Na sua volta ao mundo, a Clara e o Miguel já estão na Nova Zelândia. Tudo começou há cerca de três meses e... para trás já ficou Madrid, Havana, Galapagos, Quito, Buenos Aires, Ushuaia, a Polinésia e a Ilha da Páscoa. Depois da última crónica enviada (relativa aos fiordes da Patagónia chilena), é hoje a vez de:
eRapa Nui (Ilha da Páscoa)
e
"Corta o peixe em fatias bem finas, afoga-o em limão e alho, acrescenta gengibre, ervas aromáticas e não espera. Pega num pedaço e leva-o à boca. Eleva-se para essa mesma manhã. Revive aquele ínfimo instante em que pressente que o peixe vai morder o anzol. Cada músculo do seu corpo a preparar-se para a luta do animal. O mar. O tempo. O som. Antecedem o momento.
Mastiga o pedaço cru e olha para além da janela suja. O mar ao longe transforma-o no próprio peixe. Sente a dor, a força, o fundo. Mergulha para o fundo. Para o fundo de si próprio, para o outro lado da sobrevivência. Chegou ao mercado de Hanga Roa orgulhoso, com o peso do peixe nas duas mãos. Ambos sorriam. No outro prato da balança vinte bananas, um saco grande de legumes e uma grade de cervejas equilibram a semana.
Sai de casa. O prato abandonado em cima da mesa desconhece a história que serviu. Vazio. Como as ruas àquela hora da tarde. O cavalo espera-o com a mesma serenidade dos que sabem o caminho. Correm juntos, sem adereços ou separação, numa liberdade castanha que os leva até ao cimo do vulcão. Protege o seu Moai num abraço de pedra sólida. Não sente que adormece. Não sabe que sonha.
- Até amanhã - ouve.
E tem a certeza que haverá um dia seguinte."
"Corta o peixe em fatias bem finas, afoga-o em limão e alho, acrescenta gengibre, ervas aromáticas e não espera. Pega num pedaço e leva-o à boca. Eleva-se para essa mesma manhã. Revive aquele ínfimo instante em que pressente que o peixe vai morder o anzol. Cada músculo do seu corpo a preparar-se para a luta do animal. O mar. O tempo. O som. Antecedem o momento.
Mastiga o pedaço cru e olha para além da janela suja. O mar ao longe transforma-o no próprio peixe. Sente a dor, a força, o fundo. Mergulha para o fundo. Para o fundo de si próprio, para o outro lado da sobrevivência. Chegou ao mercado de Hanga Roa orgulhoso, com o peso do peixe nas duas mãos. Ambos sorriam. No outro prato da balança vinte bananas, um saco grande de legumes e uma grade de cervejas equilibram a semana.
Sai de casa. O prato abandonado em cima da mesa desconhece a história que serviu. Vazio. Como as ruas àquela hora da tarde. O cavalo espera-o com a mesma serenidade dos que sabem o caminho. Correm juntos, sem adereços ou separação, numa liberdade castanha que os leva até ao cimo do vulcão. Protege o seu Moai num abraço de pedra sólida. Não sente que adormece. Não sabe que sonha.
- Até amanhã - ouve.
E tem a certeza que haverá um dia seguinte."
(um exclusivo para o Miniscente)