Luís Amado é uma boa solução. Qualquer alma equilibrada o imaginará, mesmo antes de saber do jantar pré-carnavalesco que envolveu o presidenciável Gama, o próprio Amado e o ministro das finanças, Teixeira dos Santos. Todos os calendários e todo o juízo do mundo aconselham à não realização de eleições. Sócrates, ao sair, levará consigo várias imagens. Dar-nos-á, portanto, a imagem de uma procissão com outros santos, com outros andores, com outras preces e com outras promessas. Dar-nos-á quase uma nova religião, numa palavra. O cenário ficará subitamente lavado. Amado tem silhueta de príncipe discreto e pouco terá que mexer na composição do governo. Trata-se de manter um bom técnico nas finanças – é o topo a que Teixeira dos Santos pode aspirar – e de cortar os vestígios da “calhandrice” (os nomes têm algo de comum: Silva Pereira e Augusto Santos Silva). Trata-se de desligar as conexões e os holofotes virados para jornalistas conhecidos, para Alcochete e para a intriga das escutas. Trata-se de repor a palavra liberdade que o velho PS anunciava em 1974. Trata-se de pôr em marcha o PEC. E trata-se sobretudo de respirar fundo e de tentar falar para além do horizonte da perpétua crise. Não é, pois, preciso qualquer moção de censura; o que é preciso é cortar a direito o cenário do circo a que se chegou. A solução parece óbvia. E razoável.