sexta-feira, 29 de julho de 2005

Digressão matinal

Se o universo está em expansão é porque existe uma força que é mais forte do que a força da gravidade. Os cientistas chamam-lhe a energia negra, criadora de matéria negra. Platão, afinal, sabia que o lado visível e observável era uma brincadeira de crianças. É por isso que eu gosto de Campo de Ourique: do que se vê, dir-se-ia ser uma harmoniosa cidade de província; do que não se vê, já se sabe que é filha do sobrepovoamento e da respiração alheia. Mas, mesmo assim, é um belo buraco negro para viver. Às vezes.

quinta-feira, 28 de julho de 2005

Sinais - 2

Se em Portugal a questão é não dizer aquilo de que se fala (ver post por baixo), já no Brasil a questão é saber se Lula sabe, ou não sabe, daquilo de que se fala (e que se passa). Afinal, nesta transa atlântica, nunca se sabe o que se sabe, nem nunca se fala do que se sabe.
É isto a “cultura”?
Sinais - 1

Toda a gente concorda com a sensatez do manifesto dos economistas ontem divulgado pelos média. Mas há um ponto que eu destacaria e que é, no fundo, o mais português de todos: nunca se refere aquilo de que se fala. Há entre nós uma insaciada paixão pela expressão tabu que envolve a coisa dita sem jamais a dizer (neste caso, era a Ota e o TGV).
É como se a palavra nunca tocasse o alvo desejado. É como se um discurso nunca visasse um objecto real. É como se a burocracia nunca saciasse um circuito referenciado. É como se o desejo nunca tocasse na coisa amada. É como se um termo nunca se ajustasse à proposição que é a sua. É como se uma imagem nunca se centrasse em si própria.
É isto a "cultura"?
Veraneantes - 15

Se o gelado é o petisco da hora proibida, os caracóis são o haiku do fim da tarde.

quarta-feira, 27 de julho de 2005

Só visto

De facto, é bem melhor do que comprar aqueles romances que se levam para férias (histórias exóticas muito bem contadas e muito legíveis com triângulos amorosos acertados e descrições enfadonhas e muito realistas dos personagens, com um apimentado religioso, misterioso, esotérico, engatatal, bananal, sexual com open space, roça e museu ao fundo).
Memorial de desconcertos
e

Houve expressões que guardei dos tempos de liceu: o desconcerto do mundo, a Florida (em vez da Flórida), o primeiro de Dezembro, os olhos verdes da Joaninha, a bola de catchum, os contínuos, o quinto império, a O.P.A.N.*, o canto coral, as caçadas desenhadas nos azulejos e a deliberada leveza dos plátanos que me conduzia ao velho edifício.

*"Organização Política e Administrativa da Nação".

Veraneantes - 14


Se a ventania é o logro das amazonas, posts pequenos como estes são as chiclets da blogosfera (I mean: the original candy coated gum).
Ausências


Tinha imagens espantosas. Onde andará?
Veraneantes - 13

Se o toldo é o recolhimento da boazona, a toalha turca é o tapete voador do galã.

terça-feira, 26 de julho de 2005

Veraneantes - 12

Se o voyeur é galo de pouca gula, a galinha é a praia na platónica letra do poema.
Veraneantes - 11

Se o escaldão é a leviandade do guerreiro, o aprumo balnear é o fato de treino do hiper.
Veraneantes - 10

Se o surfista é o Aquiles moderno, o peixe-agulha é o calcanhar do nadador-salvador.
Veraneantes - 9

Se o esquiço é a alma do arquitecto, o frango assado é a alma do banhista luso.
O grande enigma de Mário Soares
1
A “esquerda”, tal como é sistematicamente referida pelos média, pelos comentadores e por alguns políticos das franjas do sistema, não é de facto uma categoria real. Perguntar-se-á, por exemplo: o que é que, hoje em dia, tem a ver o sector “moderado” do PS (no mínimo, perto de trinta por cento da população portuguesa) com a visão do mundo e a história do PC e, por outro lado, com a “alter-globalização” do BE? Eu diria: nada, rigorosamente nada. Ao invés, a ideia de liberdade é bem mais comum a esse largo sector que vota PS e à vasta área dita à sua direita. Soares sabe-o perfeitamente, mas, apesar disso, irá adaptar o seu discurso frentista (e por vezes radical) à natureza “esquerda-direita”, hoje cada vez mais dissociada da realidade e da lógica do mundo omnipolitano em que vivemos.

2
A realidade e até a estabilidade da categoria designada por esquerda (“clássica”) é, pois, cada vez mais, um embuste fantasmático a que muitos querem colar a expressão do PS (os tempos “pós-11 de Setembro” nada têm a ver com a lógica de oposição ao regime deposto em 1974; associar ambas as esferas é quase o mesmo que tentar entender o 25 e Novembro de 1975 à luz das guerras liberais). Manuel Alegre demonstrou, nas primárias socialistas de 2004, ser o paladino épico deste embuste e, segundo parece, quer continuar a sê-lo e a protagonizá-lo. A direcção do PS sempre soube, no entanto, que uma candidatura de Manuel Alegre seria suicidária para a continuidade governativa e, para além disso, estaria muito longe de preencher o vazio instalado. Por isso Soares avançou. Não sabemos a que preço, embora o “politicamente correcto” socialista tenha tentado, desde já e a toda a prova, suavizar alguma tempestade.

