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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Carlos Araújo Alves.
O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje o convidado é Carlos Araújo Alves.
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- O que lhe diz a palavra “blogosfera”?
A celeridade do ritmo de mudança que o tempo hoje impõe ultrapassa frequentemente a nossa capacidade de assimilação e descodificação do que vamos experimentando e a blogosfera não escapa a esta dificuldade. Há pouco mais de três anos, quando iniciei o Ideias Soltas, a blogosfera era uma pequena e muito interactiva comunidade, entre pessoas já conhecidas ou que rapidamente ficámos a conhecer. Hoje, com a pulverização de milhares novos blogues, nada mais consigo vislumbrar que uma “democratizada” plataforma de edição digital onde se vão formando pequenas comunidades cada vez mais restritas e fechadas que só interagem entre si e que concorrem com outras, recorrendo a humanos processos de luta pelo poder, por uma supremacia de opinião.
Talvez a blogosfera não seja agora mais do que isso – a manifestação de opinião e a tentativa de que ela prevaleça sobre as demais.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Vários e variados desde as opiniões sobre a invasão do Iraque, o massacre de 11 de Março em Madrid, o desaparecimento de Durão Barroso e a demissão de Santana Lopes, a reestruturação da RTP e da RDP e do conceito de Serviço Público de Audiovisual levada a cabo por Morais Sarmento, as eleições internas no PS…
No entanto, os que mais prazer me deram enquanto emissor de opinião foram: a campanha pessoal orquestrada de Santana Lopes contra Miguel Graça-Moura colocando em risco o precioso projecto AMEC (mais conhecido por Orquestra Metropolitana de Lisboa); as hilariantes vicissitudes (de gestão e vistas curtas) por que passou o projecto da Casa da Música (que dá como provado, para quem acalente dúvida, que não há cultura sem boa gestão); a inclusão do ensino artístico nos planos curriculares do ensino pré-primário e básico e a “reforma” da educação; a inqualificável anarquia de gestão de recursos dos sucessivos Ministérios da Cultura no que concerne aos subsídios, apoios, financiamentos a equipamentos culturais públicos (nacionais e municipais), a entidades promotoras e criadores e aos artistas; o endémico bloqueio mental - o divórcio entre cultura, educação, meios audiovisuais, política com a gestão - principal óbice à constituição de uma política de gestão cultural global do Estado, concertada entre as tutelas envolvidas, que racionalize e cônjuge todos esses meios e os coloque com uma missão e objectivos precisos, quantificáveis e avaliáveis ao serviço de todos os cidadãos.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Balanços são sempre difíceis mas adianto, de repente, um negativo e três positivos:
1 – menos tempo para a família;
2 – redução drástica do consumo de media tradicional, impressa e audiovisual, uma vez que os factos estão on-line e na blogosfera comentários mais ricos e variados e isentos aos mesmos;
3 – conhecer pessoas através da escrita e, de afinidade em afinidade, constituir boas e sólidas amizades;
4 – a obrigação que a escrita implica de decifrar e sistematizar o que vou sentindo a cada momento e, muito especialmente, dar-me, dar-me a quem quiser receber, evidentemente, numa atitude, tal como o Paulo Gorjão atrás disse, de exercício de cidadania.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Tenho dificuldade em separar a blogosfera da vida em geral – o bem e o mal, o bom e o mau são emanados pelas pessoas através de qualquer forma e meio de comunicação estando por isso tão presentes em meios ditos virtuais como noutro qualquer. Compete aos autores dos blogues zelaram pelo que editam e, enquanto consumidores, fazerem a sua selecção.
Neste contexto diria que editorialmente um blogue será tão livre quanto o(s) seu(s) autor(s) o for, ou puder ser, o que não acontece nos media tradicionais, mas não me consinto a uma generalização universal à blogosfera.
A celeridade do ritmo de mudança que o tempo hoje impõe ultrapassa frequentemente a nossa capacidade de assimilação e descodificação do que vamos experimentando e a blogosfera não escapa a esta dificuldade. Há pouco mais de três anos, quando iniciei o Ideias Soltas, a blogosfera era uma pequena e muito interactiva comunidade, entre pessoas já conhecidas ou que rapidamente ficámos a conhecer. Hoje, com a pulverização de milhares novos blogues, nada mais consigo vislumbrar que uma “democratizada” plataforma de edição digital onde se vão formando pequenas comunidades cada vez mais restritas e fechadas que só interagem entre si e que concorrem com outras, recorrendo a humanos processos de luta pelo poder, por uma supremacia de opinião.
