia. E é vê-la, Lisboa, coada por uma luz doce, sem destino nem nome, e, ao fundo, o murmúrio a preceder as varandas, as nuvens quase paradas, os eléctricos a auscultarem a beleza que há no tédio do mundo e ainda, aqui e ali, nas margens que são dadas ao rio, é ver as cores esquecidas ou diluídas dos seus contornos, de tão vagos e imprecisos tal como são os sinais que lhes concedem o fado. Sobrará apenas a volatilidade de uma linha muito breve, um ínfimo traço a percorrer a memória e o momento que nela se esvai, um cheiro singular a maresia, ócio de embarcação, sussurro de cais. Uma linha com a respiração de uma flor. Uma linha sem destino. Uma palavra desalinhada e apenas em linha com este sigilo que é Lisboa.
Lola
Imagine-se que um verdadeiro monstrinho aborda um escritor que nada vende em pleno metro de Londres. É assim o início do novo romance de Russell Hoban, Her name was Lola. Aqui sempre se conta um pouco mais da história.
Imagine-se que um verdadeiro monstrinho aborda um escritor que nada vende em pleno metro de Londres. É assim o início do novo romance de Russell Hoban, Her name was Lola. Aqui sempre se conta um pouco mais da história.
segunda-feira, 10 de novembro de 2003
Televisão
Como é hoje divulgado pelo Público, "as crianças que têm televisão no quarto ou vivem em casas onde ela está ligada a maior parte do tempo têm mais dificuldade em aprender a ler que as outras crianças da mesma idade."
Por mim, independentemente desse e doutros estudos, prefiro a mais original teoria sobre a televisão. A de Peter Sloterdijk (um dos autores que, pelo seu brilho, mais sigo, mais aconselho e mais leio).
Diz o autor que a televisão acabou por trazer a todos a paz e o reconforto que há muito ansiavam, após milénios daquilo que eu próprio tenho designado pela "civilização da espera" (Anjos e Meteoros). Espera pelos paraísos e pelos infernos de todo o tipo. Não sei se Sloterdik tem razão, ou não. Mas que corta a sério na seara dominante, a anti-telecrática primária, lá isso é um facto. E já não é mau.
É que estou farto do pensamento monocarrílico que reivindica sempre um lado iluminado contra um outro completamente escurecido. Estilo Quercus, quando se põe a falar de comboios e coisas assim do género.
Como é hoje divulgado pelo Público, "as crianças que têm televisão no quarto ou vivem em casas onde ela está ligada a maior parte do tempo têm mais dificuldade em aprender a ler que as outras crianças da mesma idade."
Por mim, independentemente desse e doutros estudos, prefiro a mais original teoria sobre a televisão. A de Peter Sloterdijk (um dos autores que, pelo seu brilho, mais sigo, mais aconselho e mais leio).
Diz o autor que a televisão acabou por trazer a todos a paz e o reconforto que há muito ansiavam, após milénios daquilo que eu próprio tenho designado pela "civilização da espera" (Anjos e Meteoros). Espera pelos paraísos e pelos infernos de todo o tipo. Não sei se Sloterdik tem razão, ou não. Mas que corta a sério na seara dominante, a anti-telecrática primária, lá isso é um facto. E já não é mau.
É que estou farto do pensamento monocarrílico que reivindica sempre um lado iluminado contra um outro completamente escurecido. Estilo Quercus, quando se põe a falar de comboios e coisas assim do género.
Tardinha
A tarde a ocultar-se. Nuvens violetas, volumosas, quase barrocas. As copas a resistirem aos ares já frios de Novembro. Um cheiro meio ácido traz-me a presença de fogo de azinho, lareiras solitárias, casas inventadas por dentro no seu solilóquio sem nome. Por fora dos vidros, para além dos cortinados, ainda a grande nuvem a desdobrar-se noutras três como se fossem cabeças inchadas de tamboril, murmúrios mil de algas roliças, vestidos de sete saias ao vento. A tarde a ocultar-se de vez.