3
Soares abandona assim subitamente o labor e as expectativas da sua Fundação e apresta-se a refazer o que, há vinte anos, noutra dimensão, levou a cabo com destreza, com determinação e sobretudo com os pés bem assentes na terra. Já se sabe qual é a lição de Pavese: não voltes nunca “ao lugar onde uma vez foste feliz”. A lição podia e devia aplicar-se agora a Mário Soares, até porque não é difícil entender que terá pela frente, numa possível campanha eleitoral, o fogo cerrado do “passadismo”, embora o argumento das “idades” seja francamente idiota e próprio de uma época em que a única utopia viva, além da tecnológica, é a que aponta para a liofilizada juventude eterna. Simulações puras, é verdade, mas a que Soares não se poderá jamais eximir em tempos mediáticos.

4
Para além destes desfasamentos circunstanciais e inevitáveis, Mário Soares irá também sentir dificuldades óbvias em distanciar-se das posições assumidas nos últimos anos, muitas vezes bastante próximas da autofagia contracultural em voga nos grupos “alter-globalização”. A confusão entre os terrorismos dos anos setenta e os actuais hiperterrorismos é tão grave como pressupor a simples ideia de negociar com uma organização obscura que funciona globalmente em rede e não no modo clássico, orgânico e vertical. A desmedida convicção “anti-Blair” e algum “anti-americanismo” - que, na visão da Europa, está muito para além do ímpeto anti-Bush - encostaram Soares a sectores que quase rareiam, nos tempos que correm, na “grande nação PS” (o tom do seu programa mensal na SIC-Notícias fala por si). Esta deriva radical de Soares corresponde a uma verdade indesmentível e, com toda a certeza, será objecto de grande impacto na campanha eleitoral.

5
Por fim, a subliminar realeza. Os argumentos de difícil rejuvenescimento da República são conhecidos. E os estigmas em confronto na campanha eleitoral que se avizinha apenas os confirmam, por mais que os defensores “par cause”, incapazes de qualquer relativação, continuem a pensar o país e o seu exclusivo candidato como um devir heróico onde o ouro penderá para sempre sobre o azul. Há cerca de doze anos, comparei numa crónica o “Bucha e o Estica” com a recepção popular a Jorge Coelho e a Cavaco Silva. Duas vozes que afinavam o diapasão pelo vulgo, uma através da mimese e do espanto, outra através da representação quase temporal da ideia de “professor”. A essas duas vozes pode acrescentar-se outra bem mais intemporal nestas últimas três décadas: a de Mário Soares. De certo modo, a era pós-1974 quase se confunde com o destino de Soares: na mitologia da fundação democrática, na difícil “viragem FMI”, na consumação da “ideia Europa”, na alternância institucional ao Cavaquismo e, nos últimos anos, na afirmação de uma indignação em nítida “fuga para a frente” (esta última fase é, de facto, a mais errante na singular caminhada de Soares). A ideia de realeza assenta não apenas no percurso, mas também na simbólica de concertação e colegialidade que Soares sempre evidenciou. A grande questão, neste momento, é a seguinte: será que o povo português ainda deseja confundir a sua imagem com aquela que a sua candidatura irá tentar, indeclinavelmente, colar à nova realidade?
É esse o enigma.
Veraneantes – 8

Se a nudez é a bola de Berlim da moda Verão, o nevoeiro é o mau augúrio da manhã.
Ainda o tema do "impasse"

Excelente artigo de Anthony Browne, no The Spectator hoje recebido: "The Left´s War on Britishness". É mais um artigo acerca da auto-flagelação protagonizada pelas contraculturas que, respirando o privilégio da liberdade como peixe na água, tratam o terrorismo por tu, compreendendo-o e legitimando-o, para além de tudo fazerem no sentido de hostilizar militante e ostensivamente a casa comum democrática em que vivemos. Voltarei ao tema em próximo ensaio, já no coração do Outono.
Veraneantes - 7

Se o campismo é o odor fresquinho da multidão, os charters são um limbo abandonado à sua própria sorte e risco.
Veraneantes - 6

Se a sardinhada é um filme para os pobres de espírito, Manuel de Oliveira é o sublime recorte dessa lassidão.
Veraneantes - 5

Se o fio dental é reminiscência do Manuelino, a filosofia portuguesa é o que resta das lágrimas de Portugal.
Veraneantes - 4

Se o bronze é geografia dos parolos, o areal da praia é a barba de Deus por fazer.

