quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Ficcionalidades de prata -4


(Notre-Dame, Anton Stankowski, 1930)

Diz-se que o cinema foi o primeiro mestre da ubiquidade. Esse desígnio passava pela ilusão de estarmos em muitos lados ao mesmo tempo e de vermos de todo o lado quase ao mesmo tempo. Depois veio a propriocepção hipertecnológica e o mesmo desígnio de omnipresença passou a alargar o campo das imagens da mente às topografias globais em tempo real. Mas a fotografia, intrometendo-se entre estas aspirações fáusticas, soube a tempo calcular a vertigem. E por isso deu a ver o justo valor que o pasmo ou o pranto podem ter. Quando se diz pasmo e pranto, diz-se um suspiro, uma comoção ou um qualquer sentimento que nos tivesse percorrido o corpo como se o olhar estalasse antes de sonhar. Eis do que trata esta auspiciosa visão de Stankowski.