A tarde a ocultar-se. Nuvens violetas, volumosas, quase barrocas. As copas a resistirem aos ares já frios de Novembro. Um cheiro meio ácido traz-me a presença de fogo de azinho, lareiras solitárias, casas inventadas por dentro no seu solilóquio sem nome. Por fora dos vidros, para além dos cortinados, ainda a grande nuvem a desdobrar-se noutras três como se fossem cabeças inchadas de tamboril, murmúrios mil de algas roliças, vestidos de sete saias ao vento. A tarde a ocultar-se de vez.
Frases Felizes - 27
Open Democracy
"Realmente a pesporrência e arrogância de Pinto da Costa não têm limites. Muito menos a sua insaciabilidade e "gratidão" dos dinheiros públicos que o financiam. Mas muito pior do que isso e porventura como causa disso, é o completo vergar de cerviz, a total falta de vergonha na cara que os "deputados de Sevilha" ostentam despudoradamente." (Mata Mouros)
Open Democracy
"Realmente a pesporrência e arrogância de Pinto da Costa não têm limites. Muito menos a sua insaciabilidade e "gratidão" dos dinheiros públicos que o financiam. Mas muito pior do que isso e porventura como causa disso, é o completo vergar de cerviz, a total falta de vergonha na cara que os "deputados de Sevilha" ostentam despudoradamente." (Mata Mouros)
Títulos e Triciclos
Bloco de Esquerda Quer Direito de Voto para Maiores de 16 Anos
E se fosse aos 12 ?
Ministro Seven Pinto diz que reparou pela televisão que os bombeiros estavam ofendidos
Por que não ouve antes uma bela estação de rádio?
70 por cento de Abstenção nas Eleições CDS-Bragança
Estariam a ver o Dr. Monteiro a falar do Big Brother?
Bloco de Esquerda Quer Direito de Voto para Maiores de 16 Anos
E se fosse aos 12 ?
Ministro Seven Pinto diz que reparou pela televisão que os bombeiros estavam ofendidos
Por que não ouve antes uma bela estação de rádio?
70 por cento de Abstenção nas Eleições CDS-Bragança
Estariam a ver o Dr. Monteiro a falar do Big Brother?
Ver para crer
Hoje Andrew Sullivan avisa, mas a BBC News confirmava-o já na passada Sexta-feira: a autoridade palestiniana paga de facto o terrorismo suicida. E ainda há quem diga que Arafat é um anjo.
Hoje Andrew Sullivan avisa, mas a BBC News confirmava-o já na passada Sexta-feira: a autoridade palestiniana paga de facto o terrorismo suicida. E ainda há quem diga que Arafat é um anjo.
A malta
Biblioteca da Universidade de Coimbra
Há quatro dias que a Reitoria e a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra estão fechadas a cadeado. A malta acha graça e até há uns professores que já avançaram para tribunal, depois de os bombeiros terem também passado há dias pelo local. Imagine-se que, em vez dos estudantes e dos referidos edifícios da universidade coimbrã, era a Carris que tinha sido fechada a cadeado, ou a Gare do Oriente, ou as portas da Câmara Municipal do Funchal, ou o Tribunal da Relação de Lisboa, ou as obras da Casa da Música ou o Centro de Artes da Figueira da Foz, ou a Setenave, ou o Continente de Alfragide, ou o estádio Faro-Loulé, ou o porto de Sines, ou a barragem de Alqueva, ou o Cemitério dos Prazeres?
Imagine-se o que teria acontecido, se a malta tivesse fechado a cadeado todos esses outros sítios. Uma folia!
A malta gosta do vira, da água-pé, do S. Martinho, das castanhas, das gaitas de foles, da Sagres, do Quim Barreiros, da Bairrada, da quinta da Atalaia, do Marquês de Borba, do Porto Sandman, do Joaquim Camarinha, dos castelos de Lego, do Clube do Casa Pia, das laranjas de Palmela, do Herman, da Fernanda Serrano, da Super-bock, da queima das fitas, dos dragões sandinenses, dos foguetes de Caminha e dos estudantes de Coimbra.
Vivam, pois, os cadeados da estudantina coimbrã.