segunda-feira, 25 de julho de 2005

Monopolismos, estatismos, corporativismos

Recebi um mail há minutos. Decido publicá-lo por ter já passado várias vezes por situações idênticas (não apenas na empresa referida) e por conhecer casos e mais casos (silenciosos quase sempre) extremamente parecidos. Há, de facto, uma aura kafkiana que nos rodeia e que tem a sua raiz no estatismo (salazarista ou pós-revolucionário), assim como nos corporativismos que parecem interiorizados na pele dos portugueses. É o que faz o monopolismo e a visão avessa a um mínimo de espírito livre e liberal que atravessam o país há séculos. Sobra sempre, e só, a queixa solitária do cidadão. A caravana passa e os filhos da puta ficam a rir-se. Que tristeza! Ora leia-se:

"Desde já as minhas desculpas, se no fim da leitura deste mail vierem a pensar que fui mais uma pessoa a fazer-vos perder o vosso precioso tempo, mas aqui vai "resumido" o que quero expôr-vos: SE QUISEREM ADQUIRIR UM ACESSO BANDA LARGA DE INTERNET, ACONSELHO VIVAMENTE A NÃO ESCOLHER A SAPO ADSL. (E dou-vos a minha palavra de honra que não tenho qualquer interesse em firmas concorrentes que forneçam este serviço!!!). Aqui vão os motivos da minha revolta: Adquiri um "kit sapo ADSL", em 25/11/2002, kit este que NUNCA FUNCIONOU por razões técnicas ALHEIAS À MINHA VONTADE. Esperei pacientemente até 9/01/2003 por um novo cd-rom de instalação que a empresa se comprometeu a enviar para substituir o primeiro, e que também não resolveu o problema... Ao fim de muita reclamação e telefonema consegui enfim devolver todo o equipamento do "kit" e restituirem-me o seu valor em 6/03/2003. Hoje em dia recebo numa base mensal cartas de empresas de cobranças a reclamarem o pagamento de um valor que ascende a mais de 270 euros por um serviço internet que nunca usufrui! Enviei inúmeros mails, cartas registadas, faxes, quer para a Telepac, quer para empresas de cobrança por ela contratadas. TODOS SÃO SURDOS ÀS MINHAS SOLICITAÇÕES PARA RESOLVER ESTE EQUÍVOCO! Mais, quando telefono para as empresas de cobranças que me enviam as cartas sou mal tratada, como se fosse a pior das vigaristas! É o cúmulo! Hoje em dia, quase 3 anos passados da mal fadada tarde em que resolvi comprar aquele Kit sapo adsl, ainda recebo destas cartas, desta vez com ameaças de processos em tribunal. Estou de consciência tranquila e, felizmente, sou suficientemente organizada para ter guardado toda a documentação relativa a este assunto. Quando estou mais de um mês sem receber cartas de cobrança (eles nunca respondem directamente às minhas por mais que escreva) penso que o meu PESADELO com a sapo adsl enfim terminou. Mas infelizmente não, ainda há 3 dias recebi mais outra..."

A autora do texto é professora numa faculdade de veterinária deste país.
Veraneantes - 3

Se uma árvore ao sol é a penugem do poeta, o queixume é a sombra do indígena.
Veraneantes - 2

Se o stress é a alma do povo, a beleza estival é o descanso dos patos bravos.
Veraneantes - 1

Se uma sereia é um jogo de palavras, o meu quintal é o areal de O Crime do Padre Amaro.

domingo, 24 de julho de 2005

Solidões contemporâneas

Estou de volta, depois de quatro dias de catástrofe informática: num lado, a ADSL em briga com a máquina; no outro, um portátil que se finou e um novo computador por instalar.
Eu e as máquinas: um desastre visceral. A sós.

quarta-feira, 20 de julho de 2005

Six Feet Under – 13 (número mágico e final)
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Foi, de facto, uma óptima partilha e uma experiência tão espontânea quanto comum. Durante doze semanas, o Luís (o proponente), a Charlotte, a Cláudia e eu mesmo (de forma mais permanente) transformámos o olhar sobre uma mesma realidade numa sequência de observações, de apontamentos e de registos soltos.
Sem darmos por isso, fomos construindo um texto. Deste laboratório há que tirar, para já, uma entre várias outras conclusões: a escrita blogosférica está a alterar o sentido tradicional da crítica.
Se lermos, por exemplo, o número 3 da revista “Apeadeiro” - dedicada à crítica (embora no registo literário: Quasi, 2003) -, verificamos que é praticamente comum, em todos os artigos do dossiê, uma tendência para o fechamento clássico que entende a crítica como um contraponto quase simétrico de uma obra primeira, ligado a ela através de uma lógica de vasos comunicantes. Este circuito de vias internas (obra-crítica-obra-crítica-etc.) é depois descrito formalmente, conforme os autores, como mediação entre enunciados, como simples jogo de recensões, como ligação orgânica entre quem se supõe estar a comunicar, como manifestação de um presumível eco ou aura da obra e, por fim - sem querer entrar nas polémicas do Verão de 2002 -, como julgamento ou avaliação, muitas vezes baseados na proximidade e até no afecto da pessoa do crítico face à obra criticada.
O que foi realmente diverso, na movimentação de textos que iam irradiando na nossa experiência de Six Feet Under, foi a recusa tácita em estabelecermos um circuito fechado que se deslocaria - como um pêndulo amestrado - entre a coisa vista e a coisa dita. O mundo das conotações, o jogo das manobras fragmentárias, a prática de elipses, o desafio da não sistematicidade, o diálogo não-linear que nos conduzia à retroactividade, ou seja, a regimes livres de troca, fizeram do nosso texto algo muito para além de um metatexto que placidamente adormeceria sobre a sua unívoca presa em análise.
Creio mesmo que, de modo não denunciado, esta experiência andou bastante próxima da hiperpoética contemporânea, já que viveu da expansão aberta de um mote (neste caso, de cada episódio de Six Feet Under), do presenciar avesso à conclusão orgânica e fechada, da persistente permuta interlocutiva e, sobretudo, da esteticização criada pela possibilidade sempre reproduzível do texto (crítico) que acabou por superar a delimitação dos mundos tradicionais que separam arte e não-arte, literatura e não-literatura (ou seja, um texto à procura de si e aspirando a um voo para além das tutelas e das máscaras modernas do mundo off-line).
Uma experiência a repetir.

