segunda-feira, 4 de junho de 2007

O ano das antecipações ficcionais

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O incansável colaborador e amigo Carmo da Rosa antecipa-se à opinião pública portuguesa e acaba de enviar para o Miniscente o seu actualizadíssimo relato sobre o caso "BNN + doação de rins" que teve lugar na Holanda no fim-de-semana passado. Eis o texto:
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No dia 1 de Junho, e não 1 de Abril, golpada genial do canal BNN da televisão holandesa. Uma doente terminal (tumor no cérebro, com apenas 6 meses de vida), iria doar um rim num programa de televisão ao vivo a um dos três candidatos escolhidos por ela entre 25 doentes. Doentes com mais de 50 anos, fumadores e desempregados foram eliminados. O primeiro-ministro Balkenende deplora profundamente a transmissão do programa e diz que isto vai lesar a imagem da Holanda no resto do mundo. É a opinião da maioria dos parlamentários, tanto de esquerda como de direita. Mais de 100 jornalistas presentes, mais de metade são estrangeiros. Os candidatos, duas mulheres e um rapaz, precisam realmente de um rim. É mostrado um curto filme de cada candidato sobre o que fazem na vida, os problemas que têm e todos os projectos que ainda pensam realizar, caso Lisa, a ‘doente terminal’ - uma excelente actriz que consegue, não sei como, combinar generosidade com uma frieza implacável –, lhes queira conceder o rim. Para isso têm que responder às perguntas de Lisa que quer ter uma opinião bastante precisa do candidato da sua escolha, i.e, da pessoa que irá (há já um contrato para o efeito) dentro de um mês receber o seu rim. Ao mesmo tempo chovem telefonemas e SMS em que o público também pode escolher um dos candidatos. A preferência do público vai para Charlotte. Lisa pergunta a Claire: "Claire, aceitarias um rim de um assassino em série?". Claire embucha, mete os pés pelas mãos, diz primeiro que não mas acaba por afirmar: "Claro que sim, um rim é um rim". Eu dizia à minha mulher: "Isto não pode ser, não podem pôr as pessoas, sobretudo a Lisa, perante este dilema!"- De repente, este terrível dilema lembra-me o filme de Alan Pekula, Sophie’s Choice. No momento em que Lisa, depois de um suspense terrível, vai finalmente apontar o candidato da sua escolha, o apresentador tira-lhe repentinamente a palavra! E antes que eu (mentalmente) tirasse o rim a este cabrão pelas costas com uma naifa, por ser totalmente insensível, diz ele, com uma grande calma:"‘Até para nós (BNN) isto seria ir longe de mais!. Não, a Lisa é uma actriz totalmente saudável e os candidatos são realmente doentes mas estão implicados no nosso complot e aceitaram participar para chamar a atenção para a falta de doadores de rins". Logo a seguir ao programa trinta mil pessoas assinaram o formulário como dadores de órgãos. Eu, ainda vou pensar no assunto, mas achei o programa genial, afinal de contas…