sexta-feira, 17 de junho de 2011

Conteúdos - cânone - 11 (rede)

7 e

Quando comunico a ideia de rede, veiculo o que tenho a veicular. Mas, ao mesmo tempo, sigo o que o guião do conteúdo “rede” me diz sobre o lugar que ocupamos e os lugares onde interagimos numa vastíssima conexão aparentemente sem fim, nem hierarquias.
t
A rede é um daqueles conteúdos que tende a surgir em todas as épocas e que serve essencialmente para enquadrar o todo da realidade, para a designar de modo confortável ou até para a tentar explicar de uma maneira económica. No nosso tempo, a simulação de extrema proximidade atravessa, quer o sentido criado pelos dispositivos tecnológicos, quer a interacção – quase corporal e estésica (intensíssima a nível sensorial) – que o ser humano passou a estabelecer com esses dispositivos. A rede decorre desta assunção criada pelos interactores digitais e pelas mediações humanas que com eles concorrem em permanência. Na rede, a diferenciação entre actores e personagens discretos não é relevante, pois o que a significa é o esteio pancomunicacional. Há na rede uma gramática holística – ou totalizante – que se assemelha à visão medieval de deus ‘todo poderoso’, embora o regime vertical (céu-terra) tivesse sido substituído por uma espécie de majestoso e infindo ‘self-service’ (chão a todos os níveis). Este nivelamento da estrutura clássica desestrutura, do mesmo modo que a coerência de todas as relações sistémicas clássicas é, na rede, ‘assistemizada’. A rede é um conteúdo extremamente eficaz, pois reúne, na sua brevidade, a larga maior parte dos mecanismos de significação do nosso dia-a-dia. A rede é efectivamente uma espécie de 'story line' de um guião maior, capaz de colocar em cena a totalidade da nossa vida actual.