domingo, 30 de abril de 2006

Maias

O trabalho que dá pensar num dia votado aos dons do trabalho! Quem sabe se o objecto do pensamento não será uma ou outra mudança neste blogue? Ou, talvez, vá-se lá adivinhar, tão-só uma grande almoçarada com amigos no próprio dia 1 de Maio? Tudo é possível (entretanto, as ameixas vão crescendo com força inusitada e segredam aos ramos da bela árvore que o tempo solar é já um comboio ascendente)!

sábado, 29 de abril de 2006

Acontece a todos

Há dias, como hoje, em que sabe melhor cortar a relva do que escrever no blogue.
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P:S: - Mas é também, num dia destes aparentemente sem lua nem quebrantos, que se entra no Bomba e se tem de graça a mais súbita e nostálgica aparição electro-estética! Obrigado, Carla!

sexta-feira, 28 de abril de 2006

A fita e a luz

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Sim, de facto, que nome terá um governo que é movido por abaixo-assinados no sacralizado campo da cultura (e logo na Cinemateca)?
Coisas normais (e já agora iluminadas) do que resta da evangelização.
Ontem, na Casa Fernando Pessoa, o editor da Antígona, Luís Oliveira, mostrava-se horrorizado com a "industrialização" do livro e dizia, por isso mesmo, que queria "mudar o mundo" e "humanizá-lo". Manuel Fonseca, da nova editora Guerra e Paz, lá foi dizendo que não era bem assim, que a indústria do livro sempre existiu e que não trouxe mal nenhum à livre escolha de cada um.
Mas vá lá um evangelizador compreender uma coisa destas!
Ele há mesmo quem veja a luz! Não há nada a fazer. Que tal um passeio cultural até Goa?

Parai o barco!

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Não, esta cidade não é da minha autoria. A única relação que tem com o Miniscente é que se chama Carmelo. Fica situada no sudoeste do Uruguai, a pouco mais de duzentos quilómetros de Montevideo. A actual cidade de Carmelo desenvolveu-se a partir da antiga aldeia de Víboras - imagine-se! - e foi fundada por José G. Artigas a 12 de Fevereiro de 1816 (fez este ano, portanto, precisamente 190 anos de vida). Claro que deverá fazer inveja a Buenos Aires.

Desliguei o rádio

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A regionalização em Portugal seria no plano político aquilo que o Fórum TSF é no exaltado plano matinal: uma expressão genuína e indígena aberta a causas como unir Gaia ao Porto, construir uma universidade pública em Viseu ou fazer a Ota em Beja. Sem pôr de lado o PCP que a utilizaria para ilusoriamente sobreviver mais uns tempos de vida. E o que dizer da gastronomia e dos longos antes-da-ordem-do-dia das assembleias regionais reservados à fina análise da situação política internacional (com vantajoso e natural acréscimo de moções na imprensa regional)?

Discurso directo

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"Os resultados que a selecção tem desde 2003 são os melhores resultados de todos os anos em que Portugal trabalhou. Foi 'vice' (-campeão da Europa) e nunca foi 'vice'. Foi campeão da qualificação e nunca antes foi com antecipação. Tem 12 ou 13 jogos sem perder. Se com tudo isso, ainda tenho que passar por uma prova dos nove tenho de pensar bem (...)"
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É altura para dizer que sempre gostei do Scolari. E creio que uma larga maioria do país o admira. Por mim, gostava de o ver no Benfica após o mundial.
Não me admiro nada que tenha tido por cá sempre os mesmos detractores. Não foi tanto por causa do arrastado e inútil Baíagate, mas sobretudo devido a pequenos ressentimentos, complexos e minúsculos mistérios da bílis. Camilo explicaria melhor do que eu.
Deixem Scolari procurar emprego à vontade. Não é isso que vai criar turbulência na habitual turbulência da seleccção lusa. O futebol é como o arco-íris: tem o brilho dos pavões e o granizo da má-fé. Com tudo isto, quem sabe se não teremos ainda a sorte de ver regressar à selecção o senhor Oliveira de Penafiel.