Biblioteca da Universidade de Coimbra
Há quatro dias que a Reitoria e a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra estão fechadas a cadeado. A malta acha graça e até há uns professores que já avançaram para tribunal, depois de os bombeiros terem também passado há dias pelo local. Imagine-se que, em vez dos estudantes e dos referidos edifícios da universidade coimbrã, era a Carris que tinha sido fechada a cadeado, ou a Gare do Oriente, ou as portas da Câmara Municipal do Funchal, ou o Tribunal da Relação de Lisboa, ou as obras da Casa da Música ou o Centro de Artes da Figueira da Foz, ou a Setenave, ou o Continente de Alfragide, ou o estádio Faro-Loulé, ou o porto de Sines, ou a barragem de Alqueva, ou o Cemitério dos Prazeres?
Imagine-se o que teria acontecido, se a malta tivesse fechado a cadeado todos esses outros sítios. Uma folia!
A malta gosta do vira, da água-pé, do S. Martinho, das castanhas, das gaitas de foles, da Sagres, do Quim Barreiros, da Bairrada, da quinta da Atalaia, do Marquês de Borba, do Porto Sandman, do Joaquim Camarinha, dos castelos de Lego, do Clube do Casa Pia, das laranjas de Palmela, do Herman, da Fernanda Serrano, da Super-bock, da queima das fitas, dos dragões sandinenses, dos foguetes de Caminha e dos estudantes de Coimbra.
Vivam, pois, os cadeados da estudantina coimbrã.
Corvo
Diz com óbvia generosidade o Pelourinho de Lisboa:
Acabei de ler esta deliciosa Lua da Viagem de Luis Carmelo. O Luis não sabe, mas é um corvo. Vê-se que gosta de Lisboa e ama a sua Évora. A Barca, on road.
Eu diria que o meu penúltimo romance, O Trevo de Abel - que é um dos que mais gosto, faz jus ao corvo e, de certo modo, foi escrito a pensar no voo e na cor incerta da bela ave (que apenas é naturalmente superada pela águia real).
De facto, I love Lisboa. É uma das minhas cinco cidades, ao lado de Évora, Tomar, Amesterdão e Veneza.
Terra e água, voo e fogo. O verbo apenas na sua vez.
Diz com óbvia generosidade o Pelourinho de Lisboa:
Acabei de ler esta deliciosa Lua da Viagem de Luis Carmelo. O Luis não sabe, mas é um corvo. Vê-se que gosta de Lisboa e ama a sua Évora. A Barca, on road.
Eu diria que o meu penúltimo romance, O Trevo de Abel - que é um dos que mais gosto, faz jus ao corvo e, de certo modo, foi escrito a pensar no voo e na cor incerta da bela ave (que apenas é naturalmente superada pela águia real).
De facto, I love Lisboa. É uma das minhas cinco cidades, ao lado de Évora, Tomar, Amesterdão e Veneza.
Terra e água, voo e fogo. O verbo apenas na sua vez.
Não territorial
Diz o Crónicas do deserto:
Considero importante navegar noutros mares para podermos perceber o nosso próprio estar, o nosso próprio devir. Do meu amigo, peço desculpa se abuso pretensiosamente do termo, Luís Carmelo uma frase que não perde nada quando retirada do contexto e vai no sentido daquilo que é a minha procura - as territorialidades em que nos afirmamos. Diz Luís Carmelo no seu miniscente que é preciso: "dar lugar a um saber que possa acompanhar as novas lógicas de significação que as culturas não territoriais (os "being-in-common", na expressão do semiótico australiano Alec McHoul) estão, hoje em dia, a formatar".
O Crónicas, mais à frente, pergunta: onde é que, no espaço da educação, esse devir "não territorial" poderá ganhar corpo? Eu diria que a concepção de Alec McHoul, ao entender as "communities" ou "being-in-common" como "course of activities" globais que progressivamente estão a suceder à noção pós-iluminista de cultura, se caracteriza precisamente pela sequência não territorial e geográfica. Ou seja, os problemas e o agir são tendencialmente os mesmos nos amantes do cibersurf, nos clochards, nos consumidores dos fluxos de notícias, nos circuitos bolsistas ou de telemóvel e ainda, por exemplo, nos amantes de objectos estéticos, no imaginário global da moda, etc.
A educação, enquanto prática de simultânea de construção de mundos e de enraizamento social, não pode perder de vista esta noção descentrada e actual que naturalmente espelha algum distanciamento face à esquadria do "Largo como centro do mundo".
Quanto à amizade, sempre!
