quarta-feira, 15 de junho de 2011

Conteúdos - cânone - 10 (dever)

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Quando exprimo a ideia de dever a alguém, veiculo o que tenho a veicular. Mas, ao mesmo tempo, sigo o que o guião do conteúdo “dever” me diz – se for ainda possível decifrá-lo – acerca de uma certa determinação íntima para agir.
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O que já foi tracção, contenção e freio auto-impostos passou a corresponder a uma lógica de mãos soltas. O que se faz, faz-se com fôlego de contracultura embora sem qualquer alvo a destronar. Uma liberdade que não quer ter na sua frente qualquer obstáculo que a caracterize, embora Hobbes a tivesse definido, precisamente, como uma força que se expande até ao momento em que encontra um obstáculo. Sem obstáculo, sem tracção e sem alvo, a liberdade passa a ser um corpo sem pele. O dever é a entidade invisível que separa esse corpo dessa pele. O dever é hoje uma efígie ou um enigma sem história e não já uma determinação íntima com consequências reais. Um vórtice de narcisismo, fluxo, consumo e de repetição da repetição passou a habitar a casa do dever. A ordem que no tempo das regras axiais instaurou o dever como algo natural passou da nuvem que lhe dava a natureza a um vazio ainda à procura de nome.