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Ainda a nova Berlim

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Berlim é um exemplo claro do que significa convocar a arquitectura e o design para tentar salvar as feridas que a montagem da história, em diferentes tempos, lhe conferiu. Pode dizer-se que a arte (após meados do século XVIII) sempre reivindicou uma ideia de criação que apostava numa oposição original entre mito e logos, assumindo claramente o plano daquele contra a perigosa racionalidade deste último. Por seu lado, o design e a arquitectura seriam a prova de que tal oposição nunca de facto existiu, sendo as suas formas o ponto de encontro entre o mito e o logos (da criação pura com a eficácia pragmática). Mais concretamente: o discurso sobre a arte, nos últimos dois séculos e meio, desenvolveu uma ideia de criação que se baseou no sortilégio e na imanência, o que aconteceu com maior enfoque na tendência “expressiva” (expressionismo, informalismo, body art, etc.), na tendência “onírica” (surrealismo, etc.) e na tendência “reducionista” (arte minimal, arte conceptual, etc.) e com menor enfoque na tendência “formativa” (cubismo, stijl, op art, etc.), na tendência “social”, (realismos expressivos: algum Picasso, alguma pop art, etc.) e na tendência de “arte útil” (bauhaus, construtivismo de Malevich, etc.). Já a história do design e da arquitectura teria resultado de uma ideia de criação que acaba por fundir a dimensão da “poeisis” criativa que a arte sempre reivindicou com a racionalidade e a eficácia aplicadas à expressão da cultura material. Ao reunir os dois termos que se reunem na invenção moderna - mito e logos -, o design e a arquitectura seriam não apenas a consecução plena de uma profecia metafísica (de origem romântica), mas também a consecução de uma conjectura lógica e moderna (de carácter racional). É por isso, talvez, que o singular diagnóstico berlinense está a ser tratado hoje em dia, com mil cuidados, pela dupla design-arquitectura.
Resta saber se a cura não estará enferma de outros males.
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Elevações de Campo de Ourique

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Hoje à noite (21h30), na Casa Fernando Pessoa, é tempo de Livros em Desassossego. Desta feita, a atenção vira-se para a nossa vertiginosa actividade editorial. Carlos Vaz Marques é uma vez mais o moderador, sendo o painel de debatentes composto por Manuel S. Fonseca (Guerra e Paz), Bárbara Bulhosa (Tinta da China) e Luís Oliveira (Antígona). Antes da ordem do dia, João Rodrigues (Dom Quixote) discorrerá ainda acerca dos livros que gostaria de ter editado no mês passado, enquanto Valter Hugo Mãe lerá alguns excertos do seu último romance, Desfocados Pelo Vento (QuidNovi). Lá estarei, é claro.

O mito geral

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Há um ano, o Benfica falava do Benfica ao festejar o campeonato. Este ano o FCP fala do Benfica ao festejar o campeonato. Pergunta: do que é que se fala quando se festeja um campeonato? Resposta: fala-se do Benfica. Conclusão: o Benfica é sempre o grande ingrediente de qualquer vitória. Está sempre lá, nos festejos. E é, por isso mesmo, que o Benfica é o mito mais activo de tudo e de todos: dos próprios e dos outros, dos benfiquistas e dos "anti". Viva o Benfica. Mais nada!

quarta-feira, 26 de abril de 2006

O encanto dos "mortinhos"*

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Ouçamos Kate Robin, o guionista ("writer") e produtor:
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"The dominant storyline is Brenda's. She and Nate are getting married, and she's pregnant, and she's embarking on this happily-ever-after life that she's been trying to achieve this whole time we've known her."
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Leiamos, no entanto, o resto da prosa HBO:
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"But on Six Feet Under, of course, nothing is ever that simple, and Brenda's happiness is soon collapsed by a miscarriage. How does that lead to Lisa crashing her wedding? And why is she being so vicious? Kate Robin takes us Inside the Script."
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Não vi o primeiro episódio da "Season 05", confesso. Prometo redimir-me, em princípio, nas restantes semanas que se adivinham solares.
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* designação colegial da série em minha casa.

Êxtases imateriais

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O "networking" - blogue que cita blogue - é uma prática comum e diária. Em grande parte da blogosfera, essa prática serve sobretudo para simular um prazer (reflexivo) e não tanto para dar sentido ao acto normal de citar. Que simulação de prazer é essa?
Permita-se-me a alegoria: a de um hamster branco que se julga num palco a ser observado e lido nos cinco continentes do mundo. Eu sei que a imagem é forte, mas é verdade que há muito onanismo no "networking" dos blogues, para além de alguma contaminação excessivamente doméstica (de grupo) e de um diminuta afirmação própria e substancial (i.e., entre o que creio ser uma vasta maioria de blogues abunda um leque muito intenso de processos retóricos basicamente auto-referenciais: fala-se mais sobre o que os blogues enunciam do que sobre objectos autónomos e livremente observáveis no mundo vivido). Nada de mal, claro. Apenas sinal dos tempos.