Diz o Crónicas do deserto:
Considero importante navegar noutros mares para podermos perceber o nosso próprio estar, o nosso próprio devir. Do meu amigo, peço desculpa se abuso pretensiosamente do termo, Luís Carmelo uma frase que não perde nada quando retirada do contexto e vai no sentido daquilo que é a minha procura - as territorialidades em que nos afirmamos. Diz Luís Carmelo no seu miniscente que é preciso: "dar lugar a um saber que possa acompanhar as novas lógicas de significação que as culturas não territoriais (os "being-in-common", na expressão do semiótico australiano Alec McHoul) estão, hoje em dia, a formatar".
O Crónicas, mais à frente, pergunta: onde é que, no espaço da educação, esse devir "não territorial" poderá ganhar corpo? Eu diria que a concepção de Alec McHoul, ao entender as "communities" ou "being-in-common" como "course of activities" globais que progressivamente estão a suceder à noção pós-iluminista de cultura, se caracteriza precisamente pela sequência não territorial e geográfica. Ou seja, os problemas e o agir são tendencialmente os mesmos nos amantes do cibersurf, nos clochards, nos consumidores dos fluxos de notícias, nos circuitos bolsistas ou de telemóvel e ainda, por exemplo, nos amantes de objectos estéticos, no imaginário global da moda, etc.
A educação, enquanto prática de simultânea de construção de mundos e de enraizamento social, não pode perder de vista esta noção descentrada e actual que naturalmente espelha algum distanciamento face à esquadria do "Largo como centro do mundo".
Quanto à amizade, sempre!
domingo, 9 de novembro de 2003
S. Martinho chuvoso
Regresso do Algarve e, a sul de Évora, dou com duas filas de plátanos a explodirem em cor de bronze húmido. Uma talha dourada antiga feita de folhas que contracenavam com o céu totalmente negro a sorrir da tempestade.
Seven
O ministro Seven Pinto. o tal que dizia que a mulher lhe trazia frango para a mesa na era dos nitrofuranos (o senhor nunca deve ter entrado numa cozinha), lá disse um rol de asneiras deselegantes. Mais valia que pensasse em legislar para dar condições formativas aos bombeiros. Mais valia que se reformasse e que, sentadinho no sofá, tirasse partido do imaculado cheiro a eucalipto.
Eclipse
E, ontem, o disco ia avançando sobre a lua. A pouco e pouco. Até que, no fim, quando cheguei à varanda com a super-bock na mão, só já restava um minúsculo feixe de lua cheia, recortado pela curvatura do planeta azul. O restante disco da lua mais não era do que um aro acastanhado, leve, filho da penumbra e da luz que se evade nas sombras. Um deus mitológico à procura do fogo.
Regresso do Algarve e, a sul de Évora, dou com duas filas de plátanos a explodirem em cor de bronze húmido. Uma talha dourada antiga feita de folhas que contracenavam com o céu totalmente negro a sorrir da tempestade.
Seven
O ministro Seven Pinto. o tal que dizia que a mulher lhe trazia frango para a mesa na era dos nitrofuranos (o senhor nunca deve ter entrado numa cozinha), lá disse um rol de asneiras deselegantes. Mais valia que pensasse em legislar para dar condições formativas aos bombeiros. Mais valia que se reformasse e que, sentadinho no sofá, tirasse partido do imaculado cheiro a eucalipto.
Eclipse
E, ontem, o disco ia avançando sobre a lua. A pouco e pouco. Até que, no fim, quando cheguei à varanda com a super-bock na mão, só já restava um minúsculo feixe de lua cheia, recortado pela curvatura do planeta azul. O restante disco da lua mais não era do que um aro acastanhado, leve, filho da penumbra e da luz que se evade nas sombras. Um deus mitológico à procura do fogo.
sábado, 8 de novembro de 2003
Destino de ouro
No Media Daily News, Kate Kaye, no artigo "Blogs Emerge As Hot New Ad Medium, Albeit With Trepidation", afirma:
When popular new media formats emerge it usually doesn't take long for advertising to follow, so it's not surprising that the rapid proliferation of Web logs - a.k.a blogs - is establishing a new advertising marketplace.
Leiamos o resto, pois um rico e imprevisto destino nos persegue, blogueadores.
