segunda-feira, 13 de março de 2006

A grande gargalhada

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Há qualquer coisa de comum entre Mário Soares a sair da Assembleia da República no dia da tomada de posse de Cavaco e a fúria com que Silvio Berlusconi abandonou uma entrevista que estava a dar à RAI. Assim como há qualquer coisa de comum entre o “Portugal dos Pequeninos” de Salazar e o “Mundo dos Pequeninos” dos arredores de Pequim (espaço representado no recente filme “O Mundo” de Jia Zhang-ke).
Antecipamo-nos em muitas coisas, é verdade.
No primeiro caso, cada um dos figurões parece exceder e até transcender o que os rodeia (embora o caso concreto de cada um não se possa confundir com um mesmo horizonte: justiça seja feita). No segundo caso, é como se fôssemos invadidos por uma espécie de representação própria, abandonada a si mesma, tão terna quanto recheada de onanismo estético e político. Os chineses já se deram ao trabalho de alargar a nostálgica escala coimbrã para a dimensão do “orgulhosamente sós” global.
No fundo, as ilusões comandam o devir e o generalizado jogo de imagens que gostaria de nos processar.
Houve ainda uma outra prova desse facto neste fim-de-semana: a morte de Milosevic foi a quase morte de um tipo de justiça que os eufóricos nineties julgaram possível. Afinal, começa a desconfiar-se de tão fantasmático quanto enigmático bluff.