sexta-feira, 3 de agosto de 2007

De que se escreve o dia

LCA
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Enfim, não é todos os dias que alguém nos oferece um poema sobre a nossa própria casa. Parabéns, pois, ao Manuel Nunes:
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Trinta e dois versos para uma casa
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À Isabel
Ao Luís
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A casa conhece a lenta
respiração das muralhas,
o rumor de todos os dialectos
do antiquíssimo tempo.
Firma-se na sombra
das pedras,
no arrimo
da claridade dos muros,
e deixa-se prender
nos afectuosos garfos
da ameixoeira,
estendidos como braços
na direcção dos livros.
e
No pátio que a tarde atravessa
com a sua língua
de calma,
um inominado nume, saído
da penumbra de um templo,
passeia sobre os canteiros
de relva
por entre a previsível alegria
das crianças.
e
Enquanto o espírito sublime
de Argos, mítico cão de Ulisses,
carrega sob o nome sagrado
do próprio dono
a sede inclemente
de que se escreve o dia.
e
A casa é um lugar
onde se fala
o idioma fértil
dos afectos.