Dois aforismos de 26 de Abril

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Por que é que a larga maior parte dos portugueses ainda pensa que o estado é uma gigante máquina multibanco a que os governantes recorrem para publicamente financiarem o possível e o impossível?
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Numa democracia, mais do que um espaço de reivindicação a outrem, não será a liberdade sobretudo um espaço de criação, iniciativa e autonomia?

terça-feira, 25 de abril de 2006

Ainda a nova Berlim





Cooperação estreita

Repare-se nesta nota diplomática que surgiu num distinto blogue da nossa praça:
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"Hoje andei a passear um secretário de Estado finlandês pelo Bairro Alto, até há poucos minutos. A coisa tem mais pormenores, como reuniões de trabalho, uma ministra da Justiça loura, uma bochecha de porco com figos e um dossier com muitas folhas sem bonecos."

O peso da leitura

E eis que Hans Blumenberg me chegou em peso, digo bem, em peso, via Amazon (toda a gente sabe qual é o link).

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Memória breve

Há trinta e dois anos, neste mesmo dia, estava a ler um livro proibido que um colega me havia emprestado (muito à sucapa) na faculdade. Era do Nietzsche.

sábado, 22 de abril de 2006

Linhas de força

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Foi aqui, nesta praça hoje quase deserta, que teve lugar a bizarra queima de livros de autores judeus. Tudo se passou há quase setenta anos. Hoje, a imagem suplanta a memória: a ilusão da calçada, a geometria, o vazio, alguns sons de piano nas traseiras da Staatsoper. O que se apaga inscreve-se sempre noutro lado.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Ainda a Potsdamer Platz de Berlim

Potsdamer Platz, Ernst Ludwig Kirchner, 1914
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Ler aqui um estimulante artigo de Paulo Tavares sobre a Potsdamer Platz de Berlim (Arquitetura e esquizofrenia ou “não encontro Potsdamer Platz”-1). Há uma semana, percorri o que antes era o esvaziado espaço entre Leste e Oeste, hoje referências esvaídas e sem sentido. Mas permanece, entre o arrojo dos vidros e das formas, a sensação clara de que a arquitectura não resolveu o problema. Nem tinha que resolver. Uma praça desvivida será sempre uma memória e sobretudo um convite a uma futura sedentarização de paixões.

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Obrigado ao João Palla pelo envio do site!

Beckettianas

Um homem é atacado na Avenue d´Orléans e vai para o hospital com uma facada. Na enfermaria acaba por conhecer aquela que viria a ser a sua mulher durante meio século. Depois de curado, visita na prisão o malfeitor e pergunta-lhe cara a cara: "Porquê eu?". O senhor Strabber abriu os lábios e limitou-se a um frio: "Je ne sais pas". Não sei qual terá sido a reacção do autor de Murphy.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Faz hoje quinhentos anos (act.)

"Consolaçam ás tribulaçoens de lsrael de Samuel Usque"
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Faz hoje precisamente cinco séculos que teve lugar o Pogrom de Lisboa. Não deixarei de difundir mais uma vez o justo e pertinente propósito do Nuno Guerreiro:
eu
poster enviado por Joana Rabinovitch
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"No dia 19 de Abril vão à Baixa de Lisboa e no Rossio acendam uma vela simbólica por cada uma das vítimas. Quatro mil velas que iluminem a memória."
E
(A PARTIR DAS 19 H. NO LARGO DE S. DOIMINGOS/ROSSIO)
ee~
Muito escrevi sobre o assunto nos últimos dois anos e meio. Recuso-me hoje a entrar em quaisquer polémicas. À parte de tudo isso - o peso do presente é sempre o peso presente -, lá estarei no Rossio para cumprir um breve silêncio. Levarei a minha vela e acendê-la-ei. Espero que em comunhão com muitas outras pessoas. Há momentos que não são apenas históricos: são, sim, intemporais. Até logo.
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Mensagem de convocação:
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ATENDENDO AO APELO DE NUNO GURREIRO, DO BLOG "A RUA DA JUDIARIA" A

COMUNIDADE ISRAELITA DE LISBOA

JUNTA-SE A ESTA NOBRE INICIATIVA, ATRAVÉS DA MOBILIZAÇÃO DOS
SEUS MEMBROS E SIMPATIZANTES

AMANHÃ, 4ª FEIRA - DIA 19/4 - ÀS 19 HORAS
NO LARGO SÃO DOMINGOS (AO ROSSIO).
SERÁ RECITADA A ORAÇÃO DE KADISH E IZKOR EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DESTE MASSACRE.

POR SER AMANHÃ AINDA "CHAG E YOM TOV" (7º DIA DE PESSACH) AGRADECEMOS QUE OS MEMBROS DA CIL PARTICIPEM
NESTA MOBILIZAÇÃO ESTANDO TODOS PRESENTES NA ORAÇÃO.


