segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

E Deus Pegou-me Pela Cintura

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É verdade: o meu décimo romance aparecerá dentro de dez dias nas livrarias. É verdade: a Rute Monteiro tem uma vida (entre outras sete) que se desenha nas páginas desse romance (E Deus Pegou-me Pela Cintura). É verdade: quis levar a cabo - com o meu editor - uma antecipação ficcional, partindo do princípio que, nos dias de hoje, o livro já não é um objecto que possa prender a ficção no seu seio: entre capa e contracapa. No nosso mundo, a ficção e a realidade interpenetram-se cada vez mais (a efabulação dos media globais assemelha-se à dos antigos mitos), do mesmo modo que a verdade e o sentido se confrontam num tipo de ambiguidade que, dia a dia, todos experimentamos. Do cinematógrafo a Duchamp vai a distância entre a ilusão desejada e a ilusão conformada com a realidade. Pergunto: por que razão não poderá o objecto livro instalar a sua ficcionalidade fora do espaço físico que é o seu? Por que se terão escandalizado tantos espíritos "éticos" e carregados de fobia pelo diabolismo do "marketing" com esta antecipação ficcional?
De facto, se a intenção não tivesse sido misturar sadiamente realidade e ficção, não teria ficado à mostra - intencionalmente - uma série de elementos (como a palavra "romance" no blogue árabe referido no final de E Deus Pegou-me Pela Cintura). A intenção foi sempre a de criar aquele tipo de ambiguidade apelativa que era própria dos monstros medievais: chamar a atenção, efabular, praguejar e, ao mesmo tempo, discorrer sobre o real que tal apelo suscita. Deve dizer-se que houve três fases nesta escalada (e há uma quarta em secreta gestação): primeiro, a ingénua disputa da verdade vs. não verdade dos factos; depois, a tensão entre real e ficcionalidade; por fim: o próprio romance. O processo podia ter ido muito mais longe, no fim de Janeiro, quando os media de referência portugueses contactaram o jornalista Olavo Aragão para confirmar o rapto da Rute Monteiro e lhes foi contada toda a verdade (sob reserva, é claro). A decisão, nesse momento, travou o que poderia ter sido, aí sim, uma bela operação de marketing (mas há limites que quisemos respeitar). Neste momento, há ainda - repito - uma "gestação" em aberto: tal como se provou com A Falha (1998), é verdade que um romance não é apenas um livro. É sobretudo um percurso imaginado que pode ser moldado através da liberdade que ele mesmo, no seu modelo abstracto, já prefigura e muitas vezes indicia.
Queria agradecer a todos: aos muitos blogues cúmplices (entre muitos outros, este, este, este, este, este, este, este, este e também este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este, este e ainda este) aos blogues contendores, aos blogues testemunhadores, aos blogues observadores e, claro, aos blogues escandalizados. A todos o meu sincero Obrigado.
Em breve, muito em breve, darei aqui nota dos lançamentos que já se preparam.