sexta-feira, 18 de maio de 2007

Blogues e Meteoros - 31

O Triunfo do Design - I
e
e
(crónica publicada desde ontem no Expresso online)
e
Quando no final dos anos setenta, e sobretudo a partir da década seguinte, se começou a falar em pós-moderno — e em “pós-tudo” —, percebeu-se que um ciclo histórico se estava a finar. A pouco e pouco tornou-se óbvio que, entre a amnésia colectiva gerada pelo excesso de informação e o fim dos futuros “de ouro”, apenas ia sobrando o presente. E foi justamente a urgência em dar um novo sentido ao presente que acabou por dominar o pensamento filosófico das últimas décadas. Mas não só. Essa urgência também encontrou o seu símbolo, a sua forma e a sua adequação por excelência: o design.
d
O design deixou, portanto, de ser um simples molde da nossa cultura, ou o recorte “ecléctico” dos objectos públicos e privados que nos rodeiam, para passar a ser um modo de ver e fruir o mundo que reúne, no dia a dia, a eficácia, o conforto e a estética. Ao longo de séculos, o homem sonhou com o paraíso. É verdade que não o encontrou nem no céu nem na terra, mas, em vez desse sonho muitas vezes trágico, acabaria por reunir numa experiência única aquilo que o realiza em termos práticos (eficácia e conforto) e aquilo que o cumpre num plano que ressacralizou o vazio deixado pelos deuses (a arte e a estética).
d
O design é, pois, um dos sortilégios maiores do nosso tempo.
d
A emergência de novos materiais está a revolucionar a funcionalidade e a emoção globais. Estamo-nos todos a iniciar diariamente — sem tempo para pensar em impactos — numa nova galáxia onde abundam simulacros tácteis que podem ser fruídos com o corpo e com a percepção (cerâmicas flexíveis, espumas metálicas, condutores plásticos, emissores de luz capazes de memorizar as formas, fibras de carbono, etc.). Cada vez mais os produtos estão para além da forma e função para que terão sido imaginados. À liofilização alia-se, no nosso tempo, uma generalizada esteticização do mundo (o que antes comparecia dentro das rígidas paredes dos museus de arte contemporânea, comparece hoje no espaço que mundanamente se desenha à nossa volta).
d
Esta redistribuição da eficácia, do prazer e da invenção ao nível do quotidiano não é coisa alheia aos blogues. Por natureza própria, a blogosfera está intimamente sintonizada com o novo imperativo que faz da actualidade uma gelatina apetecível, digerível, saborosa e (sobretudo) actualizável. Na nossa próxima crónica, faremos uma breve visita guiada à aliciante teia que une o universo dos blogues a essa aura com corpo chamada design.