quinta-feira, 15 de março de 2007

Pré-publicações - 18

e
Padre Manuel Antunes (1918-1985) - Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia. Coordenação: José Eduardo Franco e Hermínio Rico. Prefácio: Eduardo Lourenço. Campo das Letras, Porto, 2007.
e
Pré-Publicação (do Prefácio de Eduardo Lourenço)
e
"A sua circunstância
e
Quando acordamos para a vida como o narrador da Recherche, damo-nos conta de que temos à nossa volta todas as constelações. As mais longínquas e abstractas, as do sol e das estrelas, e as mais próximas e mais íntimas que nós mesmos, as vozes familiares. Tudo pura contingência e nem uma vida basta para a converter em destino.
A circunstância do futuro jesuíta, pensador, ensaísta, filósofo da cultura, analista político e literário Manuel Antunes foi a de um meio provincial do nosso Portugal ainda profundo, porque isolado do mundo, arcaico e sublime ao mesmo tempo e, tanto quanto me é possível adivinhá-lo, uma dessas famílias cristãs, com uma mãe devota que maior glória não desejaria para si e os seus que ter um filho ao serviço de Deus. Ele o seria plenamente depois de uma adolescência estudiosa e uma decisão, a decisão absoluta da sua vida, de entrar e ser aceite na mais exigente, e discutida pelo mundo, das nossas ordens religiosas.
O Portugal da sua formação intelectual era, pelo menos na aparência, um país política e ideologicamente conservador, hostil ao sistema de partidos do primeiro quarto do século, modernista no seu desejo de acelerar e dinamizar a nossa atrasada vida económica, dizendo-se inspirado pela doutrina social da Igreja e tendo nessa mesma Igreja a sua referência e a sua caução simbólica e cultural. Nós somos filhos e herdeiros de muitas guerras, de tradição nossa ou influência alheia, e inscrevíamo-nos então numa vasta querela europeia, ou antes, numa crise geral do sistema democrático ocidental, contestado ao mesmo tempo e com uma virulência sem exemplo pelo autoritarismo fascista e pelos totalitarismos em marcha, do nazismo e sua ideologia cultural racista ou racialista, e soviético, de referência colectivista-socialista. Nada disto o Portugal onde Manuel Antunes se formou e viria a exercer o seu magistério cultural, viveu como na outra Europa se vivia – excepto na vizinha Espanha – mas de tudo isso recebeu ecos e a tudo esteve aberto, mas “à portuguesa”, ao “ralenti”e suavemente vigiado. Pelo menos até à Guerra de Espanha que inscreveu o país vizinho e, por consequência, o nosso, numa atmosfera de cruzada, antes de nos instalar por longos anos, os anos da Guerra Fria, no paradoxal campo do “mundo livre”."
e
Actualização das editoras que integram o projecto de pré-publicações do Miniscente: A Esfera das Letras, Antígona, Ariadne, Bizâncio, Campo das Letras, Colibri, Guerra e Paz, Magna Editora, Magnólia, Mareantes, Publicações Europa-América, Quasi, Presença e Vercial.