No Media Daily News, Kate Kaye, no artigo "Blogs Emerge As Hot New Ad Medium, Albeit With Trepidation", afirma:
When popular new media formats emerge it usually doesn't take long for advertising to follow, so it's not surprising that the rapid proliferation of Web logs - a.k.a blogs - is establishing a new advertising marketplace.
Leiamos o resto, pois um rico e imprevisto destino nos persegue, blogueadores.
Barlavento
Parto para o sul. Algarve à vista. Construções na areia, andares e mais andares, cimento e luzes de néon apagadas em tempo de Outono já pródigo. O deserto e o turismo desvivido e de mãos dadas. Belo peixe, boas amêijoas e um sol quase altivo a espraiar-se nas rochas. Ficam as longínquas memórias de Teixeira Gomes, as traineiras imóveis e os olhos do meu sobrinho Zé-Zé a devorarem a via láctea.
Parto para o sul. Algarve à vista. Construções na areia, andares e mais andares, cimento e luzes de néon apagadas em tempo de Outono já pródigo. O deserto e o turismo desvivido e de mãos dadas. Belo peixe, boas amêijoas e um sol quase altivo a espraiar-se nas rochas. Ficam as longínquas memórias de Teixeira Gomes, as traineiras imóveis e os olhos do meu sobrinho Zé-Zé a devorarem a via láctea.
sexta-feira, 7 de novembro de 2003
Tópicos e correntes
Afirma hoje o Contra a Corrente que gosta de discutir com uma "esquerda que sabe ouvir com cabeça limpa opiniões antagónicas, que sabe pensar sem o peso da tralha ideológica, que sabe respeitar o próximo, que é tolerante. Uma esquerda com a qual gosto de trocar ideias, argumentos, discutir, e porque não, de vez em quando, concordar. É essa a esquerda que encontro no Memória Inventada, n' A Praia, no Blog de Esquerda, no Miniscente, no Ford Mustang, entre tantos outros."
O texto merece-me alguns comentários:
A)Numa sociedade que passou a ser policentrada, globalizada e sem perímetros para aquilo que já foram as suas formações clássicas (modernas), hoje cada vez mais interpenetradas de modo múltiplo e capilar, é evidente que "as opiniões antagónicas" só podem ocorrer circunstancialmente e sem serem sequer regidas por referências mais ou menos pesadas (de esquerda ou de direita).
B)O ideológico foi um "grande código" (N. Frye) totalizante e programático, hoje transformado em coisa documental e datada, que alimentou e foi fonte do agir de universos diferenciados e, aí sim, antagónicos (de esquerda ou de direita). Convocá-lo, hoje em dia, é como integrar Aljubarrota na discussão sobre as relacões entre a Índia e o Paquistão.
C)Ser livre e viver para a liberdade como facto número um da vitalidade democrática é, como uma espécie de resíduo da coisa pública, a minha última crença. Isto significa que creio ainda numa utopia que, por paradoxo, apenas se pode pragmaticamente cumprir no presente, abandonada que está a mordaça para-científica da estriagem manipulada do passado e do futuro.
D) Não consigo dissociar a liberdade, elle même, do mais genuíno poder da iniciativa individual e, por outro lado, do respeito que a sociedade, no seu todo, deverá aos que menos a têm. Daí que a solidariedade é uma inevitável dádiva política que, numa proporção justa, deverá ser cumprida. Sem demagogias e sem paternalismos. Tendo apenas em conta o mínimo equilíbrio.
E) As culturas estão celeremente a passar do territorial ao não territorial. As comunidades que sempre discutimos como órgãos mais ou menos fechados (e que foram os laboratórios do estudo das ciências humanas e políticas) estão a cruzar-se em todo o planeta. A democracia é uma invenção da história do Ocidente e, no contexto da grande omniurbe para que caminhamos, torna-se decisivo preservá-la a todos os níveis, sob pena de perdermos a própria liberdade com que, neste preciso momento, estamos a reflectir.
