quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Cerveja e literatura - 18

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E... depois há escritores de que se gosta muito. Mesmo muito. Patrícia Melo faz parte dessa minha escassa galeria. Encontrar cerveja na sua obra não é tarefa do alvor cinematográfico. De facto, o agraciado líquido, não sendo abundante, cruza-se razoavelmente com situações e personagens como se cruzará, no mercado de Belém, a “carne, o perfume, a geladeira, tralha para umbanda, artesanato, peixe roupa, panela, fruta, comida, peça para fogão, planta para arranjar marido”, tudo. Mas antes de qualquer chegada a Belém, a cerveja – aliás uma cerveja bastante acompanhada – acabará por intrometer-se na procura da verdade:
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“Quase não conversamos durante a viagem até Belém. Rôni não estava bem, transpirava muito, chegou a vomitar num saco de plástico.
Não me perguntou nada sobre a morte do meu irmão, e eu fiquei aliviado de não ter que contar que tudo saiu diferente dos meus planos. Minha ideia, enquanto eu ia para a casa de Adailson, debaixo do sol, com a barriga entupida de tucunaré e cerveja e a cabeça zonza de maconha, era inventar uma mentira e me picar.
Achei que ia resolver tudo na conversa. Enrolar.”
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(Patrícia Melo, Mundo Perdido, Campo das Letras, Porto, 2006/2007, p. 155)