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Sempre pensei que uma greve geral fosse o culminar de episódios insanáveis, únicos e gravíssimos. Nada disso me parece hoje existir. É como um romance que salta das primeiras páginas, meio adormecidas, para um clímax sem grande sentido. Quem mobiliza uma greve como esta recorre a um conceito singular de "trabalhador", uma espécie de auto-propriedade, e não entende que entre a imagem do "adquirido" e os modelos de estruturação das sociedades actuais existe um fosso imenso por preencher (e é o preenchimento desse fosso que devia ser a real preocupação dos sindicatos). Toda a gente sabe há muito que o rei vai nu: em alguns casos, há trinta anos que os mesmos maduros dirigem os sindicatos sem qualquer relação com o mundo efectivo do trabalho. Como ontem escrevia, estamos perante uma terapia dos direitos. Qualquer pessoa civilizada saberá defendê-los, apesar das aberrações e das manobras partidárias. Agora, repito, tal como acontece a imensa gente bloqueada pelos transportes de modo arbitrário, também a mim este dia me calha muitíssimo mal por razões óbvias: as do trabalho, mais precisamente.