P.S. - É curioso verificar que existem blogues que continuam ainda a escrever como se vivessem no mundo do papel, julgando - esquematicamente - que emissores e auditórios continuam posicionados como se a vida fosse um bipartido ringue de ténis. Recebem correspondência dos leitores como os jornais tradicionais, postam sobre a actualidade em registo de "tomar posição/ tirar partido" (à direita, à esquerda, ou noutros espectros mais maleáveis) e têm imenso receio da construção fragmentária do texto e do sentido. Não entendem que a rede vive de olhares e leituras que se submetem à diagonal e à pura passagem, não entendem que os locutórios aparecem e desaparecem a todo o momento como pixels excitados, nem entendem que o mundo on-line corresponde a uma dimensão autónoma e autotélica e não à imagem diagramática e fidelizada de um mundo que consideram afinal ser o da experiência, o referencial e o "sério".

terça-feira, 19 de julho de 2005

Classificados
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Devastação e negritude

Nos noticíários de ontem da RTP, uma patusca jornalista comentava assim o incêndio de Guadalajara: “É só devastação e negritude” (juro que a prosódica acentuou este último substantivo com aquele apetite que é próprio de quem gosta de utilizar uma palavra cara, rara, mas adequadíssima à circunstância).
As manas Avilez

Mudo de canal, após o desinteressante desenlace (?) de Six Feet Under e dou com as manas Avilez a tratar-se por você, face a face, na Sic-Notícias. E eu subitamente a imaginar-me com o meu irmão, também face a face, ele chegadinho de Boston e eu do quarto crescente. Ainda bem que nenhum de nós se lembrou de se candidatar à Câmara da capital! (ainda estaríamos a tempo?)

segunda-feira, 18 de julho de 2005

Six Feet Under - 12
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Ar de coisa acabada e demasiado composta. É sempre assim: todas as composições que avistam o fim da falésia sonham com amputações vitais e explosões iminentes. Eis a singular razão do início do episódio e da sucessão de simuladas vertigens (o tiro na boca cheirou a arrependimento de Pato Donald). O que sobra de tudo isto: a previsível dança de Claire, a tranquilidade kitsch de Nate e o feliz diálogo entre pai e filho a rematar: “É assim tão simples?”
Our songs


Pode consultar aqui a canção que estava no top no dia em que nasceu. No meu caso (25/08/1954), terei que procurar uma famosíssima "Cara Mia", interpretada por David Whitfield with Chorus & Mantovani & his Orchestra.
Tem piada, sim, Carolina!

P.S. - Já agora o Elvis Costello (nome real de Declan Patrick MacManus ) não tinha nada que ter nascido no mesmo dia e ano que eu!

Entre nós vai ser a meio da década de 2020

Recebi hoje o número de 16 de Julho da revista The Spectator. Numa crítica ao recente livro de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, Freakonomics (Penguin/Allen Lane), Philip Hensher escreve:

"Levitt observes that, against all predictions, crime in America started to fall in the mid-1990s. Endless explanations for these were offered; Levitt has a new one. Abortion was legalised across the country in 1973. For Levitt, an entire generation of criminals just weren´t born."