VENHA. PARTICIPE E TRAGA A SUA FAMÍLIA !

terça-feira, 18 de abril de 2006

Beckettianas

Instalação-vídeo de Mathieu Ticolat: evocação de L´Innominable
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Passeio pelos blogues (para recuperar o tempo pascal perdido) e verifico, entre outras coisas, que na passada semana se editaram muitos rostos de Beckett. Todos gostamos de concordâncias e ritmos profundos, é certo. Numa perspectiva mais iconoclasta e pessoal, deixo-vos aqui uma história (excerto de excerto de uma breve história) beckettiana que se passou comigo há vinte e dois anos precisos.
Uma vez, era sábado e Primavera, fui levado a uma casa de fadas perto do Amstel. Recebeu-me uma senhora de idade, alta, com um olhar penetrante. A escada era estreita, as paredes exíguas, mas o impensável sótão, esse, era amplo e estava repleto de pinturas, instalações e esculturas. Madeiras retorcidas, cromatismos fortes, materiais puros, aparências "COBRA", muito metal, ferrugem e uma clara aversão à plástica clean. Era o museu privado de um artista que mal tinha sobrevivido a um campo de concentração japonês, na Indonésia. Ouvi histórias, vi imagens, segui rastos. Havia até rostos a pairar num areal imaginário. Onde tinha eu já visto aquilo tudo? À saída, talvez devido a uma inexplicável empatia, a dona da casa, que era viúva do artista desaparecido, deu-me para as mãos a primeira edição do L’Innominable (excelente livro de 1953 da Minuit). Há vaticínios assim.

"Complexity and Color": acto final

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Último acto: Pulo e Irene pisavam a terra e ao fundo havia árvores e rebanhos. E ao fundo havia ainda o orvalho que os segredava. Razão tinha a Cláudia quando pressagiou um lento e escondido amor por Pulo, o ressuscitado domador da lava.
Acto médio: Voreno pega na faca e a lua em pleno zénite escala ao limbo da mais pura tragédia. Níobe atira-se então da varanda como se fosse um meteorito sem redenção nem palavra: “The boy is blameless”. De repente, voltou de novo a não ser.
Acto único: Servília faz dos olhos de aço a sua própria parada maquiavélica. E assim se urde o mais do que previsível final desta excelente e já saudosa série: César cai no Senado, enquanto Voreno é arredado do seu caminho. Bruto reserva-se para o fim e só não tem a acompanhá-lo as celebradas palavras de Shakespeare. Marco António recua felinamente e Octaviano, ao sair de casa da astuta Servília, nem balbucia. O futuro é ainda uma suave conjura que parece arder muito ao longe.
Acto da alma: Uma coluna ergue-se nas ruas de Roma que aclamam a fúria e a voragem dos que se excedem. Gauleses e belgas piolhosos percorrem a cosmopolis. O pregador-mediador retalha a aragem com o seu gesto encenado. A sedução e o demónio afugentam-se e recobrem a frescura que os une. Os deuses sorrirão.
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Acto de partilha: De hoje a oito dias, inicia-se a "Série V" de Six Feet Under. Foi bom ver o behind the scene (In Memoriam), enquanto esperávamos pelo último episódio de Rome (“Kalends of February”). Tenho a certeza de que a veremos em conjunto.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

A barbárie volta a invadir Telavive

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Regressou a barbárie: uma pessoa mata-se e voluntariamente mata mais dez pessoas indefesas à sua volta. Deixa dezenas de feridos pelos passeios e ostenta-se num filme como se o acto fosse uma glória.

Anteontem, o programa "Sessenta Minutos" entrevistou um ex-compagnon de route de Bin Laden. No final, o homem apresentava o seu filho e falava dele com ternura. Concluía, afirmando: "Sinto-me orgulhoso por educar o meu filho, para que ele possa amanhã ser um mártir. Essa é a grande diferença entre nós".

Quem diz que o mundo não está dividido por uma guerra? Nada de esquerda e direita, nada de minorias e maiorias, ou ricos e pobres, classes e sindicatos. Nada disso. É uma guerra que vale pelo significado do próprio mundo em que vivemos.

