Sondagens
Nas sondagens que a TSF hoje divulgou, o membro do governo mais popular é o ministro Marques Mendes e o político mais popular da oposição é Louçã. Sem comentários. Mas já imaginaram o que seria o famosíssimo anão Pertusato, pintado por Velasquez, a marcar encontro com o frade Joaquim de Fiore de lunetas, na aldeia mais portuguesa de Portugal, para que ambos pudessem discutir com serenidade o futuro do cavalo lusitano?
sexta-feira, 31 de outubro de 2003
Belo azeite
Vai deixar de ser obrigatório explicitar no rótulo das garrafas de azeite o grau de acidez, de acordo com novas regulamentações de Bruxelas. Por outro lado, os pimpampuns de Bruxelas decidiram que um vasto e novo palavreado passe a saturar as embalagens (se é amargo, frutante, se vem da azeitona ou não, se é picante ou amargo, se é de origem mecânica ou de aparato natural, etc.), de acordo com parâmetros que nada têm a ver com a nossa boa tradição do ouro mediterrânico. Juro que vou passar a fazer o que via fazer na minha infância: comprar apenas directamente nos lagares, naquela faixa do interior que liga Moura a Vila Viçosa e daí a Elvas. Mais nada.
Vai deixar de ser obrigatório explicitar no rótulo das garrafas de azeite o grau de acidez, de acordo com novas regulamentações de Bruxelas. Por outro lado, os pimpampuns de Bruxelas decidiram que um vasto e novo palavreado passe a saturar as embalagens (se é amargo, frutante, se vem da azeitona ou não, se é picante ou amargo, se é de origem mecânica ou de aparato natural, etc.), de acordo com parâmetros que nada têm a ver com a nossa boa tradição do ouro mediterrânico. Juro que vou passar a fazer o que via fazer na minha infância: comprar apenas directamente nos lagares, naquela faixa do interior que liga Moura a Vila Viçosa e daí a Elvas. Mais nada.
Agenda blogosférica
O Glória Fácil refere-se, e bem, à impossibilidade de se poder definir ou sequer traçar em escorço o que é a agenda da blogosfera. O ciber being-in-common, para utilizar a expressão de A. McHoul, é precisamente o campo de campos onde o carácter estriado, fechado e delimitado de outras estruturas de outros tempos passou a dar lugar à abertura em cascata, ao carácter transversal e ubíquo da rede e sobretudo à imprevisibilidade e capacidade expontânea das ficcionalidades nele inscritas. Falar em agenda possível e arrumada na blogosfera é, de facto, falar de caixas de fósforos e de enlatados de cor garrida.
O Glória Fácil refere-se, e bem, à impossibilidade de se poder definir ou sequer traçar em escorço o que é a agenda da blogosfera. O ciber being-in-common, para utilizar a expressão de A. McHoul, é precisamente o campo de campos onde o carácter estriado, fechado e delimitado de outras estruturas de outros tempos passou a dar lugar à abertura em cascata, ao carácter transversal e ubíquo da rede e sobretudo à imprevisibilidade e capacidade expontânea das ficcionalidades nele inscritas. Falar em agenda possível e arrumada na blogosfera é, de facto, falar de caixas de fósforos e de enlatados de cor garrida.
Que suba!
Sabe bem ver um blogue de antigos alunos (afinal, através de outras leituras, já soube que se trata de alunas) a dizer que eu os marquei. Já fiz o linque e agora vou passar a seguir o vestígio da marca deixada e sobretudo de todas as outras with which they came to being.
Força, muita força e obrigado !
Sabe bem ver um blogue de antigos alunos (afinal, através de outras leituras, já soube que se trata de alunas) a dizer que eu os marquei. Já fiz o linque e agora vou passar a seguir o vestígio da marca deixada e sobretudo de todas as outras with which they came to being.
Força, muita força e obrigado !
Fasquia
Gosto de ler a escrita lúcida, despojada, bem disposta e minimamente grandiloquente. Sou dos que aplaude e sempre tentou praticar a ousadia, a audácia e a ambição. Sem complexos. De outro modo, a vida seria um pântano (e há-os por aí em tanta quantidade...). Mas não consigo entender que o ressurgimento de um novo e óptimo escriba possa eventualmente ser visto por muitos como um deus.
Gosto de ler a escrita lúcida, despojada, bem disposta e minimamente grandiloquente. Sou dos que aplaude e sempre tentou praticar a ousadia, a audácia e a ambição. Sem complexos. De outro modo, a vida seria um pântano (e há-os por aí em tanta quantidade...). Mas não consigo entender que o ressurgimento de um novo e óptimo escriba possa eventualmente ser visto por muitos como um deus.
Frases felizes - 24
"(...) as pessoas e os seus enigmas, e os enigmas que as pessoas são, persistem sendo o móbil primário da sedução que as palavras exercem em mim." (Avatares de um Desejo)
"(...) as pessoas e os seus enigmas, e os enigmas que as pessoas são, persistem sendo o móbil primário da sedução que as palavras exercem em mim." (Avatares de um Desejo)
Halloween
Hoje, lá para a noitinha, não vai ser apenas dia de contagem de votos ou de diálogo meio surdo acerca da retoma da economia. Hoje vai ser também dia de bruxedos globais. Mas a coisa já começou. Bastou ter saído de casa e ter dado entrada no meu café de bairro. E foi ver aí os paninhos negros sob sapos de borracha e velas acesas entre fios suspensos, a simularem teias de aranha e outros veios íntimos que pululam nos túmulos entreabertos. E foi ver os fantoches de olhos muito abertos com garfos de diabinho e, junto ao tecto, cobrindo-os, um lustre de vidro tosco de onde pendia uma lua negra a olhar para as pingas de sangue recortadas em papel de cenário e coladas no soalho por mão desajeitada. Um fulgor de café.
Hoje, lá para a noitinha, não vai ser apenas dia de contagem de votos ou de diálogo meio surdo acerca da retoma da economia. Hoje vai ser também dia de bruxedos globais. Mas a coisa já começou. Bastou ter saído de casa e ter dado entrada no meu café de bairro. E foi ver aí os paninhos negros sob sapos de borracha e velas acesas entre fios suspensos, a simularem teias de aranha e outros veios íntimos que pululam nos túmulos entreabertos. E foi ver os fantoches de olhos muito abertos com garfos de diabinho e, junto ao tecto, cobrindo-os, um lustre de vidro tosco de onde pendia uma lua negra a olhar para as pingas de sangue recortadas em papel de cenário e coladas no soalho por mão desajeitada. Um fulgor de café.
Retoma
É o grande tema de hoje. O New York Times, pela pena de Floyd Norris, afirma: "The economy is expanding at its fastest rate in nearly two decades, and there are signs that businesses are finally beginning to hire". Por sua vez, o Economist confirma esses mesmos dados e insiste: "America’s economy, fuelled by strong investment, easy credit and heavy tax cuts, is growing faster than anyone expected, and faster than many can remember". Entre nós, Paula Carvalho, no Diário Económico, analisa os factos que estão a determinar estes sinais de crescimento da economia global.
Será mesmo desta ?
É o grande tema de hoje. O New York Times, pela pena de Floyd Norris, afirma: "The economy is expanding at its fastest rate in nearly two decades, and there are signs that businesses are finally beginning to hire". Por sua vez, o Economist confirma esses mesmos dados e insiste: "America’s economy, fuelled by strong investment, easy credit and heavy tax cuts, is growing faster than anyone expected, and faster than many can remember". Entre nós, Paula Carvalho, no Diário Económico, analisa os factos que estão a determinar estes sinais de crescimento da economia global.
Será mesmo desta ?
Tempestades solares
O Washington Post noticia, na sua primeira página, a existência de tempestades solares no Alaska sem precedentes. Ei-las:
AP
O Washington Post noticia, na sua primeira página, a existência de tempestades solares no Alaska sem precedentes. Ei-las:
AP
Dia do Benfica
Se há blogues benfiquistas na blogosfera é o A Torto e a Direito. Pelo menos na expansão energética e na impoluta agitação da grande águia. Mas, sendo-o eu também, dou um humilde conselho: não espantem aqueles que discordam ou que se limitam a não se identificar connosco. Deixem a caça fresquinha voltar à grande casa da Luz. Deixem o espanto para os lugares onde ele for preciso.
Se há blogues benfiquistas na blogosfera é o A Torto e a Direito. Pelo menos na expansão energética e na impoluta agitação da grande águia. Mas, sendo-o eu também, dou um humilde conselho: não espantem aqueles que discordam ou que se limitam a não se identificar connosco. Deixem a caça fresquinha voltar à grande casa da Luz. Deixem o espanto para os lugares onde ele for preciso.
Sambódromo
Fátima Felgueiras diz-se "politicamente perseguida". O jornal da terra conta tudo, palavra por palavra.
Fátima Felgueiras diz-se "politicamente perseguida". O jornal da terra conta tudo, palavra por palavra.
quinta-feira, 30 de outubro de 2003
Fidalgo
Obrigado aos simpáticos Marretas por me terem atribuído o titulo de Fidalgo Aprendiz. Sendo fidalgo, sempre a gente se ivagina filho de algo. E nós a discutirmos com sagacidade e alguma audácia a morfologia dinâmica e a pertinência formal dos bicos! Que os há de todo o tipo, mesmo entre a nobreza, é uma evidência solar! Agora, para falar verdade e só aqui entre nós, o objectivo do fidalgo era apenas contribuir para a nitidez cristalina do recorte de um belo bico de sapo.
Esse é que era o segredo. Mais nada.
Obrigado aos simpáticos Marretas por me terem atribuído o titulo de Fidalgo Aprendiz. Sendo fidalgo, sempre a gente se ivagina filho de algo. E nós a discutirmos com sagacidade e alguma audácia a morfologia dinâmica e a pertinência formal dos bicos! Que os há de todo o tipo, mesmo entre a nobreza, é uma evidência solar! Agora, para falar verdade e só aqui entre nós, o objectivo do fidalgo era apenas contribuir para a nitidez cristalina do recorte de um belo bico de sapo.
Esse é que era o segredo. Mais nada.
Mareantes
O meu amigo José Eduardo Oliveira avançou corajosamente com uma editora especializada em não ficção. Mareantes é o seu nome. Fica o registo e agora esperam-se novos e bons títulos.
O meu amigo José Eduardo Oliveira avançou corajosamente com uma editora especializada em não ficção. Mareantes é o seu nome. Fica o registo e agora esperam-se novos e bons títulos.
Expedições
O Abrupto assumiu a via dos passeios do sonhador solitário, versão I.J. -expedição exótica e magmática, mais vulcânica do que metamórfica. Staring: JPP.
Vale de facto a pena ler os achados do olhar e os episódios da lenta escalada do Piton de la Fournaise.
O Abrupto assumiu a via dos passeios do sonhador solitário, versão I.J. -expedição exótica e magmática, mais vulcânica do que metamórfica. Staring: JPP.
Vale de facto a pena ler os achados do olhar e os episódios da lenta escalada do Piton de la Fournaise.
Apagões
E eles continuam. Desta vez em Florianópolis (Santa Catarina, Brasil). A Folha de S. Paulo conta a história toda. E depois há sempre a tentação de dizer que isto é tudo uma conspiração, uma urdidura, um esquema, uma cabala. Junte-se-lhe Nova Iorque, Itália, partes de França e da Dinamarca e mais alguns que eu já nem me lembro.
Eles andam aí.
E eles continuam. Desta vez em Florianópolis (Santa Catarina, Brasil). A Folha de S. Paulo conta a história toda. E depois há sempre a tentação de dizer que isto é tudo uma conspiração, uma urdidura, um esquema, uma cabala. Junte-se-lhe Nova Iorque, Itália, partes de França e da Dinamarca e mais alguns que eu já nem me lembro.
Eles andam aí.
Pena
Afinal, A Praia, no seu post "Trabalhar para o Baú", desvela o sigilo e explica as razões de puro oráculo que suscitaram a intriga do meu post "Mistérios" (ver um pouco por baixo). Tudo se passou no S. Luís e teve como pano de fundo a civilização da escrita e a desconstrução do império cultista e soarengo. Pena não ter lá estado !
Afinal, A Praia, no seu post "Trabalhar para o Baú", desvela o sigilo e explica as razões de puro oráculo que suscitaram a intriga do meu post "Mistérios" (ver um pouco por baixo). Tudo se passou no S. Luís e teve como pano de fundo a civilização da escrita e a desconstrução do império cultista e soarengo. Pena não ter lá estado !
Convite
Convido todos os blogues, todos os leitores, colegas, alunos, amigos e restante humanidade para o lançamento do meu livro Semiótica - uma introdução que terá lugar na Livraria Eterno Retorno (Rua S. Boaventura, 42, Bairro Alto), na próxima Quarta-Feira, dia 5/11, pelas 22 horas. É para quem gosta, mas não só. Seja como for, prometo livros com outras tonalidades ainda para este ano e sobretudo para 2004 (aí sim, novo romance).
Nos próximos dias irei repetir aqui este convite, já que não haverá convites formais com envelope e cartãozinho.
Convido todos os blogues, todos os leitores, colegas, alunos, amigos e restante humanidade para o lançamento do meu livro Semiótica - uma introdução que terá lugar na Livraria Eterno Retorno (Rua S. Boaventura, 42, Bairro Alto), na próxima Quarta-Feira, dia 5/11, pelas 22 horas. É para quem gosta, mas não só. Seja como for, prometo livros com outras tonalidades ainda para este ano e sobretudo para 2004 (aí sim, novo romance).
Nos próximos dias irei repetir aqui este convite, já que não haverá convites formais com envelope e cartãozinho.
Lavagem da memória
Diz o Cruzes Canhoto ! que um psiquiatra como o do caso Bibi apenas nos permite concluir que "estamos no reino das comédias de enganos". Pois eu, depois de rever ontem a biografia do senhor na SIC-Notícias, fiquei com uma extrema admiração pela sua sensibilidade e capacidade capilar de generosa entrega. Ele é força aérea, ele é reumatologia, ele é burocracia atrasada, ele é memória minguante, ele é até psiquiatria moçambicana. Para além do mais, imagino-o em Xabregas a olhar o Mar da Palha e a lavar o carro numa dessas bombas de gasolina manchadas pelo tempo e pela amnésia lacunar, tal como o faria o senhor Antunes que o Gato Fedorento hoje tão bem descreve.
Diz o Cruzes Canhoto ! que um psiquiatra como o do caso Bibi apenas nos permite concluir que "estamos no reino das comédias de enganos". Pois eu, depois de rever ontem a biografia do senhor na SIC-Notícias, fiquei com uma extrema admiração pela sua sensibilidade e capacidade capilar de generosa entrega. Ele é força aérea, ele é reumatologia, ele é burocracia atrasada, ele é memória minguante, ele é até psiquiatria moçambicana. Para além do mais, imagino-o em Xabregas a olhar o Mar da Palha e a lavar o carro numa dessas bombas de gasolina manchadas pelo tempo e pela amnésia lacunar, tal como o faria o senhor Antunes que o Gato Fedorento hoje tão bem descreve.
Coroa
Depois de voltar a visitar em Vila Viçosa o Palácio da terra de onde é natural toda a minha família, resta-me agora visitar o novíssimo blogue que comigo acabou de se lincar (escreve-se assim, Charlotte ?), de seu nome amonarquiaportuguesa (tudo em letra pequenina, o que, diga-se em abono da realeza, não tem nada de monárquico).
Depois de voltar a visitar em Vila Viçosa o Palácio da terra de onde é natural toda a minha família, resta-me agora visitar o novíssimo blogue que comigo acabou de se lincar (escreve-se assim, Charlotte ?), de seu nome amonarquiaportuguesa (tudo em letra pequenina, o que, diga-se em abono da realeza, não tem nada de monárquico).
Frases felizes - 23
"Agora Vivaldi repete-se e eu não me importo. Não sei o que é que é mais antigo, se Vivaldi, se eu não gostar de fazer malas. Se não tivesse um blog, provavelmente, ia aparar a relva só para adiar esta cruz mais um bocado."
(Janela Indiscreta)
"Agora Vivaldi repete-se e eu não me importo. Não sei o que é que é mais antigo, se Vivaldi, se eu não gostar de fazer malas. Se não tivesse um blog, provavelmente, ia aparar a relva só para adiar esta cruz mais um bocado."
(Janela Indiscreta)
Maoximas
Diz o Barnabé que "Um ministério está obrigado à neutralidade". Não há Quinta-feira em que não se aprenda um bocadinho. Bela máxima.
Seja como for, rapaziada, achei piada à vossa irónica alusão ao intertexto pátrio que adormece na almofada do Cox & Forkum Editorial Cartoons.
Diz o Barnabé que "Um ministério está obrigado à neutralidade". Não há Quinta-feira em que não se aprenda um bocadinho. Bela máxima.
Seja como for, rapaziada, achei piada à vossa irónica alusão ao intertexto pátrio que adormece na almofada do Cox & Forkum Editorial Cartoons.
Mistérios
O Dicionário do Diabo e o Flor de Obsessão repetem o mesmo post, cujo singular e elevado título é: "É a cultura, estúpido!".
Bem sei que as catedrais medievais repetiam, nos seus vitrais, a mesma e única história possível. Voltámos ao brilho desse tempo de encómios e de lombalgias mafarricas ?
O Dicionário do Diabo e o Flor de Obsessão repetem o mesmo post, cujo singular e elevado título é: "É a cultura, estúpido!".
Bem sei que as catedrais medievais repetiam, nos seus vitrais, a mesma e única história possível. Voltámos ao brilho desse tempo de encómios e de lombalgias mafarricas ?
A Theory of Parody
Nos Jaquinzinhos volta a escrever-se, do princípio ao fim, a toada ficcional do Ulysses do Joyce. Um dia inteiro em que tudo acontece, sempre à sombra de uma hecatombe musical. Um grande momento literário e de pura arquitextualidade congénita.
Nos Jaquinzinhos volta a escrever-se, do princípio ao fim, a toada ficcional do Ulysses do Joyce. Um dia inteiro em que tudo acontece, sempre à sombra de uma hecatombe musical. Um grande momento literário e de pura arquitextualidade congénita.
Mauzões da bola
O Mata-Mouros entrou decisivamente na concorrência como o Record, com a Bola e sobretudo com o Jogo. Sempre passa a ter um bocadinho mais de mourama contra quem poderá disparar as chuteiras e a ira cristã. É uma malta gira, esta do MM, que ainda se ofende com cristalina indignação e sem efusão de sangue, como diria o Sena. Gosto de ver. Gosto de ler. Parabéns.
E ainda há a Casa dos Bicos, caros Marretas
O Mata-Mouros entrou decisivamente na concorrência como o Record, com a Bola e sobretudo com o Jogo. Sempre passa a ter um bocadinho mais de mourama contra quem poderá disparar as chuteiras e a ira cristã. É uma malta gira, esta do MM, que ainda se ofende com cristalina indignação e sem efusão de sangue, como diria o Sena. Gosto de ver. Gosto de ler. Parabéns.
