terça-feira, 10 de abril de 2007

Para além da cultura?

e
Em Portugal, o mecenato dito cultural vive essencialmente entre a aquisição (de obras) e a subvenção (patrocínio, apoio, bolsa, subsídio, etc.). Outras formas mais eclécticas de usufruto são relativamente escassas. Como também o é a edificação (os bancos, em Espanha, constroem anfiteatros e outros equipamentos culturais nas pequenas terras).
O Âmbito Cultural do El Corte Inglês é um exemplo de organização que proporciona inciativas que eu traduziria por “eclécticas” (criação de públicos, debates, cursos, etc.). Em Portugal, para além da criação do Prémio Stuart, entre outros, o Âmbito Cultural tem promovido “cursos” centrados em áreas temáticas bastante variadas.
A partir de amanhã e durante dez semanas - dez sessões -, darei um desses cursos (“Para além da cultura?”) que resulta de reflexões que atravessam alguns dos meus ensaios da última década. Deixo em baixo o texto de apresentação e o respectivo temário.
Para além das fundações, associações, clubes e da oferta municipal, era bom que as nossas empresas contribuíssem – de modo original – para alargar e estimular o espaço público (é sintomático, por exemplo, como a CGD prefere o centralismo vertical das “Culturgests” à ideia mais contemporânea de uma rede de intervenções em micro-centros disseminados pelo território).
o
Para além da Cultura
e
Vivemos num estádio que poderia designar-se “Beyond the world”. As referências estáveis anteriores ao mundo moderno, assim como as diversas arrumações que as sucederam, não passam hoje de um mar encapelado, volumoso e paródico. Estamos, pois, a viver numa ponte entre uma margem nítida e determinável e uma outra imprecisa, sinuosa e quase indistinta.
É sem dúvida uma travessia fascinante e, ao mesmo tempo, abismada. É sem dúvida um tempo riquíssimo e, apesar de tudo, reflectido apenas na iminência da sua actualidade. É sem dúvida um presente que já não se vê ao espelho como antes, durante décadas, se havia habituado a fazer: diante da sua imagem mais ou menos nítida, centrada e aplaudida: a cultura.
Hoje o tempo tornou-se no vórtice de todas as aparências: o leme de um mundo simultaneamente montado e desmontado pela hipnose da velocidade e das imagens. É neste súbito relance que nos encontramos. Para além da cultura? Pois bem, seja esse o guião deste percurso guiado e, porventura, quem sabe, sempre à procura de guias.
4
Unidades temáticas por sessão: Sessão 1 - O “segno”, o dever e a actualidade. Sessão 2 - A criação pré-moderna e o emergir moderno da criação. Sessão 3 - A caracterização da ideia de cultura e o papel actual da mitologia. Sessão 4 - Imagem móvel, criação e a arquitectura da consciência em Damásio. Sessão 5 - Criação, rede e blogues: a aventura da linguagem à procura de si própria. Sessão 6 - Criação, espaço, performance e as tendências artísticas contemporâneas. Sessão 7 - Criação e novíssima poesia portuguesa: panorama e ilações culturais. Sessão 8 - Alteridades culturais: Islão e o mundo cristão. Sessão 9 - Problemas da instantaneidade: do passado escatológico ao presente. Sessão 10 - Do acto criativo de Duchamp ao desafio da hiper-realidade.