terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Os mil cuidados

e
Nos ‘Pós e Contras’ de ontem viram-se frente a frente dois mundos que, na aparência, não se conseguem fazer traduzir um ao outro. É como se campos metafóricos de naturezas muito diversas tivessem estado face a face. Um desses mundos observa um registo pragmático de ocorrências (que sempre existiu e há-de existir) e tenta salvaguardar a liberdade e os cuidados que lhe deverão assistir. O outro mundo parte de um acto fundacional e condena em absoluto essas ocorrências, sem querer depois ponderar as questões que inevitavelmente se revelam a juzante, nomeadamente a liberdade, os cuidados e o mercado paralelo e abjecto que existe diante dos nossos olhos. Ambos condenam o aborto, é claro, mas um tenta atacar os seus danos óbvios e descriminalizar, enquanto o outro profere valores mas esquece que proferir valores não é suficiente para resolver problemas. E aqui há, de facto, um problema para e por resolver. Como? É uma discussão saudável a ter, mas só quando o fantasma do perseguição criminal sair de cena. É por isso que eu digo Sim, um Sim livre de liberal que não cai naquela feérica tentação de quem imagina um jogo de Communards entre barricadas que radicalmente se excluem. Nos próximos dias, o Sim poderá abrir a via da vitória se souber mostrar ao grande público que “proferir valores por proferir não resolve nada”. Mas também é verdade que diálogos como os da “Kátia vs. Lídia” são o esteio natural para uma nova vitória do Não.