Afirma hoje o Contra a Corrente que gosta de discutir com uma "esquerda que sabe ouvir com cabeça limpa opiniões antagónicas, que sabe pensar sem o peso da tralha ideológica, que sabe respeitar o próximo, que é tolerante. Uma esquerda com a qual gosto de trocar ideias, argumentos, discutir, e porque não, de vez em quando, concordar. É essa a esquerda que encontro no Memória Inventada, n' A Praia, no Blog de Esquerda, no Miniscente, no Ford Mustang, entre tantos outros."
O texto merece-me alguns comentários:
A)Numa sociedade que passou a ser policentrada, globalizada e sem perímetros para aquilo que já foram as suas formações clássicas (modernas), hoje cada vez mais interpenetradas de modo múltiplo e capilar, é evidente que "as opiniões antagónicas" só podem ocorrer circunstancialmente e sem serem sequer regidas por referências mais ou menos pesadas (de esquerda ou de direita).
B)O ideológico foi um "grande código" (N. Frye) totalizante e programático, hoje transformado em coisa documental e datada, que alimentou e foi fonte do agir de universos diferenciados e, aí sim, antagónicos (de esquerda ou de direita). Convocá-lo, hoje em dia, é como integrar Aljubarrota na discussão sobre as relacões entre a Índia e o Paquistão.
C)Ser livre e viver para a liberdade como facto número um da vitalidade democrática é, como uma espécie de resíduo da coisa pública, a minha última crença. Isto significa que creio ainda numa utopia que, por paradoxo, apenas se pode pragmaticamente cumprir no presente, abandonada que está a mordaça para-científica da estriagem manipulada do passado e do futuro.
D) Não consigo dissociar a liberdade, elle même, do mais genuíno poder da iniciativa individual e, por outro lado, do respeito que a sociedade, no seu todo, deverá aos que menos a têm. Daí que a solidariedade é uma inevitável dádiva política que, numa proporção justa, deverá ser cumprida. Sem demagogias e sem paternalismos. Tendo apenas em conta o mínimo equilíbrio.
E) As culturas estão celeremente a passar do territorial ao não territorial. As comunidades que sempre discutimos como órgãos mais ou menos fechados (e que foram os laboratórios do estudo das ciências humanas e políticas) estão a cruzar-se em todo o planeta. A democracia é uma invenção da história do Ocidente e, no contexto da grande omniurbe para que caminhamos, torna-se decisivo preservá-la a todos os níveis, sob pena de perdermos a própria liberdade com que, neste preciso momento, estamos a reflectir.
Ensaio
Admirei-me ao dizê-lo, mas confesso que realmente o disse no lançamento do meu último livro. E agora, imagine-se, ao ler o João Pereira Coutinho, ainda mais a vontade escalou às nuvens do desejo. Trata-se de pôr em marcha uma reflexão dispersa, livre, mas com algum fôlego e leque de sentidos, acerca da blogosfera. Há, de facto, uma nova comunidade a emergir e alguns novos contornos de mundos reais e possíveis a agitarem-se nas asas de um pavão (metáfora, caríssimos!) que é livre e que corre corre corre no despontado e fértil jardim dos blogues. A motivação cresce, as formas encaixam-se, o olhar dispara. Não me esquecerei, é claro, de tentar avaliar a liquidez e a verdade no Juízo final.
Admirei-me ao dizê-lo, mas confesso que realmente o disse no lançamento do meu último livro. E agora, imagine-se, ao ler o João Pereira Coutinho, ainda mais a vontade escalou às nuvens do desejo. Trata-se de pôr em marcha uma reflexão dispersa, livre, mas com algum fôlego e leque de sentidos, acerca da blogosfera. Há, de facto, uma nova comunidade a emergir e alguns novos contornos de mundos reais e possíveis a agitarem-se nas asas de um pavão (metáfora, caríssimos!) que é livre e que corre corre corre no despontado e fértil jardim dos blogues. A motivação cresce, as formas encaixam-se, o olhar dispara. Não me esquecerei, é claro, de tentar avaliar a liquidez e a verdade no Juízo final.
Coetzee por Lodge
David Lodge é da opinião que o perfil extremamente discreto de J. M. Coetzee até pode ser compatível com o prémio da Academia sueca. Ao terminar a longa crítica que dedica ao seu romance, Elizabeth Costello (novel, "as one must call it for want of a better word"), Lodge afirma com alguma ironia:
Coetzee has never sought popular-ity or celebrity. His books are always unsettling, unexpected, and uncomforting. He seems a rather aloof figure in the contemporary literary world, who seldom gives interviews, and often declines to collect his prizes in person. But he is one of the few living writers routinely described as "great." He deserves the Nobel because he is exceptionally intelligent and a master of his medium. If he goes to Stockholm the acceptance speech should be memorable—but what will they serve for the main course at the banquet?
