quinta-feira, 22 de julho de 2004

Divertimentos - 5
 
Na Galeria dos Divertimentos Em Curso (G.D.E.C.) há que entender o mar como uma massa densa e vastíssima que liga a “careta” à épica, o naufrágio à designação estratégica e o ministério de estado à polposa maresia de argumentos que já não convence ninguém. E por isso imagino Marques Mendes a sorrir diante da sua confessada e estival atracção pelas trutas. E por isso imagino Manuela Ferreira Leite a pronunciar o nome do fidalgo aprendiz diante dos Amers de Saint-John Perse (cadeira de braços e lona face às ondas macias de Julho):
 
 
Saint-John Perse

Poésie pour accompagner la marche d'une récitation en l'honneur de la Mer./Poésie pour assister le chant d'une marche au pourtour de la Mer./ Comme l'entreprise du tour d'autel et la gravitation du choeur au circuit de la strophe. 

E por isso imagino o bom Pacheco Pereira, entre estas bacantes poéticas e marítimas, a repetir mil vezes a expressão “Pobre País”. E por isso imagino as brandas conversas entre João Jardim e Jaime Ramos com o olhar prostrado no rebordo das desertas Ilhas Selvagens. E por isso imagino ainda Cavaco Silva a deliciar-se com figos da sua terra e a ler às escondidas o último romance da conterrânea Lídia Jorge, sob o calorão de vagas tantas vezes cantado por Teixeira Gomes. O mar, o mar, o mar. Sempre o mar. Assuntos de mar. Estratégicos. Muito estratégicos.
Já se sabe que Pedro e Paulo tudo fazem para espantar a sua própria caça (não nos esqueçamos de que a fortuna da paródia reside no facto de esta jamais temer o exagero). No entanto, para além disso, também já aprenderam a exigir exclusividade diária para o palco do G.D.E.C., o qual apenas é partilhado com uns tantos pontos que agenciaram no já falado Politeama, assim como nas nebulosas, airosas e palavrosas margens de Vila Nova de Gaia.