A minha Páscoa e o sabor do efémero

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Sim, podia ter passado a Páscoa a ver a pasmaceira do canal Odisseia ou a ler a Ignorância do Kundera. Era quase o mesmo (que sacrilégio!).
Mas quase sem dar por isso, não foi assim que aconteceu. A verdade é que me vi sem mais nem menos dentro de um avião e, apesar de ter estado variadas vezes na Alemanha, nunca tinha estado ainda em Berlim. Ao contrário do que se possa pensar, uma cidade muito imaginada acaba sempre por ser alvo fácil de um lirismo rasgado que se veste, aqui e ali, com horrores e fantasmas imprevistos.
Desta vez, a divisa não falhou.
Vejamos: em Berlim há dois “produtos” que se vendem ao turismo de massas: o comunismo e o nazismo (não esqueçamos que o turismo de massas é, na actualidade, o lado mais vivo da sociedade mundializada de fluxos).
O primeiro é já visto como coisa exótica, pretexto para venda de relíquias, síndrome de marketing essencialmente juvenil. Mas nada, ou pouco, se vislumbra sobre o real terror do comunismo. A ferida anda por lá, mas disfarçada e areada pela contemporaneidade arquitectónica, pelos vidros da nova Praça de Potsdam e pelos generosos investimentos da Sony.
O segundo recebeu o nome de “topografia do terror” e é objecto de visitas guiadas a pé de três horas. O bunker de Hitler, a sede da gestapo e outros labirintos diabólicos do género são apresentados elipticamente e ao ar livre. É curioso que, ao contrário do Check-PointCharlie” que é contíguo a um museu sobre as desventuras históricas do muro de Berlim, o nazismo não seja tratado numa estrutura museológica fixa, nem tão-pouco seja alvo de uma intervenção urbana na zona da chamada “topografia do terror” (diga-se que o belíssimo Museu Judaico de Berlim supre parcialmente essa interessante lacuna).
No reverso destes dois "produtos", Berlim é hoje uma cidade pasmada de si, algo acinzentada, quase glacial, embora paradisíaca para designers, arquitectos, fotógrafos, músicos e amantes saudosos dos prodígios de Weimar. No entanto, para o mortal mais anónimo ou para o intelectual descrente da “criatividade da arte”, Berlim torna-se mal-parecida, reinventa-se pelo sabor do efémero e é alimentada por sombras sem grande encanto expressionista (a relação entre centros e periferia é um bom exemplo da exiguidade dessas sombras).
They could have done better.

domingo, 16 de abril de 2006

Vou ao Rossio na próxima Quarta-feira (act.)

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Faltam só já 2 dias para que se cumpram 500 anos sobre o Pogrom* (as matanças) de Lisboa. Continuo naturalmente a dar eco à proposta do Nuno Guerreiro (não comento as estranhas polémicas em curso; encontrei-as subitamente ao regressar a Portugal):
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"No dia 19 de Abril, vão à Baixa de Lisboa e no Rossio acendam uma vela simbólica por cada uma das vítimas. Quatro mil velas que iluminem a memória".
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Como já aqui escrevi, um país não se pode mutilar e continuar incólume e em silêncio face a si mesmo. Este blogue tem feito eco desta causa há já mais de dois anos. A 15 de Janeiro de 2004, escrevia-se aqui no Miniscente:
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"Um certo mutismo português adora esquecer os labirintos judaicos de Amesterdão, de Antuérpia, de Istambul ou do Recife que, afinal, lhe saíram da sua própria carne. Por que razão será muda a história oficial portuguesa acerca da implosão judaica de finais de século XV e inícios do século XVI? Independentemente de tal mudez, a verdade é que não há português que não traga consigo um pouco de Israel e, no entanto, parece disfarçá-lo com uma leviana saudade da escuridão, com uma timidez pessoana e quase mitológica, com uma ignorância tétrica e, às vezes, com uma apaixonada tentação pela erradicação memorial (tantas vezes pressionada pelos fluxos ideológicos de conjuntura). É como se, na frente de um Portugal marmóreo e cristalizado, apenas ficasse o mar e as suas lendas a sós, apenas ficasse a imagem passada de um século de ouro, apenas ficasse a euforia das Europálias, das Expos, das Décimas sétimas, das N Capitais da cultura e das várias Exposições do mundo português. É como se, em todas estas cenografias da exaltação lusa, nada sobrasse do vestígio da alma judaica arrancada à nossa própria alma. Que auto-imagem celebrará tal amputação, ou tal compaixão desprovida de rosto?"
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A 30 de Janeiro, também de 2004, voltava-se a escrever aqui no Miniscente:
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"Oxalá, daqui a dois anos, em 2006, o estado português saiba homenagear a parte mais esquecida do seu corpo nacional. Fazê-lo seria, para além de uma questão de justiça, sobretudo uma desafio vital para a nossa própria auto-imagem e orgulho próprio."
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Segundo o Rua da Judiaria, o número de mortos resultantes do Pogrom de Lisboa de 19 Abril de 1506 aponta para cerca de quatro mil pessoas (cripto-judeus/cristãos-novos) chacinadas na sequência de motins anti-judaicos incitados por frades dominicanos. No Rossio, contam Samuel Usque e Damião de Góis, o chão ficou “tapado com montanhas de corpos mutilados”. "Mais de quatro mil almas morreram(...)”, escreveu Samuel Usque em “Consolação às Tribulações de Israel” (1553).
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PS - 1 - A palavra de origem russa Pogrom ("погром") denomina um ataque violento massivo a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). Historicamente, o termo tem sido usado para denominar actos massivos de violência, espontânea ou premeditada, contra Judeus e outras minorias étnicas da Europa".
PS - 2 - O autor de Consolaçam ás tribulaçoens de lsrael , Samuel Usque, confirma que as matanças de Lisboa tiveram lugar em 5266 (calendário hebraico), ou seja, em 1506 da era cristã.

sábado, 15 de abril de 2006

Miniscente ist ein berliner - 2

Quase de volta!
Não tenho encontrado pela frente essa coisa chamada computador.

