Há períodos que, pela sua natureza - e este parece ser um deles -, convidam avidamente a que não se tenha medo nem da tragédia, nem sobretudo da comédia. Uma e outra podem afinal ser íntimas irmãs, dando-nos a sensação de que estamos a atravessar uma ponte vertiginosa. Como se estivéssemos a sair de uma fase para entrar noutra irremediavelmente diferente. E sem quaisquer precedentes. Passagem árdua e cheia de perdas, mas também anunciadora de redenção.
eAo fim e ao cabo, a liturgia da nossa cultura sempre passou por estes - às vezes ilusórios - estados de choque. E o importante, convenhamos, nem é tanto o choque. Nem o que se perdeu ou virá a ganhar. O importante é antes aquilo que realmente nos consegue exaltar no coração do presente. No nosso dia-a-dia. No momento em que nos encostamos ao sofá da sala, após mais um fio ininterrupto de horas a trabalhar, a porfiar ou a auscultar os mil e um sinais de "crise" que nos batem à porta, sendo o maior deles a sua própria repetição. Na televisão, na rádio ou na boca doméstica dos nossos interlocutores mais próximos.