Eu sou acidental, aqui!
Escreveu Rodrigo Moita de Deus:
"Em Portugal existem três ou quatro intelectuais e nenhum deles aparece na televisão, subsidiar teatros é estar a pagar aos amigos, inaugurar bibliotecas é um desperdício de dinheiro e a esmagadora maioria da esquerda pensante roça o analfabetismo cerebral."
Brilhante. Trata-se daquele brilho do Bloco de esquerda, mas dotado de inversão especular.
Sobre essa espécie ainda designada no post de R.M.D. por "intelectuais", devo dizer que o diagnóstico me espanta pela hipérbole e sobretudo pelo ponto de vista do observador.
Já quanto à arte da talma, e pesando alguma solidariedade pela visão (é esse o étimo do apocalíptico), creio que, de facto, Portugal é um país onde, numa esplanada, três pessoas observam outras três. Fiquei assim a compreender melhor o ponto de vista do autor da máxima acidental.
A referência às bibliotecas deve ser profunda, alicerçada e penetrante, já que eu, sinceramente, não fazia a mínima ideia de que a esquerda era afinal uma súmula de bibliotecas. E a direita... serão só os bibliotecários, ou os leitores, ou as cotas? (há certas coisas, francamente, que eu não entendo nesta inteligência voraz que, seja para o que for, decidiu dividir o mundo, para sempre, em esquerdas e direitas).
Por fim, abordando o sublime "roçar" do "analfabetismo cerebral": gosto da expressão, porque denota alguma leitura de Damásio, para além de libertar afectos face ao objecto (mais ou menos) analisado. Mas já agora, a propósito do "Proto-si" damasiano: esse roçanço não aparece tanto na esquerda como na direita, ou, se se preferir, em sentido contrário, tanto na direita como na esquerda?
A rematar, uma pergunta razoavelmente humilde: existirá uma natureza humana?