domingo, 11 de novembro de 2007

Episódios e Meteoros - 56

e
(crónica publicada desde anteontem no Expresso Online)
(ver também no meu
blogue de crónicas)
e
Na manhã da passada segunda-feira, como que a abrir o espesso cortinado da semana, Santana Lopes fez uma verdadeira revelação profética. Na sua habitual crónica da TSF, anunciou que o dia 6 de Novembro, data de início da discussão do orçamento geral do estado, iria marcar o despertar de "um novo ciclo político".
e
A História - com letra grande - conforma-se com as balizas que lhe são propostas, sempre que nelas reconhece a convicção. Sempre foi assim. Aliás, a declaração de Santana não foi vã. Muito longe disso. No mesmíssimo dia, dez anos depois de 1975, Cavaco também iniciava um novo ciclo político. É este paralelismo que, pela voz do ex-primeiro ministro, dá luz à revelação como confere ainda ao seu novo desempenho parlamentar um renovado empenhamento.
e
Tal como era próprio da literatura do profeta Daniel, também Santana apresenta as suas "visões" acompanhadas da respectiva interpretação. Tudo muito límpido, de acordo com uma tradição em que a primeira obra aguarda sempre a sua conclusão providencial (é o caso da relação entre o primeiro e o segundo Zacarias que estão separados entre si por dois séculos). Aliás, o tema do retorno do herói salvador é clássico.
e
Santana Lopes conhece como ninguém estas realidades e encarna-as com naturalidade. E sentido de dever. Trata-se, ao fim e ao cabo, de uma longa história, que é a sua, e que tem antecedentes que são do conhecimento público. Bastará ler a profecia Sibila Tiburtina (séc. IV), o Pseudo-Methodius (séc. VII), a Carta de Adso (séc. X), as Calamidades da Igreja de Liège de Rupert de Deutz (séc. XI), a Investigação do Anticristo de Gerhoh de Reichersberg (séc. XII), as Duas cidades de Otto de Freising (séc. XII), a Árvore da vida de Ubertino de Casale (séc. XIV) e sobretudo o final do famoso Prognosticatio de João Lichtenbergen (este último já do séc. XV).
e
Bem podem autores menores, como Frank Kermode, afirmar que os homens "precisam de concordâncias fictícias com origens e fins para dar significado à vida". Santana Lopes, ainda que bastante incompreendido, não cabe em tal análise. E há momentos em que a História apenas espera por um simples aceno para que a verdade se transforme finalmente em obra. O providencialismo dos comunistas, dos mais diversos Mahdis e dos próprios Fraticelli (proibidos pelo Papa Pio V em 1568) ficaram pelo caminho. Todos sabemos como. Mas Santana não. E a procissão ainda vai no adro. Melhor: o cortinado da História acaba agora mesmo de se abrir!