sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Cerveja e literatura - 10

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“O Ollie´s era um sítio escuro e barulhento e desagradou-lhe logo à partida. Músicas country soavam alto numa jukebox a um canto, e o bar estava repleto de uma multidão de homens a beber cerveja – vestidos com camisola de flanela, na maior parte, enfeitados com curiosos bonés de beisebol e usando cintos com fivelas grandes e trabalhadas. Eram agricultores e mecânicos e condutores de camiões, pressupôs Nashe, e as poucas mulheres espalhadas pelo meio deles pareciam clientes habituais – alcoólicas ordinárias que se sentavam nos bancos do bar ao balcão e riam-se tão alto como os homens.”
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É do “Ollie´s” que há-de sair o cortejo final deste livro de Paul Auster. A derradeira peregrinação, depois do alarido entre cerveja, barulho e olhares pacóvios, constituirá um desenlace, no mínimo, auspicioso. Ou seja: será inesperado e corresponderá ao móbil mais fecundo da narrativa. Nesta altura, apenas Nashe – o herói deambulador – conhece o seu destino e, também, o do romance. É nestes momentos de tudo ou nada que o valor de uma cerveja se torna arrebatador.
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(Paul Auster, A Música do Acaso, Editorial Presença, tradução: Ana Patrão; Lisboa, 1992, p. 170)