segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Pré-publicações - 68

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Ana Isabel Buescu, Catarina de Áustria (1507-1578) - Infanta de Tordesilhas - Rainha de Portugal, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2007
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Pré-publicação:
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"Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1507. Em Valhadolide, no coração de Castela, frei Henrique de Coimbra, bispo de Ceuta e embaixador do rei D. Manuel de Portugal, preparava-se para seguir viagem em direcção a Torquemada, onde o monarca o enviava com uma missão específica.
Para além da visitação formal de pêsames, que o rei quis que apenas então tivesse lugar, pela morte inopinada e fulminante do jovem rei Filipe I de Castela, ocorrida em Burgos a 25 de Setembro de 1506, D. Manuel procurava inteirar-se do ambiente e das movimentações políticas em torno de D. Joana, rainha e viúva de vinte e sete anos de idade, e dos meandros da «governança de Castela» . Procurava, ainda, fazer avançar aquela que era a ambição maior da política imperial de um rei que juntara «o Oriente ao Ocidente» : persuadir os reis cristãos e a cúria pontifícia à cruzada contra os muçulmanos, através do confronto com o reino mameluco do Egipto e o Turco otomano, no palco europeu e no longínquo Oriente, conseguir a destruição de Meca e a libertação da cidade santa de Jerusalém, assim se alcançando – desejava D. Manuel que sob a égide do rei português – uma nova idade de um império cristão universal .
No caso dos reinos da Península, agora que era morto o jovem e efémero rei Filipe I, tratava-se de dar continuidade a esse ambicioso desígnio político junto de Fernando, o Católico e também de quem rodeava a jovem rainha, então forçada e inesperadamente aposentada em Torquemada. Outros episódios desta ofensiva político-diplomática junto das cortes europeias haviam tido lugar nos anos de 1505 e 1506, e emissários de D. Manuel procuraram junto de Henrique VII de Inglaterra, do imperador Maximiliano, do rei de França, Luís XII, e de Fernando, o Católico, fazer valer os pontos de vista e a estratégia do monarca português. Por duas vezes, D. Manuel incumbira então o franciscano frei Henrique de Coimbra, homem letrado, experiente e da sua absoluta confiança, seu confessor e conselheiro, dessas missões – de Agosto de 1505 a Março de 1506, frei Henrique esteve nas cortes de Inglaterra e Castela a advogar a cruzada contra o infiel. Agora, em Janeiro de 1507, o monarca tornava a enviá-lo, já provido do bispado de Ceuta, a avaliar a situação política castelhana e a dar continuidade a esse projecto . Era, pois, em Valhadolide, a caminho de Torquemada, com objectivos político-diplomáticos bem precisos, que se encontrava o embaixador de D. Manuel naqueles primeiros dias de Janeiro do ano de 1507.
Depois de dizer missa no mosteiro de Valhadolide e estando prestes a prosseguir a sua jornada, como previsto, frei Henrique de Coimbra recebia uma carta de João Mendes de Vasconcelos, trazida por um moço de estribeira de D. Manuel. Nela, aquele agente do rei português junto da corte castelhana informava o bispo, entre outros assuntos que considerava de maior relevância, de que D. Joana, rainha de Castela, «era parida de uma filha», nascida no dia anterior, 14 de Janeiro, em Torquemada. O diligente e zeloso frei Henrique escreveu de imediato a D. Manuel relatando o sucedido e anunciando a intenção de ir de imediato aposentar-se em Dueñas – como aliás estava já determinado –, lugar a cerca de quatro léguas de Torquemada, para mais perto estar dos acontecimentos e cumprir a missão de que fora incumbido pelo monarca e prevendo que, a breve trecho, não haveria pousada na região com a chegada dos grandes à corte."
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