e
E... depois há escritores de que se gosta muito. Mesmo muito. Patrícia Melo faz parte dessa minha escassa galeria. Encontrar cerveja na sua obra não é tarefa do alvor cinematográfico. De facto, o agraciado líquido, não sendo abundante, cruza-se razoavelmente com situações e personagens como se cruzará, no mercado de Belém, a “carne, o perfume, a geladeira, tralha para umbanda, artesanato, peixe roupa, panela, fruta, comida, peça para fogão, planta para arranjar marido”, tudo. Mas antes de qualquer chegada a Belém, a cerveja – aliás uma cerveja bastante acompanhada – acabará por intrometer-se na procura da verdade:
e
“Quase não conversamos durante a viagem até Belém. Rôni não estava bem, transpirava muito, chegou a vomitar num saco de plástico.
Não me perguntou nada sobre a morte do meu irmão, e eu fiquei aliviado de não ter que contar que tudo saiu diferente dos meus planos. Minha ideia, enquanto eu ia para a casa de Adailson, debaixo do sol, com a barriga entupida de tucunaré e cerveja e a cabeça zonza de maconha, era inventar uma mentira e me picar.
Achei que ia resolver tudo na conversa. Enrolar.”
E... depois há escritores de que se gosta muito. Mesmo muito. Patrícia Melo faz parte dessa minha escassa galeria. Encontrar cerveja na sua obra não é tarefa do alvor cinematográfico. De facto, o agraciado líquido, não sendo abundante, cruza-se razoavelmente com situações e personagens como se cruzará, no mercado de Belém, a “carne, o perfume, a geladeira, tralha para umbanda, artesanato, peixe roupa, panela, fruta, comida, peça para fogão, planta para arranjar marido”, tudo. Mas antes de qualquer chegada a Belém, a cerveja – aliás uma cerveja bastante acompanhada – acabará por intrometer-se na procura da verdade:
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“Quase não conversamos durante a viagem até Belém. Rôni não estava bem, transpirava muito, chegou a vomitar num saco de plástico.
Não me perguntou nada sobre a morte do meu irmão, e eu fiquei aliviado de não ter que contar que tudo saiu diferente dos meus planos. Minha ideia, enquanto eu ia para a casa de Adailson, debaixo do sol, com a barriga entupida de tucunaré e cerveja e a cabeça zonza de maconha, era inventar uma mentira e me picar.
Achei que ia resolver tudo na conversa. Enrolar.”
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(Patrícia Melo, Mundo Perdido, Campo das Letras, Porto, 2006/2007, p. 155)
(Patrícia Melo, Mundo Perdido, Campo das Letras, Porto, 2006/2007, p. 155)