terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Cerveja e literatura - 63

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“Subi ao último andar de um dos hotéis mais altos, entrei no espaçoso bar e pedi uma cerveja Heineken. Passaram bem uns dez minutos até vir a cerveja. Enquanto esperava, apoiei o cotovelo sobre o braço da cadeira e deixei-me ficar assim, de olhos fechados, com a cabeça apoiada na palma da mão. Não conseguia concentrar-me nem pensar em nada. Com os olhos fechados, a única coisa que ouvia era um ruído que me fazia lembrar uma centena de duendes a varrerem o interior da minha mente com as suas vassourinhas. Varriam e tornavam a varrer, e o trabalho deles nunca acabava. A nenhum deles passara pela cabeça usar uma pá do lixo.
Quando me trouxeram finalmente a cerveja, emborquei-a em duas únicas goladas. Acto contínuo, engoli vorazmente os amendoins, servidos num pratinho como acompanhamento. Só então deixou de se ouvir o ruído produzido pelos anõezinhos e as suas vassouras.”
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(Haruki Murakami, Em busca do carneiro selvagem, Casa das Letras, Casa das Letras, Cruz Quebrada, 1982/2007, p. 161: participação: Bruno Cunha)