sábado, 10 de março de 2007

Histórias de um lançamento - 2

"Sou algo achegada a tonturas mas o tipo, o Carmelo, tinha que arranjar um sétimo andar de um prédio famoso para exportar um livro com nome de Deus."
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por Vanessa Godinho.
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“Aqui dá-se como se pode quase como se fala ainda que por tópicos que abortam desenvolvências:
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Do técnico liguei ao Fred a ver se catava uma boleia, estampei-me:
- Dou-te boleia de metro Vanessa que o meu carro está velhinho.
E lá fui de encontro ao dear Fred metro abaixo.
Aportamos no edifício El Corte Inglês, que me é de rara visita e nunca supus ter tão elevada estatura. Sou algo achegada a tonturas mas o tipo, o Carmelo, tinha que arranjar um sétimo andar de um prédio famoso para exportar um livro com nome de Deus. Fosse por Deus, fosse pela boca do Alfredo, perdi o medo. O cientista maluco disse-me certeiramente ao chegar ao sétimo:
- Na Correia do Sul (ou país que se pareça) um prédio igualzinho a este ruiu com 1500 pessoas dentro.
Tendo o condão de me explicar precisa e detalhadamente porquê.
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Mas eu ia ao encontro de uma porta com Deus dentro e, fosse a fantasia, fosse o romance, que de acordo com o autor é uma coisa com vida própria que sobeja-se pelos becos das nossas casas correndo-nos pelos membros e não aguentando segredos, lá fui a tiracolo do Alfredo, procurando imaginar que os seus olhos de lince são mais musculados do que o corpo e proteger-me-iam do prédio e das fobias todas, que nem sei muito bem se tenho, pois são pouco seguras, mas parece-me que sim que as tenho talvez, perhaps, assim-assim.
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A Clara Piçarra manda-me uma tímida mensagem avisando que estava sentada em frente à loja das sopas. Esperamos por ela no sexto andar. Implodiu de um elevador que parecia muito prenhe de indivíduos, e trazia na cara um smile amarelo com o nome anunciado em letras gordas. Literalmente. A rapariga tinha um cartaz pintado na cara. Genial! Absolutamente genial!
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Não havia como dizer, será, não será, essa rapariga de olhos claros e riso de travessa a Clara? Era ela, e revelou-se igual ao smile. Um piropo de pessoa.
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Uma vez lá em cima, no sétimo céu do romance, vimos uma Tia chic, de impecável indumentária, e perdoem-me a falta de decoro, magníficos pára-choques. A Patrícia Grade, a nossa alma de fórum, menina de modos leves e alegres, que dispõem bem qualquer momento.
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Começamos a dança do “Entramos, não entramos, entramos, não entramos”…Fred diz:
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- Stop! Stooooop que há que esperar pela Guidinha.
- E quem é a Guidinha? – Parece perguntar a Clara.
- Obviamente que a Guidinha é a mulher do Fred! – Replicamos indignadas pelo óbvio da situação que qualquer psíquica que se preze imagina. A Guidinha gente! A santa paciência em pessoa. Só assim aguenta um bando de pacóvios a falar de fóruns e diálogos, a tirar fotografias como se não houvesse amanhã e barulhando qual miúdos da primária, porque a excitação não é terreno infértil aos adultos. Essa é a Guidinha. Uma paz de alma.
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Nisto passa uma careca luzidia e bem polida.

- É o Francisco. – Diz a Patrícia, sempre à frente da nau.
- Não, não … não tem óculos! – Conclui a Clara.
- Pois, não parece ser ele. – Remato.
- É mesmo o Barão estou-vos a dizer! – Exclama a dona Pat. E contra Pat não há argumentos.
O Barão fez-se à trupe com passos serenos e sólidos. Seguro da sua bela careca e cheio de boa onda.

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Entramos todos empalhados, com ar de quem vai às batatas. Olhei e acenei.
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- Estás a acenar para quem? Afinal? Conheces aqui gente? – Pergunta a nossa Patrícia afoita, surpresa, espantada, indignada.
- Estou a acenar ao Sérgio Godinho e uns quantos comparsas que costumam tocar rabeca comigo…hummm…apenas estou a ver se chamo a atenção do Luís.
- Ah! – Respira como quem diz “ai de ti que saias daqui levas imediatamente no focinho!” (A Pat é um sossego desconfiem das minhas palavras).
- Oh! Olha o Alfredo! Já ali na conversa com o Luís e uns outros! Olha, olha! E nós?