E esta!? Para iniciar a semana não é nada má.

domingo, 17 de julho de 2005

Mundos fechados da Lusitânia


Portugal é um país que se alimenta do fascínio pelos mundos fechados.
Salazar tinha o seu e ainda hoje vive de especulações e revelações (a filha que teve ou não teve, a governanta que era ou não era, as diplomacias, o relacionamento com os seus ministros, a paroquialidade da gestão doméstica, o medo das viagens, etc.).
Cunhal tinha o seu que hoje vive em estado de clímax, mobilizando voyeurs e estudiosos com as mais variadas origens (é o mistério da irmã, é a filha soviética ou russa, é o quotidiano parisiense, são as relações com o Kremlim, são as tramas da revolução portuguesa, é a morada fiscal, é o testamento, os livros, etc.).
A filosofia portuguesa também tem o seu mundo fechado e não passa de um ultrapassadíssimo manto de retalhos fechados sobre si próprios (embora haja universidades que, hoje em dia, em Portugal, lhe dedicam mestrados).
Fernando Pessoa, além da poesia, também tem o seu mundinho fechado (pretexto para o onanismo esotérico de múltiplos académicos em delírio e para outras crendices visionárias e recheadas de bolseiros).
Haverá muitos outros mundos fechados na craveira lusitana, mas estes - uns francamente actuais, outros menos e outros ainda um tanto mitológicos (como os dois últimos exemplificados) - já constituem uma boa amostra de algumas das fixações que andam aí à deriva. Tudo isto, numa era em que todos apostamos na Estratégia de Lisboa.

A tentação do cerco

Quotas para ouvir obrigatoriamente música portuguesa na rádio?
Deixem-nos em paz!

sábado, 16 de julho de 2005

Obrigado, grazie! (actualizado)

Obrigado aos belos blogues italianos, Untitl.Ed e Splinder. E a muitos outros cá da terra ou do Brasil (ou doutros ciberterritórios): à Charlotte, à Ana Maria, ao Nuno Guerreiro, ao Contra a Corrente, ao Contra-Indicado, ao A Fonte, ao Ao Longe os Barcos de Flores, ao Casa de Cacela, ao Memória Virtual, ao A Arte da Fuga, ao Desesperada Esperança, ao Às duas por Três, ao Montanha Mágica, ao Meu Bazar de Ideias, ao Asa de Papel com Chá, ao Contrasenso, ao Farol das Artes, ao A Vida dos Meus Dias, ao Caderno de Corda, ao Axónios Gastos, ao Digitalis, à Sílvia Chueire, à Doce Carolina, ao Mood Swing, ao grande Maschamba e ainda ao inquebrantável João Manuel Nogueira e aos amigos Alberto Magalhães, Fernando Cabeça, Enamorada Catalan e José Nascimento (poderei ter omitido muitos blogues, mas o Technorati está a funcionar de modo precário. Seja como for, irei actualizando os agradecimentos!). E não me esqueço de felicitar o blogue do Bruno, já que escolheu o mesmo dia para nascer que o Miniscente.

sexta-feira, 15 de julho de 2005

Segundo Aniversário

Pois é verdade, o Miniscente faz hoje dois anos de vida.

quinta-feira, 14 de julho de 2005

Falta um dia - 3
(Breve história visual do Miniscente)

Mini1 - 2003

Mini2 - 2003/4

Mini3 - 2004

Mini4 - 2004

Mini5 - 2004/5
Falta um dia - 2

Faz hoje precisamente dois anos, vi um documentário sobre a paisagem dos sarais. Sei que então me lembrei do sul do Mar Morto, esse mundo lunar, violeta e nocturno no limiar do deserto. Estava a poucas horas de iniciar este mini-mundo. No primeiro post do Miniscente, sei que recorri à imagem dos sarais para metaforizar a comunicação blogosférica. Tinha apenas meia razão.
Falta um dia - 1

Regresso do mar e reentro de imediato na fábula do quotidiano. Amanhã há mais. Haverá um lugar para o mar?

quarta-feira, 13 de julho de 2005

Faltam dois dias - 4

Um fio a fazer suspender a copa da macieira. Ou seria apenas a enigmática e inexplicável voz da abelha nocturna?
Faltam dois dias - 3

Não sou dos que têm pudor em festejar. Mesmo que o objecto da festa seja minúsculo. Já se sabe que o micro-mundo é um ensaio geral da nossa obstinação pelo grande acontecimento que aniquilaria as proporções com que pensamos o tempo. Isso basta-me para rir.
Faltam dois dias - 2

A grande tentação: tudo imóvel e a vontade de perpetuar a instalar-se de modo quase irresistível. É por isso que as imagens que fazem aparecer a consciência nunca chegam a tempo. Precisamente porque erram entre o ter sido em que vivemos - chamemos-lhe memória alargada - e a descoberta admirada do que possam representar agora e aqui.
O porvir é o reino que liga este condensado de tentações e aquilo que está por vir diante de nós, diante da vida.
Faltam dois dias - 1

Depois do meteoróide de ontem, a lua apareceu hoje em prata, crescente e quase a querer pousar no mirante onde continuo sentado como se caído na redentora tentação das esfinges.

terça-feira, 12 de julho de 2005

Faltam três dias - 12

O texto mergulha no texto, cria ondas de choque, adquire modos de montagem totalmente imprevistos e rema para a frente, em várias direcções, completamente alheio ao teor da manipulação griffithiana. De repente, tal como em alguma arquitectura nórdica onde o encaixe dos materiais gera por si a robustez das linhas de força, também na escrita o sentido resulta mais do ímpeto com que o texto força e penetra o plano, a agenda e a sucessão do que de outra coisa qualquer.
Faltam três dias - 11