E ainda há a Casa dos Bicos, caros Marretas
Bicada neles
O Blogue dos Marretas tem estado a debater a questão dos bicos. Mas esqueceu-se do bico do Concorde, do bico-de- grou, do bicorne, dos bicos-de-papagaio, do biconjugado, do bico-de-cravo e até do bicoca que, no fundo, para além da poderosa rima com o halo da laranja (e com outras cores, é claro), mais não é do que um "arranjinho" ou um "negócio" de bom tom. Pelo menos é assim que somos falados através da língua lusa.
O Blogue dos Marretas tem estado a debater a questão dos bicos. Mas esqueceu-se do bico do Concorde, do bico-de- grou, do bicorne, dos bicos-de-papagaio, do biconjugado, do bico-de-cravo e até do bicoca que, no fundo, para além da poderosa rima com o halo da laranja (e com outras cores, é claro), mais não é do que um "arranjinho" ou um "negócio" de bom tom. Pelo menos é assim que somos falados através da língua lusa.
quarta-feira, 29 de outubro de 2003
Novo blogue
Vem aí um novo blogue chamado Mesmo Mau que se propõe patentear-nos a todos, seres blogosféricos, com "cordiais avisos à navegação". E continua com ar ululante: "Aqui se publicam más experiências para que outros não caiam nelas". Deu só ainda um primeiro passo na sua curta vida, mas vale a pena ficarmos atentos. Não sei de quem se trata.
Vem aí um novo blogue chamado Mesmo Mau que se propõe patentear-nos a todos, seres blogosféricos, com "cordiais avisos à navegação". E continua com ar ululante: "Aqui se publicam más experiências para que outros não caiam nelas". Deu só ainda um primeiro passo na sua curta vida, mas vale a pena ficarmos atentos. Não sei de quem se trata.
Frases Felizes - 22
"Ninguém abre conscientemente polémicas, excepto o sr. José Saramago, o único escritor do mundo - e, provavelmente, da história da literatura ocidental - que, antes de escrever um romance, já veio para a rua em cuecas, a prometer escândalo." (João Pereira Coutinho em Homem a Dias)
"Ninguém abre conscientemente polémicas, excepto o sr. José Saramago, o único escritor do mundo - e, provavelmente, da história da literatura ocidental - que, antes de escrever um romance, já veio para a rua em cuecas, a prometer escândalo." (João Pereira Coutinho em Homem a Dias)
terça-feira, 28 de outubro de 2003
Gritos e massas
Hoje, ali a três passos da FNAC, um murmurar histérico a fazer lembrar as imolações pascais das Filipinas. Um arregimentar de tecnologias visuais destinadas a captar o momento, como se Arafat e Sharon tivessem tomado juntos um chá de tília em ameno face a face. Um destilar de paixões secretas sem objecto e sem rosto.
Passavam uns minutos da uma e um quarto e era Bibi quem andava por ali.
Hoje, ali a três passos da FNAC, um murmurar histérico a fazer lembrar as imolações pascais das Filipinas. Um arregimentar de tecnologias visuais destinadas a captar o momento, como se Arafat e Sharon tivessem tomado juntos um chá de tília em ameno face a face. Um destilar de paixões secretas sem objecto e sem rosto.
Passavam uns minutos da uma e um quarto e era Bibi quem andava por ali.
Guterres infeliz
Guterres em S. Paulo, durante a reunião da Internacional Socialista: "a esquerda" corresponde a "ideais", enquanto a direita corresponde a "interesses"; "a esquerda" corresponde aos "afectos", enquanto a direita corresponde ao "calculismo".
Penso que Guterres, ou estava influenciado pelo ambiente luliano, ou se preparava para transformar a casa das esquerdas numa manobra de exclusão desnecessária. Então... não existem ideais e afectos de direita ? Claro que sim ! Pode discordar-se desses ideais (ideológicos, ou não) ou tão-só relativá-los e polemizá-los. Mas reduzir arrogantemente parte da sociedade ao epíteto dos não-afectuosos (acerca do tema, seria útil ler o último livro de Damásio sobre Espinosa) e dos não-portadores de ideais é, no mínimo, grosseiro e infeliz.
Há na tradição das esquerdas quem ainda persista em radicalizar a imagem BD dos capitalistas de charuto e chapéu de coco com a imagem dos proletários ofendidos, humilhados e emocionados. Pior para a esquerda.
Ou não vivemos nós num mundo horizontal e global onde o diálogo entre as perspectivas inteligentes (de esquerda ou de direita) se constituiu, no fundo, como a força motriz das novas vias de compreensão dos fenómenos actuais que atravessam o planeta ?
Guterres em S. Paulo, durante a reunião da Internacional Socialista: "a esquerda" corresponde a "ideais", enquanto a direita corresponde a "interesses"; "a esquerda" corresponde aos "afectos", enquanto a direita corresponde ao "calculismo".
Penso que Guterres, ou estava influenciado pelo ambiente luliano, ou se preparava para transformar a casa das esquerdas numa manobra de exclusão desnecessária. Então... não existem ideais e afectos de direita ? Claro que sim ! Pode discordar-se desses ideais (ideológicos, ou não) ou tão-só relativá-los e polemizá-los. Mas reduzir arrogantemente parte da sociedade ao epíteto dos não-afectuosos (acerca do tema, seria útil ler o último livro de Damásio sobre Espinosa) e dos não-portadores de ideais é, no mínimo, grosseiro e infeliz.
Há na tradição das esquerdas quem ainda persista em radicalizar a imagem BD dos capitalistas de charuto e chapéu de coco com a imagem dos proletários ofendidos, humilhados e emocionados. Pior para a esquerda.
Ou não vivemos nós num mundo horizontal e global onde o diálogo entre as perspectivas inteligentes (de esquerda ou de direita) se constituiu, no fundo, como a força motriz das novas vias de compreensão dos fenómenos actuais que atravessam o planeta ?
segunda-feira, 27 de outubro de 2003
Iraque
É tanto irresponsável aplaudir o que se passa hoje no Iraque, como é irresponsável a posição daqueles que se dissociam da coragem de um simples juízo e que, de modo facilitista, preferem rir-se para dentro e emitir pragas para fora do tipo: - semearam ventos, agora colhem tempestades, é bem feito !
Ainda mais irresponsável é dizer que está tudo bem, que a bonança e a liberdade ancorarão progressiva e tranquilamente no Iraque, confundindo os (terroristas) suicidas com um bando de simples malfeitores (de que, neste caso, sob o ponto de vista político, não são signo tão directo quanto se possa pensar).
Um parto que começou mal só pode ter um futuro mais lisongeiro quando for dada aos iraquianos a possibilidade democrática de prosseguirem autonomamente o seu caminho. Mas a democracia no Iraque não pode ser imaginada com os contornos liberais e pós-iluministas que no Ocidente se cimentaram e cimentam com uma naturalidade que é radicalmente alheia à terra do Tigre e Eufrates.
Por isso mesmo, nos próximos tempos, tudo se irá passar em regime de acelerada e talvez violenta acrobacia política. Mas esta complexa acrobacia terá de resolver-se em três tempos essenciais: celeridade processual, autoridade no terreno partilhada com os iraquianos e, por fim, discussão dos alicerces democráticos mais adequados ao caso em concreto.
O tempo não volta a ser o que já não é, essa é que é a verdade.
É tanto irresponsável aplaudir o que se passa hoje no Iraque, como é irresponsável a posição daqueles que se dissociam da coragem de um simples juízo e que, de modo facilitista, preferem rir-se para dentro e emitir pragas para fora do tipo: - semearam ventos, agora colhem tempestades, é bem feito !
Ainda mais irresponsável é dizer que está tudo bem, que a bonança e a liberdade ancorarão progressiva e tranquilamente no Iraque, confundindo os (terroristas) suicidas com um bando de simples malfeitores (de que, neste caso, sob o ponto de vista político, não são signo tão directo quanto se possa pensar).
Um parto que começou mal só pode ter um futuro mais lisongeiro quando for dada aos iraquianos a possibilidade democrática de prosseguirem autonomamente o seu caminho. Mas a democracia no Iraque não pode ser imaginada com os contornos liberais e pós-iluministas que no Ocidente se cimentaram e cimentam com uma naturalidade que é radicalmente alheia à terra do Tigre e Eufrates.
Por isso mesmo, nos próximos tempos, tudo se irá passar em regime de acelerada e talvez violenta acrobacia política. Mas esta complexa acrobacia terá de resolver-se em três tempos essenciais: celeridade processual, autoridade no terreno partilhada com os iraquianos e, por fim, discussão dos alicerces democráticos mais adequados ao caso em concreto.
O tempo não volta a ser o que já não é, essa é que é a verdade.
Necrologia: o meu modem
Achht trovoada ! Vi que se aproximava, ainda tentei descrever em directo a eminência e iminência da dita, mas foi tudo tão súbito que, quando reabri o computador, já o modem tinha voado para o céu num esbelto carro de cavalos apocalíptico. Não sei se, ao chegar a tais arenas luminosas (a descrição literária danielítica ainda é a mais apurada desses distintos lugares), o meu modem viu o trono de deus. O que eu sei é que deixei de ver e de ter vida on-line no meu computador. E agora, é telefonar para a empresa informática e é abrir o portátil sobre a mesa do escritório. Mas antes, a pilha de trabalho é demasiado grande para me preocupar ou sequer aborrecer com estas contrariedades. Seja como for, a carteira é que paga !
Achht trovoada ! Vi que se aproximava, ainda tentei descrever em directo a eminência e iminência da dita, mas foi tudo tão súbito que, quando reabri o computador, já o modem tinha voado para o céu num esbelto carro de cavalos apocalíptico. Não sei se, ao chegar a tais arenas luminosas (a descrição literária danielítica ainda é a mais apurada desses distintos lugares), o meu modem viu o trono de deus. O que eu sei é que deixei de ver e de ter vida on-line no meu computador. E agora, é telefonar para a empresa informática e é abrir o portátil sobre a mesa do escritório. Mas antes, a pilha de trabalho é demasiado grande para me preocupar ou sequer aborrecer com estas contrariedades. Seja como for, a carteira é que paga !
Folha a folha
O Times of India faz eco na sua publicidade de primeira página da "largest online database of matrimonial classified". Fica o aviso para o Desejo Casar.
O Times of India faz eco na sua publicidade de primeira página da "largest online database of matrimonial classified". Fica o aviso para o Desejo Casar.
Filhos de Sócrates
Lembram-se de um tempo em que as televisões passaram o tempo a documentar a qualidade de vida dos frangos no nosso país ? Eram gigantes campos de concentração cheios de frangos e franguinhas e, ainda por cima, asa a asa, bico a bico, todos olhados com a terrível suspeita de uma coisa chamada "nitrofuranos" (palavra alquímica que despertou para a cultura dos portugueses na altura). Pois bem, hoje a imprensa dá conta desse facto já esquecido pela maioria e conta-nos a seguinte história: "Governo divulga hoje relatório final de uma crise que só em análises custou mais de 300 mil euros. O relatório final da Direcção-Geral de Veterinária sobre a crise dos nitrofuranos confirma a utilização em larga escala de uma substância interdita na produção avícola, mas rejeita ter havido uma "intenção dolosa" já que a maioria das doses detectadas eram baixas e sem perigo para a saúde pública".
Como se vê, o dolo mede-se pela quantidades e não pela intencionalidade. Como se vê há redundâncias que valem pelo seu uso retórico (caso de "intenção dolosa"). Estamos sempre a aprender.
Lembram-se de um tempo em que as televisões passaram o tempo a documentar a qualidade de vida dos frangos no nosso país ? Eram gigantes campos de concentração cheios de frangos e franguinhas e, ainda por cima, asa a asa, bico a bico, todos olhados com a terrível suspeita de uma coisa chamada "nitrofuranos" (palavra alquímica que despertou para a cultura dos portugueses na altura). Pois bem, hoje a imprensa dá conta desse facto já esquecido pela maioria e conta-nos a seguinte história: "Governo divulga hoje relatório final de uma crise que só em análises custou mais de 300 mil euros. O relatório final da Direcção-Geral de Veterinária sobre a crise dos nitrofuranos confirma a utilização em larga escala de uma substância interdita na produção avícola, mas rejeita ter havido uma "intenção dolosa" já que a maioria das doses detectadas eram baixas e sem perigo para a saúde pública".
Como se vê, o dolo mede-se pela quantidades e não pela intencionalidade. Como se vê há redundâncias que valem pelo seu uso retórico (caso de "intenção dolosa"). Estamos sempre a aprender.
Para a ponto e vírgula
Há na vírgula um compasso que se dilui em valsa, uma pausa que se esvai em dança, um deslize que se liquefaz em brilho, um aperto que se abre em leque. Há no ponto um marco que se fecha em mate, um disco que se aperta em cinza, um cometa que se reduz a zero e um aro que se diz em salmo. Dedico estas palavras ao Ponto e vírgula que hoje visitei pela primeira vez e que achei simpático.
Há na vírgula um compasso que se dilui em valsa, uma pausa que se esvai em dança, um deslize que se liquefaz em brilho, um aperto que se abre em leque. Há no ponto um marco que se fecha em mate, um disco que se aperta em cinza, um cometa que se reduz a zero e um aro que se diz em salmo. Dedico estas palavras ao Ponto e vírgula que hoje visitei pela primeira vez e que achei simpático.
domingo, 26 de outubro de 2003
Para os interessados na difer(a)nça
Jacques Derrida proferirá em Coimbra, no âmbito da CNC - 2003, a conferência de abertura do Congresso Internacional, “A Soberania. Crítica, Desconstrução, Aporias (Em Torno do Pensamento de Jaques Derrida)”, que decorrerá entre 17 e 19 de Novembro (uma organização em parceria com o Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra). Pode ser uma oportunidade interessante para os interessados em matéria de mil remissões e origens.
Jacques Derrida proferirá em Coimbra, no âmbito da CNC - 2003, a conferência de abertura do Congresso Internacional, “A Soberania. Crítica, Desconstrução, Aporias (Em Torno do Pensamento de Jaques Derrida)”, que decorrerá entre 17 e 19 de Novembro (uma organização em parceria com o Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra). Pode ser uma oportunidade interessante para os interessados em matéria de mil remissões e origens.
Godot - 2
Diz o Desejo Casar que "o anonimato é parte óbvia do fascínio do Meu Pipi". E neste caso é verdade. Destuir esse fascínio e colocar o autor do Pipi suspenso num nome real é (quase) anular o devir desconstrutor da sua linguagem. Ficará o resto: a vida em livro, o escritor e a sua matéria enunciada. Apenas isso, como em tantos outros. O PRD foi mesmo mauzinho e sabe-o bem.
Diz o Desejo Casar que "o anonimato é parte óbvia do fascínio do Meu Pipi". E neste caso é verdade. Destuir esse fascínio e colocar o autor do Pipi suspenso num nome real é (quase) anular o devir desconstrutor da sua linguagem. Ficará o resto: a vida em livro, o escritor e a sua matéria enunciada. Apenas isso, como em tantos outros. O PRD foi mesmo mauzinho e sabe-o bem.
Godot
Telefona-me ontem para a Luz (imagine-se) uma velha amiga que agora mora em Braga (fomos vizinhos em Amesterdão e em Évora...) e que eu já não vejo há algum tempo. Ela: - Descobri que tens um blogue. Eu: - É verdade. Ela: E quem é o Pipi ? Eu: - Rnhhh... the big tale, mas confesso que ainda não chegou e tão-pouco, por vontade própria, se desvelou (entretanto, parece que o DN-A de ontem já fez das suas).
Telefona-me ontem para a Luz (imagine-se) uma velha amiga que agora mora em Braga (fomos vizinhos em Amesterdão e em Évora...) e que eu já não vejo há algum tempo. Ela: - Descobri que tens um blogue. Eu: - É verdade. Ela: E quem é o Pipi ? Eu: - Rnhhh... the big tale, mas confesso que ainda não chegou e tão-pouco, por vontade própria, se desvelou (entretanto, parece que o DN-A de ontem já fez das suas).
Novas fronteiras da Europa
Em Aquila, a apenas cem quilómetros de Roma (a eterna e a cesariana), imagine-se que a minoria islâmica local decidiu recorrer a tribunal para exigir que ao lado dos crucifixos colocados nas salas de aula fossem igualmente colocados símbolos corânicos. O juiz não foi por menos e (muito compreensivo...) afirmou que o estado italiano continua a ser movido pelo "inequívoco desejo" de colocar "a religião católica no centro do universo". À afirmação proferida pelo juiz, respondeu de pronto o cardeal Ersilio Tonini: "não pode remover-se um símbolo de valores religiosos e culturais só porque pode ofender alguém". A polémica está lançada. A fronteira da Europa com a não Europa está cada vez mais a ser desenhada por linhas de fuga que atravessam o velho continente no seu seio.
A história vem toda na BBC-online e vale como um verdadeiro sinal dos tempos.
Em Aquila, a apenas cem quilómetros de Roma (a eterna e a cesariana), imagine-se que a minoria islâmica local decidiu recorrer a tribunal para exigir que ao lado dos crucifixos colocados nas salas de aula fossem igualmente colocados símbolos corânicos. O juiz não foi por menos e (muito compreensivo...) afirmou que o estado italiano continua a ser movido pelo "inequívoco desejo" de colocar "a religião católica no centro do universo". À afirmação proferida pelo juiz, respondeu de pronto o cardeal Ersilio Tonini: "não pode remover-se um símbolo de valores religiosos e culturais só porque pode ofender alguém". A polémica está lançada. A fronteira da Europa com a não Europa está cada vez mais a ser desenhada por linhas de fuga que atravessam o velho continente no seu seio.
A história vem toda na BBC-online e vale como um verdadeiro sinal dos tempos.
A Redoma de Castro
"Ils forment trois cercles autour du commandant en chef vieillissant : la famille, les "classiques" et les "talibans". Tous susceptibles d'intervenir, le jour où Fidel Castro, 77 ans, disparaîtra."
Esta é a caixa com que o Le Monde de hoje descreve a guarda califal dos velhos pistoleiros que circundam o ditador e que tentarão (esperemos que em vão) manter tudo na mesma, após a sua morte. Vale a pena ler.
"Ils forment trois cercles autour du commandant en chef vieillissant : la famille, les "classiques" et les "talibans". Tous susceptibles d'intervenir, le jour où Fidel Castro, 77 ans, disparaîtra."
Esta é a caixa com que o Le Monde de hoje descreve a guarda califal dos velhos pistoleiros que circundam o ditador e que tentarão (esperemos que em vão) manter tudo na mesma, após a sua morte. Vale a pena ler.
