Iraque
É tanto irresponsável aplaudir o que se passa hoje no Iraque, como é irresponsável a posição daqueles que se dissociam da coragem de um simples juízo e que, de modo facilitista, preferem rir-se para dentro e emitir pragas para fora do tipo: - semearam ventos, agora colhem tempestades, é bem feito !
Ainda mais irresponsável é dizer que está tudo bem, que a bonança e a liberdade ancorarão progressiva e tranquilamente no Iraque, confundindo os (terroristas) suicidas com um bando de simples malfeitores (de que, neste caso, sob o ponto de vista político, não são signo tão directo quanto se possa pensar).
Um parto que começou mal só pode ter um futuro mais lisongeiro quando for dada aos iraquianos a possibilidade democrática de prosseguirem autonomamente o seu caminho. Mas a democracia no Iraque não pode ser imaginada com os contornos liberais e pós-iluministas que no Ocidente se cimentaram e cimentam com uma naturalidade que é radicalmente alheia à terra do Tigre e Eufrates.
Por isso mesmo, nos próximos tempos, tudo se irá passar em regime de acelerada e talvez violenta acrobacia política. Mas esta complexa acrobacia terá de resolver-se em três tempos essenciais: celeridade processual, autoridade no terreno partilhada com os iraquianos e, por fim, discussão dos alicerces democráticos mais adequados ao caso em concreto.
O tempo não volta a ser o que já não é, essa é que é a verdade.