LVX (Edith Piaf)
e
Vi ontem em Évora (no Fórum da Fundação Eugénio de Almeida) uma exposição de Henri Cartier-Bresson. Dezenas de retratos a disputarem o lugar do corpo, a transmutação do olhar e a ruína. Na poética da fotografia, há sempre algo de profundamente letal: um adeus que é moldado através de uma inscrição que persiste, ou um paradoxo que acena do locus amenus onde já houve respiração e riso e onde hoje apenas resta o assombro fascinado pela superfície impressa. Involuntariamente, os olhos de quem observa são levados a deambular entre os traços que se formaram; divagam entre a geometria e o acaso, como se procurassem a incerta chave de um enigma antiquíssimo. E o mais curioso é que, nestes retratos de Henri Cartier-Bresson, pululavam rostos conhecidos, referências do século que passou: Pound, Camus, Beckett, Eluard, Coco, Barthes, Zontag, Colette, Hokenheimer, Aragon, Stravinsky, Sartre, Matisse, Miró, Piaf, etc. Uma imensa nuvem daquela matéria que Kant designou por “génio” e que fez o mundo das várias gerações que nasceram sob o ímpeto das “Grandes Guerras” e de um leque amplo e variado de ideais inefáveis, sacralizados e ilusórios. Hoje – a relação entre a memória e a actualidade é cruel – quase toda essa matéria é pura reciclagem. Um coro que evoca a alma da ruína e o encanto fúnebre das águas de Ofélia. Apenas isso (e “isso”, um simples deíctico, pode ser uma galáxia).
Vi ontem em Évora (no Fórum da Fundação Eugénio de Almeida) uma exposição de Henri Cartier-Bresson. Dezenas de retratos a disputarem o lugar do corpo, a transmutação do olhar e a ruína. Na poética da fotografia, há sempre algo de profundamente letal: um adeus que é moldado através de uma inscrição que persiste, ou um paradoxo que acena do locus amenus onde já houve respiração e riso e onde hoje apenas resta o assombro fascinado pela superfície impressa. Involuntariamente, os olhos de quem observa são levados a deambular entre os traços que se formaram; divagam entre a geometria e o acaso, como se procurassem a incerta chave de um enigma antiquíssimo. E o mais curioso é que, nestes retratos de Henri Cartier-Bresson, pululavam rostos conhecidos, referências do século que passou: Pound, Camus, Beckett, Eluard, Coco, Barthes, Zontag, Colette, Hokenheimer, Aragon, Stravinsky, Sartre, Matisse, Miró, Piaf, etc. Uma imensa nuvem daquela matéria que Kant designou por “génio” e que fez o mundo das várias gerações que nasceram sob o ímpeto das “Grandes Guerras” e de um leque amplo e variado de ideais inefáveis, sacralizados e ilusórios. Hoje – a relação entre a memória e a actualidade é cruel – quase toda essa matéria é pura reciclagem. Um coro que evoca a alma da ruína e o encanto fúnebre das águas de Ofélia. Apenas isso (e “isso”, um simples deíctico, pode ser uma galáxia).