Haja luz
É verdade, o Miniscente esteve presente na inauguração da nova Luz. Já me apercebi que a coisa não é lá muito bem vista por alguns sectores blogosféricos que acham que vivemos num país à camionista da Luís Simões (o que não deixa de ser verdade). Mas como a realidade é feita também de pedreiros e de outras recambolescas e respeitáveis auras, a verdade é que no futebol o que me aparece à vista, para além da sempre esperada genialidade dos lances de qualquer jogo (mesmo os visionários, ou místicos), é a sensação quase pura que paira no olhar das pessoas (dos espectadores) e que remete para um mundo arcaico subitamente acordado, restaurado, reatado. Ainda que por hiatos involuntários e tão distantes de quem, em massa, os protagoniza. É por isso que, de repente, no meio das cenografias da Luz nocturna, senti que estava novamente em Delfos, entre as respirações ancestrais do desfiladeiro, a percorrer o insondável olhar dos milhares que ali magicamente acorriam vindos de todas as orlas do mare nostrum.
É verdade, o Miniscente esteve presente na inauguração da nova Luz. Já me apercebi que a coisa não é lá muito bem vista por alguns sectores blogosféricos que acham que vivemos num país à camionista da Luís Simões (o que não deixa de ser verdade). Mas como a realidade é feita também de pedreiros e de outras recambolescas e respeitáveis auras, a verdade é que no futebol o que me aparece à vista, para além da sempre esperada genialidade dos lances de qualquer jogo (mesmo os visionários, ou místicos), é a sensação quase pura que paira no olhar das pessoas (dos espectadores) e que remete para um mundo arcaico subitamente acordado, restaurado, reatado. Ainda que por hiatos involuntários e tão distantes de quem, em massa, os protagoniza. É por isso que, de repente, no meio das cenografias da Luz nocturna, senti que estava novamente em Delfos, entre as respirações ancestrais do desfiladeiro, a percorrer o insondável olhar dos milhares que ali magicamente acorriam vindos de todas as orlas do mare nostrum.
Palimpsestos
Entre o dialogismo, a paródia, o intertexto, conforme o baptismo de diversos autores, o Almocreve das Petas fez uma admirável colagem de textos, espécie de posts dos posts com música de fundo a soar a cravo. Dotada de geometrias quase perfeitas, coisa do pedreiro do início do mundo (ou não fosse o críptico nome do autor Masson), tem o Cesariny como tutor e acaba a falar de melodia e entusiasmos latinos, próprio de quem não convive devidamente com uma aragem cool. Gostei (a propósito, já se lembraram de derivar a discussão suscitada pela Bomba, através da comparação entre o maçon criador-pedreiro e o novo herói pós-iluminista escritor ?)
Entre o dialogismo, a paródia, o intertexto, conforme o baptismo de diversos autores, o Almocreve das Petas fez uma admirável colagem de textos, espécie de posts dos posts com música de fundo a soar a cravo. Dotada de geometrias quase perfeitas, coisa do pedreiro do início do mundo (ou não fosse o críptico nome do autor Masson), tem o Cesariny como tutor e acaba a falar de melodia e entusiasmos latinos, próprio de quem não convive devidamente com uma aragem cool. Gostei (a propósito, já se lembraram de derivar a discussão suscitada pela Bomba, através da comparação entre o maçon criador-pedreiro e o novo herói pós-iluminista escritor ?)
sábado, 25 de outubro de 2003
sexta-feira, 24 de outubro de 2003
ESTADO DE TESTE. ATENÇÃO ÀS MANOBRAS !
O MINISCENTE ESTÁ, NESTE MOMENTO, A MUDAR O TEMPLATE DE MODO A ACOMPANHAR O TEMPO DE SOLSTÍCIO QUE AÍ VEM. O EXCELENTE TRABALHO (EM CURSO) É DA AUTORIA DE JOÃO L. NOGUEIRA DO SOCIOBLOGUE 2.0.
NESTE MOMENTO, O MENU ENCONTRA-SE A MEIO DA COLUNA DA ESQUERDA, MAS, EM BREVE, O FORMATO ESTARÁ PRONTO A SER ESTREADO. PREPAREMOS AS TESOURAS QUE A FITA VERMELHA JÁ SE VÊ NO FUNDO DO HORIZONTE.
O MINISCENTE ESTÁ, NESTE MOMENTO, A MUDAR O TEMPLATE DE MODO A ACOMPANHAR O TEMPO DE SOLSTÍCIO QUE AÍ VEM. O EXCELENTE TRABALHO (EM CURSO) É DA AUTORIA DE JOÃO L. NOGUEIRA DO SOCIOBLOGUE 2.0.
NESTE MOMENTO, O MENU ENCONTRA-SE A MEIO DA COLUNA DA ESQUERDA, MAS, EM BREVE, O FORMATO ESTARÁ PRONTO A SER ESTREADO. PREPAREMOS AS TESOURAS QUE A FITA VERMELHA JÁ SE VÊ NO FUNDO DO HORIZONTE.
Frio
O tempo arrefece. E começa a fazer lembrar o primeiro parágrafo de um policial manhoso que li durante as férias de Agosto (O caso do colar desaparecido de S.S. Van Dine). Rezava assim:
"- Que tal umas breves férias num verdadeiro ambiente idílico... desportos de Inverno, companhia agradável e uma verdadeira mansão onde relaxar ? Tenho precisamente um convite desses para ti, Vance."
Estimulante, não é ?
O tempo arrefece. E começa a fazer lembrar o primeiro parágrafo de um policial manhoso que li durante as férias de Agosto (O caso do colar desaparecido de S.S. Van Dine). Rezava assim:
"- Que tal umas breves férias num verdadeiro ambiente idílico... desportos de Inverno, companhia agradável e uma verdadeira mansão onde relaxar ? Tenho precisamente um convite desses para ti, Vance."
Estimulante, não é ?
O 30 de Outubro
O encontro informal de Blogues, previsto para 30 de Outubro na Sociedade de Geografia de Lisboa, já tem cibersede: basta clicar aqui para ver e viajar até lá.
O encontro informal de Blogues, previsto para 30 de Outubro na Sociedade de Geografia de Lisboa, já tem cibersede: basta clicar aqui para ver e viajar até lá.
Fenómeno religioso
Foi O. Ducrot quem escreveu que o fenómeno religioso porventura não existiria se "a própria língua não tornasse possível a fala de alguém ser simplesmente a fala de outrém". Citei este extracto no meu livro Islão e Mundo Cristão e creio que pode suscitar uma reflexão interessante (embora potencialmente redutora) na medida em que projecta a recusa da transparência e da pura instrumentalidade da linguagem (os famosos turns que revigoraram as análises do século passado) ao campo comunicacional onde se prescreve o ici-bas terreno e um/o interlocutor divino. Duvido que este plano de discussão possa conformar-se com a simples "recusa do religioso". Por outro lado, é normal que uma tal cascata de "falas", disseminada em culturas ancestrais e milenarmente distantes umas das outras, tenha levado as religiões a enunciarem-se sempre e necessariamente "contra" algo.
Foi O. Ducrot quem escreveu que o fenómeno religioso porventura não existiria se "a própria língua não tornasse possível a fala de alguém ser simplesmente a fala de outrém". Citei este extracto no meu livro Islão e Mundo Cristão e creio que pode suscitar uma reflexão interessante (embora potencialmente redutora) na medida em que projecta a recusa da transparência e da pura instrumentalidade da linguagem (os famosos turns que revigoraram as análises do século passado) ao campo comunicacional onde se prescreve o ici-bas terreno e um/o interlocutor divino. Duvido que este plano de discussão possa conformar-se com a simples "recusa do religioso". Por outro lado, é normal que uma tal cascata de "falas", disseminada em culturas ancestrais e milenarmente distantes umas das outras, tenha levado as religiões a enunciarem-se sempre e necessariamente "contra" algo.
Votar de quatro em quatro minutos
Como pode um deputado europeu votar (a favor, contra ou abster-se) em 390 assuntos diferentes num ÚNICO dia ?
José Pacheco Pereira explica como e, ao mesmo tempo, até denuncia os fantasmas que criam esta cenografia espantosa, incrível, inverosímil e, diria eu ainda, impossível (390 votos em 24 horas daria mais ou menos um voto de quatro em quatro minutos).
Como pode um deputado europeu votar (a favor, contra ou abster-se) em 390 assuntos diferentes num ÚNICO dia ?
José Pacheco Pereira explica como e, ao mesmo tempo, até denuncia os fantasmas que criam esta cenografia espantosa, incrível, inverosímil e, diria eu ainda, impossível (390 votos em 24 horas daria mais ou menos um voto de quatro em quatro minutos).
O Leviatã do PS
Imaginar uma cabala é saltar para um mundo onde se passa a crer numa espécie de Leviatã onde uma nuvem de homens vestidos de escuro manipula roldanas e manieta marionetas por forma a criar o teatro de sombras ideal que acabasse, um dia, por comprometer a imagem do PS perante tudo e todos.
Como pode o PS - que se filia na tradição do Iluminismo e que sempre terá perseguido a racionalidade da Res pública contra as tentações de diversas tiranias totalitárias (fazendo-se acompanhar dessa auto-imagem durante décadas) - viver desse devir metafísico que, no fundo, apenas acredita em alçapões inacessíveis de onde irradiaria uma mortal urdidura ?
Como pode o PS fundir o nexo de laços pessoais (legítimos, é certo) com uma atitude e uma acrobacia políticas que se demitem dos problemas da agenda quotidiana para apenas lucubrar sobre a "campanha" e sobre a grande e hipotética "trama" oriunda de bastidores obscuros e longínquos ?
Imaginar uma cabala é saltar para um mundo onde se passa a crer numa espécie de Leviatã onde uma nuvem de homens vestidos de escuro manipula roldanas e manieta marionetas por forma a criar o teatro de sombras ideal que acabasse, um dia, por comprometer a imagem do PS perante tudo e todos.
Como pode o PS - que se filia na tradição do Iluminismo e que sempre terá perseguido a racionalidade da Res pública contra as tentações de diversas tiranias totalitárias (fazendo-se acompanhar dessa auto-imagem durante décadas) - viver desse devir metafísico que, no fundo, apenas acredita em alçapões inacessíveis de onde irradiaria uma mortal urdidura ?
Como pode o PS fundir o nexo de laços pessoais (legítimos, é certo) com uma atitude e uma acrobacia políticas que se demitem dos problemas da agenda quotidiana para apenas lucubrar sobre a "campanha" e sobre a grande e hipotética "trama" oriunda de bastidores obscuros e longínquos ?
quinta-feira, 23 de outubro de 2003
Crónicas da Praça da Alegria
Juro que encerro aqui o caso Pipi. Mas não resisto a algumas crónicas sobre o caso de ontem, na Praça da Alegria. Houve para todos os gostos. Desde a entrada por acaso e, depois, o choque regiano com o ambiente à "Big Brother" (eu creio, caro Possidónio, que a linguagem do Pipi é realmente interessante: funde os labirintos da desconstrução com a superfície do lençol puído e talvez jalofo, mas não é nada boçal), até à feérica notação das mil apresentações e reconhecimentos (conterrâneo MacGuffin... e nós ? Quando é que nos conheceremos ?), sem esquecer a mordaz acutilância do crítico deserdado e quase exilado. A Bomba ainda foi das mais tranquilas e serenas na descrição que fez da cena. Nem mais: mil olhos para um mesmo presépio.
Juro que encerro aqui o caso Pipi. Mas não resisto a algumas crónicas sobre o caso de ontem, na Praça da Alegria. Houve para todos os gostos. Desde a entrada por acaso e, depois, o choque regiano com o ambiente à "Big Brother" (eu creio, caro Possidónio, que a linguagem do Pipi é realmente interessante: funde os labirintos da desconstrução com a superfície do lençol puído e talvez jalofo, mas não é nada boçal), até à feérica notação das mil apresentações e reconhecimentos (conterrâneo MacGuffin... e nós ? Quando é que nos conheceremos ?), sem esquecer a mordaz acutilância do crítico deserdado e quase exilado. A Bomba ainda foi das mais tranquilas e serenas na descrição que fez da cena. Nem mais: mil olhos para um mesmo presépio.
Llosa versus Pipi
Ontem, Lisboa foi uma verdadeira capital literária. Paris havia-o sido anteontem com a divulgação do Centésimo Goncourt (ver post). Mas não comparemos o incomparável. Vejamos: Vargas Llosa afirmou ontem que a ideia de realismo mágico "irrita os escritores mais jovens", o que até acaba por ser normal, na medida em que "o parricídio simbólico e fundamental para que cada nova geração afirme a sua identidade" deve ser encarado como uma evidência.
No caso de Pipi - que viu o seu livro ontem apresentado no Maxime - poder-se-ia antes dizer que estamos face a um "pachichídio bucólico e oral para que cada nova excitação afirme a sua concavidade" (ver mais abaixo o "Big Pipi").
De facto, não comparemos o incomparável.
Dos jovens peruanos ao jovem Pipi vai um falo de gigante.
Ontem, Lisboa foi uma verdadeira capital literária. Paris havia-o sido anteontem com a divulgação do Centésimo Goncourt (ver post). Mas não comparemos o incomparável. Vejamos: Vargas Llosa afirmou ontem que a ideia de realismo mágico "irrita os escritores mais jovens", o que até acaba por ser normal, na medida em que "o parricídio simbólico e fundamental para que cada nova geração afirme a sua identidade" deve ser encarado como uma evidência.
No caso de Pipi - que viu o seu livro ontem apresentado no Maxime - poder-se-ia antes dizer que estamos face a um "pachichídio bucólico e oral para que cada nova excitação afirme a sua concavidade" (ver mais abaixo o "Big Pipi").
De facto, não comparemos o incomparável.
Dos jovens peruanos ao jovem Pipi vai um falo de gigante.
Llosa: de acordo com o óbvio
Vargas Llosa esteve entre nós para lançar o seu romance O Paraíso na Outra Esquina. E deixou ditas algumas frases que já não constituem corte. São realidades óbvias, mas que sobretudo não devem ser esquecidas. Nem sei por que carga de água ainda há alguns desgarradamente correctos que vêm em Llosa um maldito !
Leiamos:
"Todas as tentativas de criar a sociedade perfeita traduziram-se em verdadeiros apocalipses."
"O nazismo foi isso; o comunismo foi isso; todas as grandes utopias levaram a Humanidade à beira do precipício".
"(a utopia) é (no entanto) um motor que empurra o desenvolvimento: os grandes cientistas, os exploradores, os santos representam de algum modo a materialização desse sonho utópico".
"As utopias políticas trouxeram mais prejuízos do que benefícios à Humanidade. A felicidade nunca se pode encontrar num projecto colectivo".
Vargas Llosa esteve entre nós para lançar o seu romance O Paraíso na Outra Esquina. E deixou ditas algumas frases que já não constituem corte. São realidades óbvias, mas que sobretudo não devem ser esquecidas. Nem sei por que carga de água ainda há alguns desgarradamente correctos que vêm em Llosa um maldito !
Leiamos:
"Todas as tentativas de criar a sociedade perfeita traduziram-se em verdadeiros apocalipses."
"O nazismo foi isso; o comunismo foi isso; todas as grandes utopias levaram a Humanidade à beira do precipício".
"(a utopia) é (no entanto) um motor que empurra o desenvolvimento: os grandes cientistas, os exploradores, os santos representam de algum modo a materialização desse sonho utópico".
"As utopias políticas trouxeram mais prejuízos do que benefícios à Humanidade. A felicidade nunca se pode encontrar num projecto colectivo".
Urânio iraniano
As démarches europeias junto do Irão que se traduziram no acordo de anteontem que prevê uma suspensão no programa de urâncio enriquecido estão a ser alvo de críticas. O cepticismo abunda nos EUA, enquanto, em certa Europa mais ingénua, todas as ameaças parecem agora distanciadas. Vejamos o que se escreve, hoje, no Economist a este respeito:
"The agreement is maddeningly vague. How long will the suspension of uranium enrichment last? (Worryingly, the key Iranian negotiator, Hassan Rowhani, said that the agreement is voluntary, “which means it could last for one day or one year”.) And how will the suspension of the enrichment be confirmed? If this has been decided, the Iranians aren’t telling anyone."
Bem sei que dissuadir não é, ou não deveria ter sido, enunciar um eixo com o nome do "mal". Mas ignorar o mal, ainda que sem o enunciar, é algo que pode conduzir ao pior dos becos políticos sem saída.
As démarches europeias junto do Irão que se traduziram no acordo de anteontem que prevê uma suspensão no programa de urâncio enriquecido estão a ser alvo de críticas. O cepticismo abunda nos EUA, enquanto, em certa Europa mais ingénua, todas as ameaças parecem agora distanciadas. Vejamos o que se escreve, hoje, no Economist a este respeito:
"The agreement is maddeningly vague. How long will the suspension of uranium enrichment last? (Worryingly, the key Iranian negotiator, Hassan Rowhani, said that the agreement is voluntary, “which means it could last for one day or one year”.) And how will the suspension of the enrichment be confirmed? If this has been decided, the Iranians aren’t telling anyone."
Bem sei que dissuadir não é, ou não deveria ter sido, enunciar um eixo com o nome do "mal". Mas ignorar o mal, ainda que sem o enunciar, é algo que pode conduzir ao pior dos becos políticos sem saída.
Carrilho
E eis que, depois dos meus posts "Bola de neve", "Que resta ao PS" e outros, acabo por concordar com a posição de Manuel Maria Carrilho, hoje divulgada sob a forma de carta no DN.
Vale a pena ler.
E eis que, depois dos meus posts "Bola de neve", "Que resta ao PS" e outros, acabo por concordar com a posição de Manuel Maria Carrilho, hoje divulgada sob a forma de carta no DN.
Vale a pena ler.
Bué de speach
Nos idos de sessenta, tal como nos idos reumáticos de Eça, ficava bem soletrar uma paragonazinha em Francês. Ficava a matar, ludibriava a fivela do cabedal e dava lustre ao discurso. Hoje, em boa parte dos blogues da Fashion Cha Cha Cha (malta dos trinta, mais coisa menos coisa), é o Inglês ou o belo sotaque de Harvard com chapéu de campino que está a dar. E que veio para ficar. Não tenho nada contra (mas às vezes tem a sua piada).
Nos idos de sessenta, tal como nos idos reumáticos de Eça, ficava bem soletrar uma paragonazinha em Francês. Ficava a matar, ludibriava a fivela do cabedal e dava lustre ao discurso. Hoje, em boa parte dos blogues da Fashion Cha Cha Cha (malta dos trinta, mais coisa menos coisa), é o Inglês ou o belo sotaque de Harvard com chapéu de campino que está a dar. E que veio para ficar. Não tenho nada contra (mas às vezes tem a sua piada).
