terça-feira, 12 de junho de 2007

Escavações Contemporâneas - 27


LC
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O sorriso do arquivo no tempo da rede
(hoje: Fernando Ilharco)
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"Somos Todos Soldados (II - 17/08/1998)
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Recuando um pouco, até ás bases cognitivas do ser humano, sabe-se que é na linguagem que o homem se faz homem, construindo o entendimento dum mundo sempre a acontecer. Porque esse mundo é prioritário ao próprio sujeito, o acontecer implica que o sujeito e o mundo estão mutuamente ajustados. O sujeito – ou sujeitos – influenciam o rumo que os acontecimentos tomam. Mas é o mundo, enquanto envolvente externa, que prevalece no necessário ajustamento estrutural entre os dois. Este ajustamento é inevitável, intuitivo e não planeado. É a própria essência do ser vivo: é estar vivo. Isto significa que o conhecimento é o que permite uma adaptação com sucesso ao meio envolvente. Ou seja o conhecimento é o que permite sobreviver. Daí que a melhor forma de conhecer, e por isso de sobreviver, seja influenciar decisivamente a evolução do meio envolvente.
Num excelente artigo no “Le Monde Diplomatique” (Agosto de 1996) intitulado “Comment la pensée devint unique”, Susan George, directora do Transnational Institute de Amesterdão, reflecte como as coisas na politica e na economia se tornaram o que são. Lê-se: “o catálogo das ideais que exercem a hegemonia nas políticas públicas e que, graças ao seguidismo dos media, invadem os espíritos não são mais “naturais” que quaisquer outras: o neo-liberalismo, que recupera simplisticamente doutrinas do inicio do século XIX, começou na indiferença geral a colocar as peças no lugar após a Segunda Guerra mundial. Algumas dezenas de anos mais tarde, graças à inteligência estratégica dos seus promotores e a milhões de dólares de financiamentos – apesar dos resultados geralmente desastrosos – ele tornou-se a base do pensamento único”.
“Saber é estar apto a operar adequadamente de um ponto de vista individual em situações de cooperação”, escrevem Humberto Maturana e Francisco Varela, biólogos chilenos de renome mundial, em “The Tree of Knowledge” (1992). A biologia, nomeadamente na sua variante em impacto crescente que se centra no conceito de autopoiesis, diz-nos mais. O que faz mudar ou variar um ser vivo não é directamente a envolvente externa. Essa envolvente apenas pode despoletar alterações nesse mesmo ser vivo. Essas alterações são determinadas por aquilo que o ser vivo já é. Não são mudanças previsíveis, são mudanças despoletadas. Desta forma, a comunicação entre seres vivos – entre dois ou mais seres humanos – só é possível se existir correspondência no domínio da interacção. Isto é, os homens que comunicam estão necessariamente estruturalmente ajustados no seu meio.
Um exemplo recente disto mesmo é protagonizado por certas práticas na Internet. Material que há uma década ou menos levaria o carimbo de top secret, for no one, ou coisa do género, está hoje na Internet disponível para todos: chineses, iraquianos, iranianos, americanos malucos e não malucos, portugueses, etc. Claro, que ninguém inadvertidamente colocou o papel na net… Mas se é de propósito então qual é a intenção? É simples: influenciar as regras do jogo. Influenciar a envolvente em que os bons e os maus se vão confrontar no futuro - “o que é tudo, senão o que pensamos de tudo?” (Fernando Pessoa). Claro que essa envolvente – esse entendimento do que é o mundo – é tão mais favorável a quem coloca o material na net, quando mais gente o ler… menos eu, claro. Porque não há almoços grátis – continua a não haver embora por vezes apareça gente nova para os pagar – o que os bons/maus tentam fazer é influenciar o ajustamento estrutural, o qual afectando amigos, inimigos e intermediários, venha a favorecer os próprios. Convenhamos que não está mal visto.
Afinal de contas os marines, os satélites, as redes, os infravermelhos, perderam a guerra na Somália. Os somalis não viam as coisas da mesma maneira; não usavam o espectro rádio-eléctrico, nem tinham nova tecnologia nos seus sistemas de informação. E este é um problema sério. Não se fala muito nele, é certo. Mas se não o fosse um problema importante os EUA teriam ganho a guerra. Mas perderam-na – não contra outro exército, mas contra outra mundo.
Nesse outro mundo somos todos soldados. Contudo, numa coisa, ontem como hoje, tudo está na mesma. Poucos são os soldados que sabem de que lado estão. Porque poucos sabem quais são as guerras que correm."
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Segundas - João Pereira Coutinho
Terças - Fernando Ilharco
Quartas - Viriato Soromenho Marques
Quintas - Bragança de Miranda
Sextas - Paulo Tunhas
Sábados – António Quadros (António M. Ferro, Org.)