Há metáforas que certos espíritos consideram de imediato do foro diabólico. Uma delas, bastante recente, dá pelo nome de “flexisegurança”. No fundo, trata-se de sugerir que se mantêm vivas algumas perspectivas num mundo onde a ausência de perspectivas passou a constituir o nosso dia a dia mais natural. Para além desta metáfora recente, existem muitas outras metáforas de teor igualmente flexível que não se chegam a soletrar, mas que abundam no nosso quotidiano como coisas adquiridas, dadas, óbvias e, portanto, também naturais. Uma delas é este “flexidescanso” entre feriados, ou seja, este sentido da vida muito português que se designa por “ponte”.Um carinho de metáfora. Basta ver o modo como Lisboa hoje parece viver num ambiente de salutar Domingo. O cenário é de facto cristalino: um vazio de ruas, de salas de aula, de trânsito, de tudo. Há quem não goste muito da “flexisegurança”, mas todos adoram o “flexidescanso”. Portugal, país hedonista. Como é afinal filosófico ter nascido nesta terra!