Quando não se escreve sistematicamente no blogue, pressente-se que a escrita neste tipo de vaivém não é da ordem do prazer nem do desprazer. É antes um fluxo de actualizações, disperso e inorgânico por natureza, que pode conduzir ao mais imprevisível. É nesse horizonte denso e despovoado que agora estou. De frente para o despertar do pessegueiro.
Faltam três dias - 10

E se o olhar não se eximisse de ser olhar e persistisse até ao fim, ainda que se saiba que o fim é sempre uma metamorfose e não a inelutável vertigem do abismo derradeiro?
O que tem de especial Ana Cláudia?
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A falta de apelido ou o colar?

(Já me esquecia: altura 1,72, busto 91, cintura 71, anca 96, sapatos 37, confecção 38, olhos castanhos, cabelo preto, Central Models. Má nada)
Faltam três dias - 9
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Ouço um papagaio ao longe. Estará preso ao ramo da figueira por um fio de seda já a desfazer-se. Entre o mais completo silêncio do fim da tarde, é ele o arauto do único nome que agora consigo reconhecer. É um nome vago que tende para a música, mas que ainda não é sequer som. Eis-me sentado a olhar para o horizonte e a tentar perceber esse quase rumor.

(amanhã, quando faltarem dois dias, estarei a meio do mar. Só na Quinta, quando faltar só já um dia, é que poderei voltar a dar sinal de mim)
Faltam três dias - 8

Depois da distância, qual é o nome que tornaremos a desejar?
O que tem de especial Carla Matadinho?
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O nome, ou tão-só o capacete?

(Já me esquecia: altura 1.77, busto 86, cintura 60, anca 89, confecção 34/36, sapatos 40, olhos castanhos, cabelo castanho claro, agência: FACE Models. Má nada)

Faltam três dias - 7
i
Há dois anos, discutia-se aqui na blogosfera a aparição do diabo nos pequenos detalhes da vida, lembram-se?
Faltam três dias - 6

Hoje vou reconhecer o inquieto ronronar do tempo.
Faltam três dias - 5

Há um momento em que saio da livraria e vou em frente como se a miríade de ralos que canta em Atenas, de manhã à noite, jamais me saísse da cabeça. Olho para o fundo da rua, encaro o estranho alinhamento dos choupos e observo as frontarias das casas que quase ousam tocar no céu. É esse outro livro que então me convoca. Um livro de vistas onde a errância do olhar cria a sua própria felicidade alfabética. Entendo o sortilégio e sorrio. Afinal, não é preciso ler todas as páginas que nos rodeiam. Essa angústia já a superei há muito, muito tempo.
Faltam três dias - 4

No final do seu breve relato - Como se faz uma novela - Miguel de Unamuno escrevia: “E tu, leitor, que chegaste até aqui, acaso vives?” Estávamos em 1926, na cidade de Paris.
Faltam três dias - 3

Acho piada a quem escreve muito seguro de si. Palavra após palavra, ritmo sincopado, cascando facilmente em qualquer cascalho menor como quem vai para a fonte e vai ufano de tão teso quanto duro. Haverá humildade no fundo de um poço? Eu também sou ambicioso, bastante, mas só fiz de Marmota na récita de finalistas do meu antigo Liceu (foi no Avarento de Molière, mais concretamente).
Faltam três dias - 2

Lembro-me do eco das traineiras, do aguçado timbre das carroças, do pó que se elevava nos caminhos, das vozes isoladas ao longe, do silêncio subitamente moldado por um alarido que interrompia a cadência do tempo. Estou lá, nessa terra. Em lado nenhum, seja onde for, desde que o nome soe apenas a murmúrio. Do que não me lembro é do meu exílio mais antigo, minha treva dissimulada, meu barco a remos sem rio.
Faltam três dias - 1

Creio que foi Richard Rorty que escreveu, no início dos anos oitenta, que "há pessoas que escrevem como se só existissem textos".


Um cata-vento em estado de clímax ou uma catadupa em forma de terramoto, eis o destino destes palmos de terra.
Deixo de olhar para o crescente que se adensa e moldo a minha própria memória: George veste-se de protagonista da Música do Acaso, embora prefira, à construção de um muro sem fim, a sua bela e amada cave apocalíptica. Nada que não se compadeça com o Centro de Casais Amorosos (“It´s becoming very popular!”) e com a genuína e tântrica ingenuidade de Rachel.
Nate veste-se de peregrino confessional e repete à exaustão o que cá em casa já havia sido profetizado (a sério!): afinal, enterrara mesmo Lisa no deserto. A partir de agora, as frestas deste outro terramoto vão alastrar pelos trágicos suspiros de Brenda. Ela já fechou a luz e entrou subitamente no limbo, virando-se para o outro lado (para o desfecho oco da cena), enquanto a mãe se esvaía em sangue e o irmão traduzia, por palavras doces, a teoria do autor que citou na aula: o simulacro, a dissimulação, ou um não tão transparente e adocicado como o abismo.
Outro terramoto mais suave foi o que se fez sentir no tribunal, seguido de porsche e de alguns estilhaços de “caridade”. As pragas estão ao rubro no reino de Rico, na arena de George, no bife de Porterhouse e não tanto na astúcia das fotos de Claire. Ou, vestir-se-á a sorte de barba branca em LA?
É difícil responder.
Até porque Michael vai rever impressões digitais indesejadas, águas passadas de um trauma por digerir.
Até porque o GPS não chegou a trabalhar no início do episódio (o meu explica-se em Alemão e também raramente funciona).
Até porque o grande terramoto que aí vem tem o nome de “Mojave”, o tal deserto onde a árvore de Joshua subiu ao céu e acabou, um dia, por encarnar na desalinhada imagem de Nate.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