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Miniscente ist ein berliner

Podia ter ficado a ver as notícias da capitulaçao francesa, as chatas religiosidades da Lusitânia, a operaçao da Páscoa da GNR, a visita do presidente às criancinhas, a ressaca dos males do meu clube, ou até uma boa discussao sobre Steiner. Mas preferi ir para bem perto da Potsdamplatz. Até já.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

O fluxo

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Recomeçou a euforia das férias. Há um verdadeiro ardil na cidade. Faz-me lembrar as asas agitadas do canário bico de lacre: bicho branco, branquíssimo, mas com a excitação avermelhada a revoar-lhe os olhos. Comprei livros, errei pelas ruas e, antes de dar as últimas aulas, entrei numa agência de viagens. Existem de facto extra-terrestres que chegam ao planeta com semanas ou meses de atraso. A menina fixa-me os olhos, levanta o lábio e escarnece do figurão com íntima e sincera aleivosia: "Bilhetes para Cabo Verde, hoje, a esta hora!?" - Sorrisos, sorrisos doces como se eu fosse pató. Estamos sempre a aprender. Moral da história: talvez vá ver uma procissão a um qualquer pueblo andalus; sempre há-de haver um hostal desconhecido e duvidoso à beira da estrada, como se o destino sem rota fosse a Las Vegas de Mike Figgis. Ou será permitido, por exemplo, ficar em casa, sossegadinho, a ver o Canal Odisseia e a ler a Ignorância do Kundera?

Televisivas - 3

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Sem querer, por mero acaso, vi dez minutos de um programa chamado qualquer coisa "pastéis de nada" (no fim, reparei que até tem um blogue). O que é aquilo? Deve ser serviço público.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Televisivas - 2

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Nunca entendi a proxémica a que recorre o programa Quadratura do Círculo. Em torno da circularidade da mesa, Pacheco e Lobo Xavier estão lado a lado e distanciam-se cerca de noventa graus de Carlos Andrade. Jorge Coelho dista o mesmíssimo quadrante do moderador, mas está praticamente a cento e oitenta graus do par Pacheco-Lobo Xavier. Será a política?

Televisivas - 1

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Sempre que me vejo na televisão, vejo o verdadeiro nada que emerge do turbilhão. Hoje, aconteceu mais uma vez. Será a diminuta vocação ou a frágil e abismada natureza da televisão?
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"© Guerra &Paz editores, Agustina Bessa-Luís. Reprodução Interdita."
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Terminam assim os excertos da pré-publicação do que virá a ser em papel o último livro de Agustina Bessa-Luís, Fama e Segredo da História de Portugal, que o Abrupto está a dar à luz desde ontem.
Pergunto: a ideia de "proibição" tem o mesmo significado no mundo da rede e no mundo rigorosamente off-line?
Eu sei que a questão parece de fácil resposta à primeira vista. Creio, no entanto, que a própria ideia de texto na rede (o seu carácter provisório, reversível, pouco-linear, tendencialmente des-subjectivado, incorpóreo e de inserção meta-contextual) nos pode levar para outras direcções.
Deixo a questão em aberto.
Trata-se, sem sombra de dúvida, de um problema interessante e já indirectamente abordado aqui anteontem.

O cantinho de astracã

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Benfiquista de gema o digo: não merecemos ganhar. Ponto final. Para mim, até ao verão, o futebol vai agora centrar-se no outro meu clube de sempre: O Lusitano de Évora (Lusitano Ginásio Clube). Esteve na primeira divisão durante 14 anos (1952-1966), está prestes a subir de divisão e, proeza máxima: está a construir um centro de estágio onde a selecção nacional se irá preparar em Maio para o mundial (não posso, no entanto, deixar de confessar que sofro de melancolia por saber que o velhinho Campo Estrela se vai transformar numa urbanização).
Eis o projecto e as obras (como sou do Conselho Geral, uma espécie de Senado, tenho mesmo que fazer gala destes patrimónios):
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P.S.1 - Quanto às competições lusas, sempre preferia que ficassem em Lisboa. Capital é capital.
P.S.2 - O hooligan, desta vez, apesar das "adendas" e das "irritações", até foi surpreendentemente civilizado!
P.S.3 - Não haja, no entanto, dúvidas que o jogo mais importante da próxima jornada é o Benfica-Marítimo!
P.S.4 - Os catalães têm realmente um espírito de potência insuportável.
P.S.5 - Se, se, se. Durante cinco a dez segundos, pensei que o Simão tinha mesmo marcado o golo. Imaginem o salto que dei no ar. Ainda lá estou. Daí o tom do post e o casaco que fui obrigado a vestir após tanto calafrio: de astracã.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Sentidos e verdades

