quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata -5


(Sin título, Philippe Halsman, 1950)

Não se sabe o que terá acontecido. Mas o brilho dos vidros ilustra o ar embaciado da respiração. Uma espécie de silenciosa contenção para evocar a longa biografia que terá precedido o instante. Há, de facto, um crivo que nos segreda tudo aquilo que é contíguo à cena. Diria mais: existe uma clara expansão em suspenso que liga estas imobilidades ao retábulo vivo que as poria a mover sem parar. E o fascínio reside na terra de ninguém que separa aquilo que continua contido, embaciado e imóvel àquilo que é acto, movente e respiração ofegante. A estrugir, a gemer e a entornar o mundo dentro do seu centro quente e aberto, com os olhos fixos no tecto ou na clarabóia sobre a qual há nuvens e a iminente flor da desejada e perseguida volúpia. Todos viemos de lá. Todos desejamos lá regressar.