A nostalgia que precedia o spleen

"- Júlio, perguntou Lucinda, por que será que sinto tão profunda nostalgia no meio desta serenidade e desta tranquilidade?
- É que só na nostalgia encontramos a verdadeira tranquilidade, respondeu Júlio."

(Schlegel, Lucinda)
Mitos e fúrias quotidianas

Que dizer de um dia em que a trovoda ressoa por cima das nuvens mais altas, sem que se note a presença viva e real da sua fúria?
(virtualizar é tornar tudo em acto ao mesmo tempo, ao contrário de potenciar que, numa longa tradição de controlo, sempre fez de cada acto uma mera actualização contraída e momentânea)

domingo, 10 de julho de 2005

Confissão dominical

Regresso às águas mornas, às ervas amareladas entre telhas, aos zimbórios de vidro, às fontes circulares, à limpeza da respiração, ao tédio do tempo suspenso e às estradas carregadas de pó. Regresso todos os dias aqui. Abro o peito e sei que há vida na primeira luz, como se o leme do ar fosse o muro branco que envolve a minha casa.

sábado, 9 de julho de 2005

Crónica da uma da manhã
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Sombras desenhadas no empedrado, toldos imóveis e varandas recortadas por alumínios de tumba. O carro do lixo, um flanêur a sós com o cão e ainda aquele gajo anafado, no Expresso da Meia Noite, a dizer "estêjamos" em debate sobre a Ota e o TGV.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Teste
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Publicando o Miniscente, pela primeira vez, a partir do meu estúdio de Campo de Ourique. Over! (a uma semana do segundo aniversário deste Mini-blogue, trata-se claramente de um presente antecipado).

Ah pois! Vai haver surpresa grande no dia do segundo aniversário, a 15 de Julho!

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Em guerra com a barbárie contemporânea - 2
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A serenidade que irradiou, hoje de manhã, a partir de Londres (foi essa a postura generalizada dos média, da polícia, do porta-voz dos serviços de saúde, dos políticos - no parlamento e em Edimburgo - e das pessoas entrevistadas na rua) merece um realce muito especial no meio do abjecto e inqualificável ataque terrorista.
Esta é uma primeira grande vitória da cultura da convicção e da liberdade sobre a cultura da morte e do fundamentalismo que traz consigo o indisfarçável selo da al-Qaeda.
Por trás deste perfil de organização, discrição e planeada resistência, há, no entanto, testemunhos pessoais que merecem registo pela dignidade que encerram e, também, pelo que dão a conhecer. Leia-os aqui no "NewsBlog at G8".

Em guerra com a barbárie contemporânea - 1
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A barbárie voltou a atacar e Londres reagiu com uma prudência e uma serenidade assinaláveis.
Tudo se passa, no momento em que o G8 repunha na agenda, com grande protagonismo de Blair, questões ligadas à pobreza e ao ambiente no globo. Parece que a agenda se irá manter, o que irá constituir, para já, uma resposta determinada à cultura da morte da al-Qaeda.
Tudo se passa, curiosamente, no momento em que Blair se assume claramente como o único líder lúcido da Europa, na sequência do "Non" francês.
Tudo se passa um dia após o anúncio dos jogos olímpicos de "Londres-2012".
Tudo se passa no momento em que a situação no Médio-Oriente passou para um patamar de paz quase imprevisível há dois ou três anos.
Tudo se passa num momento em que a situação no Iraque, embora complicada, em nada se compara com a de Julho de 2003.
O melhor que o Ocidente inventou nos últimos séculos, a democracia e a liberdade, não pode vacilar.