Big Pipi
Acabei de chegar do mais famoso lançamento do ano. Pipi das meias alvas, tão alvas e diáfanas que nele (é um ele) a transparência cheira a uma espécie de Godot em sentido contrário. O primeiro nunca mais chegava, este nunca mais encarna; o primeiro era latente, este é um sempre ausente. Excepto, entre muitos outros, no belo texto (evangélico) em que o tema da revelação das putas nos surge como um dos grandes momentos literários do novo milénio. Depois da vaga tristonha e cinzenta de tez saramaguês, eis que surge agora a vaga nobel em plena rebentação e sem necessidade de Academia. Dos blogues se fez carne e do verbo se fez peixe encarniçado a saber a sumo espesso de leite, a refogado e sobretudo a riso.
E lá conheci a Charlotte de xadrez à porta do Maxime (que saúdo e a quem dou os meus parabéns pela causa Pipi).
Acabei de chegar do mais famoso lançamento do ano. Pipi das meias alvas, tão alvas e diáfanas que nele (é um ele) a transparência cheira a uma espécie de Godot em sentido contrário. O primeiro nunca mais chegava, este nunca mais encarna; o primeiro era latente, este é um sempre ausente. Excepto, entre muitos outros, no belo texto (evangélico) em que o tema da revelação das putas nos surge como um dos grandes momentos literários do novo milénio. Depois da vaga tristonha e cinzenta de tez saramaguês, eis que surge agora a vaga nobel em plena rebentação e sem necessidade de Academia. Dos blogues se fez carne e do verbo se fez peixe encarniçado a saber a sumo espesso de leite, a refogado e sobretudo a riso.
E lá conheci a Charlotte de xadrez à porta do Maxime (que saúdo e a quem dou os meus parabéns pela causa Pipi).
quarta-feira, 22 de outubro de 2003
Praxe
O Do lado de cá exprime a voz mais pura, transparente e sincera sobre o que é ser sujeito a praxes académicas: "Ando a ser praxada: sou obrigada a não dormir numa hora de sono seguida, tenho de falar sempre pelo nariz, tusso e assoo o nariz de cinco em cinco minutos e tenho de tomar drogas estranhas".
Moral da história: no tempo em que ardiam as bruxas não havia aspirinas, mas hoje basta praxar drogas estranhas para se ser bruxo.
O Do lado de cá exprime a voz mais pura, transparente e sincera sobre o que é ser sujeito a praxes académicas: "Ando a ser praxada: sou obrigada a não dormir numa hora de sono seguida, tenho de falar sempre pelo nariz, tusso e assoo o nariz de cinco em cinco minutos e tenho de tomar drogas estranhas".
Moral da história: no tempo em que ardiam as bruxas não havia aspirinas, mas hoje basta praxar drogas estranhas para se ser bruxo.
Octobre au Portugal
Já que hoje a França é tema por causa do Prémio Goncourt (ver post "Centésimo Goncourt"), sempre se confirma que a TV5 vai dedicar 24 horas de emissão directa, no próximo Sábado, ao nosso cantinho português.
Vamos ver se é desta que a nossa auto-imagem perde algum borbulhar mais irritante. Nestas alturas, há sempre umas gazelinhas e uns pintassilguitos que treinam o seu Français. Estou cheio de "ilusões" (como agora se diz nos meios futebolísticos da pátria).
Já que hoje a França é tema por causa do Prémio Goncourt (ver post "Centésimo Goncourt"), sempre se confirma que a TV5 vai dedicar 24 horas de emissão directa, no próximo Sábado, ao nosso cantinho português.
Vamos ver se é desta que a nossa auto-imagem perde algum borbulhar mais irritante. Nestas alturas, há sempre umas gazelinhas e uns pintassilguitos que treinam o seu Français. Estou cheio de "ilusões" (como agora se diz nos meios futebolísticos da pátria).
Ovas - 2
Diz o Catalaxia, em acordo com o nosso post Ovas: "A verdade dos factos é que, em Portugal, trinta anos volvidos sobre a implantação do regime democrático e, supostamente, do Estado de Direito, o Estado não possui verdadeiras instituições, capazes de resistirem a problemas e crises circunstanciais que sempre existem nas sociedades livres."
Quando muitas vozes tornam a redundância em água pura e límpida, é caso para apregoar a senha mais típica do guarda florestal (quando os há!): não há fumo sem fogo.
Diz o Catalaxia, em acordo com o nosso post Ovas: "A verdade dos factos é que, em Portugal, trinta anos volvidos sobre a implantação do regime democrático e, supostamente, do Estado de Direito, o Estado não possui verdadeiras instituições, capazes de resistirem a problemas e crises circunstanciais que sempre existem nas sociedades livres."
Quando muitas vozes tornam a redundância em água pura e límpida, é caso para apregoar a senha mais típica do guarda florestal (quando os há!): não há fumo sem fogo.
Frases felizes - 21
"Como se esperava, Timor, essa bandeira da bondade e do porreirismo nacional, exibida nas ruas, em comícios e em cantorias comovidas, trocou o nosso magnífico direito pela aplicação do direito indonésio." (Portugal dos Pequeninos)
"Como se esperava, Timor, essa bandeira da bondade e do porreirismo nacional, exibida nas ruas, em comícios e em cantorias comovidas, trocou o nosso magnífico direito pela aplicação do direito indonésio." (Portugal dos Pequeninos)
O outro Sampaio
Sampaio tratou ontem as coisas cientificamente: chamou novelas às meta-ocorrências. Neste caso, "novela judiciária". Que me lembre, é a primeira vez que o mais alto magistrado da nação apela ao povo no sentido de não confundir o fluxo ficcional das meta-ocorrências criadas pelos média (as novas narrativas mitológicas e referenciais da contemporaneidade) com a agenda do quotidiano, das premências e da necessidade. Para os estudiosos de ciências da comunicação, este pode ser um dado curioso que obrigará a reler o discurso de Sampaio com ênfase particular para o seu subtexto não imediatamente político (e, portanto, reactivo).
Sampaio tratou ontem as coisas cientificamente: chamou novelas às meta-ocorrências. Neste caso, "novela judiciária". Que me lembre, é a primeira vez que o mais alto magistrado da nação apela ao povo no sentido de não confundir o fluxo ficcional das meta-ocorrências criadas pelos média (as novas narrativas mitológicas e referenciais da contemporaneidade) com a agenda do quotidiano, das premências e da necessidade. Para os estudiosos de ciências da comunicação, este pode ser um dado curioso que obrigará a reler o discurso de Sampaio com ênfase particular para o seu subtexto não imediatamente político (e, portanto, reactivo).
Ovas
Ontem, num restaurante, dizia-me o empregado, enquanto as ovas grelhavam: - "Isto, se não fosse a União Europeia, já tinha tudo descambado. Qual democracia qual quê... onde é que a gente já ia !".
E tinha toda a razão. Creio que a nossa esquadria democrática é bem mais ténue do que todos pensamos. Creio que os limites do agir institucional são muitas vezes sujeitos a um jogo que se aproxima do abismo com excessiva descontracção.
Hoje, depois de uma breve passagem por alguns blogues, verifico que há já quem preveja o desfecho do caso Casa Pia. No limite e sem rede, tal como noutros casos tem acontecido inúmeras vezes: acordo do bloco central - como se diz no Aviz - em nome de uma causa que é puro "marketing patriótico". Vamos vivendo em acrobacia, mas a ruidosa música de fundo disfarça.
Ontem, num restaurante, dizia-me o empregado, enquanto as ovas grelhavam: - "Isto, se não fosse a União Europeia, já tinha tudo descambado. Qual democracia qual quê... onde é que a gente já ia !".
E tinha toda a razão. Creio que a nossa esquadria democrática é bem mais ténue do que todos pensamos. Creio que os limites do agir institucional são muitas vezes sujeitos a um jogo que se aproxima do abismo com excessiva descontracção.
Hoje, depois de uma breve passagem por alguns blogues, verifico que há já quem preveja o desfecho do caso Casa Pia. No limite e sem rede, tal como noutros casos tem acontecido inúmeras vezes: acordo do bloco central - como se diz no Aviz - em nome de uma causa que é puro "marketing patriótico". Vamos vivendo em acrobacia, mas a ruidosa música de fundo disfarça.
Centésimo Goncourt
O centésimo Goncourt (que devia ser tornado público apenas no próximo dia 3 de Dezembro) foi ontem à tarde atribuído a Jacques Pierre-Amette.
O prémio da Academia será conhecido amanhã e os prémios Médicis e Femina apenas serão revelados no próximo dia 27. Assim vão as literatices em França.
O centésimo Goncourt (que devia ser tornado público apenas no próximo dia 3 de Dezembro) foi ontem à tarde atribuído a Jacques Pierre-Amette.
O prémio da Academia será conhecido amanhã e os prémios Médicis e Femina apenas serão revelados no próximo dia 27. Assim vão as literatices em França.
Interfaces
Ángeles López assina hoje um artigo no El Mundo, baseado em estudos de "várias universidades" e com honras de primeira página, onde se estabelecem relações directas entre a hipertensão e o racismo.
Ele há com cada interface ! (by the way, logo há Pipi, no Maxime, às 21 h.)
Ángeles López assina hoje um artigo no El Mundo, baseado em estudos de "várias universidades" e com honras de primeira página, onde se estabelecem relações directas entre a hipertensão e o racismo.
Ele há com cada interface ! (by the way, logo há Pipi, no Maxime, às 21 h.)
Mais uma lista
O Rain Song propõe-se elaborar uma lista de nomes de escritores (ficção, teatro, poesia) "que tenham comunicação sempre actualizada com o mundo exterior através de blogs ou páginas web". Mais uma boa ideia que a rede possibilita.
O Rain Song propõe-se elaborar uma lista de nomes de escritores (ficção, teatro, poesia) "que tenham comunicação sempre actualizada com o mundo exterior através de blogs ou páginas web". Mais uma boa ideia que a rede possibilita.
terça-feira, 21 de outubro de 2003
PR
Só o tempo dirá se foi alguma água na fervura, ou se foi o discurso esperado e desejado para repor algum equilíbrio nas hostes. Deus nos oiça.
Ínfimas tragédias
Há factos do mais íntimo quotidiano que oscilam entre aparecer ou não no blogue. To be or not not to be. Até porque aparecer é ser (na blogosfera). Tentações e sigilos. Escritas (escrever é ser sempre um outro) e recatos (resguardos do tempo em que público e privado se dissociavam).
Mas, hoje, à hora do jantar, antes de ir dar a última aula não é que me cai um dente ! Há, de facto, ínfimas tragédias que dançam fora de cena e que destemperam a arrelia e a destemida gargalhada que a acompanha.
Amanhã terá tudo passado. Assim o espero.
Só o tempo dirá se foi alguma água na fervura, ou se foi o discurso esperado e desejado para repor algum equilíbrio nas hostes. Deus nos oiça.
Ínfimas tragédias
Há factos do mais íntimo quotidiano que oscilam entre aparecer ou não no blogue. To be or not not to be. Até porque aparecer é ser (na blogosfera). Tentações e sigilos. Escritas (escrever é ser sempre um outro) e recatos (resguardos do tempo em que público e privado se dissociavam).
Mas, hoje, à hora do jantar, antes de ir dar a última aula não é que me cai um dente ! Há, de facto, ínfimas tragédias que dançam fora de cena e que destemperam a arrelia e a destemida gargalhada que a acompanha.
Amanhã terá tudo passado. Assim o espero.
Semiótica
Estou no Museu dos Transportes, entre aulas. Dei uma primeira aula de semiótica a 68 alunos e a mensagem essencial, ou seja, a resposta à pergunta - O que é a semiótica ? - parece que foi bem compreendida. Recorri, entre outros, ao exemplo da vida de uma personagem, desde que se levanta até que se deita, para demonstrar que todos os actos do quotidiano são actos semióticos. Em todos eles se processam modalidades de significação que não existiriam se o ser humano tivesse capacidade telepática. É por isso que o filme da mente se ajusta permanentemente a formas e expressões do dia a dia de modo a fazer-se entender, ou tão-só a entender aquilo que o rodeia, em função de regras que as comunidades, milenar e recentemente, arbitrária ou quase que naturalmente, estatuíram.
Seja como for, nas primeiras aulas, o que conta é a disposição e a empatia no olhar. E esse, na sua multiplicidade e excesso de presença, frutificou.
Estou no Museu dos Transportes, entre aulas. Dei uma primeira aula de semiótica a 68 alunos e a mensagem essencial, ou seja, a resposta à pergunta - O que é a semiótica ? - parece que foi bem compreendida. Recorri, entre outros, ao exemplo da vida de uma personagem, desde que se levanta até que se deita, para demonstrar que todos os actos do quotidiano são actos semióticos. Em todos eles se processam modalidades de significação que não existiriam se o ser humano tivesse capacidade telepática. É por isso que o filme da mente se ajusta permanentemente a formas e expressões do dia a dia de modo a fazer-se entender, ou tão-só a entender aquilo que o rodeia, em função de regras que as comunidades, milenar e recentemente, arbitrária ou quase que naturalmente, estatuíram.
Seja como for, nas primeiras aulas, o que conta é a disposição e a empatia no olhar. E esse, na sua multiplicidade e excesso de presença, frutificou.
Conhecido vs desconhecido
Houve um tempo em que o conhecido e o desconhecido andaram de mãos dadas. Um e outro equivaliam-se de modo estável. O profético grego ou semítico e toda a significação da medicina hipocrática habitavam esse mundo.
Depois, muito, muito mais tarde, veio a tendêndia explicativa e moderna assente no limite, ou seja, na tentativa de aumentar o conhecido através de uma verdadeira e persistente batalha contra o desconhecido.
Da nova ansiedade explicativa e batalhadora é feita o mundo que ainda hoje herdamos.
Houve um tempo em que o conhecido e o desconhecido andaram de mãos dadas. Um e outro equivaliam-se de modo estável. O profético grego ou semítico e toda a significação da medicina hipocrática habitavam esse mundo.
Depois, muito, muito mais tarde, veio a tendêndia explicativa e moderna assente no limite, ou seja, na tentativa de aumentar o conhecido através de uma verdadeira e persistente batalha contra o desconhecido.
Da nova ansiedade explicativa e batalhadora é feita o mundo que ainda hoje herdamos.
Bola de neve
"Victim of a political smear", eis a singular expressão que o New York Times atribui ao próprio Paulo Pedroso.
Uma bola de neve que confunde acção política com investigação e justiça - apesar das mil e indesmentíveis razões em jogo - é sempre uma bola de neve.
Em crescendo.
"Victim of a political smear", eis a singular expressão que o New York Times atribui ao próprio Paulo Pedroso.
Uma bola de neve que confunde acção política com investigação e justiça - apesar das mil e indesmentíveis razões em jogo - é sempre uma bola de neve.
Em crescendo.
O mito Diana
O Guardian traz hoje a lume novos dados, aliás bastante enigmáticos, sobre a morte da princesa.
A coisa promete mesmo mitificar-se.
O Guardian traz hoje a lume novos dados, aliás bastante enigmáticos, sobre a morte da princesa.
A coisa promete mesmo mitificar-se.
segunda-feira, 20 de outubro de 2003
Elogios e contaminação
Diz o Ricardo do frutuoso Desejo Casar a propósito do nosso post "Ler em voz alta":
"Confesso que é a primeira vez que sou elogiado por um escritor, normalmente sucede o contrário."
Eu diria que escapar à rede estriada dos elogios mútuos é que é importante. Elogiar sim e sempre, mas só quando for caso disso. E foi o caso. Ser escritor não é coisa do Olimpo; é-o apenas da contaminação de tudo o que é instrumental na linguagem.
Diz o Ricardo do frutuoso Desejo Casar a propósito do nosso post "Ler em voz alta":
"Confesso que é a primeira vez que sou elogiado por um escritor, normalmente sucede o contrário."
Eu diria que escapar à rede estriada dos elogios mútuos é que é importante. Elogiar sim e sempre, mas só quando for caso disso. E foi o caso. Ser escritor não é coisa do Olimpo; é-o apenas da contaminação de tudo o que é instrumental na linguagem.
A crise portuguesa - 2
Leitor devidamente identificado (e velho amigo) escreve:
Como tens razão, meu caro Luís!
É tempo de tirar as devidas ilações:
Já ninguém confia neste Governo!
Já ninguém confia nesta oposição!
Já ninguém confia no Benfica!
A própria Srª de Fátima que, segundo fonte oficial, nos protegeu da mará
negra do Prestige, está farta do nos aturar. Voltou-nos costas. Este ano com
o fogo já junto a ele, não nos valeu.
Todos o pensam, mas as ilações vão tardando.
É bom comentar o facto com humor.
Leitor devidamente identificado (e velho amigo) escreve:
Como tens razão, meu caro Luís!
É tempo de tirar as devidas ilações:
Já ninguém confia neste Governo!
Já ninguém confia nesta oposição!
Já ninguém confia no Benfica!
A própria Srª de Fátima que, segundo fonte oficial, nos protegeu da mará
negra do Prestige, está farta do nos aturar. Voltou-nos costas. Este ano com
o fogo já junto a ele, não nos valeu.
Todos o pensam, mas as ilações vão tardando.
É bom comentar o facto com humor.
A crise portuguesa
No El Pais de ontem, a análise da crise portuguesa é demolidora, mas realista. O trabalho de Luis Gómez pode ser lido, do princípio ao fim, na edição impressa. Fica aqui um flash:
Portugal, en quiebra política y social
Los escándalos sexuales, la corrupción y el declive económico conforman una grave crisis nacional. En medio de los incendios que devastaban el país, un viaducto cercano a Lisboa se derrumbó este verano y pudo haber causado un gran desastre cuando dos días antes había recibido el visto bueno de los inspectores. El incidente fue interpretado como otro síntoma de que el Estado no funciona, de que la crisis es algo más profunda en Portugal. La sensación de declive ha ido en aumento desde entonces. La euforia de 1998 ha dado paso a una pesadilla, repleta de malos augurios.
No El Pais de ontem, a análise da crise portuguesa é demolidora, mas realista. O trabalho de Luis Gómez pode ser lido, do princípio ao fim, na edição impressa. Fica aqui um flash:
Portugal, en quiebra política y social
Los escándalos sexuales, la corrupción y el declive económico conforman una grave crisis nacional. En medio de los incendios que devastaban el país, un viaducto cercano a Lisboa se derrumbó este verano y pudo haber causado un gran desastre cuando dos días antes había recibido el visto bueno de los inspectores. El incidente fue interpretado como otro síntoma de que el Estado no funciona, de que la crisis es algo más profunda en Portugal. La sensación de declive ha ido en aumento desde entonces. La euforia de 1998 ha dado paso a una pesadilla, repleta de malos augurios.
Que resta ao PS ?
Diga-se o que se disser, a descredibilidade política está aí. Bem junto à direcção do PS.
Terão toda a razão, estarão carregadinhos de razão, ninguém o nega.
