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Parece que foi hoje, mas a verdade é que as primeiras palavras do Miniscente foram escritas num ambiente muito diferente do que hoje nos respira e envolve.
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O 09/11 estava ainda fresco, o Iraque fervilhava em pleno, Durão era PM, o caso 'Casa Pia' ainda não existia e uma nova (e pouco compreendida) febre comunicacional estava a arrancar em Portugal.
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Este desafio ao espaço público, com a tonalidade com que foi singrando há pouco mais de meia década, durou pelo menos três anos. Foi um início de milénio caudaloso! De facto, foi particularmente interessante ter assistido e colaborado na emergência de uma nova área dos media (ainda não absorvida pelas tradicionais) que apostava em ser um pouco de tudo do que já se conhecia - diário, memórias, crónica, botequim, crítica, monólogo, etc. -, embora marcando sempre identidades para fora desses perímetros referenciados e excedendo, sem quaisquer preconceitos, o esquematismo ficção-realidade e/ou verdade/sentido.
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Foi também um auspicioso e generoso movimento de afirmação personalista, num tempo em que tudo aparentemente parecia condenado ao apagamento autorial. Foi ainda a reocupação de uma área militante, mas sem ideologia a comandar os barcos, os portos, os submarinos e as secretas.
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A nomes conhecidos da opinião, juntar-se-iam imensos nautas que pretenderam cunhar a sua expressão através de um novo labirinto, de que a figura dourada do "link" foi muitas vezes - por ausência ou presença - protagonista de ouro.
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Enfim, a primeira década do século XXI teve a sua própria onda expressiva, de algum modo comparável - colocando de lado as auto-descobertas da tecnhé - à do cinema que floresceu cem anos antes.
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Aliás, o desafio expressivo criado pelo novo meio (e que sempre me encantou enquanto fenómeno) levou-me mesmo a escrever um livro, publicado já este ano, que tentou levar a cabo o balanço compassado e pensado de toda esta euforia.
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Não creio que a explosão bloguista - ou blogueadora - tenha já acabado; o que creio é que ela já não existe do modo fulgurante com que se fez significar no tempo da 'grande bolha' (digamos: 2003-2006).
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O Miniscente, nos últimos cinco anos, atravessou todo este terreno. Um terreno imensamente fértil, mesmo sob o ponto de vista humano. Não sei o que teria feito, se não me tivesse ocupado tantas horas na redacção de perto de 4.000 posts. Mas não me arrependo. Olho para trás e compreendo que foi uma fase virtuosa e arrebatada. Adoraria, em todas as fases da minha vida (passadas ou futuras), poder sempre mergulhar em comunidades tão estimulantes quanto foi a dos blogues no seu período de excelência.
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Agradeço a todos os que me têm lido e acompanhado nesta saga. Não posso prometer o que já prometi noutros aniversários do meu blogue. Também não acabarei com o Miniscente neste dia de festa! A eutanásia não é quase nunca boa conselheira. Se este meu blogue tiver que acabar, acaba naturalmente. Por ora, prometo uma coisa: o Miniscente vai envelhecer com a mesma serenidade com que o meu cão Ulisses também está a envelhecer. Hoje em dia, no mundo célere em que vivemos, cinco anos são cinco séculos. Quase meio milénio, ou seja: qualquer coisa já muito perto da salvação.