sábado, 10 de maio de 2008

Sobre a não morte do Miniscente

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Dentro de cerca de dois meses o Miniscente faz cinco anos. O mundo que o viu nascer já não existe. O blogue que então nasceu já nada tem que ver com o blogue que hoje existe. Mas desengane-se o leitor com este alvor evocativo, até porque eu não gosto de história. Não gosto de inventariar dados que se unam em jeito de narrativa para provocarem efeitos pretendidos ou previstos. Daí que não me apeteça levar a cabo qualquer tipo de balanço. Nem muito menos me apetece expor ou conjecturar as razões que me têm levado a escrever mais ou menos (em relação a outros tipos continuados de escrita, por exemplo o literário e o ensaístico). Mas sei que a função do Miniscente, quer como espaço de reflexão (um livro já emergiu desse espaço), quer como espaço poli-expressivo de afirmação, quer como tribuna política (no sentido mais amplo e nobre do termo), quer ainda como meio que dá voz a outras vozes...é hoje uma função precária e meramente residual. Sei disso. Mas acredito, apesar de tudo, nas virtualiades do media res, isto é, nas travessias puras que não dão qualquer importância às origens, pontos de partida, finalidades ou metas. Nessa medida, apenas contará o que se cruza com o presente, sem presunção alguma de o enquadrar numa gramática histórica excessiva e portanto particularmente formatada. A necessidade de escrever este longo e dissonante parágrafo prende-se com a análise que faço deste blogue que já foi profuso e que, hoje, é liminarmente elíptico. Um blogue que partiu da floresta virgem e que depois terá aportado numa estepe à procura de histórias. Mas um mesmo espírito quase saciado e sempre por saciar. Dizer na rede não é dizer no mundo onde existem coordenadas que permitam medir doses de realidade e de ficção. Aqui o livre arbítrio atravessa esferas que noutras galáxias são firmes e inquestionáveis. Por isso, recuso-me a ver no Miniscente a morte do Miniscente. A inércia na rede é também um agenciamento. Porventura, um milagre. Isto é: o poder existir como se a compulsão não tivesse lugar à mesa da rede. Imagine-se. O Miniscente, pelo menos, está a prová-lo. O que já não é nada mau.