Frederico Lourenço (Org.), Ensaios sobre Píndaro, Livros Cotovia, Lisboa, 2007.
ePré-publicação:
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"Píndaro nasceu em Cinoscéfalas, perto de Tebas, por volta de 518 a.C. Não se sabe ao certo a data da sua morte, mas 438 (ano em que Eurípides apresentou em Atenas a peça Alceste) é geralmente aceite.
Embora tenha composto poesia de variados géneros, o único género de que temos poemas seus completos (e em número muito significativo) é o género dito epinício (palavra composta a partir de nike, vitória). Este conjunto de poemas representa, com os quatro livros de odes de Horácio, o cume da poesia lírica greco-latina. A ode epinícia de Píndaro é uma obra de arte complexa: é arquitectónica e musical na construção; metafórica e transcendente no desenvolvimento elocutório e conceptual. Além destes elementos estritamente poéticos, há também uma dimensão religiosa e uma dimensão histórico-cultural. Píndaro é, ainda, o poeta do Mito. As suas odes epinícias constituem, juntamente com as Metamorfoses de Ovídio, o mais abrangente repositório poético que até nós chegou da mitologia clássica.
Por todas estas razões, ler “a seco” uma ode de Píndaro em português pode ser uma experiência frustrante. Além do que já foi dito, há ainda a carga de polissemia multifacetada das próprias palavras no original grego que se perde na tradução: palavras como Graça (kháris), Tranquilidade (hesukhía), Natureza (phuá), Inveja (phthónos), Saciedade (kóros) ou Excelência (aretá) evocam em grego uma pletora de sentidos, pois cada uma encerra um universo semântico e uma forma própria de olhar o mundo. Perceber como estes conceitos entram numa poesia cuja finalidade é louvar vencedores de provas atléticas não é tarefa linear (nem mesmo para helenistas...). Por outro lado, temos as constantes descontinuidades, os solavancos e as abrupções no registo discursivo, a parada de mitónimos e de referências mitológicas que, com maior ou menor opacidade, são convocadas para o poema, no intuito de dar uma dimensão “extra” à vitória que o atleta acabava de arrebatar.
Tratando-se de poesia com estas características, a existência de um discurso hermenêutico a acompanhar o texto poético afigura-se necessidade absoluta. Ora a consolidação desse discurso hermenêutico em língua portuguesa é o objectivo que este livro pretende alcançar."
Embora tenha composto poesia de variados géneros, o único género de que temos poemas seus completos (e em número muito significativo) é o género dito epinício (palavra composta a partir de nike, vitória). Este conjunto de poemas representa, com os quatro livros de odes de Horácio, o cume da poesia lírica greco-latina. A ode epinícia de Píndaro é uma obra de arte complexa: é arquitectónica e musical na construção; metafórica e transcendente no desenvolvimento elocutório e conceptual. Além destes elementos estritamente poéticos, há também uma dimensão religiosa e uma dimensão histórico-cultural. Píndaro é, ainda, o poeta do Mito. As suas odes epinícias constituem, juntamente com as Metamorfoses de Ovídio, o mais abrangente repositório poético que até nós chegou da mitologia clássica.
Por todas estas razões, ler “a seco” uma ode de Píndaro em português pode ser uma experiência frustrante. Além do que já foi dito, há ainda a carga de polissemia multifacetada das próprias palavras no original grego que se perde na tradução: palavras como Graça (kháris), Tranquilidade (hesukhía), Natureza (phuá), Inveja (phthónos), Saciedade (kóros) ou Excelência (aretá) evocam em grego uma pletora de sentidos, pois cada uma encerra um universo semântico e uma forma própria de olhar o mundo. Perceber como estes conceitos entram numa poesia cuja finalidade é louvar vencedores de provas atléticas não é tarefa linear (nem mesmo para helenistas...). Por outro lado, temos as constantes descontinuidades, os solavancos e as abrupções no registo discursivo, a parada de mitónimos e de referências mitológicas que, com maior ou menor opacidade, são convocadas para o poema, no intuito de dar uma dimensão “extra” à vitória que o atleta acabava de arrebatar.
Tratando-se de poesia com estas características, a existência de um discurso hermenêutico a acompanhar o texto poético afigura-se necessidade absoluta. Ora a consolidação desse discurso hermenêutico em língua portuguesa é o objectivo que este livro pretende alcançar."
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