quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Escutas de sempre

O problema é antigo. E aparece num célebre diálogo do Filebo:
e
“SÓCRATES — E, entre as virtudes, não é à sabedoria que a multidão se agarra de qualquer maneira e por isso se enche de querelas e de ilusões sobre as suas luzes?
PROTARCO — É incontestável.
SÓCRATES — Se chamarmos a este estado de alma um mal, a expressão será justa.
PROTARCO — Muito justa.”
e
A prosápia que tem a sua origem na ilusão (ou até na certeza) de algo que se julga ser ou deter desencadeia sempre, nos destinatários, um misto que é aceite como um jogo sem fim. Um jogo de onde a verdade e a não verdade se ausentam. Porque um jogo é isso mesmo: uma contenda baseada num diz que diz que disfarça, mas não oculta. Todos sabemos que o que se diz nas escutas tem verdade. Mas é sempre possível que essa verdade possa ser apresentada como o corpo da namorada do nosso melhor amigo: ou seja ‘aquilo’ para onde não se pode olhar. E ficamos a sorrir como o arcebispo a quem falaríamos dos lucros da paróquia.