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A razão, no alvor moderno, não foi capaz de enunciar-se de modo autónomo. Ao invés, preferiu entrar em cena contrapondo-se a algo que baptizou como sendo caduco e ultrapassado. Esse choque, geralmente caracterizado como o choque entre “mito” e “logos”, terá sido mesmo real? Hans Blumenberg sempre torceu o nariz a essa pergunta e preferiu, por isso mesmo, compreender o mito como algo que teria sempre sobrevivido entre nós. Longe de hibernar numa qualquer origem remota, para o prazer de antropólogos e de outras abelhas, o mito ter-se-ia antes sedimentado na galáxia da razão e, ao sabor romântico e nietzschiano, ter-nos-ia ainda conduzido à tentação do juízo estético que supera – ou contorna – uma definição precisa, analítica e estanque de valores. Cada vez mais, à medida que o tempo passa e à medida que a memória dessas leituras se esvai, sou levado a pensar que o homem tinha afinal toda a razão. Mandei vir, hoje mesmo via Amazon, a tradução inglesa de Arbeit am Mythos e de Die Lesbarkeit der Welt, entretanto perdidos no trajecto nómada das minhas estantes.

Espelhos do devir

António Lobo Antunes acabou de confessar a Ana Sousa Dias (em entrevista no Canal 2) que a Exortação aos crocodilos foi um "livro maldito". Algumas das mortes aí relatadas aconteceriam depois tal e qual aos seus mais próximos (amigos e familiares). Não sei porquê, mas lembrei-me de Cartas a Sandra, onde idêntica premonição acabou por recair sobre o próprio Vergílio Ferreira, seu autor.

terça-feira, 4 de abril de 2006

A fama

Amanhã, inicia-se no Abrupto a pré-publicação do próximo livro de Agustina Bessa-Luís, Fama e Segredo. Não é um facto inédito, mas é interessante enquanto sintoma da pressão que o mundo on-line - e particularmente os blogues - está a exercer sobre a realidade off-line (ver post de baixo sobre os aspectos polémicos destas mútuas pressões).

Liberdade, direitos e rede

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Que tipo de queixosos poderá denunciar à polícia judiciária os downloads de músicas? Imagino que deverão ser seres ínfimos, ubíquos e imateriais que penetram na cabeça dos dedos de milhões de cibernautas ao mesmo tempo. Não ponho em causa os direitos de autor – também vivo deles! -, mas se a realidade da rede é a de um interface aberto de conteúdos que está a alterar profundamente alguns esquematismos tradicionais (por exemplo, as relações fixas entre emissor/auditório, público/privado, verdade/sentido ou ficção/real), é também normal que a própria concepção de direitos de autor se tenha que ajustar, a pouco e pouco, a essa realidade. E não o contrário. Aliás, há bastantes casos em que a rede acaba por servir de espaço de promoção para a posterior edição tradicional em CD. Nestes casos, quem seria penalizado? Os editores? Os músicos? E no caso dos textos literários ou ensaísticos – onde a questão se põe de modo homológico - quem é que a fúria penalizadora perseguiria? Já estou a imaginar que, qualquer dia, as SPAs (que não conseguem compreender as céleres mudanças da actualidade) vão começar a propor a existência de “Entidades Reguladoras” orwellianas para tentar resolver o problema. A defesa da liberdade é coisa que acontece cada vez mais em caminhos ínvios. Apesar da evidência luminosa dos direitos de autor.

"Complexity and Color"

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No Senado, a paz parece luzir sobre Roma. Mas o fogo e a “faca sem lâmina” andam no ar. Uma brancura lívida que se espelha nas togas e que acolhe subterfúgios, hinos e traições no amplo anfiteatro de pedra. Neste circo de conversos, César é finalmente declarado imperador ("Let this be an end to division and civil strife"). Seguir-se-ão cinco dias de festas, banquetes e beberetes. Além do triunfo que inclui a imolação do rei gaulês (um Frank Zappa já sem voz).
Enquanto a volátil Átia visita Servília (feras imobilizadas pelo mel), Octaviano dirige o ritual que prepara a grandeza do desfile triunfal: um sacrifício que doa ao rosto de César a mancha de sangue que o liga, ao mesmo tempo, à intimidade de Marte e à intemporalidade. Segue-se a imolação, o colorido da massa e a festa. A devoração, evocação e a carne. Noutros palcos, as clivagens avivam-se: Pulo e Voreno de um lado, Servília, Quintus e Brutus do outro.
Como vêem, mantenho a tendência fugaz e elíptica. Há um crescente resguardo nas palavras à medida que a densidade das imagens faz mundo (mesmo assim, espero corresponder às legítimas exigências do Rui e do Zé Mário). Afinal de contas, esta Roma é como o Guadiana de Pulo do Lobo: faz da lenta erosão o fulgor das suas águas.

