Balanço - 1
Nunca tive grande jeito para círculos de afinidades persistentes. Nas ideias, nos livros, nos filmes, nos blogues e noutras coisas que a vida enfrenta. Na maior parte das vezes, vejo-me a regressar a sós. No limiar da partilha. Ainda que infusa, espontânea ou admirada. Mas nunca tive a tentação das tutelas e das referências fixas, a montante ou a juzante. O que não quer dizer que a amizade não ilumine este meu regressar, algo solitário, entre tectos do mundo; embora ela - a amizade - também não seja contínua, linear e indivisa.
Permanecerão os afectos e milhões e milhões de eventos que denegam a ilusão da montagem. Permanece o amor. Permanece o desejo da lucidez e da independência radical. E é assim que vejo mais um ano quase a acabar e um outro prestes a começar: sorrindo. A ternura a desfilar na confissão e a compaixão a esquecer-se do principal que haveria afinal a dizer.