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Memórias actuais

Personagens de fumo, esbatidas na linha quase translúcida que mal separava o azul amplo do céu e a indefinida limpidez do areal, avançavam. E tal como magicamente apareceu assim também se desfez esta visão, no último cabo do olhar com que nos era dada a perspectiva. Ou talvez a ilusão. Ou ainda o sortilégio inexplicável e fino do amanhecer.

terça-feira, 5 de julho de 2005

Coisas da democracia

Os líderes mundiais a discutirem a proposta de Blair que se traduz no perdão da dívida a muitos dos países pobres do mundo e, nas ruas de Edimburgo, o folclore das barricadas, lojas partidas, filhos dos papás entregues à devoção auto-flageladora.
Neo-platonismo

Como se o amor fosse um vidro sibilino que um dia se parte para nunca mais reflectir lugar nenhum.
Edições: acertos

Devido às várias inquirições e falsos alarmes que me bateram à porta, durante o primeiro semestre deste ano, aqui fica o cronograma definitivo de edição para este ano: Manual de Escrita Criativa (no início de Setembro), A Novíssima Poesia Portuguesa e a Experiência Estética Contemporânea (no final de Setembro) e A Viragem Prófética, que devia ter ido para as bancas em Abril, sairá apenas a público nos últimos dias de Outubro. Tudo com a chancela da Europa-América.
Romance, só para o ano e, tudo leva a crer, na nova Notícias.
já viram esta carinha da Claire?
(já agora, carregue no título do post e ouça)
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Começo com uma pergunta: quem é a “Justina Machado”? (já devem ter reparado no genérico, ou estão tão excitados no momento em que começa o episódio que já nem lêem as letras?)
De resto, como diz Nate, há coisas que não são possíveis, como por exemplo aterrar às 10 horas e 70 minutos num aeroporto qualquer. Byron vive com idêntica evidência, já quem nem o seu ar condicionado é uma réplica que se veja do trânsito de uma auto-estrada, nem tão pouco um sofá estilo IKEA se pode equiparar a um viaduto vertiginoso. Já a “Rainbow Kids”, essa organização tão atenta às adopções, não parece, vistas as coisas na net, tornar muito viáveis, ou mesmo possíveis, as adopções “Made in China” que Michael insiste em ver no armário da cozinha. Também não é possível - só aqui entre nós - que uma criança como Maya não dê nunca um gemido, ou tão-só esboce alguma expressão própria mais ou menos espontânea (um roçar de lábios que seja!). Parece trazida da Legoland, num percurso sombrio e cheio de rituais, antes ainda da mitológica avó Ruth perguntar: Is “Unurawirí” a word? Claro que não. Tudo impossibilidades. Para já não falar neste consumado reatar entre Brenda e Nate. Mau presságio. Para já não falar da ideia do “esmagador de alhos”. Péssimo presságio. Para já não falar das lágrimas do “Crocodile Dundy” lá de casa, antes de pronunciar o desarmado: “Shoot!”. O mais terrível dos presságios. Para já não falar da falta de água potável no planeta. A verdade é que Os Mortinhos - é o nome que damos ao Six Feet Under cá em casa - estão ao rubro.
P.S. Obrigado Luís, já li a nota da Cláudia.

segunda-feira, 4 de julho de 2005

Simula?

Pois é, estamos todos a meio de um jogo entre o que se dá e aquilo que é pressentido na elipse que o forma.
Aniversários, epitáfios e céu muito limpo

Ao Ivan e ao Bruno aquele abraço de parabéns. Dois anos que atravessam dois belos blogues, dois lugares por onde passo o olhar regularmente. Dois areais para esquecer o tronco da ameixoeira ou o lago dos peixes vermelhos. Dois blogues que, como outros de eleição, são companheiros da mesma casa, do mesmo tecto, das mesmas e ambíguas perguntas sem solução. Haverá uma amizade nesta partilha sigilosa? A minha misantropia leva-me a não conhecer (fisicamente) quase ninguém na blogosfera. Mas isso não impede que o céu limpo não atravesse este mesmo teclado que é o nosso. E por que termina o Barnabé? Eu sei, sinceramente, que passava sempre ao lado do que lá se dizia e asseverava. Sempre estive noutro mundo. Seja como for, já estava habituado a apreciar a sagacidade e o humor com que por lá desejavam fazer tremer o universo. Tenho pena de os ver partir. C´est la vie!

domingo, 3 de julho de 2005

Enigma

Adoro os fins-de-semana na Lisboa deserta: andar de carro pelas avenidas sem vivalma e apenas atravessar uma das pontes para chegar à frescura mais escondida que há no Alentejo. O resto é sibilino.

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Citação do dia

"O problema - problema político e ético - da sua posição (dos funcionários que trabalham para o estado) é que não se trata de convencer o Estado das suas razões: esse já está ou já estava convencido, quando lhes atribuiu os seus regimes de excepção. O problema é convencer os outros: os que, não trabalhando para o Estado vão ter de pagar, com os seus impostos e com o aumento de anos de trabalho as reformas dos funcionários públicos."
e
(Miguel Sousa Tavares, Público)
Esteios

A compreensão do mundo está a mudar com muita rapidez, razão pela qual muitas e novas formas de criatividade estão a invadir os objectos culturais do planeta, esteticizando-o; razão pela qual, também, a arte está a deixar de ser uma caixinha fechada para apenas ser visitada em museus, ou na micro-circulação que liga a literatura, por exemplo, à sua (legítima e tradicional) transcendência crítica.