Mas o parecer ser é já mais forte do que a evocação patética do princípio da cabala política.
Chegou o tempo das evidentes ilações políticas.
Que vai restando ao luso equilíbrio ?
A divulgação das escutas é um dado monstruoso. Mais o é quem contribuiu para que ela se tornasse possível. Um e outro mal não se anulam; pelo contrário, criam ambos a poderosa bola de neve do desespero político em que Portugal está a entrar. Justiça, vida política, média, todas as esferas aparecem a remar no sentido de uma ficcionalidade do desconforto.
Não falando já das dissonâncias da vida financeira e da óbvia ausência de retoma económica.
Como voltar a encontrar algum equilíbrio ?
Cadeados numa sociedade democrática ?
Os estudantes da Universidade de Évora (mas não apenas eles, claro) voltaram a fechar a cadeado a porta da Universidade. Não chegará de folclore ?
Diga-se o que se disser, a descredibilidade política está aí. Bem junto à direcção do PS.
Terão toda a razão, estarão carregadinhos de razão, ninguém o nega.
Mas o parecer ser é já mais forte do que a evocação patética do princípio da cabala política.
Chegou o tempo das evidentes ilações políticas.
Que vai restando ao luso equilíbrio ?
A divulgação das escutas é um dado monstruoso. Mais o é quem contribuiu para que ela se tornasse possível. Um e outro mal não se anulam; pelo contrário, criam ambos a poderosa bola de neve do desespero político em que Portugal está a entrar. Justiça, vida política, média, todas as esferas aparecem a remar no sentido de uma ficcionalidade do desconforto.
Não falando já das dissonâncias da vida financeira e da óbvia ausência de retoma económica.
Como voltar a encontrar algum equilíbrio ?
Cadeados numa sociedade democrática ?
Os estudantes da Universidade de Évora (mas não apenas eles, claro) voltaram a fechar a cadeado a porta da Universidade. Não chegará de folclore ?
Frases felizes - 20
"Se a União se desmembrar, um dia, mais cedo do que seria previsível, ao fazermos a respectiva história, situaremos em 2003 e 2004 o início desse desastre e o desencadeamento das forças centrífugas. Mau grado a hipocrisia das declarações piedosas sobre a subsidiariedade, esta Constituição é mais um passo, de gigante, desta vez, para a uniformização e o centralismo."
(António Barreto, Público, 19/10/03)
"Se a União se desmembrar, um dia, mais cedo do que seria previsível, ao fazermos a respectiva história, situaremos em 2003 e 2004 o início desse desastre e o desencadeamento das forças centrífugas. Mau grado a hipocrisia das declarações piedosas sobre a subsidiariedade, esta Constituição é mais um passo, de gigante, desta vez, para a uniformização e o centralismo."
(António Barreto, Público, 19/10/03)
domingo, 19 de outubro de 2003
Belo terrível
Gosto da imagem de O belo apenas é o começo do terrível (coreografia e interpretação: Vitalina Sousa, desenho de luz: Pedro Machado, fotografia: Teresa Santos e Pedro Tropa, assistência: Carla Sampaio, pós-produção: Sérgio Parreira e confecção de figurino: Mestra Teresa Louro). É a 25 de Outubro de 2003, pelas 19.00h, na Sala de ensaio do Centro Cultural de Belém.
Gosto da imagem de O belo apenas é o começo do terrível (coreografia e interpretação: Vitalina Sousa, desenho de luz: Pedro Machado, fotografia: Teresa Santos e Pedro Tropa, assistência: Carla Sampaio, pós-produção: Sérgio Parreira e confecção de figurino: Mestra Teresa Louro). É a 25 de Outubro de 2003, pelas 19.00h, na Sala de ensaio do Centro Cultural de Belém.
O dia do envio
Enviei hoje o meu próximo romance para a editora.
Embora seja já o meu nono romance, tudo se passa como se fosse, de novo, o primeiro dia.
Há sentimentos secretamente diáfanos a ruminar por aí !
De qualquer modo, emoções à parte, só lá para a Primavera do próximo ano é que vai ser dado à estampa.
Enviei hoje o meu próximo romance para a editora.
Embora seja já o meu nono romance, tudo se passa como se fosse, de novo, o primeiro dia.
Há sentimentos secretamente diáfanos a ruminar por aí !
De qualquer modo, emoções à parte, só lá para a Primavera do próximo ano é que vai ser dado à estampa.
Entrevistas castelhanas
Fui entrevistado por um senhor castelhano de Madrid acerca da minha literatura. No início pensava que se tratava de uma recolha mais ou menos académica, mas, depois, ao olhar para o sítio (de Jorge Mangas Peña), verifiquei que a coisa tem outra dimensão. Pelo menos quantitativa. Fica aqui o linque disponível para quem quiser espreitar (já aprendi a escrever linque com a Bomba).
Fui entrevistado por um senhor castelhano de Madrid acerca da minha literatura. No início pensava que se tratava de uma recolha mais ou menos académica, mas, depois, ao olhar para o sítio (de Jorge Mangas Peña), verifiquei que a coisa tem outra dimensão. Pelo menos quantitativa. Fica aqui o linque disponível para quem quiser espreitar (já aprendi a escrever linque com a Bomba).
Ser benfiquista
O que é preciso sofrer para ver o Benfica a vencer ! Mas também é por isso que todo o bom benfiquista, aliás 60% da população portuguesa, tem que saber superar, nestes difíceis Olimpos da vida, as tentações e altas digressões de Nietzsche & Schopenhauer (com todo o respeito e até proximidade que lhes devo).
No próximo Sábado, contra ventos e marés, irei à inauguração da nova Luz e, para já, fique a saber-se que apoio o Jaime Antunes (mesmo niilista que seja, sempre tenho que acreditar um bocadinho na mudança !).
Enfim, ser benfiquista, como cantava Piçarra, tornou-se, hoje em dia, numa superação do negativismo filosófico ao mesmo tempo que passou a emprestar ao sofrimento e ao padecimento da alma um novo modo de encarar o universo.
O que é preciso sofrer para ver o Benfica a vencer ! Mas também é por isso que todo o bom benfiquista, aliás 60% da população portuguesa, tem que saber superar, nestes difíceis Olimpos da vida, as tentações e altas digressões de Nietzsche & Schopenhauer (com todo o respeito e até proximidade que lhes devo).
No próximo Sábado, contra ventos e marés, irei à inauguração da nova Luz e, para já, fique a saber-se que apoio o Jaime Antunes (mesmo niilista que seja, sempre tenho que acreditar um bocadinho na mudança !).
Enfim, ser benfiquista, como cantava Piçarra, tornou-se, hoje em dia, numa superação do negativismo filosófico ao mesmo tempo que passou a emprestar ao sofrimento e ao padecimento da alma um novo modo de encarar o universo.
O PS à espera do quê ?
A actual direcção do PS caiu com a divulgação das escutas. Ou deveria preparar-se serenamente para cair. Já não basta dizer Não, há que saber parecer Sim.
E esse parecer ser afirmativo, esse manto da mulher de César esvaiu-se agora por completo.
A perversa divulgação das escutas só pode ter tido origem na Judiciária, no próprio Ministério Público, ou, mais provavelmente, no perpétuo conluio entre funcionários do sistema judicial e jornalistas que, se por sua vez, se cruza com a impiedosa e incompreendida alma de alguns juízes.
O entreposto de delatores é imenso e incontrolável. Estamos na terrível terra da denúncia múltipla, coisa que herdamos com alguma ligeireza desde os idos de quinhentos a setecentos. Qualquer dia o país anda à canelada como dizia hoje o Aviz.
O PS devia fazer as contas a tempo e antecipar-se ao apocalipse. Só ganhava com isso.
Jaime Gama faria melhor.
A actual direcção do PS caiu com a divulgação das escutas. Ou deveria preparar-se serenamente para cair. Já não basta dizer Não, há que saber parecer Sim.
E esse parecer ser afirmativo, esse manto da mulher de César esvaiu-se agora por completo.
A perversa divulgação das escutas só pode ter tido origem na Judiciária, no próprio Ministério Público, ou, mais provavelmente, no perpétuo conluio entre funcionários do sistema judicial e jornalistas que, se por sua vez, se cruza com a impiedosa e incompreendida alma de alguns juízes.
O entreposto de delatores é imenso e incontrolável. Estamos na terrível terra da denúncia múltipla, coisa que herdamos com alguma ligeireza desde os idos de quinhentos a setecentos. Qualquer dia o país anda à canelada como dizia hoje o Aviz.
O PS devia fazer as contas a tempo e antecipar-se ao apocalipse. Só ganhava com isso.
Jaime Gama faria melhor.
Mauzões - 2
Depois da tacada, dei mais uma leitura no blogue que pretende ser o justo guia da actual revolução de Outubro: tem sabre bem afiado, chicote bem estriado e não tem malaguetas doces na língua. Ainda bem, mão-de-obra desta já cá faltava. Mephistopheles amigo, o palavroso está contigo !
Depois da tacada, dei mais uma leitura no blogue que pretende ser o justo guia da actual revolução de Outubro: tem sabre bem afiado, chicote bem estriado e não tem malaguetas doces na língua. Ainda bem, mão-de-obra desta já cá faltava. Mephistopheles amigo, o palavroso está contigo !
Mauzões
A papagaia chegou hoje ao parapeito da minha janela, cruzou os braços e disse ao palavroso: fui a casa do mephistopheles mas ele não teve p. para mim.
E eu a perguntar-lhe o que queria dizer p. ?
Pi-pi não é com certeza, porque tem dois pês.
A papagaia chegou hoje ao parapeito da minha janela, cruzou os braços e disse ao palavroso: fui a casa do mephistopheles mas ele não teve p. para mim.
E eu a perguntar-lhe o que queria dizer p. ?
Pi-pi não é com certeza, porque tem dois pês.
Espaços - 4
O espaço sagrado e o espaço ideológico valem (valeram) pela verticalidade.
O espaço contemporâneo vale pela forma desagregada e horizontal. Tanto faz esquematizá-lo com a imagem do hipermercado, ou com a imagem da figueira retorcida e esvaída ao vento. De qualquer maneira, ele é sempre um espaço dos espaços.
O espaço sagrado e o espaço ideológico valem (valeram) pela verticalidade.
O espaço contemporâneo vale pela forma desagregada e horizontal. Tanto faz esquematizá-lo com a imagem do hipermercado, ou com a imagem da figueira retorcida e esvaída ao vento. De qualquer maneira, ele é sempre um espaço dos espaços.
Espaços - 3
Atravessar a encenação e perceber que ela sempre se destinou, afinal, a fazer crer o que não é. Mas se era essa a sua missão, por que rezam os fiéis em nome de uma voz que não é a sua ? Precisamente porque o humano tem a capacidade de se desbobrar e, portanto, de criar vozes em cascata que valem por outras que são também suas. É por essa razão que existe proto-si, si-nuclear e si-autobiográfico (A. Damásio). E é também por essa razão que existem imagens.
O espaço das imagens é, porventura, o nível mais elementar da nossa alma. Se é que existe alma (toda a metáfora é já a condição de uma imagem).
Atravessar a encenação e perceber que ela sempre se destinou, afinal, a fazer crer o que não é. Mas se era essa a sua missão, por que rezam os fiéis em nome de uma voz que não é a sua ? Precisamente porque o humano tem a capacidade de se desbobrar e, portanto, de criar vozes em cascata que valem por outras que são também suas. É por essa razão que existe proto-si, si-nuclear e si-autobiográfico (A. Damásio). E é também por essa razão que existem imagens.
O espaço das imagens é, porventura, o nível mais elementar da nossa alma. Se é que existe alma (toda a metáfora é já a condição de uma imagem).
Espaços
Dar a volta ao mundo e encontrar as sombras no mesmo sítio. Não é essa a virtude das cidades austeras ?
Dar a volta à cidade e encontrar a infância suspensa na melancolia das sombras. Não é essa a virtude de um reconhecimento tardio ?
O mundo austero e primeiro é sempre tardio. Há nele um adiamento congénito. Uma incompreensão quase fértil e, por isso mesmo, poética.
Dar a volta ao mundo e encontrar as sombras no mesmo sítio. Não é essa a virtude das cidades austeras ?
Dar a volta à cidade e encontrar a infância suspensa na melancolia das sombras. Não é essa a virtude de um reconhecimento tardio ?
O mundo austero e primeiro é sempre tardio. Há nele um adiamento congénito. Uma incompreensão quase fértil e, por isso mesmo, poética.
Da talha às encenações de hoje.
Percorri estradas e estradas sob chuva. Vi as Berlengas ao longe e uma talha dourada em movimento que acalentava a profusão excessiva das colunas até ao dealbar dos anjinhos a mediarem o grande cofre esférico. Saturação formal e, ainda assim, um pleno reconforto para o olho cansado do pescador. De um lado repete-se o mar, do outro a catadupa de imagens que ascende ao denegar de qualquer espaço. E isto porque o que a talha dourada nos confessa é justamente a impossibilidade de contar mais do que ela mesma, na sua contorção sem fim, nos consegue delegar. A exaustão do barroco é esta escrita no osso e é esta depuraçao máxima que se reveste exteriormente pela extrema e labiríntica amalgama formal que as disfarça. A última grande farsa da felicidade antes da era das encenações racionalizadas (coreanas, atalaianas ou jamorianas).
Percorri estradas e estradas sob chuva. Vi as Berlengas ao longe e uma talha dourada em movimento que acalentava a profusão excessiva das colunas até ao dealbar dos anjinhos a mediarem o grande cofre esférico. Saturação formal e, ainda assim, um pleno reconforto para o olho cansado do pescador. De um lado repete-se o mar, do outro a catadupa de imagens que ascende ao denegar de qualquer espaço. E isto porque o que a talha dourada nos confessa é justamente a impossibilidade de contar mais do que ela mesma, na sua contorção sem fim, nos consegue delegar. A exaustão do barroco é esta escrita no osso e é esta depuraçao máxima que se reveste exteriormente pela extrema e labiríntica amalgama formal que as disfarça. A última grande farsa da felicidade antes da era das encenações racionalizadas (coreanas, atalaianas ou jamorianas).
sexta-feira, 17 de outubro de 2003
A nitidez do silêncio
Ouço um papagaio ao longe. Estará preso ao ramo da figueira por um fio de seda já a desfazer-se. Entre o mais completo silêncio do fim da tarde, é ele o arauto do único nome que agora consigo reconhecer. É um nome vago que tende para a música, mas que ainda não é sequer som. Eis-me sentado a olhar para o horizonte e a tentar perceber esse quase rumor.
Ouço um papagaio ao longe. Estará preso ao ramo da figueira por um fio de seda já a desfazer-se. Entre o mais completo silêncio do fim da tarde, é ele o arauto do único nome que agora consigo reconhecer. É um nome vago que tende para a música, mas que ainda não é sequer som. Eis-me sentado a olhar para o horizonte e a tentar perceber esse quase rumor.
Tentação
Vem aí a torre mais alta do mundo. Vai ser construída em Taipé e terá 508 metros de altura.
A crise tem destas coisas.
Vem aí a torre mais alta do mundo. Vai ser construída em Taipé e terá 508 metros de altura.
A crise tem destas coisas.
Pollo Campero
Pollo Campero é a mais recente novidade nos EUA em fast food. Veja-se o que nos conta hoje o Washington Post.
Pollo Campero é a mais recente novidade nos EUA em fast food. Veja-se o que nos conta hoje o Washington Post.
Frases felizes - 18
"Este tipo de discussões, que parte da premissa de que existe uma solução única que deve ser imposta centralmente pelo Ministro da Educação, só pode gerar más soluções." (Liberdade de Expressão)
"Este tipo de discussões, que parte da premissa de que existe uma solução única que deve ser imposta centralmente pelo Ministro da Educação, só pode gerar más soluções." (Liberdade de Expressão)
Escrita generosa e desilusões (resposta à Bomba)
A escrita não é um acto de (pura e cândida) generosidade. Longe disso (pelo menos no nosso tempo). A escrita projecta o ego, molda o querer, baptiza o desejo. É, ela mesma, a própria emulsão solitária com que inventamos mundos.
Só existe simulação de dádiva na escrita, na medida em que ela é falada no silêncio dos outros e na medida em que ela é falada através de um malha que subsume quem a enuncia. Ou seja, só poderia existir uma ilusão de generosidade naquele limite em que o texto literário parecesse domar totalmente a própria malha da escrita que lhe fosse dada a tecer. Isso terá acontecido com textos sagrados bem antes da invenção da estética iluminista, quando o que nós hoje codificamos por artístico era visto como um rodopiar da graça divina. Aí não havia tempo para spleen, ou para desilusão pura. Até porque o grande escritor do mundo emprestava a sua própria generosidade à escala do tempo dos mortais (que não era a sua). Desde o alvor da modernidade que o tema da desilusão face ao traço exclusivamente humano (Nietzsche rir-se-ia às gargalhadas da autonomia desse traçado) se tornou normal.
Daí que a desilusão não seja gerada pela (deslocada) generosidade da escrita. Sê-lo-á, sim, pelo nosso apego ou desapego às formas, aos ritmos, aos cortes e à capacidade de lapso que um a obra de arte - tal como ainda a entendemos hoje - nos possa ou não sugerir.
A escrita não é um acto de (pura e cândida) generosidade. Longe disso (pelo menos no nosso tempo). A escrita projecta o ego, molda o querer, baptiza o desejo. É, ela mesma, a própria emulsão solitária com que inventamos mundos.
Só existe simulação de dádiva na escrita, na medida em que ela é falada no silêncio dos outros e na medida em que ela é falada através de um malha que subsume quem a enuncia. Ou seja, só poderia existir uma ilusão de generosidade naquele limite em que o texto literário parecesse domar totalmente a própria malha da escrita que lhe fosse dada a tecer. Isso terá acontecido com textos sagrados bem antes da invenção da estética iluminista, quando o que nós hoje codificamos por artístico era visto como um rodopiar da graça divina. Aí não havia tempo para spleen, ou para desilusão pura. Até porque o grande escritor do mundo emprestava a sua própria generosidade à escala do tempo dos mortais (que não era a sua). Desde o alvor da modernidade que o tema da desilusão face ao traço exclusivamente humano (Nietzsche rir-se-ia às gargalhadas da autonomia desse traçado) se tornou normal.
Daí que a desilusão não seja gerada pela (deslocada) generosidade da escrita. Sê-lo-á, sim, pelo nosso apego ou desapego às formas, aos ritmos, aos cortes e à capacidade de lapso que um a obra de arte - tal como ainda a entendemos hoje - nos possa ou não sugerir.
Fasquias literárias
Leio na Bomba: "a partir de quando pusemos a fasquia tão baixa e começámos a achar que um bom escritor é aquele que não faz erros ortográficos (como se essa também fosse uma condição para a boa escrita)?". Devo dizer que alio a minha capacidade de involuntário lapso ao febrão da escrita da Bomba.
