sexta-feira, 28 de novembro de 2003

Subsídios


Open Democracy

No Público de ontem, na secção de cultura, vinha o anúncio mais desejado por alguns: "Bolsas para Escritores Avançam, mas Sem Estreantes". Por mim, estreantes ou não, sou contra as bolsas destinadas a escritores tendo como objectivo a escrita de um livro. Já tenho mais de vinte livros publicados e em nenhum houve um subsídio estatal que me fosse pessoalmente destinado tendo em vista o acto criativo. Ter-me-ia sentido constrangido, pressionado, forçado, cerceado. No mínimo. Decerto que existem outras possibilidades de apoio a escritores já com algumas provas dadas, mas agora tornar o escritor num agricultor de girassóis ou num escrivão da nossa administração pública, isso nunca. Também eu gostava de viver só da escrita. Para dizer a verdade, já estive mais longe disso, embora saiba perfeitamente que continuo ainda a léguas e léguas de o conseguir. Mas persistirei. Terei que continuar a leccionar ao mesmo tempo. Terei de trabalhar em várias frentes. O que não posso é impor à comunidade onde vivo que me pague para eu fazer apenas o que desejo. Há que lutar pelas coisas. Há que saber merecer as coisas. Razão tinha o Gerrit Komrij quando disse, um dia, em plena Holanda das mil subvenções, que (foram mais ou menos estas as palavras) - "uma sociedade que paga para que se escreva ou para que se leia um livro é uma sociedade quase moribunda".