sábado, 18 de junho de 2011

Conteúdos - cânone - 16 (massificação)

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Quando exprimo a ideia de massificação, exprimo o que tenho a exprimir. Mas, ao mesmo tempo, sigo o que o guião do conteúdo “massificação” me diz sobre um corpo decapitado que sorri como se o mundo fosse um ‘reality show’ sem princípio nem fim.
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A massa foi sempre uma preocupação moderna. De Marx a Ortega Y Gasset. Mas a massa moderna era um caudal que ameaçava, perturbava ou se alienava. Tanto faz. A massa era sobretudo um caudal que criava contrastes, porque convivia com entidades que eram o positivo ou o negativo da própria massa. Elite, intelligentsia, classe, nomenclatura e outros termos designaram essas entidades. A massa moderna era um rio poderoso que contrastava com a serenidade das margens. Nas margens fazia-se a política, a literatura e o mito. No rio – e sôbolos rios (grandes revoluções) – fazia-se o resto. As inundações marcaram, por isso mesmo, grande parte da história dos séculos XIX e XX. No nosso tempo, o rio e as margens desapareceram. O rio envolveu as margens e as margens envolveram o rio. Nem um nem outro hoje se reconhecem. O que deles sobrou foi um efeito de massa: um manto em 3D que avança em direcção ao sentido. Como se tudo pudesse acontecer: com a agravante de que os ares de clímax são tão simulados quanto reais. A crise dos mercados representa, no novíssimo palco, o drama da massificação: tudo se comprou, tudo se construiu, tudo se esbateu e tudo se disse. E agora, aberto o abismo, a massa reage como um caudal sem margens. Tal como uma angústia profunda sem objecto preciso. Esse ‘pathos’ é a própria natureza da massificação: um corpo decapitado que sorri, como se fosse para sempre, diante dum ‘reality show’ intemporal.