Aliás, já o Pessoa havia aliado, há muito, o febrão à suprema lucidez.
Leio na Bomba: "a partir de quando pusemos a fasquia tão baixa e começámos a achar que um bom escritor é aquele que não faz erros ortográficos (como se essa também fosse uma condição para a boa escrita)?". Devo dizer que alio a minha capacidade de involuntário lapso ao febrão da escrita da Bomba.
Aliás, já o Pessoa havia aliado, há muito, o febrão à suprema lucidez.
Ler em voz alta
Vale a pena ir ao Desejo Casar para ler "António Lobo Antunes on tour".
Execelente crónica do insólito acontecido ao nosso maior, em terras do vetusto poedoiro literário.
Vale a pena ir ao Desejo Casar para ler "António Lobo Antunes on tour".
Execelente crónica do insólito acontecido ao nosso maior, em terras do vetusto poedoiro literário.
Pathos de Outono - 7
Chegou a aura do Outono. A definição e a nitidez das cores, as sombras arrastadas e moles, o céu a recortar o arco quase completo que prefigura a gestação e o halo antigo dos lagares.
Ao fundo do quintal, vejo ainda a begónia a confessar com outra linguagem a mesma aura e o mesmo Outono.
Chegou a aura do Outono. A definição e a nitidez das cores, as sombras arrastadas e moles, o céu a recortar o arco quase completo que prefigura a gestação e o halo antigo dos lagares.
Ao fundo do quintal, vejo ainda a begónia a confessar com outra linguagem a mesma aura e o mesmo Outono.
quinta-feira, 16 de outubro de 2003
A Força de Istambul
O JPP anda fascinado com os ares de Istambul. E toma o Grande Bazar como medida para demolir o peso acaciano e cinzentão dos burocratas habitués das couves de Bruxelas.
Mas eu não vi, em país islâmico, melhor bazar que o de Istambul (bem sei que estive lá vai já para catorze anos).
Na cidade antiga de Jerusalém, por exemplo, onde em 1986 andei à vontade durante dias e dias, o caos é bem maior. Digo: o caos comercial.
Mas nessas terras que irradiam do Médio Oriente não há nada que não se funda com o religioso. E o que um sonhador solidário do ocidente exprime ao escrever a palavra "força" pode bem corresponder a outra coisa.
Abre los ojos.
O JPP anda fascinado com os ares de Istambul. E toma o Grande Bazar como medida para demolir o peso acaciano e cinzentão dos burocratas habitués das couves de Bruxelas.
Mas eu não vi, em país islâmico, melhor bazar que o de Istambul (bem sei que estive lá vai já para catorze anos).
Na cidade antiga de Jerusalém, por exemplo, onde em 1986 andei à vontade durante dias e dias, o caos é bem maior. Digo: o caos comercial.
Mas nessas terras que irradiam do Médio Oriente não há nada que não se funda com o religioso. E o que um sonhador solidário do ocidente exprime ao escrever a palavra "força" pode bem corresponder a outra coisa.
Abre los ojos.
Neura nos blogues
O Terras do Nunca conseguiu diagnosticar a doença seminal e porventura outonal da blogosfera. A dúvida é o nome: neurablogue ou blogoneura ? Eu preferiria atribuir ao dito spleen (na origem desse mal havia errância urbana e agora há incógnita cibernavegação) o dom do prazer diferido. Uma espécie de pasmo orgástico não repartível pelas aldeias e cuja ferida alarga à medida que as folhas caem das árvores e que os besugos ascendem aos céus nórdicos. Depois... é imaginar o vinil a tocar na cave aquecida e o blogue a sorrir pelas escamas suaves do arenque que, sob um mar de nuvens regeladas, têm um sabor a ouro.
Outono nos ares nórdicos é outra coisa. E não há blogue que resista. Prazeres em cascata, por telepatia, quentinhos. Longe daquilo a que chamamos neura, depois de ler os volumes do Damásio.
Não liguem, todo este discorrer é próprio da neura diagnosticada.
O Terras do Nunca conseguiu diagnosticar a doença seminal e porventura outonal da blogosfera. A dúvida é o nome: neurablogue ou blogoneura ? Eu preferiria atribuir ao dito spleen (na origem desse mal havia errância urbana e agora há incógnita cibernavegação) o dom do prazer diferido. Uma espécie de pasmo orgástico não repartível pelas aldeias e cuja ferida alarga à medida que as folhas caem das árvores e que os besugos ascendem aos céus nórdicos. Depois... é imaginar o vinil a tocar na cave aquecida e o blogue a sorrir pelas escamas suaves do arenque que, sob um mar de nuvens regeladas, têm um sabor a ouro.
Outono nos ares nórdicos é outra coisa. E não há blogue que resista. Prazeres em cascata, por telepatia, quentinhos. Longe daquilo a que chamamos neura, depois de ler os volumes do Damásio.
Não liguem, todo este discorrer é próprio da neura diagnosticada.
Percursos
Os Percursos, um festival com a chancela CCB, têm pulverizado a cidade de Évora nos últimos dias. Mais de sessenta espectáculos até ao próximo fim-de-semana. Vale a pena. Aqui conta-se a história toda.
Os Percursos, um festival com a chancela CCB, têm pulverizado a cidade de Évora nos últimos dias. Mais de sessenta espectáculos até ao próximo fim-de-semana. Vale a pena. Aqui conta-se a história toda.
Frases felizes - 17
"E para quem, como eu, defende a coexistência entre os dois estados, o terrorismo palestinano terá que ser rejeitado e combatido, porque é parte de todo um conjunto de forças que não aceita essa solução, pretendendo destruir Israel."
(Desesperada Esperança)
"E para quem, como eu, defende a coexistência entre os dois estados, o terrorismo palestinano terá que ser rejeitado e combatido, porque é parte de todo um conjunto de forças que não aceita essa solução, pretendendo destruir Israel."
(Desesperada Esperança)
Agendas, média e blogues
Os meus blogues preferidos são aqueles que conseguem escapar ao fluxo noticioso criado diariamente pela voragem estandardizada dos média. Até porque uma larga maioria dos blogues funciona como se o desenterrar da realidade desenvolvido pelos média tivesse que corresponder com o recorte obrigatório de matérias sobre as quais haveria que tomar posição.
Pelo meu lado, aprecio sobretudo os blogues que criam a sua própria agenda.
O que não quer dizer que toda a ensimesmada agenda mediática seja para relegar ou para ignorar.
Os meus blogues preferidos são aqueles que conseguem escapar ao fluxo noticioso criado diariamente pela voragem estandardizada dos média. Até porque uma larga maioria dos blogues funciona como se o desenterrar da realidade desenvolvido pelos média tivesse que corresponder com o recorte obrigatório de matérias sobre as quais haveria que tomar posição.
Pelo meu lado, aprecio sobretudo os blogues que criam a sua própria agenda.
O que não quer dizer que toda a ensimesmada agenda mediática seja para relegar ou para ignorar.
quarta-feira, 15 de outubro de 2003
Felizmente há luar
Felizmente, existe uma certa intemporalidade que resiste ao pasmo em que caiu a vida política portuguesa há cerca de uma semana.
Demasiadas euforias, demasiado folclore, inusitadas causas, inusitados manifestos.
Há imagens e músicas lunares que nos olham de cima e que aconselham o silêncio como um via por vezes a seguir.
Na falta de melhor, há momentos na vida em que o silêncio deveria ser uma causa.
Faria bem a todos.
Felizmente, existe uma certa intemporalidade que resiste ao pasmo em que caiu a vida política portuguesa há cerca de uma semana.
Demasiadas euforias, demasiado folclore, inusitadas causas, inusitados manifestos.
Há imagens e músicas lunares que nos olham de cima e que aconselham o silêncio como um via por vezes a seguir.
Na falta de melhor, há momentos na vida em que o silêncio deveria ser uma causa.
Faria bem a todos.
Escritas
Acabei de corrigir o livro sobre semiótica que escrevi para os meus alunos. Vai sair na Europa-América dentro de duas semanas. Passo agora para as correcções e alegações finais do meu romance para o qual já tenho um belo nome. Este último - vai ser o meu nono - sairá só lá para a Primavera do ano do Euro.
Conclusão: na minha frente passam letras e mais letras a convidarem ao lapso e à sobrecarga de imagens. Um pouco como a reminiscência da cor do asfalto, após horas e horas e horas nas longas boleias da adolescência Europa acima e Europa abaixo. Hoje ficam as letras, ontem ficava a delonga poética do asfalto.
Entre as duas acelarações de imagens, não sei qual gosto mais.
São escritas diferentes, ambas a exigirem algum descanso.
Acabei de corrigir o livro sobre semiótica que escrevi para os meus alunos. Vai sair na Europa-América dentro de duas semanas. Passo agora para as correcções e alegações finais do meu romance para o qual já tenho um belo nome. Este último - vai ser o meu nono - sairá só lá para a Primavera do ano do Euro.
Conclusão: na minha frente passam letras e mais letras a convidarem ao lapso e à sobrecarga de imagens. Um pouco como a reminiscência da cor do asfalto, após horas e horas e horas nas longas boleias da adolescência Europa acima e Europa abaixo. Hoje ficam as letras, ontem ficava a delonga poética do asfalto.
Entre as duas acelarações de imagens, não sei qual gosto mais.
São escritas diferentes, ambas a exigirem algum descanso.
Aulas
Começam as aulas e o blogue ressente-se. Dei as minhas apresentações em várias cadeiras e tive na minha frente novos rostos e sorrisos. Esta espécie de dramatização inicial aparece-me, todos os anos, como um desígnio ou como um apelo de registo, pois é no primeiro face a face que algum do tempo a ser vivido nos próximos meses se prefigura. E assim voltou a suceder. Com agrado.
Águas paradas
Já não sei quem o escreveu, creio que foi no último JL - esse jorna pimpão e escolástico -, mas a verdade é que passou algures, na frente dos meus olhos, essa lenda que opõe os blogues necessariamente abertos (os de cariz jornalista) contra os blogues alegadamente fechados (porque confessionais e opinativos). Para além deste fantasmático binarismo próprio dos pobres de espírito que têm lugar cativo no céu, o que me impresisona mais neste tipo de teia mental é a total incompreensão de que vivemos em rede e que, por isso mesmo, qualquer natureza do dito, do enformado, do afirmado aparecerá sempre como um manancial de abertura e de concatenação com o OUTRO.
Por que esperarão ainda alguns que a específica e reduzida dimensão da comunicação veiculada e trabalhada pelos média se possa substituir aos universos comunicacionais que todos nós respiramos no quotidiano ?
Por que quererão confundir os fluxos e as meta-ocorrências com a vida ?
Deixem-nos respirar !
Começam as aulas e o blogue ressente-se. Dei as minhas apresentações em várias cadeiras e tive na minha frente novos rostos e sorrisos. Esta espécie de dramatização inicial aparece-me, todos os anos, como um desígnio ou como um apelo de registo, pois é no primeiro face a face que algum do tempo a ser vivido nos próximos meses se prefigura. E assim voltou a suceder. Com agrado.
Águas paradas
Já não sei quem o escreveu, creio que foi no último JL - esse jorna pimpão e escolástico -, mas a verdade é que passou algures, na frente dos meus olhos, essa lenda que opõe os blogues necessariamente abertos (os de cariz jornalista) contra os blogues alegadamente fechados (porque confessionais e opinativos). Para além deste fantasmático binarismo próprio dos pobres de espírito que têm lugar cativo no céu, o que me impresisona mais neste tipo de teia mental é a total incompreensão de que vivemos em rede e que, por isso mesmo, qualquer natureza do dito, do enformado, do afirmado aparecerá sempre como um manancial de abertura e de concatenação com o OUTRO.
Por que esperarão ainda alguns que a específica e reduzida dimensão da comunicação veiculada e trabalhada pelos média se possa substituir aos universos comunicacionais que todos nós respiramos no quotidiano ?
Por que quererão confundir os fluxos e as meta-ocorrências com a vida ?
Deixem-nos respirar !
domingo, 12 de outubro de 2003
Pub e memória apagadinha
O anúncio mostra o pai já atrasado a mandar sair de casa os sete ou oito filhotes. Tem a barba por fazer e ostenta um ar contidamente malandro. Depois, já os filhotes entraram na Sharan, lá sai de casa finalmente a despenteada da mulher com um sorriso adulador e doce. Moral da história, segundo a discreta narração do anúncio: - Coma as salsichas XXX, as únicas que se põem de pé e que são hirtinhas a valer.
Pergunto eu: - A que salsichas se dedica a injunção de tão inteligente publicidade ?
(Ainda dizem que a memória é curta !)
O anúncio mostra o pai já atrasado a mandar sair de casa os sete ou oito filhotes. Tem a barba por fazer e ostenta um ar contidamente malandro. Depois, já os filhotes entraram na Sharan, lá sai de casa finalmente a despenteada da mulher com um sorriso adulador e doce. Moral da história, segundo a discreta narração do anúncio: - Coma as salsichas XXX, as únicas que se põem de pé e que são hirtinhas a valer.
Pergunto eu: - A que salsichas se dedica a injunção de tão inteligente publicidade ?
(Ainda dizem que a memória é curta !)
Cibercéu e o interface blogger
O novo RAE decidiu-se por uma via mais calma para chegar ao céu: o FTP. Já o usei, quando tentei fixar um sítio meu ao limbo das cibergaláxias. Lá voltarei um dia, não sei agora quando. Seja como for, o que acho mais premente e tentador no artifício imediatista do blogger é esta possibilidade de conviver com o erro, com o lapso, com o mal, com o desafio sem nexo, com a gralha, com o irremediável, com o ornato tosco e súbito que advém da curva do tempo em que não há gesto e já há escorço de palavra.
Um ramo ao vento, talvez.
O novo RAE decidiu-se por uma via mais calma para chegar ao céu: o FTP. Já o usei, quando tentei fixar um sítio meu ao limbo das cibergaláxias. Lá voltarei um dia, não sei agora quando. Seja como for, o que acho mais premente e tentador no artifício imediatista do blogger é esta possibilidade de conviver com o erro, com o lapso, com o mal, com o desafio sem nexo, com a gralha, com o irremediável, com o ornato tosco e súbito que advém da curva do tempo em que não há gesto e já há escorço de palavra.
Um ramo ao vento, talvez.
sábado, 11 de outubro de 2003
Frases felizes - 16
"Eu direi sempre o que me apetece. E, tal como toda a gente, só não criticarei publicamente quem me paga."
(Flor de Obsessão)
"Eu direi sempre o que me apetece. E, tal como toda a gente, só não criticarei publicamente quem me paga."
(Flor de Obsessão)
Os perímetros dos média e da política
Acho uma piada ao corporativismo jornalista... de dentes abertos com a escrita de JPP !
Há malta que, de facto, tem dificuldade em distanciar-se dos labirintos em que vive e das linguagens em que nada e habita. Bastava ter visto ontem o Expresso da Meia Noite para sentir aquelas cumplicidades demonstrativas e pessoais que unem os jornalistas: "Todos conhecemos o acórdão", "Todos tivémos acesso a...", "Não há lista que não tenha já passado pelos olhos de todos nós", etc.
É ver a malta dos média a falar (com aquele espírito de grupo fechado que é amiúde e tristemente próprio da horda política - ver post mais abaixo) e a traçar com toda a naturalidade o perímetro que separa os fenómenos deles dos fenómenos do mundo dos outros. Muitos desses perímetros atravessam a terra de ninguém, mas também os pontos quentes da matéria política e de todas as suas inimagináveis margens de influência. É nesse entreposto que se joga o essencial da paroquialidade portuguesa, nessa corda bamba de que é cúmplice o mito da objectividade que é próprio do ofício dos média.
Bem se pode falar da política não judicializada e da justiça não politizada, já que é, justamente, nas mil e umas linhas (de fuga) que atravessam esses campos contíguos e aparentemente autónomos que os média surgem a desempenhar o seu papel mais corrosivo de delator ficcional.
Faça-se justiça para aquelas excepções em que os média desenterram da realidade o que a iniciativa civil, em democracia, jamais conseguiria.
Nada melhor do que tentar entender estas coisas com uma mínima e adequada proporção.
Acho uma piada ao corporativismo jornalista... de dentes abertos com a escrita de JPP !
Há malta que, de facto, tem dificuldade em distanciar-se dos labirintos em que vive e das linguagens em que nada e habita. Bastava ter visto ontem o Expresso da Meia Noite para sentir aquelas cumplicidades demonstrativas e pessoais que unem os jornalistas: "Todos conhecemos o acórdão", "Todos tivémos acesso a...", "Não há lista que não tenha já passado pelos olhos de todos nós", etc.
É ver a malta dos média a falar (com aquele espírito de grupo fechado que é amiúde e tristemente próprio da horda política - ver post mais abaixo) e a traçar com toda a naturalidade o perímetro que separa os fenómenos deles dos fenómenos do mundo dos outros. Muitos desses perímetros atravessam a terra de ninguém, mas também os pontos quentes da matéria política e de todas as suas inimagináveis margens de influência. É nesse entreposto que se joga o essencial da paroquialidade portuguesa, nessa corda bamba de que é cúmplice o mito da objectividade que é próprio do ofício dos média.
Bem se pode falar da política não judicializada e da justiça não politizada, já que é, justamente, nas mil e umas linhas (de fuga) que atravessam esses campos contíguos e aparentemente autónomos que os média surgem a desempenhar o seu papel mais corrosivo de delator ficcional.
Faça-se justiça para aquelas excepções em que os média desenterram da realidade o que a iniciativa civil, em democracia, jamais conseguiria.
Nada melhor do que tentar entender estas coisas com uma mínima e adequada proporção.
Portugal a tremer
Um grupo fechado é um grupo de pessoas que nutre, de forma reiterada, um mesmo círculo de rituais e afectos, assim como um idêntico ou parecido codificar das coisas e factos, sem que as relações com outros sugiram qualquer tipo de estímulo ou mais-valia de desempenho.
Apesar de compreender o campo de afectos e a expectativa híbrida e perversa onde o político e o judicial se fundiram, na passada Quarta-feira, foi e continua a ser triste ver toda uma bancada parlamentar a funcionar apenas como um grupo de amigos. Independentemente da conjuntura e da avalanche emocional, um grupo parlamentar não pode comparar-se a um grupo de amigos que, em 2003, decidiu receber vitoriosamente na Assembleia da República alguém - todos conhecem o caso - que parecia saído das mãos da polícia política de uma ditadura.
É isso que um qualquer democrata - que não conhecesse Portugal e os seus factos recentes - decerto imaginaria. Não haja dúvidas, que seria essa a dedução mais normal.
Um grupo fechado é um grupo de pessoas que nutre, de forma reiterada, um mesmo círculo de rituais e afectos, assim como um idêntico ou parecido codificar das coisas e factos, sem que as relações com outros sugiram qualquer tipo de estímulo ou mais-valia de desempenho.