Acção!

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Romance de acção? Ora leia-se a sinopse do livro de que hoje Jacques Steinberg faz eco no The New York Times (Between the Bridge and the River de Craig Ferguson). O romance não faz por menos: envolve na mesma teia Sócrates, Sinatra, mulheres fatais homicidas, Larry King, Carl Jung, evangelistas televisivos, etc.
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Its main characters include two old friends from Scotland, one of them a television evangelist whose program is derailed by a sex scandal; a femme fatale who has killed off six husbands; and a pair of half brothers sired by Frank Sinatra and Peter Lawford in their Rat Pack days. ("Ring-a-ding-ding," Mr. Ferguson writes, appropriating one of Sinatra's signature lines). Among the other figures who make cameos, as Mr. Ferguson sends up Las Vegas and Hollywood, to say nothing of Christianity, Scientology, television news and the escort industry, are Carl Jung (wearing a Cossack's uniform in one dream sequence), Larry King and Socrates.”

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Fotogenias desguarnecidas

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Já pode ver aqui (basta carregar no nome) o Miniscente a falar para a emissão televisiva da Universidade Aberta desta semana (Entre Nós). Noutro formato mais doméstico, bastará abrir a televisão no Canal 2, na próxima quinta-feira às 16 horas.

Semblante sério, orelhas navegantes

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Há uma terra de ninguém, às vezes movediça, entre levar a sério ou cair na tentação de abraçar a coisa como se ela e o risível tivessem o mesmo e insuspeito rosto. Às vezes, olho-o, ausculto-lhe a expressão e pressinto a maresia. Ou há naufrágio, ou andam promissoras musas à solta. É disso que é feita a história.

Ganda Bomba!

Nunca é tarde para agradecer à Carla por viver neste céu, ela que é um dos cometas que mais e melhor brilha ao fim de três anos de redenção diária. E é vê-la sempre remar em variadas marés: divertidas, domésticas, densas, proustianas, mitológicas ou madrugadoras ("eu hoje acordei assim" já há muito que se tornou num incipit fulgurante do início do dia blogosférico). Parabéns Charlotte!

A súbita imobilidade

Estar sem rede desde sábado à noite é qualquer coisa equivalente a um estado de coma comunicacional. O cenário dos blogues anda perto de um estar-já-aí instantâneo, no labirinto onde a intensidade e o prazer da expressão se cruzam: entre palavras, tempestades, ecos, urgências e, por vezes, frases. Sair deste comboio, que tem várias frentes e que navega sobre diversas linhas, é ficar imobilizado a olhar a névoa de uma ausência mais ou menos provocada. Porquê, ó deuses? Seja como for, estou de volta.

sábado, 1 de abril de 2006

A "nota social" de 1 Abril

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Eis como JPP, repetindo duas vezes o adjectivo "interessante", revê num post de reportagem de Eduardo Pitta o que designa por "nota social":
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"Numa sala a abarrotar, encontrei Isabel Coutinho, editora do Mil Folhas, Carla Hilário de Almeida Quevedo, do Bomba Inteligente, Gustavo Rubim, João Pereira Coutinho, Isabel Goulão, do Miss Pearls, Miguel Real, Luís Carmelo, do Miniscente, João Rodrigues, editor da Dom Quixote, Ana Madureira, do gabinete da ministra da Cultura, Maria do Rosário Pedreira e Ana Pereirinha, respectivamente editora e editora-adjunta da QuidNovi, o jornalista Rui Lagartinho (facção pró-Margarida), Ana Cláudia Vicente, do Quatro Caminhos, e se me esqueço de alguém é sem intenção. O Francisco, a Anick e o Ricardo, como sempre, anfitriões atentos. O vinho não sei se era bom, não provei."
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De facto, a Casa Fernando Pessoa tem tido assistências a "abarrotar", mesmo quando os factos em debate não são tão gritantes. Creio que era isso sobretudo o que estava em causa na nota de Eduardo Pitta e não tanto o lado "Caras", enigmaticamente convocado pelo patrono do Abrupto. Haja liberdade nas fantasias!

Kama Sutra

Na Revista que hoje acompanha o DN, o Pedro tem uma crónica deliciosa sobre a Incrível Almadense (sem links).