Todos sabemos que a catarse das antigas tragédias gregas corresponde hoje à função dos media, do mesmo modo que o discurso épico corresponde hoje à função dos discursos persuasivos, seja o publicitário, o das omnipresentes RPs e sobretudo os registos políticos do poder. Ora, quando vemos lado a lado Jardim e Sócrates, o que estamos a ver é o súbito casamento entre estes dois universos aparentemente irreconciliáveis. Um abismo que apenas se tornou possível, devido ao modo como a tragédia da natureza (sem coro nem libertação) acabou por atrair o 'ter que ser' sorridente da reconstrução. Da avassaladora torrente de lama à quase utópica Festa da Flor; da noite em que as ruas do Funchal conheceram o inferno às asas de anjo agora partilhadas por Sócrates e Jardim. Quem diria? Qualquer mortal, desde que não banhado pela ilusão que hoje constrói, de lés a lés, a própria natureza do mundo em que vivemos.