quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sustentabilidade e natureza humana

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Luís Reis Ribeiro refere hoje no Diário Económico que os economistas declaram o estado de recessão mundial, quando a economia do planeta não cresce para além dos 3% (em 2008, pensa-se que o crescimento andará pelo 4,8%). É interessante reflectir sobre este abismo invertido. Faz lembrar que a noção de “progresso”, desenvolvida pelos iluministas e só estabilizada, como noção chave, a meados de oitocentos no Ocidente, afinal continua desperta e viva como um farol. Foi, aliás, a ilimitada crença no progresso que alimentou o pior (o mais terrível) e o melhor (o mais inesperado) na transição do século XX para o nosso. De facto – e não se pense que este post é apenas reflexo de algum cepticismo lunático (como Unamuno imputaria à alma lusa) –, a natureza humana precisa realmente de metáforas e conceitos fortes para sobreviver: cavernas (Platão sorrindo), ilhas inexistentes (o ‘alhures’ significado pela ‘utopia’), as redes (malha de armadura, prisão e forma de comunicação), as profundezas sem fim (do centro do mundo de Verne aos deuses pré-romanos do Tártaro) e, já agora, o próprio progresso: essa linha sem fim que projecta um ininterrupto e contínuo crescimento. Leibniz e a música barroca de Bach representaram o fôlego divino de um modo mais encorpado, denso e envolvente. Menos linear, digamos. Mas igualmente dominante, galopante e crescente. Até quando esta necessidade de sermos o que somos e, ao mesmo tempo, a sombra de um frágil gigante? (“Até sempre”… era o belo título de um romance de Vergílio Ferreira).