Esperemos que a sobremesa seja menos insossa do que foi a de Saramago que, já agora, não perde um fiozinho de luz para dar corpo ao seu desmedido teatro de sombras.
David Lodge é da opinião que o perfil extremamente discreto de J. M. Coetzee até pode ser compatível com o prémio da Academia sueca. Ao terminar a longa crítica que dedica ao seu romance, Elizabeth Costello (novel, "as one must call it for want of a better word"), Lodge afirma com alguma ironia:
Coetzee has never sought popular-ity or celebrity. His books are always unsettling, unexpected, and uncomforting. He seems a rather aloof figure in the contemporary literary world, who seldom gives interviews, and often declines to collect his prizes in person. But he is one of the few living writers routinely described as "great." He deserves the Nobel because he is exceptionally intelligent and a master of his medium. If he goes to Stockholm the acceptance speech should be memorable—but what will they serve for the main course at the banquet?
Esperemos que a sobremesa seja menos insossa do que foi a de Saramago que, já agora, não perde um fiozinho de luz para dar corpo ao seu desmedido teatro de sombras.
Obrigado (reeditado)
Ainda em relação ao lançamento do meu livro, agradeço a vários blogues as palavras amigas, os comentários e outras generosidades. Com medo de me esquecer de algum (errar é humano), aqui deixo registado uma lista razoável: o Vivaz, o Socioblogue 2.0, o Modernizador, o Letrablog, o Jaquinzinhos, a Bomba Inteligente, o Tomara Que Caia, o Campo dos Afectos, O Avatares de um Desejo, o Cruzes Canhoto, o Contra a Corrente e o Espelho Mau.
Ainda em relação ao lançamento do meu livro, agradeço a vários blogues as palavras amigas, os comentários e outras generosidades. Com medo de me esquecer de algum (errar é humano), aqui deixo registado uma lista razoável: o Vivaz, o Socioblogue 2.0, o Modernizador, o Letrablog, o Jaquinzinhos, a Bomba Inteligente, o Tomara Que Caia, o Campo dos Afectos, O Avatares de um Desejo, o Cruzes Canhoto, o Contra a Corrente e o Espelho Mau.
A escrita das coisas
Acabei de ler um texto no A Praia acerca da própria escrita dos blogues. Não estou de acordo com a posição do meu comblogue que enfatiza a ligação entre a escrita e as coisas "para dizer" ou sobretudo "para experimentar."
Para mim, a escrita não implica necessariamente dizer ou experimentar "coisas". Muito menos implicará ter que dizer coisas (a tal ansiedade do Site Meter?). A escrita, ainda ontem aqui o referi ao reevocar a nossa genealogia dos pragmatic turns, não é uma água neutra e transparente com a qual apenas transmitiríamos e diríamos "coisas". Muito para além disso, a escrita cria as suas realidades próprias, as suas lógicas e os seus continentes.
Não vivemos todos nós, por causa disso mesmo, nas nuvens das meta-ocorrências contemporâneas ao sabor das ficcionalidades dos média (e de outros fluxos de imagem)?
Parece-me óbvio que sim.
Acabei de ler um texto no A Praia acerca da própria escrita dos blogues. Não estou de acordo com a posição do meu comblogue que enfatiza a ligação entre a escrita e as coisas "para dizer" ou sobretudo "para experimentar."
Para mim, a escrita não implica necessariamente dizer ou experimentar "coisas". Muito menos implicará ter que dizer coisas (a tal ansiedade do Site Meter?). A escrita, ainda ontem aqui o referi ao reevocar a nossa genealogia dos pragmatic turns, não é uma água neutra e transparente com a qual apenas transmitiríamos e diríamos "coisas". Muito para além disso, a escrita cria as suas realidades próprias, as suas lógicas e os seus continentes.
