segunda-feira, 2 de abril de 2007

A força do Design

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Dou hoje uma entrevista no Reactor sobre o que é o design. Deixo aí registado um leque de reflexões sobre esse novíssimo esteio da nosso quotidiano que excede em muito a ideia corrente de molde da cultura. Ao fim e ao cabo, o design é a ordem da cultura material que passou a corporizar o presente, no momento em que nos vimos forçados a viver num espaço apertado entre a amnésia colectiva e o fim dos prodigiosos cenários de futuro (escatológicos ou ideológicos).
Eis alguns excertos:
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"(...) O design corresponde a um recorte sempre oscilante, a uma postura de reencontro com os gestos e com os objectos que não cabe em si própria."
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"A eficácia é uma das matrizes essenciais do design, mas a pertinência que faz de um objecto um objecto com design é sobretudo uma emoção."
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"Ao reunir os dois termos que se amalgamam na invenção moderna – “Mito” e “Logos” –, o design seria, não apenas a consecução plena de uma profecia metafísica (de origem romântica) e de uma conjectura pragmática (de origem racional), mas também o ponto mais alto da actual esteticização generalizada do mundo."
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"O design é, pois, uma revolução sereníssima que tornou desnecessária a peregrinação apocalíptica do homem até junto ao trono de Deus. A “Visão”, hoje em dia, mais não é do que a reciclagem da euforia acumulada pelo homem ao longo do seu maior projecto de sempre: a crença."
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"O design é, na contemporaneidade, o apogeu de uma história que passou a ser vivida sem clímax nem desenlace. Diria mesmo mais: o design é um paraíso tautológico."
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"O design vive em fluxo, autoreproduzindo-se, esgotando a capacidade de uma individualização que se adequasse a uma solução geral e universal."
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"O ‘dever ser’ é hoje um campo que aparece massificada e globalmente sublimado pela aura do consumo e sobretudo por aquilo que é o receptáculo e, ao mesmo tempo, o maior agente do design: o corpo."
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"O ciberespaço é a abertura a uma segunda humanidade. E o que a dita é sobretudo um novo tipo de mobilidade e de aparecimento subsumido, por sua vez, a um novíssimo registo temporal (a tentação da instantaneidade) e de espaço."
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Aproveito para agradecer a entrevista ao dinamizador do Reactor, o José Manuel Bártolo. Ele vai continuar a saga destas entrevistas durante alguns meses. Estejam, pois, muito atentos!