Em Setembro do ano passado, a Clara e o Miguel iniciaram a sua volta ao mundo. A última crónica teve como origem a Austrália. Para trás já tinham ficado muitos outros locais e cidades: Madrid, Havana, Galapagos, Quito, Buenos Aires, Ushuaia, Polinésia, Ilha da Páscoa, Nova Zelândia (com passagens por Tahiti, Moorea, Huaihine e Raiatea). Hoje, a crónica reata a passagem pela Nova Zelândia:
e e"Nova Zelândia"
e
"Corre. Corre. Corre. Quer ter a certeza que o ar não é feito de papel. Acelera. Vê que as árvores quase terminam. Continua. Continua. Ignora a respiração a saltar-lhe do peito. Quer ter a certeza. Sabe que se aproxima, começa a apagar-se o caminho. Se for cenário. Se for cenário. Imagina o corpo contra a parede de cartão. De um azul a imitar o céu, um lago demasiado pintado, demasiado perfeito. Mais cinco passos. Guarda o fôlego. Dois, um. Fecha as mãos num resumo… E, de olhos abertos, cai no vazio.
…
…
…
Esvazia-se de si próprio. O sorriso sai-lhe pelos bolsos. A imaginação, o calor, o tempo. Tudo fora de si. Sente o espaço que se cria. O momento único do seu silêncio.
e
Vejo um ser enorme a andar na minha direcção. De pele a sobrar-lhe. Rugas encharcadas, como rios indecisos sobre a idade que têm.
- Estás surpreendida?
(Acho que sim)
- Por ver um velho correr para o precipício?
(Por estar do outro lado do mundo e tudo se passar ao contrário)
E por saber que um homem, para ter a certeza que não vive num lugar de brincar, corre até ao salto para não se sentir imortal.
Espero que a sua sombra se dilua nas montanhas.
… E começo a correr."
…
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Esvazia-se de si próprio. O sorriso sai-lhe pelos bolsos. A imaginação, o calor, o tempo. Tudo fora de si. Sente o espaço que se cria. O momento único do seu silêncio.
e
Vejo um ser enorme a andar na minha direcção. De pele a sobrar-lhe. Rugas encharcadas, como rios indecisos sobre a idade que têm.
- Estás surpreendida?
(Acho que sim)
- Por ver um velho correr para o precipício?
(Por estar do outro lado do mundo e tudo se passar ao contrário)
E por saber que um homem, para ter a certeza que não vive num lugar de brincar, corre até ao salto para não se sentir imortal.
Espero que a sua sombra se dilua nas montanhas.
… E começo a correr."
e
Texto: Clara Faria Piçarra