Apesar de compreender o campo de afectos e a expectativa híbrida e perversa onde o político e o judicial se fundiram, na passada Quarta-feira, foi e continua a ser triste ver toda uma bancada parlamentar a funcionar apenas como um grupo de amigos. Independentemente da conjuntura e da avalanche emocional, um grupo parlamentar não pode comparar-se a um grupo de amigos que, em 2003, decidiu receber vitoriosamente na Assembleia da República alguém - todos conhecem o caso - que parecia saído das mãos da polícia política de uma ditadura.
É isso que um qualquer democrata - que não conhecesse Portugal e os seus factos recentes - decerto imaginaria. Não haja dúvidas, que seria essa a dedução mais normal.
A voz do reconhecimento
Ao consultar outros blogues, verifico que há vozes de intimidade que neles se vão revelando. Creio mesmo que o fenómeno religioso terá advindo, porventura, do facto de imaginarmos diversas vozes e enunciações que se relatam, por si próprias, em cascata e sem fim em vista. Pois, exemplo à parte, é justamente o que me acontece na leitura repetida de alguns blogues que são meus favoritos. A maior parte deles são da autoria de pessoas que não conheço pessoalmente. Mas isso não impede que desenvolva com eles - com os blogues e sobretudo com a linguagem em que vagueiam e respiram - uma relação profunda, quase íntima, previsível e reconhecível. Não referirei agora nomes de blogues, mas a experiência da sua leitura é particularmente interessante. O fenómeno nada tem a ver com gosto, com empatia com este ou aquele blogue, com concordância, ou com apego estético, político ou outro. Tem antes a ver com o aprofundar de personagens que se movem e discorrem na linguagem e no espaço postos em cena nos ditos blogues.
Sorrir após ler e verificar que não podia senão ser assim. Ou seja, trata-se, no fundo, de um reconhecer breve e solitário.
Ao consultar outros blogues, verifico que há vozes de intimidade que neles se vão revelando. Creio mesmo que o fenómeno religioso terá advindo, porventura, do facto de imaginarmos diversas vozes e enunciações que se relatam, por si próprias, em cascata e sem fim em vista. Pois, exemplo à parte, é justamente o que me acontece na leitura repetida de alguns blogues que são meus favoritos. A maior parte deles são da autoria de pessoas que não conheço pessoalmente. Mas isso não impede que desenvolva com eles - com os blogues e sobretudo com a linguagem em que vagueiam e respiram - uma relação profunda, quase íntima, previsível e reconhecível. Não referirei agora nomes de blogues, mas a experiência da sua leitura é particularmente interessante. O fenómeno nada tem a ver com gosto, com empatia com este ou aquele blogue, com concordância, ou com apego estético, político ou outro. Tem antes a ver com o aprofundar de personagens que se movem e discorrem na linguagem e no espaço postos em cena nos ditos blogues.
Sorrir após ler e verificar que não podia senão ser assim. Ou seja, trata-se, no fundo, de um reconhecer breve e solitário.
sexta-feira, 10 de outubro de 2003
Kennedy
Revejo em puro flash televisivo, enquanto atravesso a sala ao sair da cozinha, o rosto de John Kennedy. Impassível, quase invisível, espelhando uma imensa noite de insónia durante a crise dos mísseis de Cuba. Um rosto desvivido e já a sangrar do mito que ainda não acolhe, mas que já não deixa de povoar cada nódulo mais ínfimo da imagem.
Revejo em puro flash televisivo, enquanto atravesso a sala ao sair da cozinha, o rosto de John Kennedy. Impassível, quase invisível, espelhando uma imensa noite de insónia durante a crise dos mísseis de Cuba. Um rosto desvivido e já a sangrar do mito que ainda não acolhe, mas que já não deixa de povoar cada nódulo mais ínfimo da imagem.
Abre los ojos
Do outro lado da mata, um candeeiro perdido na escuridão. Espécie de aceno, de apelo ou de pergunta.
Escolho a pergunta. Aquela que não consigo sequer imaginar.
Das respostas que para essa pergunta se tentassem encontrar, ao longo de anos, dependeriam mundos. Mas nada disso irá acontecer. Puro vaticínio. Puro jogo noctívago.
Deixemo-nos, pois, a sós com a luz do candeeiro. Apenas com ela, do outro lado do olhar. Do outro lado da mata onde a escuridão abriu a sombra que agora se prolonga na noite.
Do outro lado da mata, um candeeiro perdido na escuridão. Espécie de aceno, de apelo ou de pergunta.
Escolho a pergunta. Aquela que não consigo sequer imaginar.
Das respostas que para essa pergunta se tentassem encontrar, ao longo de anos, dependeriam mundos. Mas nada disso irá acontecer. Puro vaticínio. Puro jogo noctívago.
Deixemo-nos, pois, a sós com a luz do candeeiro. Apenas com ela, do outro lado do olhar. Do outro lado da mata onde a escuridão abriu a sombra que agora se prolonga na noite.
Da literatura à literatura
A era da reprodutibilidade que Benjamin evocou e caracterizou há muito que deixou de encontrar na realidade uma ancoragem sólida. Hoje em dia, a experiência do sujeito face ao mundo já não depende apenas da reprodutibilidade versus perda de autenticidade. Em vez de autenticidade, o mundo está celeremente a desdobrar-se em “hiper-realidade” (Baudrillard), ou em “hiperespaço” (Jameson), o que quer dizer que a figura da reprodução se está a transformar sobretudo numa experiência radical de um novo tipo de sujeito que se globalizou e que se está a virtualizar. Esta mudança dramática a que tranquilamente assistimos na contemporaneidade está a pôr em causa os fundamentos do próprio sistema de pensamento que instituiu o “intertexto”, o “dialogismo” ou a “paródia”. Por outro lado, a literatura que se criou, refinou e desenvolveu em concomitância com a crítica dialógica do séc. XX já não encontra, hoje em dia, o terreno hermenêutico e a fertilidade criativa do período que a viu crescer e amadurecer. O sujeito que intervinha nessa literatura, mesmo no seu rasgo anti-heróico mais radical, desconstrutor e fragmentário, já em nada se parece com esse espectro que se avizinha e que se vai incorporando cada vez mais no nosso imaginário colectivo, isto é, o sujeito global e potencialmente virtual.
Abre los ojos.
A era da reprodutibilidade que Benjamin evocou e caracterizou há muito que deixou de encontrar na realidade uma ancoragem sólida. Hoje em dia, a experiência do sujeito face ao mundo já não depende apenas da reprodutibilidade versus perda de autenticidade. Em vez de autenticidade, o mundo está celeremente a desdobrar-se em “hiper-realidade” (Baudrillard), ou em “hiperespaço” (Jameson), o que quer dizer que a figura da reprodução se está a transformar sobretudo numa experiência radical de um novo tipo de sujeito que se globalizou e que se está a virtualizar. Esta mudança dramática a que tranquilamente assistimos na contemporaneidade está a pôr em causa os fundamentos do próprio sistema de pensamento que instituiu o “intertexto”, o “dialogismo” ou a “paródia”. Por outro lado, a literatura que se criou, refinou e desenvolveu em concomitância com a crítica dialógica do séc. XX já não encontra, hoje em dia, o terreno hermenêutico e a fertilidade criativa do período que a viu crescer e amadurecer. O sujeito que intervinha nessa literatura, mesmo no seu rasgo anti-heróico mais radical, desconstrutor e fragmentário, já em nada se parece com esse espectro que se avizinha e que se vai incorporando cada vez mais no nosso imaginário colectivo, isto é, o sujeito global e potencialmente virtual.
Abre los ojos.
Homenagem a uma insónia
Ver o sol nascer devagar, eis o único sortilégio da insónia. A noite a desaparecer para Oeste e, do lado de Espanha, a mancha prateada a esvaecer o azul denso e misterioso. Depois, houve ainda tempo para os relógios pontuarem lá muito ao longe. Até que uma luz solitária se abriu em frente, do outro lado da estrada, num terceiro andar do hotel. Passavam entretanto TIRs e mais TIRs a repisarem a água que se escapava, desapercebida, do gota a gota do relvado. Mais uma manhã pródiga de Outubro. Depois. lembro-me que voltei a dormir e, mais tarde, o resto do dia foi de reminiscências estranhas. Uma verdadeira retorta de miniscências.
Ver o sol nascer devagar, eis o único sortilégio da insónia. A noite a desaparecer para Oeste e, do lado de Espanha, a mancha prateada a esvaecer o azul denso e misterioso. Depois, houve ainda tempo para os relógios pontuarem lá muito ao longe. Até que uma luz solitária se abriu em frente, do outro lado da estrada, num terceiro andar do hotel. Passavam entretanto TIRs e mais TIRs a repisarem a água que se escapava, desapercebida, do gota a gota do relvado. Mais uma manhã pródiga de Outubro. Depois. lembro-me que voltei a dormir e, mais tarde, o resto do dia foi de reminiscências estranhas. Uma verdadeira retorta de miniscências.
quinta-feira, 9 de outubro de 2003
TSF e o pathos outonal
Pelo facto de trabalhar em Lisboa e viver a cento e poucos quilómetros da capital, tornei-me há muito num habitué da TSF em duas a três noites por semana. Bela acompanhante das noites informativas que, agora, de repente, com a nova grelha, se tornou numa melosa e gelatinosa concorrente da RFM e do RCP. Não quer dizer que eu não tenha dias (e horas) em que uma melopeia mais açurada não me saiba bem, como a qualquer comum dos mortais. Mas passar a ter a noctívaga TSF, para sempre, apenas a navegar naqueles tons de kitsch nostálgico a saber a seda acrílica... isso já é de lamentar.
Enfim, é mais um pathos deste Outono.
Pelo facto de trabalhar em Lisboa e viver a cento e poucos quilómetros da capital, tornei-me há muito num habitué da TSF em duas a três noites por semana. Bela acompanhante das noites informativas que, agora, de repente, com a nova grelha, se tornou numa melosa e gelatinosa concorrente da RFM e do RCP. Não quer dizer que eu não tenha dias (e horas) em que uma melopeia mais açurada não me saiba bem, como a qualquer comum dos mortais. Mas passar a ter a noctívaga TSF, para sempre, apenas a navegar naqueles tons de kitsch nostálgico a saber a seda acrílica... isso já é de lamentar.
Enfim, é mais um pathos deste Outono.
Acórdão
Face ao que se passou ontem, o leigo no esoterismo justicialista terá ficado, no mínimo, de boca aberta. Que importa ? A serenidade simpática de Teresa Gouveia aprestou-se a desfazer as ansiedades e todas as turras passaram para o covil labiríntico da Comissão de Ética parlamentar. É tanta a confusão e é tanta a sucessiva anulação de factos que a coisa quase faz lembrar o Livro Aberto de ontem que relegou a excelência do tema à categoria de dança do vira. Ficámo-nos pela natureza dos "Canons", pelas evocações a Régio e pela repetida constatação de ausência de programa manifestatário. E da poesia, de que se falou afinal ?
Para a próxima o Francisco José Viegas devia convidar menos (em quantidade) e sem ter em conta qualquer acórdão.
Face ao que se passou ontem, o leigo no esoterismo justicialista terá ficado, no mínimo, de boca aberta. Que importa ? A serenidade simpática de Teresa Gouveia aprestou-se a desfazer as ansiedades e todas as turras passaram para o covil labiríntico da Comissão de Ética parlamentar. É tanta a confusão e é tanta a sucessiva anulação de factos que a coisa quase faz lembrar o Livro Aberto de ontem que relegou a excelência do tema à categoria de dança do vira. Ficámo-nos pela natureza dos "Canons", pelas evocações a Régio e pela repetida constatação de ausência de programa manifestatário. E da poesia, de que se falou afinal ?
Para a próxima o Francisco José Viegas devia convidar menos (em quantidade) e sem ter em conta qualquer acórdão.
Cyborg
Volto a escrever no meu PC principal que há uma semana tinha ido a banhos para reconfiguração total. Um dia, a breve trecho, a medicina que já vai sendo uma engenharia imagialógica (o recente nóbel confirma-o) irá decerto abandonar a prática dos diagnósticos particulares para passar a reconfigurar todo o software do corpo em caso de doença. Não é difícil, basta que nos candidatemos à mais desejada hibridez do ser humano: o cyborg.
Volto a escrever no meu PC principal que há uma semana tinha ido a banhos para reconfiguração total. Um dia, a breve trecho, a medicina que já vai sendo uma engenharia imagialógica (o recente nóbel confirma-o) irá decerto abandonar a prática dos diagnósticos particulares para passar a reconfigurar todo o software do corpo em caso de doença. Não é difícil, basta que nos candidatemos à mais desejada hibridez do ser humano: o cyborg.
quarta-feira, 8 de outubro de 2003
Pipi
Acabo de folhear rapidamente o livro do Meu Pipi e apreciei o delongado elogio ao Machado Vaz.
Quanto ao resto, desde os meus sete aninhos que ouço repetidamente dizer: Muita Garganta, Pouco Cometa (trata-se de um ditado eslovaco medieval).
Acabo de folhear rapidamente o livro do Meu Pipi e apreciei o delongado elogio ao Machado Vaz.
Quanto ao resto, desde os meus sete aninhos que ouço repetidamente dizer: Muita Garganta, Pouco Cometa (trata-se de um ditado eslovaco medieval).
Arnold
Quer no taxi, quer na livraria do Saldanha, a mesma nova aparecia comentada: O Arnold ganhou. O Arnold ganhou. O Arnold ganhou. A esta hora deve saber-se, mas, independentemente disso, prefiro continuar a crer que os carnavais da democracia sao infinitamente pequenos se comparados com as suas virtualidades.
Quer no taxi, quer na livraria do Saldanha, a mesma nova aparecia comentada: O Arnold ganhou. O Arnold ganhou. O Arnold ganhou. A esta hora deve saber-se, mas, independentemente disso, prefiro continuar a crer que os carnavais da democracia sao infinitamente pequenos se comparados com as suas virtualidades.
Hilariantes: PT e MNE
Ontem, os debates televisivos foram hilariantes (ESTOU NUMA LOJA DA PT ONDE ACABAM DE ME AVISAR QUE OS COMPUTADORES NAO TEM ACENTOS DE NENHUM TIPO. VOU TENTAR CONTINUAR EVITANDO TODOS OS USOS POSSIVEIS).
Sim, sim, sim: ontem, ouve quem dissesse que o governo saiu reforçado e que o MNE ia para casa just because of familiar reasons.
Ontem, os debates televisivos foram hilariantes (ESTOU NUMA LOJA DA PT ONDE ACABAM DE ME AVISAR QUE OS COMPUTADORES NAO TEM ACENTOS DE NENHUM TIPO. VOU TENTAR CONTINUAR EVITANDO TODOS OS USOS POSSIVEIS).
Sim, sim, sim: ontem, ouve quem dissesse que o governo saiu reforçado e que o MNE ia para casa just because of familiar reasons.
terça-feira, 7 de outubro de 2003
Luzboa
Chegou-me agora o material que anuncia a Luzboa com o óptimo design do Mário Caeiro, esse feérico organizador da Lisboa Capital do Nada e agora deste festival que irá debater a arte da luz em Lisboa em diversos painéis (imagem urbana, identidade e valor e território). Uma iniciativa decerto original e estimulante. Para saber mais, é só clicar aqui.
Chegou-me agora o material que anuncia a Luzboa com o óptimo design do Mário Caeiro, esse feérico organizador da Lisboa Capital do Nada e agora deste festival que irá debater a arte da luz em Lisboa em diversos painéis (imagem urbana, identidade e valor e território). Uma iniciativa decerto original e estimulante. Para saber mais, é só clicar aqui.
Pathos de Outono - 6
O céu abriu e fez-se azul. Quase a prenunciar um São Martinho ainda distante. A terra a rejuvenescer, a semente a entretecer lendas que já poucos ouvem e, ao longe, os cães a ladrar. Ecos de um tempo imemorial que aqui em casa se cruzam com os vincos, os fluxos e as irradiações da rede. O António Variações dizia: entre Braga e Nova Iorque ! E eu digo: entre o limoeiro do quintal e o halo já seco dos fenos e a imensa hiper-realidade !
Sabe bem viver entre o Alentejo e Lisboa, neste eixo íntimo e paroquial, mas, ao mesmo tempo, com a mão nos novos céus globais. A vida em órbita.
O céu abriu e fez-se azul. Quase a prenunciar um São Martinho ainda distante. A terra a rejuvenescer, a semente a entretecer lendas que já poucos ouvem e, ao longe, os cães a ladrar. Ecos de um tempo imemorial que aqui em casa se cruzam com os vincos, os fluxos e as irradiações da rede. O António Variações dizia: entre Braga e Nova Iorque ! E eu digo: entre o limoeiro do quintal e o halo já seco dos fenos e a imensa hiper-realidade !
Sabe bem viver entre o Alentejo e Lisboa, neste eixo íntimo e paroquial, mas, ao mesmo tempo, com a mão nos novos céus globais. A vida em órbita.
segunda-feira, 6 de outubro de 2003
Frases felizes - 15
"Todos temos direito à nossa opinião, suponho. Mas a opinião não aparece suspensa no ar, sem fios. Isto para dizer que há poucas opiniões que respeito."
(Bomba Inteligente)
"Todos temos direito à nossa opinião, suponho. Mas a opinião não aparece suspensa no ar, sem fios. Isto para dizer que há poucas opiniões que respeito."
(Bomba Inteligente)
50 poemas para a blogosfera
Chama-se assim o meu último livro - deve ir para as livrarias dentro de dias - e é de poesia, o que não acontecia já há vinte e um anos (de lá para cá foi sempre romance, ensaio e, às vezes, outras brincadeiras).
Mas... assim que abro o livro, na editora, trás... lá dou com uma gralha.
Azar, o meu ! Mas espero que o melhor esteja sempre e ainda por vir (relembro o belo título e o grande livro que é La femme à venir de Christian Bobin)
Pavilhão de Portugal
Falámos outro dia aqui do dia dos animais e de todos os outros dias que são dia de alguma coisa. Hoje é dia da arquitectura e por via do ritual fiquei a saber que o Pavilhão de Portugal da Expo - o da pala, lembram-se ? - estava literalmente vazio e sem uso (aliás, na passada Sexta, ouvi, numa sessão pública, a Secretária de Estado da Habitação dizer que havia em Portugal meio milhão de casas vazias, por habitar !).
Foi Helena Roseta que disse à TSF que o Pavilhão da pala estava vazio. E eu pergunto: como é possível ?
Chama-se assim o meu último livro - deve ir para as livrarias dentro de dias - e é de poesia, o que não acontecia já há vinte e um anos (de lá para cá foi sempre romance, ensaio e, às vezes, outras brincadeiras).
Mas... assim que abro o livro, na editora, trás... lá dou com uma gralha.
