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Sim, podia ter passado a Páscoa a ver a pasmaceira do canal Odisseia ou a ler a Ignorância do Kundera. Era quase o mesmo (que sacrilégio!).
Mas quase sem dar por isso, não foi assim que aconteceu. A verdade é que me vi sem mais nem menos dentro de um avião e, apesar de ter estado variadas vezes na Alemanha, nunca tinha estado ainda em Berlim. Ao contrário do que se possa pensar, uma cidade muito imaginada acaba sempre por ser alvo fácil de um lirismo rasgado que se veste, aqui e ali, com horrores e fantasmas imprevistos.
Desta vez, a divisa não falhou.
Mas quase sem dar por isso, não foi assim que aconteceu. A verdade é que me vi sem mais nem menos dentro de um avião e, apesar de ter estado variadas vezes na Alemanha, nunca tinha estado ainda em Berlim. Ao contrário do que se possa pensar, uma cidade muito imaginada acaba sempre por ser alvo fácil de um lirismo rasgado que se veste, aqui e ali, com horrores e fantasmas imprevistos.
Desta vez, a divisa não falhou.
Vejamos: em Berlim há dois “produtos” que se vendem ao turismo de massas: o comunismo e o nazismo (não esqueçamos que o turismo de massas é, na actualidade, o lado mais vivo da sociedade mundializada de fluxos).
O primeiro é já visto como coisa exótica, pretexto para venda de relíquias, síndrome de marketing essencialmente juvenil. Mas nada, ou pouco, se vislumbra sobre o real terror do comunismo. A ferida anda por lá, mas disfarçada e areada pela contemporaneidade arquitectónica, pelos vidros da nova Praça de Potsdam e pelos generosos investimentos da Sony.
O segundo recebeu o nome de “topografia do terror” e é objecto de visitas guiadas a pé de três horas. O bunker de Hitler, a sede da gestapo e outros labirintos diabólicos do género são apresentados elipticamente e ao ar livre. É curioso que, ao contrário do Check-Point “Charlie” que é contíguo a um museu sobre as desventuras históricas do muro de Berlim, o nazismo não seja tratado numa estrutura museológica fixa, nem tão-pouco seja alvo de uma intervenção urbana na zona da chamada “topografia do terror” (diga-se que o belíssimo Museu Judaico de Berlim supre parcialmente essa interessante lacuna).
No reverso destes dois "produtos", Berlim é hoje uma cidade pasmada de si, algo acinzentada, quase glacial, embora paradisíaca para designers, arquitectos, fotógrafos, músicos e amantes saudosos dos prodígios de Weimar. No entanto, para o mortal mais anónimo ou para o intelectual descrente da “criatividade da arte”, Berlim torna-se mal-parecida, reinventa-se pelo sabor do efémero e é alimentada por sombras sem grande encanto expressionista (a relação entre centros e periferia é um bom exemplo da exiguidade dessas sombras).
They could have done better.
O primeiro é já visto como coisa exótica, pretexto para venda de relíquias, síndrome de marketing essencialmente juvenil. Mas nada, ou pouco, se vislumbra sobre o real terror do comunismo. A ferida anda por lá, mas disfarçada e areada pela contemporaneidade arquitectónica, pelos vidros da nova Praça de Potsdam e pelos generosos investimentos da Sony.
O segundo recebeu o nome de “topografia do terror” e é objecto de visitas guiadas a pé de três horas. O bunker de Hitler, a sede da gestapo e outros labirintos diabólicos do género são apresentados elipticamente e ao ar livre. É curioso que, ao contrário do Check-Point “Charlie” que é contíguo a um museu sobre as desventuras históricas do muro de Berlim, o nazismo não seja tratado numa estrutura museológica fixa, nem tão-pouco seja alvo de uma intervenção urbana na zona da chamada “topografia do terror” (diga-se que o belíssimo Museu Judaico de Berlim supre parcialmente essa interessante lacuna).
No reverso destes dois "produtos", Berlim é hoje uma cidade pasmada de si, algo acinzentada, quase glacial, embora paradisíaca para designers, arquitectos, fotógrafos, músicos e amantes saudosos dos prodígios de Weimar. No entanto, para o mortal mais anónimo ou para o intelectual descrente da “criatividade da arte”, Berlim torna-se mal-parecida, reinventa-se pelo sabor do efémero e é alimentada por sombras sem grande encanto expressionista (a relação entre centros e periferia é um bom exemplo da exiguidade dessas sombras).
They could have done better.