A sério e a brincar
Há momentos na vida - e cada vez são mais - que tenho a tendência para não levar nada a sério. Vejo-me então como espectador de um conjunto de cenários a que muitos acorrem à procura de si mesmos. Nessa metropolis do quotidiano, a fé - chamemos-lhe assim - mais não é do que um derivado do narcisismo massificado. O centro comercial, a igreja, a disputa política, a dissensão artística, o fluxo comunicacional (incluindo a blogosfera) aparecem-me aí, todos, por igual. E há momentos em que acabo por levar a sério aquilo que sei perfeitamente que não é para levar a sério, mas faço-o animado por um evidente agir paródico, ou por uma espécie de prazer dionisíaco e tão carnal quanto ancestral. O futebol, a poesia, a pedra no ar para o cão agarrar, a paisagem a deslocar-se para trás enquanto guio, um ou outro pensamento sem sentido e, ainda, uma ideia maluca para dar na aula ou para escarrapachar num livro fazem parte deste lote. Enfim, entre o sério e o não sério há um prado verdejante que nunca mais acaba. É lá que estou agora a olhar de frente para este crepúsculo que já vaticina o equinócio.