Talvez a blogosfera não seja agora mais do que isso – a manifestação de opinião e a tentativa de que ela prevaleça sobre as demais.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Vários e variados desde as opiniões sobre a invasão do Iraque, o massacre de 11 de Março em Madrid, o desaparecimento de Durão Barroso e a demissão de Santana Lopes, a reestruturação da RTP e da RDP e do conceito de Serviço Público de Audiovisual levada a cabo por Morais Sarmento, as eleições internas no PS…
No entanto, os que mais prazer me deram enquanto emissor de opinião foram: a campanha pessoal orquestrada de Santana Lopes contra Miguel Graça-Moura colocando em risco o precioso projecto AMEC (mais conhecido por Orquestra Metropolitana de Lisboa); as hilariantes vicissitudes (de gestão e vistas curtas) por que passou o projecto da Casa da Música (que dá como provado, para quem acalente dúvida, que não há cultura sem boa gestão); a inclusão do ensino artístico nos planos curriculares do ensino pré-primário e básico e a “reforma” da educação; a inqualificável anarquia de gestão de recursos dos sucessivos Ministérios da Cultura no que concerne aos subsídios, apoios, financiamentos a equipamentos culturais públicos (nacionais e municipais), a entidades promotoras e criadores e aos artistas; o endémico bloqueio mental - o divórcio entre cultura, educação, meios audiovisuais, política com a gestão - principal óbice à constituição de uma política de gestão cultural global do Estado, concertada entre as tutelas envolvidas, que racionalize e cônjuge todos esses meios e os coloque com uma missão e objectivos precisos, quantificáveis e avaliáveis ao serviço de todos os cidadãos.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Balanços são sempre difíceis mas adianto, de repente, um negativo e três positivos:
1 – menos tempo para a família;
2 – redução drástica do consumo de media tradicional, impressa e audiovisual, uma vez que os factos estão on-line e na blogosfera comentários mais ricos e variados e isentos aos mesmos;
3 – conhecer pessoas através da escrita e, de afinidade em afinidade, constituir boas e sólidas amizades;
4 – a obrigação que a escrita implica de decifrar e sistematizar o que vou sentindo a cada momento e, muito especialmente, dar-me, dar-me a quem quiser receber, evidentemente, numa atitude, tal como o Paulo Gorjão atrás disse, de exercício de cidadania.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Tenho dificuldade em separar a blogosfera da vida em geral – o bem e o mal, o bom e o mau são emanados pelas pessoas através de qualquer forma e meio de comunicação estando por isso tão presentes em meios ditos virtuais como noutro qualquer. Compete aos autores dos blogues zelaram pelo que editam e, enquanto consumidores, fazerem a sua selecção.
Neste contexto diria que editorialmente um blogue será tão livre quanto o(s) seu(s) autor(s) o for, ou puder ser, o que não acontece nos media tradicionais, mas não me consinto a uma generalização universal à blogosfera.
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Entrevistas anteriores (apenas a Série II): Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati), Rogério Santos, Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima, Pedro Fonseca, Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro, João Aldeia, João Paulo Meneses, Américo de Sousa, Carlota, João Morgado Fernandes, José Pacheco Pereira, Pedro Sette Câmara, Rui Bebiano, António Balbino Caldeira, Madalena Palma, Carla Quevedo, Pedro Lomba, Luís Miguel Dias, Leonel Vicente, José Manuel Fonseca, Patrícia Gomes da Silva, Carlos do Carmo Carapinha, Ricardo Gross, Maria do Rosário Fardilha, Mostrengo Adamastor, Sérgio Lavos, Batukada, Fernando Venâncio, Luís Aguiar-Conraria, Luís M. Jorge, Pitucha, Gabriel Silva, Masson, João Caetano Dias, Ana Luísa Silva, Ana Silva, Ana Clotilde Correia (aka Margot), Tomás Vasques, Ticcia Patrícia Antoniete, Maria João Eloy, André Azevedo Alves, Sílvia Chueire, André Moura e Cunha, Helder Bastos, José Bandeira, João Espinho, Henrique Raposo, Jorge Vaz Nande, João Melo, Diogo Vaz Pinto, Alice Morgado e Sérgio dos Santos, Adolfo Mesquita Nunes, João Paulo Sousa, Pedro Ludgero, João Tunes, Miguel Cardina, Paula Cordeiro, Edgar, André Azevedo Alves e Inês Amaral, David Luz, Saboteur, João Miguel Almeida, O Impensado, Hugo Neves da Silva, Paula Capaz, João Pinto e Castro, Sandra Ferrás e Alberto Lyra. Hoje: Carlos Araújo Alves.