Azar, o meu ! Mas espero que o melhor esteja sempre e ainda por vir (relembro o belo título e o grande livro que é La femme à venir de Christian Bobin)
Pavilhão de Portugal
Falámos outro dia aqui do dia dos animais e de todos os outros dias que são dia de alguma coisa. Hoje é dia da arquitectura e por via do ritual fiquei a saber que o Pavilhão de Portugal da Expo - o da pala, lembram-se ? - estava literalmente vazio e sem uso (aliás, na passada Sexta, ouvi, numa sessão pública, a Secretária de Estado da Habitação dizer que havia em Portugal meio milhão de casas vazias, por habitar !).
Foi Helena Roseta que disse à TSF que o Pavilhão da pala estava vazio. E eu pergunto: como é possível ?
domingo, 5 de outubro de 2003
Barbárie não
Já não há paciência para os ataques suicidas. Aquela encenação de uma advogada palestiniana a prometer vingança e a executá-la matando dezenas de pessoas inocentes em Haifa é digna da mais rasteira barbárie. O Médio Oriente é um labirinto complexo, mas quanto mais distantes da democracia forem os actos nele praticados, mais o Ocidente deveria com coragem tomar posição. Mas sempre que os ataques se dirigem a Israel ninguém protesta: eis o destino hipócrita e autofágico que cruza, pelo menos, grande parte da progressiva Europa.
Já não há paciência para os ataques suicidas. Aquela encenação de uma advogada palestiniana a prometer vingança e a executá-la matando dezenas de pessoas inocentes em Haifa é digna da mais rasteira barbárie. O Médio Oriente é um labirinto complexo, mas quanto mais distantes da democracia forem os actos nele praticados, mais o Ocidente deveria com coragem tomar posição. Mas sempre que os ataques se dirigem a Israel ninguém protesta: eis o destino hipócrita e autofágico que cruza, pelo menos, grande parte da progressiva Europa.
Sobre a palavra de honra
A palavra de honra é o alicerce da gentlemenship moderna (o Abrupto di-lo de forma parecida). O problema é justamente reconhecer que o alicerce pode flutuar para fora do seu sítio. Não há edifício que resista a um pequeno terramoto, mesmo se invisível, mesmo se quase invisível. A tentação do poder e um pequeno terramoto na honra andam muitas vezes de mãos dadas. Sou francamente céptico face à iniludível e absoluta crença na gentlemenship moderna, sobretudo quando os sinais (óbvios) resistem ao diagnóstico (Hipócrates sabia o que dizia).
A palavra de honra é o alicerce da gentlemenship moderna (o Abrupto di-lo de forma parecida). O problema é justamente reconhecer que o alicerce pode flutuar para fora do seu sítio. Não há edifício que resista a um pequeno terramoto, mesmo se invisível, mesmo se quase invisível. A tentação do poder e um pequeno terramoto na honra andam muitas vezes de mãos dadas. Sou francamente céptico face à iniludível e absoluta crença na gentlemenship moderna, sobretudo quando os sinais (óbvios) resistem ao diagnóstico (Hipócrates sabia o que dizia).
sábado, 4 de outubro de 2003
Cidadania electrónica
Ao comentário - com que concordo - do Crónica do deserto faço o seguinte desafio: Já se imaginou o que seria, numa pequena terra, uma discussão pública entre blogues anónimos, cujos correspondentes, na sua maioria, também recorrem ao anonimato e que, ainda por cima, traduzem a sua fúria crítica através de uma fulanização ofensiva e sem freio ? Esse cenário, de que há experiências no país, está nos antípodas da cidadania electrónica (tal como foi discutida em Braga) e tem como subtexto a tradição da denúncia inquisitorial e a intriga à medida do perverso e ido Muito Mentiroso. Seja como for - e é isso que me deixa tranquilo - a larga maior parte da blogosfera funciona para e num quadro de democracia aberta e devida e dialogicamente sinalizada.
Ao comentário - com que concordo - do Crónica do deserto faço o seguinte desafio: Já se imaginou o que seria, numa pequena terra, uma discussão pública entre blogues anónimos, cujos correspondentes, na sua maioria, também recorrem ao anonimato e que, ainda por cima, traduzem a sua fúria crítica através de uma fulanização ofensiva e sem freio ? Esse cenário, de que há experiências no país, está nos antípodas da cidadania electrónica (tal como foi discutida em Braga) e tem como subtexto a tradição da denúncia inquisitorial e a intriga à medida do perverso e ido Muito Mentiroso. Seja como for - e é isso que me deixa tranquilo - a larga maior parte da blogosfera funciona para e num quadro de democracia aberta e devida e dialogicamente sinalizada.
Silêncio imaterial
Tenho pena que o Amostra de arquitectura acabe. Receio e pressinto que a solidão de tipo imaterial que é própria dos personagens em rede possa contribuir para mais decisões como a que agora foi tomada por Ana Amaral. Um abraço para ela.
Tenho pena que o Amostra de arquitectura acabe. Receio e pressinto que a solidão de tipo imaterial que é própria dos personagens em rede possa contribuir para mais decisões como a que agora foi tomada por Ana Amaral. Um abraço para ela.
Pequenos truques
Disse Anacoreta Correia no Expresso da meia noite: "Os portugueses são um povo igualitário e é por isso que este caso aconteceu (o caso é o da filha de Martins Cruz)". Dr. Anacoreta: Já viu que mora num país em que as pessoas são tão limpinhas em casa e tão desmaseladas na rua ? Já viu que mora num país em que se atira lixo para a rua a ver se ninguém vê ? Já viu que mora num país em que a malta se entretém a fazer habilidades às escondidas a ver se dá e sem os outos darem por isso ?
Enfim, há, de facto, à nossa volta, entre os mil países que respiramos quotidianamente, um pequeno país de truque manhosos, de cunhas liliputianas, de desleixos e tentações escondidas. Por outras palavras, na terra da lucidez e das tentações pequenas há quem queira, aqui e ali, tentar a sorte da ilegalidade (com intenção) a ver se calha. Era essa a aura que nitidamente pairava, durante o dia de ontem, no rosto de Lynce e na almofadada e marmórea ingenuidade de Martins Cruz.
Disse Anacoreta Correia no Expresso da meia noite: "Os portugueses são um povo igualitário e é por isso que este caso aconteceu (o caso é o da filha de Martins Cruz)". Dr. Anacoreta: Já viu que mora num país em que as pessoas são tão limpinhas em casa e tão desmaseladas na rua ? Já viu que mora num país em que se atira lixo para a rua a ver se ninguém vê ? Já viu que mora num país em que a malta se entretém a fazer habilidades às escondidas a ver se dá e sem os outos darem por isso ?
Enfim, há, de facto, à nossa volta, entre os mil países que respiramos quotidianamente, um pequeno país de truque manhosos, de cunhas liliputianas, de desleixos e tentações escondidas. Por outras palavras, na terra da lucidez e das tentações pequenas há quem queira, aqui e ali, tentar a sorte da ilegalidade (com intenção) a ver se calha. Era essa a aura que nitidamente pairava, durante o dia de ontem, no rosto de Lynce e na almofadada e marmórea ingenuidade de Martins Cruz.
quinta-feira, 2 de outubro de 2003
Ainda o novo nobel
Em Africaans - de que o apelido "Coetzee" é vestígio certo - o nome do novo nobel deverá ler-se "KutZei" (mar de Coet).
Outras informações aqui.
Em Africaans - de que o apelido "Coetzee" é vestígio certo - o nome do novo nobel deverá ler-se "KutZei" (mar de Coet).
Outras informações aqui.
J. M. Coetzee é o novo nobel da literatura
Vi por mero acaso o directo que anunciou o novo nobel da literatura. Prado Coelho era o convidado da Sic-Notícias. Após o anúncio fiquei a saber que o novo nobel é um "duro" sul-africano, um "cosmopolita" talvez um pouco dandy e que usa geralmente "sapatos de cor vermelha", daí a alcunha que lhe é atribuída.
Dir-se-á que o trabalho de casa de EPC ficou, desta vez, bastante aquém.
Vi por mero acaso o directo que anunciou o novo nobel da literatura. Prado Coelho era o convidado da Sic-Notícias. Após o anúncio fiquei a saber que o novo nobel é um "duro" sul-africano, um "cosmopolita" talvez um pouco dandy e que usa geralmente "sapatos de cor vermelha", daí a alcunha que lhe é atribuída.
Dir-se-á que o trabalho de casa de EPC ficou, desta vez, bastante aquém.
O enigma do sofrimento
O que faz o Ocidente ao prostar-se diante de um corpo a sofrer ? O que faz o Ocidente ao inclinar-se perante imagens seculares de sofrimento ? O que faz o Ocidente ao dissociar a tradição religiosa do pathos do sofrimento que tanto alimenta ?
Vejo o Papa quase moribundo a transformar-se no alvo das declarações de Ratzinger e a converter-se no centro das declarações emocionadas de mil e uma pessoas que o imaginam entre o terreno e um qualquer patamar mirífico que seria indissociável das marcas de quem tem que sofrer.
Porquê tanta ênfase dada ao sofrimento ?
Porquê inscrever a dor na reiterada tentação de uma redenção, ou de uma libertação ?
Lembro-me de um japonês algures em Espanha, há muito anos, impressionadíssimo com um altar barroco. Também me lembro dos camicases (esccrevamo-los em Português).
Não seria preciso lembrar os camicases quando eles estão e são, infelizmente, presentes.
Como escreveu Paulo José Miranda: "O frio fica majestoso/ com as suas vestes brancas./ Parece-se tanto com o ódio,/ este nevoeiro interior/ depois da sementeira perdida".
O que faz o Ocidente ao prostar-se diante de um corpo a sofrer ? O que faz o Ocidente ao inclinar-se perante imagens seculares de sofrimento ? O que faz o Ocidente ao dissociar a tradição religiosa do pathos do sofrimento que tanto alimenta ?
Vejo o Papa quase moribundo a transformar-se no alvo das declarações de Ratzinger e a converter-se no centro das declarações emocionadas de mil e uma pessoas que o imaginam entre o terreno e um qualquer patamar mirífico que seria indissociável das marcas de quem tem que sofrer.
Porquê tanta ênfase dada ao sofrimento ?
Porquê inscrever a dor na reiterada tentação de uma redenção, ou de uma libertação ?
Lembro-me de um japonês algures em Espanha, há muito anos, impressionadíssimo com um altar barroco. Também me lembro dos camicases (esccrevamo-los em Português).
Não seria preciso lembrar os camicases quando eles estão e são, infelizmente, presentes.
Como escreveu Paulo José Miranda: "O frio fica majestoso/ com as suas vestes brancas./ Parece-se tanto com o ódio,/ este nevoeiro interior/ depois da sementeira perdida".
quarta-feira, 1 de outubro de 2003
Fumo sem fogo
No final do século XV, o saber astrológico previu um alinhamento planetário para o início de 1524 (no signo Aquário). Durante essas quase três décadas foi impressionante o número de textos e de comentários que interpretaram as mais diversas ocorrências ao sabor de um fim do mundo em jeito diluviano que nunca chegou a acontecer. O livro de Ottavia Nicolli, Profeti E Popolo Nell'Italia Del Renascimento (GIUS, Laterza & Figli SPA, Roma-Bari, 1987) conta a história toda (há também uma tradução inglesa).
Nos dias de hoje, os apagões estão a tornar-se nesse tipo de ocorrências que parece apontar para uma outra maior e terrível. E não há conversa em que o estigma do 11/09 não surja amiúde como a amostra exacta para o formato catastrófico que se prenunciaria. Seja como for e bem vistas as coisas, não há quaisquer precedentes históricos para um rol já tão vasto: foi a costa nordeste americana, foi Londres, foram partes de Françaa e da Dinamarca e agora foi a experiência de um país inteiro: a Itália (aliás, foi na Itália que os temores do alinhamento de 1524 mais se fizeram sentir).
Esta semana, o Departamento de Estado norte-americano foi alvo de um ataque informático no sistema de vistos que tem por objectivo descobrir possíveis terroristas. E lã se põe a gente a pensar que o hiperterrorismo anda mesmo a tramá-las. Já se sabe que eu sou um desconstrutor do pensamento profético, mesmo na contemporaneidade.
Mas que não há fumo sem fogo, lá isso não há.
No final do século XV, o saber astrológico previu um alinhamento planetário para o início de 1524 (no signo Aquário). Durante essas quase três décadas foi impressionante o número de textos e de comentários que interpretaram as mais diversas ocorrências ao sabor de um fim do mundo em jeito diluviano que nunca chegou a acontecer. O livro de Ottavia Nicolli, Profeti E Popolo Nell'Italia Del Renascimento (GIUS, Laterza & Figli SPA, Roma-Bari, 1987) conta a história toda (há também uma tradução inglesa).
Nos dias de hoje, os apagões estão a tornar-se nesse tipo de ocorrências que parece apontar para uma outra maior e terrível. E não há conversa em que o estigma do 11/09 não surja amiúde como a amostra exacta para o formato catastrófico que se prenunciaria. Seja como for e bem vistas as coisas, não há quaisquer precedentes históricos para um rol já tão vasto: foi a costa nordeste americana, foi Londres, foram partes de Françaa e da Dinamarca e agora foi a experiência de um país inteiro: a Itália (aliás, foi na Itália que os temores do alinhamento de 1524 mais se fizeram sentir).
Esta semana, o Departamento de Estado norte-americano foi alvo de um ataque informático no sistema de vistos que tem por objectivo descobrir possíveis terroristas. E lã se põe a gente a pensar que o hiperterrorismo anda mesmo a tramá-las. Já se sabe que eu sou um desconstrutor do pensamento profético, mesmo na contemporaneidade.
Mas que não há fumo sem fogo, lá isso não há.
Nome
Foi nos altos da cidade de Haifa, em Israel, perto do Monte Carmelo, nesse local mágico de onde se avista o Mediterrâneo oriental e os vestígios setentrionais da Tiro fenícia que tive uma notícia surpreendente. Ou seja, de um momento para o outro, fiquei a saber que a tradução hebraica da palavra "Carmelo" (Karm+Al) significava “Videiras de Deus”. Não sei se esse nome acabou por ter alguma relação com as muito posteriores Carmelitas, as quais o destino havia de tornar nas grandes difusoras do nome e não tanto, já se vê, do seu desconhecido significado etimológico original e profundo. Fosse como fosse, a partir de então, eu passei a entender de uma outra forma a errância mediterrânica do nome Carmelo para ocidente (a direcção do "Garb", ou do local onde o sol se põe como dizem os árabes), sobretudo na Sicília e no amplo levante ibérico. Mais a Oeste, mais concretamente em Portugal, creio que as Carmelitas apenas deram entrada em finais do século XIII, na margem esquerda do Alentejo, e em Évora, capital do Cartuxa e Peramanca, já na terceira década do século XVI. E eis como um nome se faz coisa.
Foi nos altos da cidade de Haifa, em Israel, perto do Monte Carmelo, nesse local mágico de onde se avista o Mediterrâneo oriental e os vestígios setentrionais da Tiro fenícia que tive uma notícia surpreendente. Ou seja, de um momento para o outro, fiquei a saber que a tradução hebraica da palavra "Carmelo" (Karm+Al) significava “Videiras de Deus”. Não sei se esse nome acabou por ter alguma relação com as muito posteriores Carmelitas, as quais o destino havia de tornar nas grandes difusoras do nome e não tanto, já se vê, do seu desconhecido significado etimológico original e profundo. Fosse como fosse, a partir de então, eu passei a entender de uma outra forma a errância mediterrânica do nome Carmelo para ocidente (a direcção do "Garb", ou do local onde o sol se põe como dizem os árabes), sobretudo na Sicília e no amplo levante ibérico. Mais a Oeste, mais concretamente em Portugal, creio que as Carmelitas apenas deram entrada em finais do século XIII, na margem esquerda do Alentejo, e em Évora, capital do Cartuxa e Peramanca, já na terceira década do século XVI. E eis como um nome se faz coisa.
Frases felizes - 13
"Interessam-me as maldições de errância, quando alguém é condenado a andar permanentemente à procura de um lugar que não existe e por isso não pode nunca parar" (Abrupto)
"Interessam-me as maldições de errância, quando alguém é condenado a andar permanentemente à procura de um lugar que não existe e por isso não pode nunca parar" (Abrupto)
Regresso do Aviz
Regressou o Avis. Não lhe desejo o que os portistas estão sempre a desejar ao Benfica. Pelo contrário. Desejo-lhe apenas que volte ao seu fulgor habitual, para que o "retrato que traz preso aos olhos" volte a flutuar no ponto morto do tempo onde a acrobacia separa o dito do não-dito que vai fazendo a blogosfera.
Regressou o Avis. Não lhe desejo o que os portistas estão sempre a desejar ao Benfica. Pelo contrário. Desejo-lhe apenas que volte ao seu fulgor habitual, para que o "retrato que traz preso aos olhos" volte a flutuar no ponto morto do tempo onde a acrobacia separa o dito do não-dito que vai fazendo a blogosfera.
Música & o Mais
Depois de ter passado uma noite em regime de lost Highway (as autoestradas nocturnas, solitárias e sob bátegas de chuva têm um sabor a intemporalidade), eis-me chegado ao dia mundial da música. Para o comemorar, dei ordens digitais para que se ouvisse o concerto para piano nº 3 do Ludwig. Clássico qb.
E agora fica pergunta no ar: por que não existe um dia mundial que celebre todos os dias mundiais já existentes ?
Talvez com a criação desse dia desconcertante entendêssemos melhor os ardis com que se tem edificado a tradição moderna da memória. Em minha opinião, muito institucional e sobretudo propensa à demagogia subliminar.
Mas a música não tem culpa disso. Nem a SIDA (quando é dia mundial da SIDA). Nem a criança (quando é dia mundial da criança).
Mas hoje, pensamentos de lado, o que vale é brindar e gritar a plenos pulmões: VIVA A MÚSICA !
Depois de ter passado uma noite em regime de lost Highway (as autoestradas nocturnas, solitárias e sob bátegas de chuva têm um sabor a intemporalidade), eis-me chegado ao dia mundial da música. Para o comemorar, dei ordens digitais para que se ouvisse o concerto para piano nº 3 do Ludwig. Clássico qb.
E agora fica pergunta no ar: por que não existe um dia mundial que celebre todos os dias mundiais já existentes ?
Talvez com a criação desse dia desconcertante entendêssemos melhor os ardis com que se tem edificado a tradição moderna da memória. Em minha opinião, muito institucional e sobretudo propensa à demagogia subliminar.
Mas a música não tem culpa disso. Nem a SIDA (quando é dia mundial da SIDA). Nem a criança (quando é dia mundial da criança).
Mas hoje, pensamentos de lado, o que vale é brindar e gritar a plenos pulmões: VIVA A MÚSICA !
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