Vem aí, em Dezembro, a primeira edição integral de:
Jacques Prévert, Palavras/Paroles, tradução: Manuela Torres, Sextante, Lisboa, 2007.
eePré-publicação:
e
"A PESCA À BALEIA"
e
À pesca à baleia, à pesca à baleia,
Dizia o pai, numa voz furibunda,
Ao seu filho Prosper, escondido no armário,
À pesca à baleia, à pesca à baleia
Tu não queres ir,
Mas porquê?
Mas porque é que eu hei-de ir pescar um animal
Que não me fez nenhum mal, papá,
Vai lá tu pescá-la, já que te apetece,
Eu prefiro ficar em casa com a mãezinha
E com o primo Gaston.
Então o pai foi sozinho no seu baleeiro
Enfrentar o mar encapelado…
Eis o pai no mar alto
Eis o filho em casa
Eis a baleia em fúria
E eis que o primo Gaston entorna a terrina da sopa,
Com o caldo a ferver.
O mar estava mau,
Mas a sopa estava boa
E eis Prosper desolado na cadeira:
Acabei por não ir à pesca à baleia,
E afinal porquê?
Talvez a pescássemos,
E então eu comia-a.
Mas eis que a porta se abre
E surge o pai encharcado
E esbaforido
Com a baleia às costas.
Lança o animal sobre a mesa, uma bela baleia de olhos azuis,
Uma baleia como nunca se viu,
E diz numa voz desabrida:
Tratem de a esquartejar,
Tenho fome, tenho sede, quero comer.
Mas eis que Prosper se levanta,
Olhando o pai no branco dos olhos
No branco dos olhos azuis do pai,
Azuis como os da baleia de olhos azuis:
E porque é que eu hei-de esquartejar um bicho que não me fez mal nenhum?
Que se lixe, prescindo da minha parte.
E atira a faca para o chão,
Mas a baleia pega nela, corre para o pai
E trespassa-o.
Ah, ah!, exclama o primo Gaston
Faz lembrar a caça, a caça às borboletas.
E eis Prosper a fazer as participações,
A mãe de luto pelo pobre marido,
E a baleia, de lágrima no olho, ao ver o lar desfeito,
De súbito exclama:
Mas porque é que eu fui matar este imbecil?
Agora os outros vão perseguir-me em barcos com motor fora de bordo
E vão exterminar toda a minha família.
Então, rompendo num riso arrogante,
Dirige-se para a porta e diz
Ao passar pela viúva:
Minha senhora, se alguém perguntar por mim,
Diga por favor:
A baleia saiu,
Sente-se
E espere,
Daqui a quinze anos ela há-de voltar…"
eDizia o pai, numa voz furibunda,
Ao seu filho Prosper, escondido no armário,
À pesca à baleia, à pesca à baleia
Tu não queres ir,
Mas porquê?
Mas porque é que eu hei-de ir pescar um animal
Que não me fez nenhum mal, papá,
Vai lá tu pescá-la, já que te apetece,
Eu prefiro ficar em casa com a mãezinha
E com o primo Gaston.
Então o pai foi sozinho no seu baleeiro
Enfrentar o mar encapelado…
Eis o pai no mar alto
Eis o filho em casa
Eis a baleia em fúria
E eis que o primo Gaston entorna a terrina da sopa,
Com o caldo a ferver.
O mar estava mau,
Mas a sopa estava boa
E eis Prosper desolado na cadeira:
Acabei por não ir à pesca à baleia,
E afinal porquê?
Talvez a pescássemos,
E então eu comia-a.
Mas eis que a porta se abre
E surge o pai encharcado
E esbaforido
Com a baleia às costas.
Lança o animal sobre a mesa, uma bela baleia de olhos azuis,
Uma baleia como nunca se viu,
E diz numa voz desabrida:
Tratem de a esquartejar,
Tenho fome, tenho sede, quero comer.
Mas eis que Prosper se levanta,
Olhando o pai no branco dos olhos
No branco dos olhos azuis do pai,
Azuis como os da baleia de olhos azuis:
E porque é que eu hei-de esquartejar um bicho que não me fez mal nenhum?
Que se lixe, prescindo da minha parte.
E atira a faca para o chão,
Mas a baleia pega nela, corre para o pai
E trespassa-o.
Ah, ah!, exclama o primo Gaston
Faz lembrar a caça, a caça às borboletas.
E eis Prosper a fazer as participações,
A mãe de luto pelo pobre marido,
E a baleia, de lágrima no olho, ao ver o lar desfeito,
De súbito exclama:
Mas porque é que eu fui matar este imbecil?
Agora os outros vão perseguir-me em barcos com motor fora de bordo
E vão exterminar toda a minha família.
Então, rompendo num riso arrogante,
Dirige-se para a porta e diz
Ao passar pela viúva:
Minha senhora, se alguém perguntar por mim,
Diga por favor:
A baleia saiu,
Sente-se
E espere,
Daqui a quinze anos ela há-de voltar…"
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