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(desculpem, conto isto a rir e sei que a Patrícia e os restantes retratados terão o bom humor de me perdoar, pois as inverdades confundem-se por aqui com a realidade. É dessa coisa do romance do Luís que anda por aí à solta metendo-se nas realidades dos outros como se lhe pertencessem)
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O nosso professor Pardal (Alfredo) foi de conversa e entornou uns quantos copos de sumo de laranja. E nós mantivémo-nos algo compactos e contemplativos. Compramos o Livro do LC, melhor esse romance metediço, tomem cuidado que nesse preciso momento ele está a falar da vossa história anímica insuspeita.
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Assim aparece:
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Um tipo impecável de bigode bem tratado, cabelo grisalho atinadinho e óculos de bom moço. Vem tão devagar que quase não acontece. E ao passar por nós mete o nariz no meio, bem no meio de todos, arregala os olhos e pergunta como um polícia à paisana:

(- Do LEC? – Laboratório de Escrita Criativa....)
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Mas do LEC como caríssimo Nunes! Manuel Nunes. Do LEC sociedade secreta dos esventrados da memória, ou do LEC senha de passe para o clube dos poetas mordidos? (sim ouvi dizer que a poética esmagou muito boas letras) Seja lá o que for, é certo que alguém lhe respondeu à atitude sorrateira com um murmúrio insuspeito.
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- Simmmmmmmmm somos nós! Todos do LEC. – A Clara e a Patrícia, ou fui eu? Não sei. Prefiro que sejam elas. Eu quero ser a heroína da historia, segura e perfeita, se a historia é narrada por mim, posso ser quem quiser…ou não?
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Não sei. O romance do Luís anda por todo o lado, ainda me leva para os caminhos da Rute Monteiro.
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E o Manuel achegou-se ao núcleo. É quando então aparece um jovem metrosexual, de fato cinza e camisa rosa fashion, caracóis domados e bem laminados num estilo afro europeu saído da Vogue, sorriso estampado desses que não precisam de nome para ser risonho, e uma atitude muito, meus amigos, muuuuuito cool! Qual Tarantino? Qual Jhon Travolta? Qual Al Pacino Qual Robert de Niro? …qual nada para esses! Luís Carmelo meus amigos, Luís Carmelo! Uma mistura desses 4 magníficos, com pinta e tranquilidade …o senhor é um primor. A suavidade em pessoa.
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Chamou-nos a todos pelo nome, ou assim imaginei pois a hesitação foi pequena, e os poucos instantes que pôde nos dedicar foram de uma recepção calorosa e espontânea. Isso, eu sei, não imaginei, nem me disse a Rute Monteiro. Ando sedenta para ler o romance só por causa desse nome sinistro. Eu sei que deve ser alguém seu conhecido Luís mas por Cristo, Rute Monteiro é sublime! É assim robusto…com o Mauro nas canelas não consigo lhe mandar a emoção da repetição que ecoa na minha cabeça, ela é o nome do pecado!
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O evento foi muitíssimo agradável, espontaneidade a rodos, informalidade q.b e sala cheia. Falou uma antiga aluna do LC que deu o toque de abertura, entregou a palavra ao chefe da Guerra e Paz que impressionou pela ferocidade com que lançaram o livro do LC no mercado, a campanha mais agressiva da guerra e paz, depois veio o Viegas assustar-nos com os meandros loucos da feitura da coisa, os personagens confusos que sem normas domam realidades e assomam ficções, e ele só queria era ver o jogo do Porto. Plateia risonha nas suas palavras, por vezes leves, outras vezes mais densas, mas sempre focando o que de facto importava, o livro e o autor. O jovem LC quando tomou a palavra fê-la jorrar como água, falou de si, e do corpo do livro físico que escreveu, falou das polémicas com leveza e quanto a mim além de artista deveria ser o director da obra que já lhe ultrapassou há muito tempo. A obra vê-se na net, vê-se nos acontecimentos que ele contou antes do futuro que é agora, “the man is not a writer the man is a psiquic!”
Parabéns LC.

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Saímos de caminho para casa, mas num acto de aqui agora, decidimos jantar por ali, sopas e crepes, tudo acontecendo em simplicidade de momento absorvente e voluntário. Parecia que nos conhecíamos de outros jantares. A conversa caía fluida por sobre temas diversos, ainda que a comunhão tivesse sido o LEC havia muitas outras empatias.
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Estou capacitada para embebedar muito boa gente e fazer umas experiências de cozinha (que quase sempre me corre mal mas tenho coragem e afecto suficiente para a entrega).
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Um abraço"