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Rutka Laskier, O Diário de Rutka, Sextante, Lisboa, 2007 (lançamento na próxima semana).
ePré-publicação:
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"O diário de Rutka
Janeiro-Abril, 1943"
Janeiro-Abril, 1943"
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"19 de Janeiro de 1943
Mal posso acreditar que estamos já em 1943, é o quarto ano deste inferno. Os dias passam depressa, uns iguais aos outros. Sempre o mesmo tédio nojento e pegajoso. A cidade está em grande alvoroço.
[…]
27 de Janeiro de 1943
Hoje estou estranhamente bem-disposta. Quase que invadida por uma alegria, uma felicidade, da qual não me apercebi. Como se tivesse inspirado toda a alegria, toda a distância incomensurável. E o mais importante é que não tenho saudades. Noutros dias, sinto-me completamente absorvida pela nostalgia de algo de belo, maravilhoso e distante. Acho que só me poderia sentir aliviada se me encontrasse num sítio bonito, olhando para paisagens maravilhosas. Quando estou à beira-rio e olho para a cascata a jorrar, sinto algo dentro de mim que se levanta e vai para longe…
[…]
5 de Fevereiro de 1943
O círculo está cada vez mais apertado. No mês que vem já deve haver gueto, um gueto de verdade, cercado por muros. No Verão, vai ser insuportável estar tanto tempo numa prisão, não ver flores nem campos. No ano passado, andei pelos prados, apanhava sempre muitas flores, o que me lembrou que qualquer dia deve dar para ir à Rua Malachowska sem sermos deportados, ir ao cinema à noite… Já estou tão «submergida» com os horrores da guerra que as piores notícias não me fazem impressão nenhuma. Não posso acreditar que algum dia poderei sair de casa sem a estrela de David, que a guerra acabará completamente. Estou curiosa sobre como será, talvez enlouquecesse de alegria.
[…]
Meu Deus! Oh Rutka, já deves ter endoidecido, porque já estás a chamar por Deus, como se Ele existisse. Este niquinho de fé que costumava ter já se quebrou completamente. Se Deus existisse, Ele não teria seguramente permitido que seres humanos fossem atirados vivos para fornos, nem que cabeças de criancinhas fossem esmagadas por cabos de pistolas ou amontoadas em sacos e gaseadas até à morte… Soa como uma ficção. Aqueles que não viram nunca hão-de acreditar. Mas não é uma lenda, é a verdade. Como a vez em que bateram num velho até ele ficar inconsciente, porque não tinha atravessado a rua como devia. Só isto já é absurdo. Mas não é nada, desde que não haja Auschwitz… e um cartão verde… O fim… Quando é que virá?..."
Mal posso acreditar que estamos já em 1943, é o quarto ano deste inferno. Os dias passam depressa, uns iguais aos outros. Sempre o mesmo tédio nojento e pegajoso. A cidade está em grande alvoroço.
[…]
27 de Janeiro de 1943
Hoje estou estranhamente bem-disposta. Quase que invadida por uma alegria, uma felicidade, da qual não me apercebi. Como se tivesse inspirado toda a alegria, toda a distância incomensurável. E o mais importante é que não tenho saudades. Noutros dias, sinto-me completamente absorvida pela nostalgia de algo de belo, maravilhoso e distante. Acho que só me poderia sentir aliviada se me encontrasse num sítio bonito, olhando para paisagens maravilhosas. Quando estou à beira-rio e olho para a cascata a jorrar, sinto algo dentro de mim que se levanta e vai para longe…
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5 de Fevereiro de 1943
O círculo está cada vez mais apertado. No mês que vem já deve haver gueto, um gueto de verdade, cercado por muros. No Verão, vai ser insuportável estar tanto tempo numa prisão, não ver flores nem campos. No ano passado, andei pelos prados, apanhava sempre muitas flores, o que me lembrou que qualquer dia deve dar para ir à Rua Malachowska sem sermos deportados, ir ao cinema à noite… Já estou tão «submergida» com os horrores da guerra que as piores notícias não me fazem impressão nenhuma. Não posso acreditar que algum dia poderei sair de casa sem a estrela de David, que a guerra acabará completamente. Estou curiosa sobre como será, talvez enlouquecesse de alegria.
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Meu Deus! Oh Rutka, já deves ter endoidecido, porque já estás a chamar por Deus, como se Ele existisse. Este niquinho de fé que costumava ter já se quebrou completamente. Se Deus existisse, Ele não teria seguramente permitido que seres humanos fossem atirados vivos para fornos, nem que cabeças de criancinhas fossem esmagadas por cabos de pistolas ou amontoadas em sacos e gaseadas até à morte… Soa como uma ficção. Aqueles que não viram nunca hão-de acreditar. Mas não é uma lenda, é a verdade. Como a vez em que bateram num velho até ele ficar inconsciente, porque não tinha atravessado a rua como devia. Só isto já é absurdo. Mas não é nada, desde que não haja Auschwitz… e um cartão verde… O fim… Quando é que virá?..."
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Actualização das editoras que integram o projecto de pré-publicações do Miniscente: A Esfera das Letras, Antígona, Ariadne, Bizâncio, Campo das Letras, Colibri, Cotovia, Gradiva, Guerra e Paz, Livro do Dia, Magna Editora, Magnólia, Mareantes, Publicações Europa-América, Quasi, Presença, Sextante Editora e Vercial.