Declaração do tempo
Regresso após uma semana de ausência. Talvez a maior desde que esta escrita se fez blogue. Vive-se um tempo incomum, embora a ameixoeira se resuma ao ermo dos ramos e a macieira ainda resista. Enquanto pode. Sobram-lhe umas amolecidas trinta folhas. Um ronronar sem fim. O Natal foi cheio, pleno. Sigilos, doces, apologias domésticas, vilegiaturas, memoriais, lume fortíssimo, litanias, luzes na janela, meteoros (um enorme na estrada para Machede) e ainda uma desmedida incontinência da paixão. Reconciliei-me este ano. Não sei com o quê. Talvez com aquela parte de mim que havia partido e hoje regressou. Somos todos a épica que mais amamos sem sequer o sabermos. E da ausência fazemos castelos, pontes levadiças, estradas desenhadas em névoa. Volto a olhar para a ameixoeira e para a macieira. Imensa a gratidão que habita no ar. Sem lugar. Por isso se escreve aqui. Como se fosse sobre a neve. Regresso.