Não vivemos todos nós, por causa disso mesmo, nas nuvens das meta-ocorrências contemporâneas ao sabor das ficcionalidades dos média (e de outros fluxos de imagem)?
Parece-me óbvio que sim.
O limoeiro
The Teaching Resources Center Writing Project, Andy Jones
Está na frente do meu escritório. Ergue-se como se fosse um califa irradiante e omnívoro, a copa a murmurar as filigranas e os limões a sussurrar aquele ouro de Novembro que agora também adormece nas folhas dos plátanos. Pela janela entram mundos. Desde Vermeer de Delft que assim é.
The Teaching Resources Center Writing Project, Andy Jones
Está na frente do meu escritório. Ergue-se como se fosse um califa irradiante e omnívoro, a copa a murmurar as filigranas e os limões a sussurrar aquele ouro de Novembro que agora também adormece nas folhas dos plátanos. Pela janela entram mundos. Desde Vermeer de Delft que assim é.
quinta-feira, 6 de novembro de 2003
Frases felizes - 26
"Antes do 25 de Abril, o estado de direito começava fora das fronteiras portuguesas e espanholas depois dos Pirinéus. Hoje, em Portugal, acaba às portas fechadas a cadeado da Universidade de Coimbra." (Abrupto)
"Antes do 25 de Abril, o estado de direito começava fora das fronteiras portuguesas e espanholas depois dos Pirinéus. Hoje, em Portugal, acaba às portas fechadas a cadeado da Universidade de Coimbra." (Abrupto)
Desígnios semióticos
Dizia ontem o Nuno Nabais, na bela sua livraria Eterno Retorno, que eu estou a dar continuidade aos velhos paradigmas semióticos (referia-se mais aos pré-modernos do que aos pós-iluministas) a partir dos fragmentos em que a semiótica havia deixado de fazer sentido no crepúsculo que sucedeu à lenta digestão deleuzeana e desconstruccionista (como eu, aliás, referira na Músicas da Consciência). De facto, sendo todos nós herdeiros dos variados pragmatic turns (deixámos de crer na transparência das linguagens e passámos a viver nas ficcionalidades globais que elas criam), que nos resta senão repor em andamento um novo tipo de saber que indague os percursos do sentido e do significado neste magma contemporâneo que se amplificou, descentrou e polarizou de modo múltiplo e aberto? A nova semiótica que eu advogo, no subtexto do meu recente volume didáctico, corresponde precisamente a uma atitude que pressupõe a ultrapassagem da ciência das ciências perseguida por Peirce, Husserl e em menor escala por Hjelmslev (ou até Saussure), para dar lugar a um saber que possa acompanhar as novas lógicas de significação que as culturas não territoriais (os "being-in-common", na expressão do semiótico australiano Alec McHoul) estão, hoje em dia, a formatar.
Dizia ontem o Nuno Nabais, na bela sua livraria Eterno Retorno, que eu estou a dar continuidade aos velhos paradigmas semióticos (referia-se mais aos pré-modernos do que aos pós-iluministas) a partir dos fragmentos em que a semiótica havia deixado de fazer sentido no crepúsculo que sucedeu à lenta digestão deleuzeana e desconstruccionista (como eu, aliás, referira na Músicas da Consciência). De facto, sendo todos nós herdeiros dos variados pragmatic turns (deixámos de crer na transparência das linguagens e passámos a viver nas ficcionalidades globais que elas criam), que nos resta senão repor em andamento um novo tipo de saber que indague os percursos do sentido e do significado neste magma contemporâneo que se amplificou, descentrou e polarizou de modo múltiplo e aberto? A nova semiótica que eu advogo, no subtexto do meu recente volume didáctico, corresponde precisamente a uma atitude que pressupõe a ultrapassagem da ciência das ciências perseguida por Peirce, Husserl e em menor escala por Hjelmslev (ou até Saussure), para dar lugar a um saber que possa acompanhar as novas lógicas de significação que as culturas não territoriais (os "being-in-common", na expressão do semiótico australiano Alec McHoul) estão, hoje em dia, a formatar.
Debate público
Pode já não encontrar Maria Elisa no parlamento. Mas, em alternativa, pode debater on-line com nove candidatos democráticos que já estão activíssimos na "presidential race". Para tal basta clicar aqui. É assim o mundo omnipolitano.
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